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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

2.1 A formação contínua dos professores de bebês em contextos de atuação docente

2.1.5 Saberes da docência

Oliveira, R. F. (2018), um dos autores representantes da sexta categoria de análise, teve como objetivo descrever e discutir os saberes e fazeres de uma professora de bebês de um a dois anos de idade de um Berçário II. Os resultados indicaram diversos saberes e fazeres da docência com os bebês e as crianças bem pequenas em ambientes de educação formal e coletiva. Estes saberes e fazeres advêm de diferentes fontes de aquisição.

Os dados coletados por Oliveira, R. F. (2018) também revelaram a dicotomia entre a teoria e a prática na docência com os bebês e as crianças bem pequenas. A pesquisadora destaca ser esse um grande obstáculo na construção dos saberes e práticas docentes. Também foi apontado em seu trabalho que os profissionais consideram sua formação inicial e as teorias educacionais como de pouca relevância para sua atuação junto às crianças nas escolas.

Os dados revelados indicaram a necessidade de discussão a respeito da qualidade da formação dos profissionais que atuam com a Primeiríssima Infância e a ampliação dos estudos que tenham os bebês e crianças pequenas como foco, a fim de permitirem a reflexão acerca dos saberes e práticas dos professores que atuam com este agrupamento.

Os eventos apontados por Oliveira, R. F. (2018), principalmente os que estão ligados aos saberes que fundamentam a atuação das professoras de bebês, nos auxiliam na discussão acerca da constituição desses saberes e experiências que poderão guiar o trabalho de uma professora de bebês, possibilitando discutir sua postura e sua prática no atendimento a esse agrupamento.

O trabalho de Arruda (2016) consistiu em uma pesquisa bibliográfica envolvendo buscas em fontes de informações digitais, tais como Acervus, Athena, Dedalus e Scielo, das quais resultou a produção de um instrumento de pesquisa que abarcou a sistematização das referências localizadas.

O estudo também contou com ações de campo baseadas em entrevistas semiestruturadas e observação da prática de quatro professoras de bebês (crianças de até três anos de idade) em quatro escolas públicas da cidade de Marília (SP). A pesquisa objetivou identificar quais são as especificidades do trabalho educativo com bebês na Educação Infantil do ponto de vista teórico e prático. A realização da pesquisa se amparou nos ideários da Teoria Histórico-Cultural, valendo-se das contribuições de autores estudiosos dessa teoria e de autores brasileiros contemporâneos.

O trabalho confirmou a existência de especificidades no trabalho com crianças pequenas e pequenininhas. A autora destaca ainda, a partir de sua análise os seguintes dados: a emergência de se pensar em cursos de formação docente que sejam capazes de articular teoria e prática, dado já apontado na pesquisa de Oliveira, R. F. (2018), que se voltem para o envolvimento do professor em sua atividade; o papel precípuo da escola e da atuação intencional do professor; a potencialidade da criança como sujeito ativo como um dos fundamentos de um trabalho pedagógico e humanizador na infância, de maneira a considerá-la e tratá-la como pessoa com direitos fundamentais, dentre os quais o direito a uma educação motivadora de seu desenvolvimento pleno.

Os dados obtidos na pesquisa bibliográfica e na pesquisa de campo revelaram que a formação inicial e continuada de professores exige reflexões e reorganizações, devendo estas contemplarem as especificidades da Educação Infantil. De acordo com Arruda (2016), foi possível perceber que há uma defasagem nos cursos de formação de professores, especialmente no que diz respeito ao conteúdo que se remete à Educação e cuidados dos bebês e crianças bem pequenas, chegando a ser mencionado nas narrativas das professoras investigadas o quanto é difícil encontrar cursos com essa temática nas formações contínuas.

Já o objetivo da pesquisa de Silva (2017) foi apontar a correspondência entre os movimentos externalizados e a situação social de desenvolvimento dos bebês no primeiro ano de vida em creche. Utilizou como método de pesquisa o materialismo histórico e dialético, para o auxílio na compreensão dos movimentos realizados pelo bebê em suas múltiplas determinações. Seus sujeitos foram quatro bebês (07 a 10 meses de idade), que foram fotografados e filmados enquanto se relacionavam com o entorno, composto por diferentes materiais, tempo e pessoas. Para tanto, foi realizado algumas proposições com os bebês com o intuito de demonstrar a tese e contribuir com o trabalho do professor de creche.

Sua base teórica se pautou no materialismo histórico e dialético, enquanto método de pesquisa para o auxílio na compreensão do movimento realizado pelo bebê em suas múltiplas determinações. Desta compreensão emergiram categorias de análises que apontaram as necessidades internas dos bebês enquanto se moviam (os objetos e os adultos presentes).

Nas análises de Silva (2017) foi detectada uma contradição, tendo em vista os objetivos da EI: de modo geral, os profissionais responsáveis pelos bebês em creche estão contribuindo de forma limitada com o seu desenvolvimento em termos de expressão corporal. (SILVA, 2017).

A autora defende a tese de que os movimentos realizados pelos bebês podem ser utilizados como referências para a prática do professor, visto que os movimentos realizados são indícios, sinais, pistas de uma situação social de desenvolvimento. “Portanto deve o professor planejar, organizar e propor objetos, materiais, organização do espaço e outras vivências para que os bebês tenham novas experiências e avancem cada vez mais em direção à psique mais desenvolvida” (SILVA, 2017, p. 205).

