• Nenhum resultado encontrado

Q u a n d o querem os conhecer a id e n tid a d e de alguém , quando nosso objetivo é sa b e r q u em alguém é , n o ssa d ificuldade consiste ap en a s em obter as inform ações necessárias. O p a i que deseja sab er q uem são os am igos que an d am com seu filho, a m ãe que p ro c u ra co n h ecer o n am o ra d o d a filha, o em p re g a d o r q ue seleciona um c a n d id a to p a ra tra b a lh a r, o com erciante {lojista ou banqu eiro ) que p ro c u ra se assegurar d a credibilidade d e u m cliente a quem v ai fazer um em préstim o, tod o s eles p ro cu ram “ to m a r inform ações” através dos m ais variados m eios e form as; a n a tu re z a das inform ações pode v ariar, m as todas têm em com um o fato de p erm itire m um conheci­ m en to da id e n tid ad e da pessoa a respeito de q u em as inform ações são to m ad as.

A ssim , obter as inform ações necessárias é u m a questão p rá ­ tica: q u ais as inform ações significativas, q u ais as fontes confiáveis (quem d á as “ referências” ), de q ue fo rm a o b te r as informações» com o in te rp re ta r e a n a lisa r essas inform ações etc. E nfim , o m esm o p ro ced im en to que u m cien tista ado ta a o fazer u m a p esq u isa em pí­ rica (talvez sem a sofisticação h ab itu al n u m a pesq u isa cien tífica..

A5 CATEGORIAS FUNDAM ENTAIS D * PSICOLOGIA SOCIAL *3 A q u i, n ào pròblem atizam o s o re su lta d o obtido; n ão co m p li­ cam os a questão; supom os que as inform ações nos revelam a re a li­ dade.

E ssa crença é a m esm a que guia n o ssas ações m ais c o rri­ q u eira s d a vida co tid ian a. Nossos ritu a is sociais escondem a dificu ld ad e im plícita nessa m an eira de p e n s a r e de agir; é fácil im a g in a r com o se to rn a ria difícil conviver com o u tra s pessoas se n ào houvesse a suposição c o m p artilh ad a p o r to d o J.n ó s de que, n o rm a l­ m en te, u m indivíduo é a pessoa que diz que é (e que os outros dizem que é). P ense n u m a apresen tação social: u m am igo chega com um desconhecido e diz: “ E ste é F ulano, m eu co leg a” e, após você o c u m p rim e n ta r, o novo conhecido diz; “ M u ito p razer, sou F u la n o ’' ou e n tã o “ Sou F ulano, a seu d ispor” , etc.

Se as inform ações são verdadeiras, e n tã o a realidade e stá co n h ecid a (pelo m enos agim os com o se estivesse: depois de u m a ap resen tação , dizem os que o ap resen tad o é nosso “ conhecido11...).

C om o são fornecidas essas inform ações?

A fo rm a m ais sim ples, h a b itu a l e inicial é fornecer um nom e, um substan tiv o ; se o lh arm o s o dicionário, verem os que substantivo é a p a la v ra que designa o ser» que nom çia o ser. Nós nos identificam os com nosso nom e, que nos identifica n u m c o n ju n to de outros seres, q ue in d ica nossa sin gularidade: nosso nom e p róprio. F alam os “ cham o -m e F u lan o ” , sem p re sta r m u ita a te n ç ã o ao fato de que, antes que eu “ me cham asse F u lan o ” , eu “e r a c h a m a d o F u lan o ” , ou seja, nós nos ch am am o s da form a com o os o u tro s nos cham am . N ós nos “ to rn am o s” nosso n om e: pense em você m esm o com o u tro nom e (n ào com o o u tra pessoa, m as você m esm o com o u tro nom e); h á um sen tim en to de estran h eza, parece que não “ e n c a ix a ” - G eralm en te as pessoas se sentem ofendidas q u an d o , p o r q u a lq u e r motivo, tro ­ cam os seu nom e; é sin al de am izade e resp eito n ào esquecer nem co n fu n d ir o nom e das pessoas que p rezam os.

A n ã o ser em casos excepcionais, o p rim eiro grupo social do qual fazem os p arte é a fam ília, e x a ta m e n te quem nos dá nosso nom e. N osso prim eiro nom e (prenom e) n o s d iferencia de nossos fam iliares, e n q u an to o últim o (sobrenom e) nos iguala a eles.

