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A pesquisa na Vara de Execuções Criminais – VEC

No documento joycekelinascimentosilva (páginas 139-142)

5.3 O ingresso no campo e a coleta de dados

5.3.3 A pesquisa na Vara de Execuções Criminais – VEC

Em nossos primeiros contatos com a Assessora do Juiz Titular e com a Escrivã Chefe do Cartório da Vara de Execuções Criminais – VEC, recebemos uma estimativa de que na ala feminina da Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires em Juiz de Fora havia cerca 90 mulheres encarceradas, dentre condenadas em cumprimento de pena e mulheres em prisão provisória, ou seja, aguardando a decisão de mérito nos processos em trâmite perante as Varas Criminais da Comarca. Constatamos, também, que os autos findos, ou seja, em que já havia ocorrido a extinção da punibilidade pelo cumprimento da pena pelas condenadas, também são remetidos ao arquivo de feitos, em virtude do espaço físico limitado do Cartório. Assim, seria possível o acesso apenas aos autos processuais e sentenças das mulheres em cumprimento de pena.

Além disso, devido às limitações dos mecanismos de busca do SISCOM, anteriormente apontadas, verificamos a impossibilidade de localização prévia de todos os processos de mulheres condenadas por tráfico de drogas. Sendo que seria preciso uma relação com o número do processo de execução da pena e o nome das condenadas encarceradas na Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires em Juiz de Fora, a fim de viabilizar a localização e o manuseio dos “autos” que atendem aos critérios da pesquisa. Isso porque, mais uma vez, a Escrivã Chefe e serventuários não poderiam se desviar de suas funções para auxiliar a pesquisadora na localização dos processos e posterior guarda nos respectivos maços e estantes, não sendo autorizado o manuseio indiscriminado dos autos sob o argumento da necessidade de manutenção do “segredo de justiça” e da possibilidade de guarda equivocada dos processos fora de seus maços e estantes, prejudicando os trabalhos no Cartório.

Sendo assim, recebemos a orientação de buscar junto à Direção da Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires uma relação com o nome e o número dos processos de execução das mulheres encarceradas na unidade prisional, motivo pelo qual enviamos ofício solicitando as informações necessárias. Em resposta, recebemos a notícia de que nosso pedido fora encaminhado à Secretaria de Estado e Defesa Social de Minas Gerais – SEEDS/MG e que, por isso, deveríamos aguardar uma resposta.

Com o decorrer do tempo e a ausência de uma resposta da SEEDS/MG, fizemos contato telefônico e via mensagens eletrônicas com servidores do Núcleo de Gestão da

Informação da SEEDS/MG, com o intuito de descobrir o resultado da análise de nosso requerimento e, também, de solicitar dados estatísticos sobre a população carcerária da cidade de Juiz de Fora, especialmente sobre as mulheres encarceradas na Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires. Depois de alguns contatos inócuos, para nossa surpresa, fomos orientados novamente a requerer tais informações à Direção do referido estabelecimento prisional, pois esta seria competente para análise do pedido e liberação do acesso às informações necessárias.

Assim, fizemos novos contatos telefônicos com a Direção da unidade prisional, sem nunca obter uma resposta sobre o pedido, fosse para a concessão ou negativa da autorização de acesso às informações para a pesquisa.

Enfim, num dos muitos contatos telefônicos, fomos orientados informalmente por uma das Agentes Penitenciárias, lotada junto ao Gabinete da Direção da Penitenciária, a formular o mesmo pedido de autorização diretamente ao Juiz Titular da Vara de Execuções, uma vez que uma ordem direta deste não poderia ser desacatada pela Direção da Penitenciária. Assim o fizemos, e bastou uma única reunião para recebermos a autorização e, finalmente, ter o acesso aos prontuários das presas da ala feminina da unidade prisional.

Registramos que o desencontro das orientações sobre qual a autoridade competente para a concessão da autorização se deve à inexistência de normas que regulem os critérios e procedimentos para realização de pesquisas acadêmicas junto a órgãos do Sistema Judiciário e Penitenciário.

