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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

6.1 Saberes que os professores de bebês consideram pertinentes e necessários às

6.1.2 Os saberes que anunciam as professoras de bebês

6.1.2.3 A interlocução com outros saberes

A relevância do intercâmbio com outras áreas do conhecimento se faz necessário em virtude da complementariedade de saberes que os pedagogos não possuem. Visibilizando nossa reflexão, a professora Utopia relata ser esse um aspecto valoroso para quem exerce a docência com bebês.

Uma formação que me ajudasse na docência com bebês, primeiro que tivesse outros profissionais, como alguém da psicologia, que trouxesse como acontece o desenvolvimento dos bebês, porque o que eu sei é superficial, o que a CP sabe é superficial. Por mais que eu leia, não é a mesma coisa de alguém que sabe, que estudou a vida inteira. Então como é que penso arquitetura para bebês? Como devo organizar esse espaço? [...] Às vezes outros profissionais trazem outras perspectivas. Algo que me dê suporte, não só o que tem de superficialidade, porque às vezes eu tenho que entender de muitas outras coisas, mais é superficial, nunca é profundo, nem que eu quisesse não conseguiria. Mas se eu tivesse outro alguém que trouxesse esse suporte talvez as coisas caminhassem enquanto formação continuada, porque eu estaria vendo o olhar do outro e esse olhar do outro a gente vai se complementando, tipo como acontece na Federal de Minas Gerais, eu tive a oportunidade de ir lá no curso de pedagogia, as disciplinas são interdisciplinares [...] (Professora Utopia).

Utopia descreve sobre a importância da organização de um ambiente favorável ao desenvolvimento dos bebês. Para ela, o ambiente precisa ter essa funcionalidade, ser promotor e potencializador do desenvolvimento. Sua preocupação é a que o espaço precisa ser planejado, pensado e projetado para uma finalidade, que é potencializar o crescimento dos bebês.

Utopia se inquieta em não saber com profundidade sobre os aspectos da organização do espaço que possam lhe subsidiar na atuação com os bebês.

Ao falar sobre a relevância de um espaço preparado para acolher os bebês, Utopia destaca a importância de conhecer sobre a funcionalidade dos objetos no tempo e no espaço, da adequação destes para os bebês. Os móveis, além de promotores do desenvolvimento, devem ser seguros, ou seja, não devem oferecer riscos aos bebês.

Utopia costuma viajar para conhecer boas instituições de educação infantil pelo país, já foi a alguns estados com esse fim. Em uma dessas visitas conheceu a experiência de uma Universidade Federal em Santa Catarina e relata que nesta há um diálogo do curso de pedagogia com outros cursos, como por exemplo, com o curso de arquitetura, em vista da importância que dão ao planejamento dos espaços educacionais.

Utopia percebeu que esta interlecução foi favorável à ampliação de saberes relacionados à construção e organização de materiais propícios para a EI. Daí, defende que é preciso que as formações contemplem os saberes relacionados à organização dos espaços, bem

como objetos e materiais que possam compor esse espaço, não oferecendo riscos e promovendo interação e autonomia.

Embora Glaucinha não tenha anunciado sobre a relevância desse saber para a sua atuação com os bebês, observamos que ela tinha um cuidado em preparar uma ambientação adequado à experiência que os bebês teriam no dia a dia.

Certa tarde, enquanto os bebês saíam para lanchar, Glaucinha ficou só na sala de referência para organizar o espaço. Começou estendendo uma toalha no chão, e pôs alguns depósitos e neles colocou grandes bolas de gelo. Nelas percebíamos objetos coloridos não identificáveis. Ao lado de cada depósito Glaucinha pôs bisnagas com água morna.

A experiência fazia parte do projeto que os bebês estavam desenvolvendo naquele mês. Esta atividade como objetivo possibilitar a eles o contato com diferentes sensações, quente e frio, além de promover a curiosidade, a surpresa em descobrir quais animais marinhos estavam presos no gelo.