D iferen ça e ig u a ld ad e. É u m a p rim e ira noção de id e n tid ad e . Sucessivam ente, vam os nos d ifere n cian d o e nos igualan d o conform e os vários g ru p o s sociais de q ue fazem os p a rte : b rasileiro, igual a o utros brasileiros, diferente do s estrangeiros ( “ nós os brasileiro s som os... en q u a n to os estran g eiro s S ão ...” ); hom em ou n iu lh e r ( “ os hom ens sã o ... en q u an to as m ulheres s â o ...1'). O s

64 ANTONIO DA COSTA C1AMPA

exem plos podem se m u ltip licar in d e fin id a m e n te ("o s co rintianos s ã o ... e n q u a n to os torcedores dos o u tro s clu b es s&o... ” ).

O conhecim ento de si é d a d o pelo reco n h ecim en to reciproco dos indivíduos iden tificad o s através d e u m d eterm in a d o g ru p o social que existe objetivam ente, com su a h istó ria, suas tradições, suas n o rm a s, seus interesses, etc.

(U m g ru p o p ode existir o b jetivam ente, p o r exem plo, um a classe soci&l, m as seus co m ponentes p o dem n ã o se id en tificar com o seus m em b ro s, e nem se reconhecerem reciprocam ente, Ê fácil, p arec e, p erce b er as conseqüências d e ta l fato, seja p a ra o indivíduo, seja p a r a o g ru p o social.)

M as, se é verd ad e que m in h a id e n tid a d e é co n stitu íd a pelos diversos g rupos de que faço p a rte , e s ta c o n sta ta ç ã o pode nos levar a u m erro , q ual seja o de p e n sa r que os substan tiv o s com os quais nos descrevem os ( “ sou brasileiro” , “ sou ho m em ” , etc.) expressam ou in d icam um a su b stân cia ( " b ra silid a d e ” , “ m ascu lin id ad e” , etc.) que nos to rn a ria u m sujeito im utável, idên tico a si-m esm o, m anifestação d a q u e la substância.

P a ra co m preenderm os m elh o r a idéia de ser a id e n tid ad e c o n stitu íd a pelos g rupos de que fazem os p a rte , faz-se necessário refletirm o s com o um g ru p o existe objetivam ente: atrav és das relações que estabelecem seus m em bros e n tre si e com o m eto onde vivem, isto é, p e la sua p rá tic a , pelo seu a g ir (n u m sentido a m p lo t podem os dizer pelo seu trab alh o ); agir, trab alh ar» fazer, p en sar, sen tir, etc., já não m ais substantivo, m as verbo. U sam os ta n to o substantivo q u e esquecem os do fato original do agir: Ev& co m eu a m açã; P ro m eteu ro u b o u o fogo do s céus; O x a li com seu cajado sep a ro u o m u n d o dos hom ens do m u n d o dos deuses. C om o devem os dizer: o p eca d o r p eca, o desobediente desobedece, o tra b a lh a d o r tra b a lh a ? Ao d iz er assim , estam os p re ssu p o n d o antes d a ação, do fazer, u m a id e n tid a d e de pecador, d e d esobediente, de tra b a lh a d o r, e tc .; co n tu d o é p elo agir, pelo fa z e r, q u e alguém se to rn a algo: ao p e c a r, pecador; ao desobedecer, desobed ien te; ao tra b a lh a r, tr a b a ­ lh ad o r.

E stam os co n sta ta n d o talvez u m a obviedade: nós som os nossas ações, nós nos fazem os p ela p rá tic a (a não ser p o r gozação, você c h a m a ria “ tra b a lh a d o r” alguém q u e n ã o trab a lh asse?).

£ essa obviedade que nos coloca fren te a u m com plicadíssim o p ro b le m a teórico.

A té a q u i estáv am o s tra ta n d o a id e n tid a d e com o u m “ d a d o 1* a ser p esq u isad o , com o um p ro d u to p reex isten te a ser conhecido,

d eix an d o de lado a q u estão fu n d am e n tal d e sab er com o se d à esse d ad o , com o se p ro d u z esse p roduto. A re sp o sta à p erg u n ta “quem sou e u ? ” é u m a represen tação d a id e n tid ad e . E ntão, to m a -se necessário p a rtir d a representação* com o u m p ro d u to , p a ra a n a lisa r o p ró p rio processo de p ro dução.