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E videntem ente o tra b a lh o e n q u a n to m odo de p ro d u ção de sua p ró p ria existência exigiu do hom em a convivência em g ru p o s, o desenvolvim ento da linguagem e a divisão d e tra b a lh o .

O s processos g ru p ais e a linguagem estão form ulados em ou tro s m om entos deste livro. Posso e n tã o m e p o u p a r desta análise e a b o rd a r alg u n s aspectos d a divisão de tra b a lh o que considero relevantes p a ra a análise em questão.

A divisão de tra b a lh o une e sep ara (u n e p o rq u e sep ara, sep ara p o rq u e une) os hom çns ao m esm o tem p o . Se a caça é g ra n d e ç p erig o sa o suficiente p a ra que o hom em n ã o p ossa a b atê-la sozinho e se o rg an iz am grupos en carreg ad o s de a b a tê -la e o u tro s encarregados de e sp a n tá -la , esta divisão de tra b a lh o te n d e , p o r u m a q u estão de co m p etên c ia, a se cristalizar, o que im p lic a q ue percepções, a b s­ traçõ es e tam bém consciências diferentes d a realid ad e se e sta b e ­ leçam em hom ens d iferentes, p o r o u tro là d o é igualm ente o b ri­ g ató rio q ue os m esm os hom ens “ se p a ra d o s” pelas atividades d ifere n ciad a s se u nam em u m p la n o su p erio r, que é o p la n o do p ro jeto e dos objetivos d a atividade em p a u ta . A ssim , é preciso que os h o m en s estejam ligados en tre si pelo p ro d u to do seu trab a lh o (a tiv id a d e objetiva) p a r a q ue p ossam sobreviver. A caça não seria a b a tid a se cada hom em não cedesse a seus in stin to s im ediatos e co m u n g asse do projeto do grupo.

C om o se verá ad ian te, esta d ia lética u n iã o -sep aração é fu n d a m e n ta l p a ra o processo de co nscientização, assim com o a relação hom em *hom em , h o m e m -n a tu re z a que analisarem o s a seguir.

Já repetim os a d n a u sea m que é a re la ç ã o p rá tic a do hom em com a n a tu re z a , su a atividade q ue o co n stitu i. No trab a lh o p ro d u tiv o este cará ter de determ in ação d a p rá tic a aparece de form a c rista lin a ; é a caça q ue in stru i ao c a ç a d o r a força do golpe.

AS CATEGORIAS FUNDAM ENTAIS D A PSICOLOGIA SOCIAL 33 A o m esm o tem po q ue a atividade em inentem ente prática e m p u rra o hom em p a ra o co n tato vis-à-vis a n a tu re z a , seu m odo de ser social e histórico, p o rta n to tra n sc e n d e n te , o obriga a u m a relação com o o u tro que im plica *‘a fa sta m e n to " (ressalte-se as aspas) com a n a tu re z a . V ejam os.

A construção de instru m en to s im b ric a d a com a linguagem p erm ite que o engenho, a criatividade, a com petência de um tra b a lh a d o r em p a rtic u la r tran scen d a a si m esm o e passe a p e rte n c e r a to d a a h u m a n id d e. A rigor, b a s ta que um hom em em u m a trib o prim itiv a invente o arco e a flecha p a ra que esta atividade ob jetiv ad a no p ro d u to de sua a rte passe a p erten cer a to d a a coletividade, im p rim in d o su a existência no ex istir do o utro, que p o r su a vez o reform ula, a té a tin g irm o s todos nós o estágio da b azu c a, p o r exem plo.

P erco rren d o cam in h o inverso: o ato d e um hom em p a rtic u la r com um m ach ad o p a rtic u la r ao b a te r em u m a árvore é perm ead o de to d a a h istó ria da h u m a n id a d e a té então. A q u i a d u p la ap ro p riação hom em -m eio (tra n sfo rm a r e ser tra n sfo rm a d o pela natureza) se funde e tem com o req u isito a d u p la a p ro p ria ç ã o hom em -hom eni (tra n s fo rm a r e ser tran sfo rm a d o pelo o u tro ).

