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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

6.1 Saberes que os professores de bebês consideram pertinentes e necessários às

6.1.2 Os saberes que anunciam as professoras de bebês

6.1.2.4 Materiais e organização dos espaços (mobiliário, objetos e organização,

Ainda na perspectiva do intercâmbio com outras áreas profissionais para ampliação da atuação com os bebês, a professora Utopia destaca que essa possibilidade lhe permitiria, por exemplo, uma melhor organização dos materiais apropriados aos bebês, algo citado pela docente como um saber também necessário conhecer sobre os materiais e organização deles nos espaços, tais como, móveis, objetos, espaços preparados para bebês. Argumenta ainda que um diálogo com a Arquitetura poderia contribuir valorosamente para um ambiente mais adequado para eles.

Corroboramos com a professora ao pensar que espaços que sejam promotores do desenvolvimento integral dos bebês requerem uma série de outros saberes envolvidos nas ações de cuidado e educação destes, a exemplo da importância das interações, independentes das idades das crianças; do valor da brincadeira para o desenvolvimento dos bebês, da importância das relações afetivas em que haja respeito, escuta e observação aos interesses das crianças, e também de outros aspectos que estão relacionados aos cuidados com materiais e móveis que promovam conforto e segurança a bebês e suas professoras, bem como o desenvolvimento da autonomia dos bebês.

Nos horários de pesquisa na sala de referência notamos que o espaço deste ambiente poderia ser mais bem organizado, a fim de promover maior autonomia, independência, protagonismo, exploração, curiosidade e também segurança das crianças, uma vez que este último é o maior receio das professoras.

Ao estarmos em sala, contabilizamos 40 minutos diários em cada turno em que um adulto está só com essas crianças. Esse é um tempo que precisa ser otimizado no CEI, pois é um tempo em que as necessidades das crianças podem não ser atendidas em virtude da falta de planejamento. Lembrando a ocorrência de Márcia, a bebê que estava indisposta e que ficou na porta olhando sua professora sair correndo para brincar com os outros colegas na grama, o acidente com Glaucinha e as outras crianças; pensamos que este tempo prologando de 40 minutos poderiam ser pensados a fim de garantir experiências de exploração e descobertas pelos bebês.

Embora os bebês tenham livre acesso aos materiais disponíveis na sala, eles requerem planejamento, organização, diversificação para, também nesses momentos, promoverem aprendizagem e desenvolvimento. É também um tempo para que as crianças possam viver a sua infância com todo esplendor.

Retomando a reflexão iniciada no capítulo cinco, referente ao quantitativo de profissionais para atender as demandas dos bebês, apontada nos achados de Silvia (2018) e Demétrio (2016), questionamo-nos se seria o caso da contratação de um terceiro profissional ou um gerenciamento da instituição, já que todos têm a responsabilidade com a educação e os cuidados dos bebês; uma vez que as abordagens italianas, Malaguzzianas, as abordagens das Pedagogias em Participação, apontam sobre o ambiente como um terceiro educador, assim seja planejado para isso.

Fortunati e Pagni (2019) assevera que a ideia de criança como protagonista requer também uma nova concepção de currículo e o espaço e o tempo são elementos fundamentais no novo currículo para a infância.

Fato curioso é que os saberes relacionados à organização do tempo não foram apontadas pelas professoras. Sobre o tempo, destacamos uma citação de Fortunati e Pagni (2019), que reforça nossa compreensão de que este seja um saber a ser continuamente refletido quando se desenvolve um trabalho com os bebês.

[...] O tempo é um elemento realmente importante na organização de um contexto que aceita diferenças [...] o tempo das experiências deve ser, antes de tudo, tranquilo, disponível para as pausas, para a descontinuidade, para acolher da ação das crianças, sem interrupções súbitas no fluxo das relações ou na exploração dos objetos. Além disso, o tempo deve ser leve, sem a ansiedade de ter que cumprir uma programação rígida e disponível a se curvar a imprevistos, sejam eles derivados de necessidades fisiológicas a serem satisfeitas ou de tramas inesperadas de brincadeiras que tomam forma (FORTUNATI; PAGNI, 2019, p. 83).

A partir do exposto, indagamos: Qual seria o tempo dos bebês? Como vivenciam o tempo cronológico, ou melhor, como subvertem esse tempo?

Ao pensarmos sobre a contação de história, apontada pela professora Glaucinha como um saber necessário para sua atuação com os bebês, entendemos que está intimamente relacionado com o outro saber, o significado dos tempos para os bebês.

Retomando a análise acerca dos espaços, para uma definição mais clara dos conceitos que empregamos utilizamos as ideias de Forneiro (1998), corroborando, assim, com a pesquisa de Cocito (2017).

