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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

2.1 A formação contínua dos professores de bebês em contextos de atuação docente

2.1.6 Práticas pedagógicas

Cardoso, R. P. (2014), em seu estudo, buscou evidenciar a documentação pedagógica como importante instrumento promotor de reflexão das práticas desenvolvidas com

os bebês, bem como sua visibilidade em seu processo educativo. A investigação se configurou em estudo de caso e teve como sujeitos três professoras de agrupamento de bebês de uma creche universitária em São Paulo. Os resultados evidenciaram escassos espaços e tempos legitimados nas instituições infantis para a reflexão em equipe, além de produzir um olhar atento à extensa produção de registros; em especial as fotografias, que se constituem na instituição como arquivos de memória pouco apresentadas às crianças e pouco utilizadas no âmbito educacional qualitativamente.

Este estudo nos revela que, de certa forma, já ouve um avanço com relação às formas de registro utilizadas nas instituições de Educação Infantil. Porém, a sua utilização requer uma reflexão acerca do que representa de fato essa documentação pedagógica como forma de tornar visível a atuação dos bebês e crianças bem pequenas, bem como configurar-se como um instrumento para analisar a reflexão da prática docente.

O trabalho de Cardoso (2014) evidencia a relevância do planejamento de tempos e espaços organizados para a reflexão coletiva dos professores que atua com bebês, no sentido de garantirem na instituição uma cultura de aprendizagem que se dá na companhia, na coletividade, na partilha, na construção e reconstrução de si, de concepções e crenças. Portanto, este é também um trabalho que nos inspira.

O estudo de Hampel (2016) analisou o trabalho pedagógico de mediação de leitura conduzido por professores de turma de berçário, a partir da frequência das ações de mediação, reação dos bebês com possíveis gestos de leitura e as relações da mediação e reação entre os bebês. A pesquisadora conclui afirmando que, no contexto pesquisado, os bebês são atentos e responsivos.

Em sua pesquisa, Hampel (2016) observou comportamentos leitores aprendidos pelos bebês numa tentativa de imitar as professoras o que, de acordo com a pesquisadora, reforçam o interesse pela atividade de leitura, bem como revelam uma capacidade apurada de suas leitoras de referência, no caso as professoras.

A pesquisa de Hampel (2016) traz também à tona como conclusão, a maneira como as professoras elaboram suas práticas com planejamento e reflexão, mostrando-se abertas e alertas à participação das crianças, contrapondo o senso comum e os ranços do assistencialismo, indicando que as professoras do berçário não apenas acolhem as necessidades físicas tão carregadas de dependência nessa fase.

Os resultados da referida pesquisa nos relevam que os estudos recentes sobre os bebês na educação, advindos da pedagogia da infância, têm proporcionado aos profissionais que atuam diretamente com eles, uma mudança de concepção sobre o trabalho com esse

agrupamento e sobre o que eles representam com todo o seu potencial. No entanto, essa realidade ainda se faz de modo sutil, e destoante em alguns contextos, como demonstra também a pesquisa de Guimarães (2011) que será destacada adiante. Assim, essa realidade já dá seus primeiros sinais de transformações, demarcando, uma maior visibilidade aos bebês, uma identidade profissional aos seus professores, bem como uma identidade específica da Educação Infantil. Dados que evidenciamos nas pesquisas de Cardoso (2016).

Quanto à pesquisa de Scudeler (2015), esta teve como objetivo central identificar e compreender quais as possibilidades de atividades de comunicação emocional dos bebês, na idade entre quatro e doze meses, considerando as condições concretas de educação (espaço, tempo, materiais, relacionamentos), organizadas por professoras de um Centro de Educação Infantil. A partir de suas análises, conclui que ainda há carência de possibilidades de atividades de comunicação emocional, intencionalmente planejada e de conhecimentos que fundamentem as práticas pedagógicas.

