• Nenhum resultado encontrado

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

5.7 A gestão do CEI

5.7.1 A Proposta Pedagógica do CEI

Sentimos a necessidade de trazer a Proposta Pedagógica (PP) do CEI, após a leitura atenta deste documento e por encontrar, de certa forma, ressonância do que está escrito, com o que ela se propõe em termos de crianças e suas infâncias, pautados nos pressupostos teóricos de Louris Malaguzzi (1999).

Chamou-nos a atenção a participação das crianças na construção desse documento, a partir de suas falas e desenhos expressos na PP. Tais desenhos são registros do que as crianças entendem de conceitos como, espaço, como o representamos em folhas tão pequenas, dentre outros aspectos questionados pelas próprias crianças.

Os registros gráficos das crianças, expressos na PP, supomos que sejam arquivos das professoras, a partir da documentação pedagógica que estas realizam, descritas na PP como arquivo pessoal, abaixo dos desenhos e falas das crianças.

Percebemos a partir das observações e das entrevistas narrativas o movimento que esta instituição vem realizando desde sua fundação, em 2012, no sentido de incorporar uma concepção de criança, competente e ativa. E pensamos que, de certo modo, ela vem conseguindo. Porém, as marcas deixadas à pessoa dos bebês ainda são muito fortes, visto que não percebemos registros dessas crianças na PP desse CEI.

Acreditamos que este fato histórico ainda perdura em menor ou maior grau nas instituições que se destinam a esse atendimento. Pensamos que, em parte, isso se deve à falta de conhecimento sobre o quê e como fazer com crianças tão pequenas.

Também pudemos observar a relação estabelecida com as famílias das crianças em termos de acolhida, escuta e trocas de informação sobre os contextos de vida familiar das crianças e principalmente dos bebês; dados também revelados por meio das entrevistas com as professoras e CP, e garantidos a partir da Proposta Pedagógica do CEI.

A escuta a criança também é algo evidenciado na descrição da Proposta Pedagógica e que de fato presenciamos em alguns momentos de observações da rotina no CEI, como observações no horário de recreio, alimentação no refeitório em que a professora senta com as crianças e dialoga com elas, as observa (principalmente entre as professoras e os bebês), participação das professoras nas brincadeiras com as crianças, nas observações ao planejamento das professoras de bebês e suas colegas de profissão, e por meio de nossa participação em encontros coletivos de formação das professoras do CEI.

A escuta e observação são elementos fundamentais para o desenvolvimento de um currículo emergente, de acordo com os pressupostos Malaguzzianos, pressupostos estes que sustentaram a PP do CEI.

A proposta de currículo emergente é sustentada na ideia de que ele vai sendo construído com as crianças. Para isso não há objetivos fechados e definidos a serem atingidos, mas pelo contrário, os professores formulam hipóteses do que poderia ocorrer. Isso se dá a partir de seus conhecimentos sobre as crianças e de experiências anteriores. As hipóteses servem de base para a formulação de objetivos flexíveis e adaptados aos interesses e necessidades das crianças, expressos por elas e por seus professores a qualquer momento no desenvolvimento do projeto (RINALDI, 1999).

Na sala de referência dos bebês presenciamos diversos momentos em que este currículo se delineava. O planejamento pautado nesses pressupostos era mais evidente nas ações e no plano da professora Utopia. Acreditamos que este fato ocorria pela longa experiência já com os bebês. Já a professora Glaucinha, apesar de ser uma professora iniciante vinha na tentativa de desenvolvê-lo junto às crianças.

Estas observações foram evidenciadas também nas entrevistas narrativas das professoras, sujeitos dessa pesquisa, e também presenciadas com outras professoras de agrupamentos diversificados, momentos em que observamos a dinâmica da instituição nos corredores e outros espaços livres, bem como nas conversas entre as professoras, que aconteciam nos planejamentos e outros encontros coletivos de formação do CEI.