Percebemos com essa atividade um zelo e um cuidado em favorecer um espaço e materiais propícios para os bebês terem uma experiência lúdica e prazeirosa. No entanto, ela parece estar ainda ligada aos momentos em que um conteúdo precisa ser explanado. Não desconsideramos, em hipótese nenhuma, o cuidado, o compromisso e a responsabilidade de organizar com tanta criatividade essa experiência, contudo, entendemos que os ambientes precisam estar organizados cotidianamente para que os bebês tenham a oportunidade de estarem sempre em constantes descobertas.

Por isso, tendo vista o relato de Utopia e as observações em sala de atividade, defendemos que esse saber deva ser contemplado nas formações contínuas no contexto do CEI, e que as duas professoras, independente de sua contratação profissional sejam contempladas.

A respondente se reconhece como uma profissional que não sabe de tudo e que, por isso mesmo, precisa dialogar com outros saberes complementares, que lhe ampliem o olhar sobre os bebês, seus cuidados e educação e o atendimento a eles.

De acordo com Oliveira-Formosinho (2002), a profissionalidade docente das educadoras é baseada numa rede de interações alargadas com os pais, com as auxiliares, com outros profissionais, tais como, psicólogos, assistentes sociais, com autoridades locais, com voluntários. “De fato a educação da infância requer uma integração dos serviços para as crianças e suas famílias que alarga o âmbito das interações profissionais” (OLIVEIRA- FORMOSINHO; KISHIMOTO, 2002, p. 48). É desta integralidade das ações que Formosinho destaca ser uma característica que define a especificidade da EI.

Em nível nacional, a legislação educacional brasileira desde a implementação da Lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB impõe, a quem atua com este nível de ensino, saberes para uma atuação docente, que seja capaz de cuidar e educar, vendo a criança como um ser integral, digno de ser desenvolvido em todos os aspectos físico, psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e da comunidade.

Assim, para a garantia ao atendimento às várias infâncias e crianças nas instituições de EI, visando uma educação promotora dos direitos humanos, é imprescindível, segundo Barbosa (2009), a integralidade de três aspectos fundamentais as creches e pré-escolas, os quais são:

[...] função social, que consiste em acolher, para educar e cuidar, crianças entre 0 e 6 anos e 11 meses, compartilhando com as famílias o processo de formação e constituição da criança pequena em sua integralidade. Em segundo lugar, a função política de contribuir para que meninos e meninas usufruam de seus direitos sociais e políticos e exerçam seu direito de participação, tendo em vista a sua formação na cidadania. Por fim, a função pedagógica de ser um lugar privilegiado de convivência e ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas entre crianças e adultos. A articulação entre essas três funções promove a garantia de bem-estar às crianças, aos profissionais e às famílias (BARBOSA, 2009, p. 9).

Segundo Barbosa (2009), uma das características políticas importantes da educação infantil está relacionada ao papel complexo para a garantia de um atendimento integral das crianças e que, portanto, incluem aspectos relacionados à educação, à saúde, à cultura e à proteção, o que torna imprescindível a interlocução com outras áreas dos serviços públicos.

Desse modo, garantir a educação e cuidados dos bebês está para além das reivindicações de suas professoras para uma melhor atuação com os bebês, mas é responsabilidade também do poder público, pois “As políticas de educação infantil precisam estar integradas com as políticas das secretarias de saúde, de justiça, de meio-ambiente e outras, pois todos esses âmbitos tem grande expectativa com um serviço de educação infantil de qualidade” (BARBOSA, 2009, p. 20).

Barbosa (2009) complementa destacando que é da responsabilidade daqueles que fazem a educação das crianças em espaços coletivos o compromisso de problematizar e viabilizar essa interlocução para poder qualificar o atendimento pedagógico e também para contribuir na defesa dos direitos das crianças.

6.1.2.4 Materiais e organização dos espaços (mobiliário, objetos e organização, adequados