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na organização industrial (notas sobre o “lobo mau”

A PRÀXIS D O PSICOLOGO

felicidade do hom em e co rro b o ran d o n a alienação do tra b a lh a d o r tran sfo rm a n d o -o em dócil e p a c a to objeto de exploração do C a p ita l

Á iguns críticos m ais afoitos chegam a resp o n sab ilizar to d a Psicologia, acusan d o -a de estar a serviço d as classes d o m in a n te s servindo com o instrum ento destas c o n tra o tra b a lh a d o r.

D e passagem , é bom frisar q ue não é privilégio d a Psicologia m u ito m enos d a Psicologia In d u stria l, o seu com prom isso com a classes dom inantes. É fato, já sobejam en te conhecido, que < dom ínio de u m a classe sobre a o u tra tra z com o deco rrên cia < dom ínio das idéias d a classe que está 110 p o d er, e que a ciência nã< escap a através de algum exercício m ágico de n eu tra lid a d e. Pei« co n trá rio , ao p ro d u zir conhecim ento que n ecessariam ente im pltc; po d er, a ciência é a p ro p ria d a pelas classes d om inantes e utilizada ern seu benefício,

No e n ta n to , ao c o n statarm o s esta relação e n tre ciência « p o d er, não podem os co rrer 0 risco de “jo g a r a crian ça fo ra com ;

ág u a do b a n h o \ V ejam os: se o psicólogo, ao declarar q u e a P sico Jogia In d u strial está a serviço d a g ran d e in d u stria, se recusa ; tra b a lh a r n a área , e s tá fazendo coro pelo avesso a velhas c a n tile n a que p ro c la m a m a n eu tra lid a d e d a ciência, isto sim , p ro d u ti ideológico típico d as classes d o m in an tes. E m o u tras p a la v ra s a crítica que produz a não intervenção é u m a crítica c a o lh a covarde, que lava as m ãos e se recu sa em inverter o papel da c iê n c ia que n ão se subm ete a c o rre r os riscos do poder p a ra te n ta subvertê*lo,

£ verd ad e que o psicólogo in d u stria l é um em p re g ad o d« p a trã o , c o n tra ta d o p a ra fazer frente ao o p erário . P o r isto m esm o, « psicólogo consciente deveria estar n a in d ú stria refletindo c o n sc ie a te m en te p a ra te n ta r subverter suas funções. F ran zin d o o n ariz e s< recu san d o a cu m p rir tão “ vil p a p e l” , os defensores deste tipo d « crítica fazem coro e x atam e n te ao sistem a, pois reivindicam pel« avesso a n eu tra lid a d e d a ciência, q ue d en u n ciam com o falsa, « p o u p a m os indu striais do incôm odo de ter en tre suas fileiras u n profissional preo cu p ad o com a defesa dos direitos do tra b a lh a d o r

Im aginem os q ue um o perário, ao to m a r consciência ds exploração a q ue é su b m etid o , se recusasse a tra b a lh a r n a fáb rica ac invés de o rg an iz ar su a classe d en tro d a fáb ric a. T riste e irônicc conluio en tre a consciência e a covardia, em um a p alavra, falsí (pseudo)consciência, se tra d u z em om issão.

M as n ã o é ap enas no p la n o genérico q ue estas criticas s< m o stra m débeis. Tivem os o p o rtu n id a d e de fazer um estu d o do cas«

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de u m a in d ú stria, re la ta d o em um tra b a lh o a n te rio r, que aponta p a ra as funções q ue o psicólogo exerce de fato n a indústria. P ossuím os razões p a ra su p o r que os d ad o s coletados sejam passíveis de generalização, g u a rd a n d o p recau ção p a ra as possíveis m udanças q ue o co rram de um a fá b ric a p a ra o u tra , m as q u e, em nossa opinião, n âo alteram o con teú d o básico d as observações que realizam os. V ejam os, então, q u ais são de fato as atrib u içõ es do psicólogo na in d ú stria :

E m se tra ta n d o de seleção» a in d u stria l geralm en te divide seus funcio n ário s em d u as categorias: a dos h o rista s e a dos m ensalistas. O s p rim eiro s são os en ca rreg ad o s d ire ta m e n te d a p ro d u ção , ope­ rário s m ais ou m enos qualificados, e os segundos são funcionários do q u e cham am os de te cn o b u ro cracia, diversos escritórios de co n tro le, engenheiros, psicólogos, etc. C abe re ssa lta r que os horistas a p re se n ta m a m aioria esm ag ad o ra (70-90% ) do total dos em pre­ gados d a fábrica.