Forneiro (1998), ao abordar o conceito de espaço, destaca que este se refere ao espaço físico, aos locais para a atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. Assim, ao abordarmos o termo espaço estamos fazendo menção ao espaço físico e aos elementos materiais que o compõe, sem com isto, deixar de destacar as relações que permeiam este espaço (FORTUNATI; PAGNI, 2019).

Horn (2004) também se utiliza dos conceitos de Forneiro, para sua definição de espaço, no qual, para esta autora funciona como um facilitador, de encontros, interações, trocas entre crianças e entre crianças e adultos. Afirma a autora que ele é um parceiro do professor na prática educativa. Daí compreendermos a importância de um planejamento que garanta o estabelecimento de todas as relações possíveis nesse espaço.

É nesta perspectiva que Barbosa e Horn (2001, p. 73) asseveram que “[...] ao pensarmos num espaço para crianças devemos ter em mente que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores e odores, mobílias, equipamentos, e ritmos de vida.” Destacam que é importante educar as crianças para observar, escolher, categorizar e propor. Além disso, devem ser possibilitadas interações com os diversos elementos, por isso ele é parte integrante da ação pedagógica sendo, portanto, um fator decisivo na construção da intelectual e social dos bebês.

Na organização do espaço traremos algumas sugestões a partir da abordagem Pikler, pois não há preferências de materiais, como por exemplo, só plástico, ou só elementos da natureza, mas, uma variedade deles, exatamente por reconhecermos as dificuldades encontradas nas instituições públicas. No entanto, estes devem ser cuidadosamente pensados e planejados como veremos a seguir.

Na abordagem de Pikler, a organização do espaço deve promover o brincar livre dos bebês, pois a liberdade de movimentos e brincadeira livre são relevantes para o desenvolvimento saudável da personalidade da criança, uma vez que o bebê que tem a possibilidade de experimentar essas experiências ganha confiança em si mesmo em situações problemáticas cotidianas, e pensamos que também na vida adulta posteriormente. Assim, em todos os níveis de seu desenvolvimento, sua própria ação a ajuda a aprender a fazer coisas que lhe dão sentimento de êxito, tão fundamentais para qualquer ação cotidiana.

Dessa forma, promover um ambiente favorável ao desenvolvimento do movimento livre e espontâneo dos bebês requer dos professores a organização de um espaço seguro, com a disposição de objetos adequados a cada etapa de desenvolvimento do bebê, e observação atenta dos processos pelos quais as crianças passaram.

Assim, pensar na organização de um espaço propício à livre movimentação dos bebês requer conhecimentos de detalhes importantes, como o que as crianças já realizam ou conseguem realizar com ajuda, número de crianças por ambiente, mobília adequada e objetos e materiais propícios a cada faixa etária.

Sobre a organização do espaço e materiais, Araújo (2010) destaca que estes dois elementos em creches deverão refletir a crença na competência participativa da criança e criar múltiplas oportunidades ao nível dos seus processos de aprendizagem e desenvolvimento.

A partir das referências de Falk (2016), Kálló (2017) e Zinser (2017), ao se pensar num espaço promotor do desenvolvimento de indivíduos criativos e pensantes, autônomos e singulares, enfim, verdadeiros protagonistas, é preciso pensar nos materiais que serão dispostos, tais como mobiliários adequados conforme o desenvolvimento do bebê.

Quanto aos objetos, esses devem ter diferentes formas, tamanhos e texturas, volumes, cores etc, e serem adequados a cada etapa de desenvolvimento do bebê. Necessário é perceber se as crianças só ficam deitadas, se já sentam, engatinham, andam. Por volta de um ano, os objetos podem ser colocados em diferentes cantos da sala, ao longo de uma parede vazia. De preferência os brinquedos favoritos devem estar numa cesta ou serem dispostos sempre em um mesmo canto da sala (KÁLLÓ, 2017, p. 33).

A superfície em que as crianças brincam também é um elemento relevante na sua locomoção. Esta deve ser uma superfície rígida, pois sua resistência impulsiona a verticalidade, a tonicidade necessária à realização dos movimentos e apoia seus esforços para manter-se na posição correta.

Assim, compreender a potência dos espaços e os materiais que neles habitam, porém transitam, e que sejam potencializadores do protagonismo dos bebês, é um saber que precisa ser difundido, discutido e refletido nos encontros de formação contínua. Contudo, defendemos que o conhecimento técnico da organização e disposição de materiais não pode se sobrepor ao conhecimento pedagógico, no qual perpassam as relações estabelecidas nesse contexto.

Portanto, as professoras possuem toda razão ao solicitarem este saber. Em suas reivindicações acerca deste dado deduzimos que talvez não haja clareza de todos os elementos promotores do protagonismo, autonomia e geradores de conhecimentos, mas o fato de denunciarem essa demanda demonstra a compreensão de que ele é um elemento valoroso para seu trabalho.