Caroni (2011) faz uma análise textual discursiva, ancorada em sua própria prática docente, e toma, para isso, seus registros de quando atuava como professora, pois defende que a escrita é uma das formas de pensar, refletir e promover autoformação docente. Pautou-se em teóricos como John Dewey e Miguel Zabalza para fundamentação de sua pesquisa. De acordo com a pesquisadora, a inquietação que sempre lhe acompanhou enquanto professora de

educação infantil era saber como é ser/tornar-se professor de crianças de um a dois anos. No intuito de responder a este questionamento analisou os registros escritos – diários e avaliações feitos de 2004 -, quando iniciou a docência na primeira turma de Classe Bebê de uma escola particular do município de Porto Alegre, a 2010.

Caroni (2011) aponta a importância da prática cotidiana e das trocas e relações entre pares e outros profissionais como coordenadores e especialistas de outras áreas como psicólogos, fonoaudiólogos, dentre outros, bem como a elaboração teórica através de estudos por meio de livros, pesquisas, seminários, palestras etc, como meio de buscar suporte teórico em seu fazer pedagógico para o processo de construção profissional. A pesquisadora considera que teoria e prática são complementares e que somente a teoria não é suficiente para a profissionalidade docente.

A pesquisa de Caroni (2011) é de grande relevância para nosso trabalho, uma vez que nos dá pistas de como um professor se constitui em sua profissionalidade, pois, a autora nos fornece elementos a partir de sua prática, tais como: a construção de vínculos, com outros profissionais, famílias e as próprias crianças; o choro como comunicação, no qual o professor passa a compreender melhor as necessidades dos bebês, desde que haja escuta e observação atentas: as mensagens de “sim” e de “não” como uma forma de comunicação das crianças com os adultos, estabelecimento de limites e intervenções do professor; e o registro, que para ela é fundamental para conhecimento dos bebês, planejamento e avaliação das crianças e de sua atuação.

Duarte (2011) teve por objetivo identificar a especificidade que constitui a ação docente das profissionais que atuam com os bebês com faixa etária de quatro meses a um ano em creche, buscando compreender as dimensões envolvidas na educação de crianças pequenas em espaços coletivos. A metodologia empregada foi a qualitativa e teve como instrumentos de coleta de dados a aplicação de questionário e de entrevistas. Quanto à metodologia para a análise do material, foi utilizada a análise de conteúdo.

Duarte (2011) evidenciou em seu estudo que a ação docente com os bebês é constituída por especificidades que denotam, principalmente, as particularidades da faixa etária dessas crianças, além de contar com uma “docência partilhada”, que prevê outras pessoas envolvidas, portanto é uma docência marcada por relações. Por sua vez, essas relações se constituem através de dimensões educativas que consolidam a especificidade da ação docente das professoras de bebês como, as quais, na análise da autora, correspondem à dimensão das relações de cuidado e à dimensão das relações corporais.

As pesquisas de Schmitt (2014), Demétrio (2011) e Silva (2018) entrecruzam-se com a de Duarte (2011), ao abordarem as especificidades de atuação com os bebês e a defesa de uma formação inicial e contínua que abordem tal especificidade através de pressupostos teóricos e práticos. A publicação de Silva (2017), ao tratar da evidência dos movimentos realizados pelos bebês como possibilidade de referências para a prática do professor, também estabelece uma relação com os trabalhos citados acima, pois esta reforça o tipo de trabalho que deverá ser desenvolvido com os bebês como, observação e escuta atenta para interpretar o que os bebês sinalizam com seus gestos, corpos e movimentos, relacionando-se, portanto, à especificidade desse trabalho.

Os achados das publicações supracitadas nos ajudam a ampliar nossos conhecimentos acerca da potencialidade dos bebês, e que muito ainda temos que caminhar em termos de formação docente que esteja para além dos conhecimentos técnicos e instrumentais, ou seja, que perpasse pela sensibilidade da escuta, do olhar e da responsividade pedagógica do professor para e com os bebês. Entendemos que só assim ganharão visibilidade os bebês e também seus professores.

A pesquisa de Oliveira, R. P. (2014) versou sobre identidades docentes em berçários, e foi realizada a partir de um enfoque qualitativo, a partir de um estudo empírico por meio de entrevistas, com professoras que atuavam com crianças de zero a dois anos de idade. Por meio das narrativas das professoras, a pesquisadora procurou identificar aspectos relevantes para a compreensão do processo de constituição das identidades profissionais das docentes, diante das demandas do trabalho específico com bebês, no contexto de uma rede pública.

Os dados obtidos apontaram para a existência de especificidade na prática docente em berçário, sobretudo nas atividades que envolvem os cuidados de bebês. Práticas que histórico e culturalmente foram naturalizadas como atributos femininos e que hoje não são valorizadas em culturas escolares. As análises indicaram ainda que o antagonismo entre o trabalho intelectual e manual (as relações entre professora e auxiliar) também estão presentes na creche, repercutindo em relações de poder na instituição. Assim, para afirmar sua identidade profissional encontravam várias estratégias, a fim de outorgar sua profissionalidade enquanto professoras que atuam com bebês.