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C om o captar o id e o ló g ic o e o nível de consciência de um indivíduo, num dado mom ento, apresenta-se com o problema fundam ental para a pesquisa em Psicologia Social, quando ela se propõe a conhecer o indivíduo com o ser concreto, inserido numa totalidade histórico-social.

Inicialmente é necessário explicitar alguns pressupostos epis- tem ológicos tais como a relação entre teoria e fatos e a não-neutra- lidade científica. N a superação da dicotom ia entre teoria, de um lado, e o em pírico, de outro, o m aterialism o dialético se propõe a conhecer o concreto, distinto do empírico, e produto de um a análise que, partindo do empírico, o insere num processo o qual permite detectar com o são estabelecidas relações que n os levam a conhecer o

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indivíduo com o manifestação de um a totalidade» Assim, fatos e teoria se tom am indissociáveis, tom ando o processo cientifico necessariam ente acumulativo em direção ao concreto proposto e, a ciência, um conhecim ento relativizado com o produção histórica. Neste sentido definições abstratas perdem significado, pois se antes a generalização caracterizava o conhecer, agora é a especificidade do fato, com preendido em todas as suas im plicações, que se tom a o objetivo do conhecim ento científico*

D esta forma a ênfase metodológica está na análise que permi­ tirá, a partir do empírico, do aparente, do estático, e, recuperando o processo histórico específico, chegar-se ao essencial, ao concreto. E isto só é possível através de categorias que nos levam, gradati- vam ente, a análises m ais profundas, visando captar a totalidade. A ciência vista com o produto histórico tam bém se relativiza com o produção hum ana e, portanto, perde sua condição de "neutra*1, pois é sempre fruto de hom ens situados social e histo­ ricam ente que determinam o prisma pelo qual os fatos são enfocados, ou seja, as necessidades e valores privilegiados por um grupo social naquele momento.

N a m edida em que os fatos estudados im plicam uma inserção histórica, não importa quais as especificidades analisadas, o conhe­ cim ento necessariam ente se processa de forma acumulativa» tanto

quando realizado num mesmo mom ento, como em diferentes épocas; o acumulativo decorre da análise histórica que nos leva ao conhecim ento do indivíduo como m anifestação de uma totalidade. E stes pressupostos determinam procedim entos m etodológicos para a Psicologia Social, fundamentais para se atingir o concreto, ou seja, o indivíduo com o manifestação da totalidade histórico-soçial, que vão desde de qual “empírico" devemos partir até que dim ensão interdisciplinar deva ser abarcada.

Se considerarmos, como Leontiev, atividade, consciência e personalidade as categorias fundam entais de análise do fato psico­ lógico, tem os com o ponto de partida essencial a linguagem , o discurso produzido pelo indivíduo, que transm ite a representação que ele tem do m undo em que vive, ou seja, a sua realidade subjetiva, determinada e determinante de seus com portamentos e atividades.

A ssim , para se detectar o ideológico e /o u o nível de cons­ ciência, partimos do discurso individual produzido na interação com o pesquisador e que deverá ser analisado através de categorias que em eijam do próprio discurso e que o esgotem em todos os significa­

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dos possíveis, ta n to em relação ao que foi dito com o ao “ não- d ito ” . V árias técnicas têm sido u tiliz ad as p a ra se chegar às catego­

rias fu n d a m e n ta is de u m discurso, desde a A A D de P echeux até às m enos e stru tu ra d a s q ue com binam o d ito e o não-dito, ou aquelas que an alisam as relações de su b o rd in ação , com plem en tarid ad e e tc ., seja g ram a tic al ou im p lic itam en te presentes no discurso. O im p o rta n te é o c a rá te r a p o sterio ri d as categorias que perm ite e la b o ra r u m a "síntese p re c á ria ” que d irec io n a análises m ais am plas e p ro fu n d as.

C om este proced im en to o P ro b lem a é an tes um ponto de p a rtid a do que de ch eg ad a, poden d o ser refo rm u lad o a cad a nível de análise, no confrônto com a ação do in d iv íd u o e com as condições q ue cercam a p ro d u ção do discurso.