Os resultados do estudo de Guimarães (2011) evidenciam o potencial protagonista dos bebês nas interações com os livros. A investigação voltou-se às práticas com crianças com idade menores de dois anos, tendo como foco as interações entre bebês e crianças bem pequenas com o objeto livro. De acordo com as análises, os bebês se relacionam com os livros das formas mais variadas e autônomas, na busca de um parceiro para ler, na escolha do livro, nas vozes que emprestam às imagens, como atualização de experiências anteriores presentes na memória.

A pesquisa apontou, ainda, que tanto o manuseio do livro quanto a escuta de narrativas realizadas pelos adultos da instituição às crianças, possibilitavam modos/ jeitos próprios/singulares/específicos de uso/leitura dos livros, não se limitando aos momentos de leitura por parte dos professores.

Tanto a pesquisa de Hampel (2016) quanto Guimarães (2011) evidenciam o potencial autônomo e criativo dos bebês nas relações estabelecidas com os livros ou outros objetos, reafirmando o papel preponderante do professor na promoção dos espaços e tempos, intencionalmente preparados e potencializadores das relações entre os bebês e o meio. A pesquisa a seguir, de Cardoso (2016) substancia as relações vividas pelos bebês entre si e com ambiente de forma a ampliarem suas experiências.

Cardoso (2016) trata sobre as brincadeiras dos bebês no contexto de creche. Esse trabalho traz uma reflexão acerca das práticas que possibilitam a brincadeira entre/com os bebês, bem como a interação com o outro e com o mundo, na troca de experiências e conhecimentos partilhados. A pesquisa foi desenvolvida em um berçário público no município de Juiz de Fora, observando e dialogando com os professores. Este trabalho teve como

referencial teórico a perspectiva sócio-histórico-cultural por acreditar que as mudanças trazem significativas transformações na vida do ser humano. Assim, a partir das análises, foi percebido que existe espaço/tempo para as brincadeiras com os bebês na referida creche. E a prerrogativa para isto foi o envolvimento dos professores em construir uma prática pedagógica que priorizasse seu envolvimento nas brincadeiras com os bebês, através da elaboração de seus planejamentos pedagógicos, os quais tinham como eixo central o brincar.

A pesquisa de Cardoso (2016) nos mostrou que é possível uma mudança de postura profissional, de transformação de si, e à medida que essas transformações internas iam acontecendo, foi possível externalizá-las para as salas de atividades com as crianças. Consideramos, assim, que a transformação começa internamente para depois ser externalizada em ações; o movimento é de dentro para fora, e isso nos mostra que não basta instrumentalizar, “tecnicizar” os conhecimentos, mas antes de tudo “[...] é preciso pensar os conceitos e depois pensar os conceitos na prática” (OLIVEIRA-FORMOSINHO; PASCAL, 2019, s/p.) Consideramos ainda que pensar os conceitos é internalizá-los, tomar para si, e isto só poderá ser possível por meio da reflexão.

Cardoso (2016) ressalva que foi a partir da utilização de sua metodologia de entrevista dialogada que as professoras teceram narrativas sobre o objeto em discussão. A pesquisadora afirma, fundamentada em Bakhtin (1997), ser um momento no qual, se dá a tomada de consciência levando os sujeitos a repensarem criticamente o assunto problematizado. Cardoso (2016) também aponta para a necessidade de uma política clara de formação contínua ou um espaço de palavra para os profissionais de creche. Embora a pesquisadora não trate da formação contínua na creche, seu trabalho nos inspira a pensar sobre os elementos promotores de reflexão e transformação das práticas desenvolvidas no contexto de atuação docente.

O trabalho de Zucoloto (2011) é o primeiro a tratar da formação em contexto e investigou a qualidade do atendimento aos bebês e crianças pequenas numa creche do estado de São Paulo, através da utilização da escala ITERS – (HARMS, CRYER e CLIFFORD, 1990) que avalia o ambiente para crianças de zero a trinta meses em instituições infantis. Esta escala constitui-se como instrumento de avaliação da qualidade do atendimento infantil em creche. O problema se desdobrou na relação entre a qualidade na educação da infância e a formação de educadores em contexto para a educação infantil.