O m ach ad o é u m a via de co n sciên cia do m undo e do social p o rq u e é o hom em genérico, to d a a h istó ria, to d a a sociedade re p re se n ta d a , q u an to m ais técnica se ap erfeiço a m ais o m eio am b ien te n a tu ra l do h o m e m se to rn a h u m a n o . Hoje enco n tram o s o p erário s lid an d o com m á q u in as feitas p o r m á q u in as, p e r o m n ia , p ro d u z in d o a vida de pessoas através d a eletricidade que n ão sabem os ao certo em q u a l m om ento histó rico foi p ro d u z id a p ela p rim e ira vez.

A ssim se prom ove um “ a fa sta m e n to " a p a re n te que se co n cre­ tiza p o r u m p o d er c a d a vez m aior sobre a n a tu re z a p ela via social, vale d izer, histórica.

A m in h a atividade m ed iad a pela a tiv id ad e do o u tro pela via da ling u ag em e do in stru m en to de tra b a lh o é e x a ta m e n te o que p erm ite que a atividade se reap resen te a um sujeito p a rtic u la r em u m ‘reflexo d a realidade co n cre ta destacad o d a s relações que existem en tre ela e o sujeito, o u seja, um reflexo q u e distingue sujeito, ou seja, u m reflexo que distin g u e as p ro p rie d a d e s objetivas estáveis d a R e a lid a d e ” .

E sta m o s fala n d o do fenôm eno d a consciência h u m a n a . M arx nos revela q u e a linguagem é a consciência p rá tic a . O u seja, é a atividade dos hom ens re p re se n ta d a a um sujeito individual,

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p o rta n to passível de ser rep ro d u zid a n a au sên cia do m u n d o objetivo im ed iáto ao m esm o te m p o q ue p erm an ece fiel a ele.

V im os q u e a atividade p ro d u tiv a h u m a n a , p ela via do desenvolvim ento im bricado da lin g u ag em , dos instru m en to s de tra b a lh o e da divisão de tra b a lh o p ro d u z a consciência através d a d ia lética h o m e m /n a tu re z a , h o m e m /h o m e m q ue se expressa p o r u m a te n são p eren e en tre o indivíduo com o sujeito individual e coletivo do seu p ró p rio destino, c o n tra d iç ã o esta que só p o d erá evoluir p e la ap ro p ria ção coletiva do d e stin o individual.

T alvez um exem plo possa d e ix a r as coisas m ais claras. T om em os u m o p erário q u e in g ressa hoje em u m a fábrica: e n c o n tra ali, j á co n stru íd o , um m o d o de p ro d u ç ã o coletivizado a lta m e n te evoluído que o insere em to d a a h istó ria d a h u m a n id ad e, c a d a p ro d u to realizado, c a d a gesto re a p ro p ria e tra n sfo rm a o m u n d o e os h o m ens. Ao a p e rta r u m botão que acio n a u m a m á q u in a, nosso o p erário é invadido p e la h istó ria e to m a -se seu p o rta d o r, se insere em su a classe e na lu ta de su a classe n a m e d id a em que se organiza coletivam ente.

A o mesm o te m p o en co n tra o p ro d u to do tra b a lh o rom pido, divorciado d o p ro d u to r. O p ro d u to do seu tra b a lh o se lhe ap resen ta com o ser estran h o , in d ep en d en te do p ro d u to r, nos diz M arx , o tra b a lh o é alienado, p o r isto dividido e n tre tra b a lh o intelectual e tra b a lh o b raçal, o u seja, o gesto é e x p ro p ria d o da criação« O tra b a lh o coletivizado e as relações de tra b a lh o com petitivas, o irm ão do q u a l o trab a lh o depende e pelo q u a l o p ro d u to se c ria reapresen- ta d o com o inim igo.

O operário viverá en tre estes dois fogos o te m p o todo, a a p ro p ria ç ã o de si pelo m u n d o e a re a p ro p ria ç ã o do m u n d o . O m o m en to d a greve, p o r exem plo, ao prom over a ru p tu ra d a p ro d u ção alien ad a (m esm o que p arcialm en te) ro m p e ta m b é m com o iso lam en to de um indivíduo p a ra com o o u tro . A n ão -produção p ro d u z u m p ro d u to r ativo, de si, do o u tro , do m u n d o . P ela lu ta , via ação, recom pondo, recrian d o a ativ id ad e a té o m om ento em que pelo o u tro o hom em re e n c o n tra a si m esm o, a té q u e o ex istir coletivo reen c o n tre o sujeito individual.

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Identidade

A n to n io d a Costa C ia m p a