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O processo grupai*

SILVIA T M LANE

çOes necessárias p a r a q u e u m g ru p o se to m a s s e co n scien te e tran sfo rm a d o r.

E sta nova e ta p a de observações p a rtic ip a n te s foi sendo ta m b é m co n fro n ta d a com as observações feitas a n terio rm e n te, o que nos p e rm itiu p recisar algum as categorias fu n d a m e n ta is p a ra a análise do processo grupai.

A p rim e ira categoria d etecta d a foi a d e p rodução, onde a p ro d u ç ã o d a satisfação d e necessidade, com o ap o n ta d o p o r Cal- derón e D e G ovia, im plica necessariam ente a p ro d u ção das relações gru p ais, ou seja, a p ro d u ção do g rupo é p ro d u ção g ru p a i — é o processo histórico do g ru p o . O u seja, o processo gru p ai se cara c­ teriza com o sendo u m a a tivid a d e p r o d u tiv a .

U m a seg u n d a categ o ria definida é a de dom inação, no sentido de que n a sociedade b rasileira c a p ita lista as condições infra- e stru tu ra is p a ra serem rep ro d u zid as im p licam m ediações tais que, de fo rm as as m ais diversas, reproduzem relações de dom inação, e que estas im plicam a u n ic id ad e dom inação-subm issão, ou seja, nos g ru p o s onde a p ro p o sta d e relacionam ento é d e ig ualdade en tre os m em b ro s detecta-se a dom inação p ela su b m issão dos m em bros a u m a o u tra pessoa. E sta categ o ria leva n ecessariam ente à análise das instituições que fazem a m ediação in fra e su p e re stru tu ra l, através d a definição de papéis com o necessários p a r a a reprodução de relações sociais conform e previstos pelas instituições de u m a d ad a sociedade.

A categ o ria de grupo-sujeito (a d o ta m o s a denom inação de L oureau) de fato só p o d e ser p recisa d a nessa últim a e ta p a de observações q u a n d o o observador, com o p a rtic ip a n te , analisava as contrad içõ es decorrentes d a s relações de dom inação, levando o g rupo a u m a au to -an álise, porém , em n e n h u m m om ento conse­ g uim os d etecta r u m g ru p o com o u m todo a g in d o em p le n a cons­ ciência. D etectou-se pessoas em processo d e conscientização» e n q u a n to o u tra s resistiam a m u d an ças, e, q u a n d o a pressão o riu n d a d a an álise se to rn av a p e rtu rb a d o ra , a te n d ê n c ia e ra sem pre de o g rupo se desfazer, seja p e la separação física, seja pela re-orga- nização de ta re fas de fo rm a a to rn á-las indep en d en tes en tre si, faze n d o com que o p ro d u to final fosse ap en as so m ató ria de p ro d u to s individuais, ou seja, u m a re-organização que é a p ró p ria negação do grupo.

E sta negação do g ru p o , co n fro n ta d a com observação de grupos onde as ta re fas eram sem pre individuais, sem haver ações n ecessariam en te en cad ead as p a ra se atin g ir u m pro d u to , nos leva

O INDIVÍDUO e a s i n s t h UIÇOES 97

à c a te g o ria de n ã o -g ru p o e à co m p ro v a ção d e q u e só é g ru p o q u a n d o ao se p ro d u z ir algo se desenvolvem e se tran sfo rm a m as relações e n tre os m em bros do grupo, ou seja, o g rupo se produz. U m exem plo típico de não -g ru p o é aquele onde a s pessoas se reuniam em u m a in stitu ição p a ra a p re e n d e r e fazer tra b a lh o s m anuais, cad a u m envolvido com o seu. F isicam ente as pessoas estão “ ag ru p a d a s” , elas se relacionam conversando assuntos o s m ais diversificados, po rém o fato de c a d a u m a ter o seu tra b a lh o faz com que as relações e n tre elas não se alterem , p o r m ais tem po q u e p erm aneçam ju n ta s ,1 A creditam os que para u m gru p o com o tal ser um grupo- sujeito é necessário haver circunstâncias com o pressão exterior ao g ru p o (com o no presídio) ou u m a condição de m a rg in a lh a ç ã o (com o u m gru p o observado de pessoas cegas), o u então haver um forte com prom isso en tre os m em bros, com o o político ou do tipo de sociedade secreta, pois os processos de conscientização ocorrem em indivíduos em m om entos diferentes, p a ssa n d o po r estágios dife­ ren tes, o que gera contradições, em geral, difíceis de serem su p e­ ra d a s, fazendo com que ocorra a dissolução do grupo, antes de um a conscientização grupai. E, obviam ente, n a nossa sociedade mil e u m recursos são oferecidos p a ra evitar esta conscientização gru p ai, p e rtu rb a d o ra p a ra o s ta tu s q u o .

E sta análise nos p e rm itiu co n statar com clareza, p o r um lado, que o g ru p o social é condição de conscientização do indivíduo e, p o r outro, a su a potência através de m ediações institucionais, n a p ro d u ção de relações sociais historicam ente en g en d rad as p a ra que sejam m a n tid a s as relações de p ro d u ção em u m a d a d a sociedade. O u tro p o n to de fu n d am e n tal im po rtân cia p a ra o processo g ru p a i e p a ra su p eração das contradições existentes é a necessidade de o g ru p o a n a lis a s s e en q u a n to tal, O grupo que ap en as executa tarefas sobre transform ações qu e, se não forem je s g a ta d a s conscientem ente pelos m em bros, ele ap en as se re*ajusta, sem que oco rra q u a lq u e r m u d a n ç a q u alitativ a nas relações en tre seus m em bros.

(1) Este não-grupo $e identifica com o que Sartre e La passado chamam de serialidade, e se aproxima da noção de segmentaridade de Loureau. São agrupamentos onde, tanto as necessidades como os motivos e as atividades decorrentes são individuais e não conseqüências de uma relação onde predomiha o "nós" e que exige a cooperação de todos.

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Fam ília, emoção