T am b ém com o decorrência deste pro ced im en to , o pro b lem a referen te a am ostragem assum e o u tra c a ra c te rístic a , pois não se p ro c u ra a generalização m as sim a especificidade dentro de u m a to ta lid a d e e, p o rta n to , os indivíduos e stu d a d o s sào escolhidos em fu nção de aspectos ou condições co n sid e ra d a s significativas e que m u itas vezes não podem ser pré-definidas* m as que em ergem da p ró p ria análise que vem sendo feita.

D este m odo o p esq u isar é tam bém u m a “ p rá x is” : se p a rte do em pírico, se an alisa, se “ te o riz a '’, se volta ao em pírico e assim p o r d ia n te , se ap ro fu n d an d o g rad ativ am en te p a ra se c a p ta r o processo no q u a l o em pírico se insere. C hegar ao co n cre to , à to talid ad e é u m a p ro d u ção coletiva o n d e as la cu n as a p o n ta d a s pelas “ sínteses p re c á ­ rias” sào tã o fu n d am e n tais q u an to os conhecim en to s desenvolvidos. O u tro aspecto de vital im p o rtâ n c ia é a relação pesquisador- pesq u isad o , que n este processo deve se r c o n sid era d a com o u m a rela ção inerente ao fato estu d ad o , sen d o q ue o p esq u isad o r é ta m b ém objeto de estu d o e análise ta n to p o r ele p róprio com o pelo p esq u isad o . N esta perspectiva não é possível dissociá-lo pois ele ta m b ém é p arte m aterial da realid ad e e m estu d o , e quan d o a sua atu ação , a su a p resença é a n a lisa d a n ã o o é em term os de evitar “ vieses” ou de se a tin g ir u m a objetividade, m as sim de c a p ta r a n âo -n eu tralid ad e com o m anifestação d e um processo que se está p ro c u ra n d o com preender em to d a a su a extensão. P o r o u tro lado, a p esq u isa em Psicologia Social, lidando com seres h u m anos, deverá te r sem p re presente q ue o p a p e l in stitu cio n alizad o de pesq u isad o r em n ossa sociedade tra z consigo o c a rá te r de dom inação e com o tal rep ro d u z a ideologia d o m inante; se não q u iserm o s elab o rar conhe­ cim entos co n tam in ad o s ideologicam ente, este fato deve m erecer

AS CATEGORIAS FUNDAM ENTAIS DA PSICOLOGIA SOCIAL 47 um a a te n ç ã o fu n d am e n tal no p la n e ja m e n to de procedimento», registro s e análise do fato pesquisado.

C onhecer ideologia e /o u nível de consciência im plica tam bém o estu d o d as relações g ru p a is que se processam desde a rep ro d u ção c rista liz a d a de p ap éis e, ctrnio tal, da ideologia d om inante, a té o q u estio n am en to das relações de d o m in ação e das con trad içõ es p o r elas g erad a s. N este nível é necessária a análise das atividades desenvolvidas pelo g rupo, assim com o o discurso p roduzido pelos seus m em b ro s. O co n fro n to entre o nivel do discurso e o nível da açã o é essencial p a ra se com preender o indivíduo, seja e n q u a n to re p ro d u to r de ideologia com o p a ra an á lise de seu nível de c o n s­ ciência- N este m om ento a observação p a rtic ip a n te é fu n d am e n tal e n ossa experiência te m dem onstrado que p o r m en o r q ue seja a p a r ti­ cip ação a p are n te do pesquisador, ela o co rre com cara cterísticas decisivas q ue não p odem ser desconsideradas no fato em estu d o .

C oncluindo podem os ressalta r alg u n s pontos-chave p a ra u m a nova m etodologia de pesq u isa em Psicologia Social:

1) as definições e çonç.çitos apriorísticos são dispensáveis, q u a n d o n ão , restritivos p a ra a atividade de pesq u isar;

2) p o r o u tro lado, categorias que nos rem etem aos vários níveis de análise p erm item chegar à m a teria lid ad e do fato, ao co n ­ creto que está sob o em pírico aparente;

3) a p e sq u isà com o “p ráx is1* im plica, necessariam ente, in te r v e n ­ ção e a cu m u la çã o de conhecim entos;

4 ) t as la cu n a s no conhecim ento são tão im p o rta n te s q u a n to o c o n h e ­ cido, se não m ais, pois são elas que p erm itirão a p ro fu n d a r e rever as análises já realizadas.

Bibliografia

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Codo, W ., A transformação do Comportamento em Mercadoria (tese dou­ torado).

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