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A planilha é base para a repactuação do contrato

PARTE 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.2. O C ARÁTER I NSTRUMENTAL DA P LANILHA DE C USTOS E F ORMAÇÃO DE P REÇOS

1.2.4. A planilha é base para a repactuação do contrato

Ao buscar, junto ao mercado, a contratação da prestação de serviços, a Administração dá a

conhecer aos interessados o objeto pretendido, descrevendo-o em minúcias no Projeto Básico

ou Termo de Referência.

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Os interessados participam da licitação, concorrendo entre si pelo objeto pretendido pela

Administração. Para tanto, apresentam proposta de preço e execução dos serviços.

A licitação visa a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, cuja

empresa ofertante será, ao final do procedimento, contratada para prestar os serviços. O preço

aceito pela Administração representa a justa remuneração ajustada com o particular.

Estabelece-se, assim, a chamada equação econômico-financeira do contrato.

A mencionada equação traduz o equilíbrio entre a prestação (encargos) a que se

obrigou o contratado e a remuneração pactuada. Na ocorrência de eventos que

desequilibrem essa equação, a legislação prevê a possibilidade de alteração proporcional da

retribuição devida.

A garantia de manutenção das condições efetivas da proposta está expressa no art. 37,

inciso XXI da Constituição Federal. No âmbito da legislação infraconstitucional são previstos os

mecanismos para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Há eventos outros que não os hipoteticamente previstos no art. 65, II, “d” e § 5º da Lei

8.666/93 (hipóteses de revisão) e que justificam a majoração da remuneração ajustada, como,

por exemplo, a variação de preços decorrente de processo inflacionário. Para tanto, prevê a Lei

a possibilidade de reajuste do preço contratado.

LEI 8.666/93

Art. 40. O edital (...) indicará, obrigatoriamente, o seguinte:

XI – critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida a adoção de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para a apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cada parcela.

Exige a Lei que a possibilidade de reajuste seja prevista no edital da licitação e no

contrato, que devem indicar, também, o índice a aplicar. O indexador deve refletir, o mais

próximo possível da realidade, a variação dos preços pactuados. Daí por que se deve eleger um

índice setorial (por exemplo: para um contrato de obra de construção civil, o índice que reflita a

variação dos preços nesse mercado).

Percebe-se, assim, que o reajuste é um mecanismo que objetiva recompor a remuneração

devida ao contratado, em virtude da variação de preços decorrente da inflação.

A legislação de regência da nossa moeda circulante – o Real – impõe a periodicidade

mínima anual para o reajustamento de preços dos contratos.

Art. 28 Nos contratos celebrados ou convertidos em REAL com cláusula de correção monetária por índices de preço ou por índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados, a periodicidade de aplicação dessas cláusulas será anual.

LEI 10.192/2001

Art. 2º É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste por índices de preços gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos custos de produção ou dos insumos utilizados nos contratos de prazo de duração igual ou superior a um ano.

§ 1º É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano.

[...]

Art. 3º Os contratos em que seja parte órgão ou entidade da Administração Pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão reajustados ou corrigidos monetariamente de acordo com as disposições desta Lei, e, no que com ela não conflitarem, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

§ 1º A periodicidade anual nos contratos de que trata o caput deste artigo será contada a partir da data limite para apresentação da proposta ou do orçamento a que essa se referir.

Em síntese, o reajuste é – regra geral – condicionado à previsão expressa no edital e

no contrato e somente é possível depois de decorrido um ano da data prevista para

apresentação da proposta ou do orçamento a que esta se referir, mediante a aplicação de

índice que reflita a variação dos preços daquele contrato.

A Lei de Licitações e Contratos não menciona a técnica da repactuação. O instituto da

repactuação teve origem na necessidade de desindexar os contratos de prestação de serviços

de natureza continuada (que ordinariamente se estendem por mais de um exercício financeiro),

como decorrência da implantação do Real.

A repactuação é mencionada pela primeira vez, num instrumento normativo, na

Resolução 10, de 8.10.1996, do Conselho de Coordenação e Controle das Empresas Estatais. Por

intermédio da mencionada norma, proibiu-se às estatais incluir nos contratos de prestação de

serviços contínuos cláusula de reajuste por aplicação de índices setoriais.

A citada Resolução determinou que nos contratos de prestação de serviços de natureza

continuada se fizesse incluir cláusula prevendo a “repactuação dos preços”, por ocasião da

prorrogação (renovação) dos contratos.

