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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

2.1 A formação contínua dos professores de bebês em contextos de atuação docente

2.1.1 Currículo para o atendimento aos bebês

A pesquisa de Carneiro (2017) versa sobre o currículo para bebês no contexto de uma crechepública municipal do estado do Ceará, que atendia crianças na faixa etária de quatro a dezoito meses, em turmas de Berçário. O trabalho contou com a participação de vinte bebês, duas professoras e duas auxiliares de sala.

Suas análises revelaram, entre outros aspectos, a inexistência de um currículo para bebês na Proposta Pedagógica sistematizada da creche pesquisada; a ausência de um planejamento intencional para a maioria das atividades que acontecia no Berçário; a dificuldade das educadoras de perceber a especificidade do trabalho a ser realizado com os bebês, considerando suas particularidades e seu potencial para aprender ativamente; uma suposta dissociação entre cuidado (entendido como atividades para o atendimento das necessidades corporais) e educação (compreendido como atividades que visam desenvolver apenas o aspecto cognitivo das crianças); o conhecimento advindo da “maternidade” visto como necessário para atuar junto aos bebês; a indiscutível capacidade dos bebês de participarem das situações que acontecem no espaço coletivo mesmo quando as condições oferecidas não fazem jus ao seu potencial criativo, comunicativo e interacional.

Mediante tais considerações, a pesquisadora destaca que o currículo pensado para bebês precisa atender suas necessidades, no que diz respeito às brincadeiras e interações e a

apropriação de diferentes linguagens e apontam para a urgência de investimentos para a formação inicial e contínua de professores que atuam junto aos bebês (CARNEIRO, 2017).

Santos (2017) realizou seu trabalho em escolas de Educação Infantil (Berçário) da Rede Municipal de Ensino de Salvador. A análise foi realizada a partir da escuta das narrativas de seis professoras que exerciam a docência em três centros municipais de educação infantil que atendiam bebês. Suas análises sinalizam que os currículos praticados com bebês intercruzam-se com os diálogos sobre cotidiano, narrativa, docência, planejamento, observação, documentação pedagógica e especificidade da ação pedagógica com bebês.

Assim, os currículos se concretizam nas relações no cotidiano da creche/CEI, mediante as relações estabelecidas entre os sujeitos. Em sua pesquisa, a autora aponta ainda que, no contexto pesquisado, a ação pedagógica com os bebês já começa a dar sinais de mudanças quanto à compreensão das capacidades e potencialidade dessas crianças, bem como os procedimentos metodológicos de educação/cuidado experienciados no cotidiano com eles.

As pesquisas de Carneiro (2017) e Santos (2017) são bem recentes, e embora ambas discursem sobre currículos para bebês, tiveram diferentes sujeitos como mote para suas analises. A primeira traz a perspectiva dos bebês e a segunda, das professoras de bebês.

Chama a nossa atenção o fato de que no contexto de Salvador, de acordo com a pesquisadora, algumas mudanças nas práticas desenvolvidas com os bebês nas instituições já são visíveis, ao contrário das análises do contexto pesquisado por Carneiro (2017), em que se quer havia um currículo expresso na Proposta Pedagógica da instituição, que por sua vez, se expressava nas dificuldades das educadoras de perceber a especificidade do trabalho a ser realizado com os bebês considerando suas particularidades e seu potencial.

Percebemos que há uma disparidade entre esses dois contextos, em Salvador já há um avanço nas práticas desenvolvidas para/com os bebês que favorecem suas potencialidades enquanto sujeitos imersos nesse possesso, embora a pesquisadora frise dificuldades naquele contexto, muito comuns às outras realidades no país, como falta de recursos, inadequadas instalações, baixos salários, e tantos outros. Fatos que merecem investigações para um maior esclarecimento dos elementos que distanciam esses dois municípios.

Encontramos realidades semelhantes quanto os desafios já citados anteriormente, entre os contextos de Salvador e o contexto pesquisado por Carneiro (2017), porém, o que nos parece ter sido o diferencial foi o investimento em formação contínua de professores que Salvador tem realizado ao longo dos anos, fato relatado pelas professoras que atuam com bebês.

As professoras destacam o Programa Nossa Rede Educação Infantil,5que vem transformando práticas educativas e concepções acerca da imagem de bebês, infâncias e crianças.

Assim, os bebês deixam de ser vistos como passivos e cedem lugar a uma imagem de bebê capaz, ativo, criativo, comunicativo e potente. A pesquisadora também reconhece que para que o programa possa ter maior amplitude ainda é preciso garantir as condições materiais nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI).

Santos (2017) salienta ainda que o que é vivido no cotidiano de cada CMEI é ressonância da qualidade e do alcance das políticas públicas destinadas à Educação Infantil, em nível local e nacional. Assim, a partir dos resultados da pesquisa referida, e das reflexões da autora, supomos que haja neste município maiores investimentos para a garantia de uma educação que de fato atenda as necessidades dos bebês e suas professoras.

Embora esta pesquisa traga como tema fundante o currículo voltado para bebês a partir das narrativas de suas professoras, é um trabalho que nos traz grandes contribuições, pois aborda elementos fortes, como a formação contínua desses profissionais no contexto de trabalho ou via Secretaria Municipal de Educação de Salvador, as expectativas formativas de professores de bebês e as políticas públicas de valorização e formação dos professores; elementos estes que também inspiraram nosso estudo.

O objeto da investigação de Cocito (2017) foi o espaço no âmbito da Educação Infantil. Para tanto, objetivou compreender como os espaços para bebês e crianças pequenas poderiam ser organizados e estruturados de maneira a constituir-se em lugar e elemento curricular, alinhado a uma perspectiva crítica de educação e autonomia da criança.

Em seu trabalho foi realizado uma pesquisa do tipo documental e bibliográfica e, a partir deles, são apresentadas propostas para a (re)estruturação dos espaços de instituições que atendem bebês e crianças pequenas, de maneira que favoreçam o acolhimento, o sentimento de pertença e a constituição do espaço e lugar curricular alinhado a autonomia da criança. Para isto, foi vivenciado os “Cantos Temáticos, Territórios de Aprendizagem e o Cesto dos Tesouros” como possibilidades de organização do espaço numa perspectiva de ambiente como terceiro educador.

Cocito (2017) conclui destacando que o processo “do espaço ao lugar” é possível de ser vivenciado nas instituições de Educação Infantil. No entanto, é necessário reflexão, ação,

5 O Programa Nossa Rede Infantil é uma ação prevista no programa Combinado que visa melhorar a qualidade da

educação pública municipal e tem por objetivos a elaboração das novas diretrizes curriculares da Educação Infantil, que comporta cerca de 20 mil alunos, e do Ensino Fundamental I, que atualmente atende a mais de 81 mil alunos na rede municipal de educação. Disponível em: <http://educacao.salvador.ba.gov.br/programa-projeto/nossa- rede/>. Acesso em: 22 jun. 2017.

envolvimento, oportunidades, formação, decisão, compreensão e aproximação da equipe pedagógica com os conceitos de espaço, ambiente e lugar.