Para dar vida a esse planejamento trabalham com a modalidade organizativa de projetos, por permitir um planejamento pensado e organizado, porém, também advém de percursos improváveis, inventivos e imaginativos, ou seja, permite uma maior flexibilidade para adequar-se às necessidades das crianças. .

É ainda explicitada a organização do planejamento e avaliação institucional no PP do CEI. No que se refere ao planejamento, há quatro princípios que pautam as ações das professoras, são eles: 1) Coletividade, que se refere à organização do planejamento, porém sem detalhes de como se dá essa organização; 2) Participação, que está relacionada à participação da família no CEI; 3) Ambiente, como forma de organização de um segundo educador para as crianças; e 4) Respeito às crianças e suas infâncias.

Já a avaliação institucional refere-se à forma de acompanhamento ao desenvolvimento das crianças, que segue as orientações da SME e orientações próprias do CEI em sua forma de acompanhamento por meio de observações e escuta atenta às crianças, e elaboração dos relatórios do processo de aprendizagem e desenvolvimento.

Além disso, traz uma descrição das ações da gestão no CEI. Observamos a partir da leitura deste documento que essas são ações gerais, que envolvem as relações com todos os seguimentos da instituição, primando por um bom relacionamento entre elas. Contudo, sentimos falta de ações mais voltadas ao trabalho de acompanhamento junto ao professor. Acreditamos que esta função de acompanhamento às praticas, orientações e acompanhamento ao planejamento dos professores são primordiais para a efetivação das concepções expostas no PP do CEI.

6 A PERSPECTIVA DE PROFESSORAS QUE ATUAM COM BEBÊS NA REDE

MUNICIPALDEFORTALEZAACERCADAFORMAÇÃOCONTÍNUANOSSEUS

CONTEXTOSDETRABALHO

Este capítulo objetiva apresentar a perspectiva das professoras que atuam com bebês na Rede Municipal de Fortaleza, acerca da formação contínua nos seus contextos de trabalho. Para isso apresentamos e descrevemos as ações desenvolvidas nesse contexto voltadas à formação das professoras.

Os dados foram construídos, essencialmente, a partir das falas das docentes; trazidas, basicamente, nas entrevistas narrativas em virtude dos objetivos pretendidos. Além disso, foram consideradas situações registradas a partir de alguns registros fotográficos, das conversas informais e das observações, também imprescindíveis para retratarem o cotidiano de trabalho das professoras nos momentos de planejamento, nas salas de referências e momentos de formação coletiva.

Vale relatar que precisamos recorrer a alguns documentos que fundamentam a ação docente na Rede Municipal de Fortaleza, e que foram relevantes para a compreensão de algumas experiências presenciadas no contexto do CEI, os quais serão destacados no transcorrer deste capítulo.

É relevante mencionar que a observação e a reflexão acerca da perspectiva das professoras de bebês a respeito de sua formação no CEI levaram em consideração o contexto social, histórico e político em que está inserida a instituição, bem como as condições de trabalho para o desenvolvimento dos processos formativos dessas profissionais.

Desse modo, à luz dos pressupostos teóricos de Bogdan e Biklen (1994), em que os autores destacam que é a partir dos valores sociais e a maneira de dar sentido ao mundo que influenciam quais processos, atividades, acontecimentos e perspectivas serão categorizadas, que apresentamos a análise desta pesquisa a partir de dois grandes tópicos, seguidos de uma categorização em cada um deles. Destacamos ainda que cada uma destas categorias possuem subcategorias que assim modelaram e deram sentidos aos dados aqui expressos.

Assim, as discussões aqui apresentadas articulam-se em duas partes, a saber: 6.1 - Saberes que os professores de bebês consideram pertinentes e necessários às suas práticas no CEI a partir da formação contínua, e 6.2 - As estratégias formativas utilizadas na formação no CEI, a partir da perspectiva das professoras. Cada uma das partes apresentam-se com subdivisões para melhor sistematização dos argumentos.

6.1 Saberes que os professores de bebês consideram pertinentes e necessários