Posteriormente, em 1997, o Decreto que disciplinou a contratação de serviços contínuos

na Administração Federal previu a possibilidade de repactuação, para adequação dos preços à

realidade do mercado, mediante a demonstração analítica, pelo contratado, da variação dos

componentes dos custos do contrato.

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DECRETO 2.271/97

Art. 5º Os contratos de que trata este Decreto, que tenham por objeto a prestação de serviços executados de forma contínua poderão, desde que previsto no edital, admitir repactuação visando a adequação aos novos preços de mercado, observado o interregno mínimo de um ano e a demonstração analítica da variação dos componentes dos custos do contrato, devidamente justificada.

A IN 02/2008 é a norma que disciplina de modo mais detalhado o procedimento da

repactuação (vide art. 37 e seguintes). O conceito de repactuação consta no inciso XVIII do

Anexo I, a explicitar que se trata técnica de reajustamento – para garantia do equilíbrio

econômico-financeiro, aplicável aos contratos de terceirização, mediante demonstração

analítica da variação dos custos deste.

IN 02/2008

ANEXO I – DEFINIÇÃO DOS TERMOS UTILIZADOS NA INSTRUÇÃO NORMATIVA XVIII – REPACTUAÇÃO: forma de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato que deve ser utilizada para serviços continuados com dedicação exclusiva da mão de obra, por meio da análise da variação dos custos contratuais, devendo estar prevista no instrumento convocatório com data vinculada à apresentação das propostas, para os custos decorrentes do mercado, e com data vinculada ao acordo ou à convenção coletiva ao qual o orçamento esteja vinculado, para os custos decorrentes da mão de obra.

Assim, para que a repactuação seja concedida, há de ser demonstrada – mediante análise

da planilha de custos e formação de preços do contrato – a variação dos preços praticados.

Sem a planilha, é virtualmente impossível à Administração proceder à mencionada análise e

aplicar essa modalidade especial de reajuste. Daí a sua imprescindibilidade.

IN 02/2008

Art. 40. As repactuações serão precedidas de solicitação da contratada, acompanhada de demonstração analítica da alteração dos custos, por meio de apresentação da planilha de custos e formação de preços ou do novo acordo convenção ou dissídio coletivo que fundamenta a repactuação, conforme for a variação de custos objeto da repactuação.

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

A repactuação de preços aplica-se apenas às contratações de serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de obra e ocorre a partir da variação dos componentes dos custos do contrato, desde que seja observado o interregno mínimo de um ano das datas dos orçamentos aos quais a proposta se referir, conforme estabelece o art. 5º do Decreto 2.271/97, devendo ser demonstrada analiticamente, de acordo com a Planilha de Custos e Formação de Preços.

Ainda na representação sobre a tomada de preços promovida pela 7ª Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

(Codevasf), com objetivo de contratar empresa para elaboração de projeto executivo de obras em municípios do Estado do Piauí, o relator apontara que a cláusula editalícia de repactuação do contrato estaria em desacordo com a jurisprudência do Tribunal e com o art. 37 da Instrução Normativa SLTI 2/2008, segundo o qual “a repactuação de preços, como espécie de reajuste contratual, deverá ser utilizada apenas nas contratações de serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de obra, desde que seja observado o interregno mínimo de um ano das datas dos orçamentos aos quais a proposta se referir, conforme estabelece o art. 5º do Decreto nº 2.271, de 1997”. Observou o relator que “o objeto licitado não se enquadra nem como serviço continuado, nem como atividade com dedicação exclusiva de mão de obra”, ressaltando ainda que “o edital deveria prever o uso do instituto do reajuste, e não da repactuação”. Sobre a questão, relembrando o Acórdão 1.827/2008-Plenário, de sua relatoria, explicou que “o reajuste de preços é a reposição da perda do poder aquisitivo da moeda por meio do emprego de índices de preços prefixados no contrato administrativo. Por sua vez, a repactuação, referente a contratos de serviços contínuos, ocorre a partir da variação dos componentes dos custos do contrato, devendo ser demonstrada analiticamente, de acordo com a Planilha de Custos e Formação de Preços”. Nesse contexto, o Plenário do Tribunal, pelos motivos expostos pelo relator, decidiu, no ponto, dar ciência à Codevasf acerca da irregularidade relativa à “previsão no edital de que o contrato resultante da licitação será repactuado, apesar de objeto licitado não envolver a execução de serviço continuado com dedicação exclusiva de mão de obra, o que infringe o disposto no art. 40, inciso XI, da Lei 8.666/93, c/c art. 5º do Decreto 2.271/1997 e art. 37 da Instrução Normativa SLTI nº 2/2008”.