P a ra os operários literalm en te n ã o h á seleção, não se aplicam te stes psicológicos nem de p erso n alid ad e n e m de inteligência, a p en a s u m a entrevista q*ue in d a g a coisas com o o lugar o nde o o p erário m o ra , o n ú m e ro de filhos que te n h a , depen d ên cia do salário e experiência an terio r, e n te n d id a n o sentido de já ter tra b a lh a d o em u m a fáb ric a antes “ p a ra n ã o se d esilu d ir” , nas p a la v ra s da psicóloga que entrevistam os.

D iga-se de p assag em , n ão p o d eria ser de o u tr ^ fo rm a porque d p ró p rio pedido de m ão -d e-o b ra n ão d isc rim in a com d etalhes a fu n ç ã o que o operário deve realizar. N a fá b ric a que estudam os havia vários trab alh o s diferen tes colocados sob o m esm o título: “ m on­ ta d o r“ ; quem define que tip o de tra b a lh o o recém -chegado fa rá é o chefe de seção e n ão a seleção de pessoal.

D e m o n tad o r o o p erário pode p a ssa r a várias o u tras funções até a tin g ir a de en c a rre g a d o d e pessoal. T o d as estas prom oções são feitas p o r critérios estabelecidos e d e te rm in a d o s pelo chefe de p ro d u ção , n ã o p assando, p o rta n to , pelo crivo d a seleção de pessoal.

P a ra os m ensalistas, encarregados em ú ltim a in stâ n cia de c o n tro la r o co m p o rtam e n to do o p erário , o d ep a rta m e n to de seleção já segue à risca os m a n u a is de Psicologia In d u stria l, são aplicados os testes baseados em descrição de função, etc.

O d ep artam en to de trein am en to segue a s m esm as diretrizes b ásica s, g ra n d e p a rte d a su a atenção é d e d ic a d a a cursos de relações h u m a n a s e de liderança, avaliação de d esem penho (aplicado apenas aos m ensalistas), cursos de inglês p a ra os g eren tes.

A PRAXIS D O PSICÓLOGO IM

P a ra os operários, o d ep artam en to de trein am en to se lim ita

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alg u m as instruções de com o funciona a fáb ric a, ch a m a d a po m p o ­ sam en te de ' ‘sem ana de in te g ra ç ã o ” , e ao ad estram en to , c u ja in stru ç ão d u ra , no caso de tarefas m ais com pletas, em m édia IS m in u to s e é feita p o r u m a ex-operária p rom ovida a in s tru to ra . D epois disto, b a sta q ue o o p erário re p ro d u z a sob supervisão a ta re fa até que alcance o ritm o exigido p ela p ro d u ç ã o .

A fáb rica, com o se vê, p rescinde da intervenção d o psicólogo n a escolha de seus funcionários e n a m a n u te n ç ã o de um bom a n d a ­ m ento d a p ro d u ção . Isto é possível devido a dois m ecan ism o s básicos; p rim eiro, através d a intervençào d a E n g en h a ria Industrial» que se d ed ica ao estu d o p o rm en o rizad o do trab a lh o , visando a m axim ização dos lucros p o r m eio d a sim plificação a d e x tre m u m d a ativ id ad e do operário, o q ue não só agiliza, p ela divisão d o tra b a lh o na lin h a de m ontagem , a consecução do p ro d u to final, co m o ta m b ém , e n ã o m enos im p o rta n te , to rn a o operário fa c ilm e n te substituível (eis aqui o verdadeiro ag en te de controle d o com por­ ta m e n to d e n tro d a fábrica); e, segundo, p o r um exército in d u stria l de reserva fa rto e acotovelado às p o rta s d a fáb ric a à esp era d e dem issões q ue possibilitem ao tra b a lh a d o r o acesso c a d a vez m a is ra ro ao em prego.