Sua reflexão era compreender como uma escala de avaliação num ambiente educativo seria um instrumento que poderia auxiliar o grupo de professores a repensarem sua prática. Os itens que compõem a escala serviram como base para uma reflexão da contribuição

e da concepção sobre a formação em contexto. Zucoloto (2011) defende que a formação em contexto se dá na partilha de ideias, concepções, decisões e saberes, respeitando a autonomia do educador para avaliar sua prática educativa a partir de uma pedagogia da infância na qual torne a criança visível. A pesquisa se pautou nas pedagogias da infância e os pressupostos teóricos de Dewey.

A pesquisadora traz à tona a reflexão de que a qualidade da educação da infância depende da qualidade de seus educadores e ressalta o papel que o coordenador pedagógico e o diretor possuem para a promoção de práticas reflexivas, por meio do desenvolvimento de um trabalho colaborativo na instituição. Aponta ainda que a formação em contexto só terá sentido caso as concepções, como educar, cuidar, escuta e infâncias, crianças e educar com qualidade, estejam claras e bem definidas por todos os profissionais da instituição, principalmente para os professores.

Os dados apontados por Zucoloto (2011) serão importantes para o nosso trabalho, pois a partir deles estabelecemos uma relação entre formação em contexto e a formação contínua no CEI, uma vez que ambas possuem princípios e processos norteadores diferentes, tais como, metodologia de implantação, formadores externos a instituição, uso de instrumentais como escalas para avaliação do ambiente para crianças de zero a trinta meses para avaliação do atendimento prestado a elas, dentre outros aspectos que aprofundamos adiante. O objetivo desta análise tem como propósito ampliar os conhecimentos sobre os elementos que compõem a pesquisa, na tentativa de compreender como as formações contínuas, que contam apenas com os agentes internos da instituição, poderão contribuir para o desenvolvimento profissional e organizacional no CEI, tendo como foco as especificidades dos bebês.

Gonçalves (2014) teve como objetivo aprofundar os estudos sobre as práticas pedagógicas com as crianças de zero a três nos de idade, analisando os indicativos para a docência com bebês e crianças bem pequenas, a partir da produção científica brasileira, cadastradas no banco de teses e dissertações da CAPES entre os anos de 2008 a 2011. Desse modo, foi realizado um mapeamento da produção nacional que tinha como foco de preocupação a educação das crianças de zero a três anos, no contexto da educação infantil, totalizando 48 trabalhos, dos quais 13 constituíram o corpus definitivo analisado.

Gonçalves (2014) conclui que na categoria “estudos sobre a especificidade docente” os dados reafirmam, portanto, que para ser professora de bebês é necessário possuir especificidades próprias para essa faixa etária, caracterizada principalmente pelas ações que envolvem os momentos de alimentação, higiene e sono, dentre outras, que constituem as dimensões educativas. Além disso, emergem indicativos para a própria prática pedagógica,

sobretudo elementos que assinalam e reafirmam a potencialidade dos bebês, chamando atenção para a importância do esforço dos pesquisadores em buscar compreender e legitimar seus pontos de vistas, considerando as suas múltiplas linguagens.

Gonçalves (2014) conclui sua análise enfatizando que é significativa a grande predominância de pesquisas, mesmo com distintas perspectivas teóricas, que se dedicaram a estudar aspectos ligados ao desenvolvimento das crianças de zero a três anos, se comparado aos estudos que tiveram a prática pedagógica. Referente aos estudos sobre a função social da creche e relação com as famílias, todas as pesquisas reafirmam a importância das relações estabelecidas entre famílias e creche/CEI, atribuindo a estas instituições a responsabilidade de revelar para as famílias sua ação fundamentada numa intencionalidade pedagógica. Assim, como resultado da pesquisa pode-se destacar a organização dos tempos e espaços como elementos centrais que segundo a pesquisadora caracterizam a especificidade docente com bebês e crianças bem pequenas.

O trabalho de Gonçalves (2014) reafirma a especificidade da docência com bebês, ao destacar o papel preponderante da família no estabelecimento das relações com a creche/CEI. A relação família/instituição enquadra-se nos pilares da Pedagogia em Participação. As famílias são vistas como parceiras no desenvolvimento da aprendizagem das crianças.