(Acórdão 1574/2015 – Plenário – INFORMATIVO 248)

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

A repactuação não se aplica a contrato em que não há detalhamento, por meio de planilha de custos e formação de preços, dos custos afetos à mão de obra e aos demais insumos. Sem planilha, inviável a repactuação. [...] O TCU considerou que o contrato apreciado em concreto continha previsão ilegal que estabelecia “a necessidade de reajustes com negociação entre as partes, após demonstração analítica da variação dos componentes de custo do contrato, com limitação do reajuste à variação do IGPDI/FGV ocorrida nos últimos 12 meses”.

(Acórdão 161/2012 – Plenário)

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

9.4.2. compare as planilhas de custos e formação de preços fornecidas pela contratada nos momentos da apresentação da proposta e do requerimento de repactuação, nos termos do § 1º, art. 57 da Lei nº 8.666, de 16 de junho de 1993, e do art. 5º do Decreto nº 2.271, de 7 de julho de 1997, com vistas a verificar se ocorreu ou não a efetiva repercussão dos eventos majoradores nos custos pactuados originalmente;

(Acórdão 2094/2010 – 2ª Câmara)

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A comprovação da necessidade de repactuação de preços, decorrente da elevação

anormal de custos, exige a apresentação de planilhas detalhadas de composição dos itens contratados, com todos os seus insumos, assim como dos critérios de apropriação dos custos indiretos.

(Acórdão 2408/2009 – Plenário) Ver também: Acórdão 658/2011 – 1ª Cam.

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

3 - Imprescindibilidade de composição adequada da planilha de custos.

Na mesma auditoria realizada na Diretoria Regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Estado do Rio Grande do Sul (EBCT/DR/RS), outra possível irregularidade observada pela equipe de auditoria ocorrera no Pregão Eletrônico nº 56/2006, destinado à locação temporária de furgões, e no qual foram admitidas planilhas de custos apresentadas pelas licitantes de modo inconsistente. Ilustrativamente, a unidade técnica informou que, nas propostas apresentadas, a participação do item combustível, no preço de uma diária contemplando 150 km de rodagem, variou de R$ 2,36 a R$ 60,00, e as despesas administrativas a serem incorridas, também em uma diária, oscilaram de R$ 4,00 a R$ 70,00. O responsável, ouvido em audiência, argumentou, essencialmente, que "a planilha de formação de custos é apresentada após a assinatura do contrato, não influindo no critério de julgamento", e que "o reajuste contratual é feito com base em índice pré-estabelecido no contrato, assim, somente no caso de reequilíbrio econômico- financeiro a composição de custos seria relevante". A unidade técnica, ao refutar os argumentos apresentados, consignou que, "nos contratos de prestação de serviços de duração continuada, este Tribunal não tem admitido a utilização de índices de reajuste gerais, devendo-se adotar a sistemática de repactuação com base nas variações dos custos dos serviços contratados". Desse modo, para a unidade técnica, "as planilhas de formação de custo não têm o caráter secundário apregoado pelo responsável e devem ser detidamente analisadas com vistas a permitir que a repactuação ocorra sem prejuízo para a administração". O relator, ao concordar com os exames da unidade técnica e respaldando-se em decisão anterior do Tribunal, registrou que "às estatais também é vedada a estipulação de cláusula de reajuste nos contratos de prestação de serviço de duração continuada. Desse modo, devem as empresas repactuar os valores contratados se houver variação nos custos dos serviços. Vale dizer que o contrato não deve definir, a priori, nenhuma forma de reajuste ou de repactuação. As alterações dos valores contratados serão objeto de negociação entre as partes. Para tanto, devem ser considerados os diversos itens que afetam a composição dos custos dos serviços prestados.". Ao final, o relator votou pela não aplicação de multa ao responsável, sem prejuízo da expedição de determinação corretiva para futuras licitações a serem promovidas pela EBCT/DR/RS, o que foi aprovado pelo Plenário. Precedente citado: Acórdão 1374/2006-Plenário.