V ejam os, agora, o que estas providências descritas a c im a provocam no o perário. A su a adm issão ao em prego lhe a p a re c e com o a leató ria, o exercício das ta re fas d iá ria s, repetitivas, insigni­ ficantes, ou, com o q u er G eorges F ried m an n , “ o hom em é m aior d o que o g esto ", su a dem issão com o a rb itrá ria , su a prom oção depen­ d en te, em ú ltim a instância» dos cap rich o s do chefe da p ro d u ção . O o p erário resiste a esta alienação de várias m aneiras, m as algum as nos interessam aq u i, p a rtic u la rm e n te : supervaloriza a su a p ró p ria seleção, chegando a in v e n tar testes que não fo ram reali­ zados e atrib u in d o à su a adm issão a inteligência, perspicácia, etc., e, d e n tro d a fábrica, reivindica e /o u não p erd e a o p o rtu n id ad e de realizar q u a lq u e r curso técnico com que p ossa aperfeiçoar-se. O s m ecanism os são evidentes, trata-se de c o n tra p o r, à desvalorização a que a fáb ric a o subm ete, u m a revalorização de si m esm o, ain d a que seja através da fantasia.

R etornem os às qaestões iniciais, to d a a crítica que se tem feito à Psicologia do trab a lh o tem com o alvo pred ileto a te n ta tiv a de escolher o hom em certo p a ra o lu g a r certo (right m a n to th e rig h t p la c e ) do p o n to de vista da seleção ou m elhor pressuposto de “ a d a p ta r o hom em à m á q u in a " , objetivo que em últim a in stância

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re p ro d u z no plano dò trein am e n to a m esm a ideologia d a seleção. O q ue se vê n a fábrica q u a n d o o objeto de e stu d o são os operários, q u a n tita tiv a m e n te a esm ag ad o ra m a io ria do s tra b a lh a d o re s e q u alitativ am en te os responsáveis diretos p e la p ro d u ção , não é n e n h u m a tentativ a de ad a p ta ç ã o do indivíduo à in d ú stria , pelo c o n trá rio , trata-se d a elim inação do in d iv íd u o que tra b a lh a , pelo m en o s do ponto de vista psicológico.

E m outras p a la v ra s, trata-se de tra n sfo rm a r o tra b a lh o do o p e rá rio em força de tra b a lh o e u tilizá-la com o q u a lq u e r outra fo rça (elétrica, m ecânica) no processo p rodutivo. E sb u lh a r o co m p o rtam en to p ro d u tiv o d a su a d ig n id ad e, e x p ro p ria r o tra b a lh a ­ d o r do controle do p ró p rio processo de tra b a lh o , tra n sfo rm a r o gesto p ro d u tiv o , h u m a n o p o r excelência, em força de tração.

Ê que a filosofia d o rig h t m a n in th e r ig h t p la c e tem sentido em um capitalism o em ex p an são , com ta x a s d e crescim ento supe­ rio res, ao crescim ento vegetativo d a o fe rta d e m ão-de-obra, m á­ q u in a s funcionando a to d o vapor, novos ram os in d u striais em ex p an são . E stam os vivendo em u m a O utra fase do capitalism o: recessão, desem prego e m la rg a escala, crescim ento dos setores finan ceiro s d a econom ia em d etrim en to d as in d u striais, au m en to da ca p a c id a d e ociosa d as u n id a d es p ro d u tiv as em funcionam ento, falê n cia de p equenas e m éd ias em presas. E m u m a palavra, vivemos n u m a estagflação, nom e teórico q ue os econom istas en co n traram p a ra b a tiz a r um a situ a ção o nde com binam -se a lta s taxas de inflação com a estagnação d a econom ia.

O m odo de o p eraç ão de u m a econom ia ca p ita lista , n a m edida em q u e repousa sobre a p ro d u ção coletivizada e a posse individual dos m eios de produção, carreg a em si a c o n tra d iç ã o de necessitar, p o r u m lado, de m ã o -d e -o b ra especializada, ao mesmo* tem po que deve o p e ra r p a ra re tira r dos tra b a lh a d o re s o p o d e r que é inerente à especialização, o que faz (teoricam ente) d a Psicologia organi­ zac io n al u m in stru m en to im p o rta n te n a a d m in istra ç ã o dos conflitos e n tre c ap ital e trabalho* U m q u a d ro de recessão e desem prego a u m e n ta em m uito a o fe rta de m ã o -d e -o b ra e os investim entos em tecnologia que fazem o p êndulo oscilar e m direção a um a m ã o -d e-o b ra cad a vez m ais descartável. Se algum a frase pu d er s u b stitu ir o rig h t m a n in th e rig h t p la c e , sugiro em oposição q u al qu er coisa sem elhante a no w h ere m a n in a n y p la c e *

T al situação que em síntese prom ove a transform ação do tra b a lh o , elim inando a d ig n id ad e do tra b a lh a d o r, coloca os críticos d a ideologia da a d a p ta ç ã o , do h om em ao tra b a lh o ., n a posição de

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