Quando finalmente conseguimos acesso à Penitenciária, obtivemos junto ao Departamento Jurídico da unidade uma relação com o nome e a matrícula no Sistema Integrado de Informações Penitenciárias - INFOPEN das 95 mulheres presas na unidade em agosto de 2012, sendo que destas 53 eram presas provisórias, ou seja, ainda respondiam a processo criminal pendente de julgamento definitivo, e 42 eram presas sentenciadas em cumprimento de pena.

Procedemos à localização dos prontuários das 42 mulheres sentenciadas nos arquivos da administração penitenciária, sendo que 06 não foram localizados. Os 36 prontuários encontrados foram digitalizados e a análise posterior revelou que destes prontuários 17 referiam-se a mulheres presas por tráfico de drogas, 16 a mulheres presas por crimes contra o patrimônio, 02 a mulheres presas por crimes contra a vida e 01 a uma mulher presa por receptação.

Ao iniciarmos o trabalho de pesquisa dentre os “autos” sob responsabilidade do Juízo da Vara de Execuções Criminais, contávamos com uma relação contendo o nome das 17

detentas que cumpriam pena por tráfico de drogas e o nome das 06 detentas, cujos prontuários não haviam sido localizados na Penitenciária, com o objetivo de averiguarmos se alguma destas últimas respondia por tráfico.

Em consulta ao módulo do SISCOM utilizado na referida Vara para o gerenciamento dos processos de execução criminal, verificamos que 04 das 06 detentas cujos prontuários não haviam sido encontrados na Penitenciária foram condenadas por tráfico. Desta forma, chegamos a uma listagem contendo o nome de 21 detentas condenadas por tráfico de drogas.

Durante a pesquisa no Cartório da Vara de Execuções conseguimos ter acesso a apenas 15 desses 21 processos, pois 06 deles não estavam disponíveis para consulta nas estantes, uma vez que estavam em poder do Ministério Público, dos Advogados de Defesa ou do Juiz da Execução por estarem em diferentes fases de tramitação como, por exemplo, aguardando um parecer do promotor, alguma petição da defesa ou uma decisão do magistrado.

Ressaltamos que durante a busca dos processos nas estantes do Cartório encontramos também outros 05 processos de mulheres condenadas por tráfico a cujos nomes não tivemos acesso anteriormente porque não mais estavam reclusas na Penitenciária devido à progressão do regime de cumprimento da pena, ou seja, cumpriam pena em regime aberto76 ou semiaberto77.

Como nesta Vara nos foi concedida autorização para digitalizarmos os “autos”, procedemos à digitalização de 20 sentenças em que mulheres foram condenadas por tráfico de drogas conforme as disposições da Lei nº. 11.343/2006.

Como na Vara de Execuções tramitam os processos relativos ao cumprimento das penas de todos os condenados internados nos estabelecimentos prisionais da cidade, destacamos que entre as 20 sentenças coletadas nesta Vara haviam sentenças proferidas pelos Juízos das 04 Varas Criminais da Comarca de Juiz de Fora, assim distribuídas:

 02 sentenças oriundas da 1ª Vara Criminal;  07 sentenças oriundas da 2ª Vara Criminal;  05 sentenças oriundas da 3ª Vara Criminal; e  06 sentenças oriundas da 4ª Vara Criminal.

76

Conforme disposto no art. 33, §1º, “c” do CPB no regime aberto a execução pena ocorre em casa de albergado ou estabelecimento adequado, este é o último estágio da progressão do regime de cumprimento da sanção penal. 77

Conforme disposto no art. 33, §1º, “b” do CPB, considera-se regime semiaberto a execução da pena privativa de liberdade em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, possibilita o trabalho durante o período diurno, mas determina o recolhimento noturno.

Daí porque também nos foi possível analisar algumas sentenças proferidas pelos Juízos da 2ª e 3ª Vara Criminal neste estudo.

No documento joycekelinascimentosilva (páginas 139-142)