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4 VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE CONTRA O IDOSO

4.6 Eixos teóricos de compreensão da violência e da agressividade

4.6.1 A pulsão de vida e de morte segundo Freud

Seguindo a teoria da evolução de Darwin, algumas teorias surgiram para tentar elucidar o problema do fator agressão no comportamento humano.

Nesse sentido a teoria da pulsão de vida e de morte segundo Freud. O homem, para Freud, é um ser biológico-fisiológico, e a agressividade é uma pulsão de fluxo constante que habita no organismo humano (FROMM, 1975, p.40).

Freud aborda as expressões, pulsão de vida e pulsão de morte, para identificar o desejo do homem pela vida e o que o impulsiona para a destrutividade. A pulsão de vida tenta controlar ou neutralizar a pulsão de morte. A pulsão de morte pode levar o homem à autodestruição quando é dirigido contra si próprio, interiorizado, ou então, levá-lo à destruição de outros seus semelhantes, quando é extravasada:

Freud chamou de masoquismo primário o estado em que as pulsões de morte estão originariamente dirigidas para o próprio indivíduo e tendem a levá-lo para a autodestruição. Mas somos constituídos também pelas pulsões de vida, que trabalham para neutralizar as pulsões de morte. As intervenções das pulsões de vida e do amor por si mesmo levam o sujeito a voltar suas pulsões de morte para o mundo externo. Através do sistema muscular, boa parte dessa destrutividade é desviada para fora, contra os outros (ALMEIDA, 2010, p. 18).

Freud identifica a dor e a crueldade como componentes da pulsão sexual, que funciona como fator propulsor para a agressividade:

Na neurose obsessiva, o que mais se destaca é a significação dos impulsos que criam novos alvos sexuais e parecem independentes das zonas erógenas. Não obstante, na escopofilia e no exibicionismo o olho corresponde a uma zona erógena; no caso da dor e da crueldade como componentes da pulsão sexual, é a pele que assume esse mesmo papel – a pele, que em determinadas partes do corpo diferenciou-se nos órgãos sensoriais e se transmudou em mucosa, sendo assim a zona exógena por excelência (1996, p. 155).

A relação entre a libido e a crueldade é fundamental na percepção dos transtornos mentais (neuroses, psiconeuroses, paranoias), especialmente na identificação dos transtornos ligados á sexualidade:

Um papel muito destacado entre os formadores de sintomas das psiconeuroses é desempenhado pelas pulsões parciais, que na maioria das vezes aparecem como pares de opostos e das quais já tomamos como portadores de novos alvos sexuais – a pulsão de ver e do exibicionismo, e a pulsão de crueldade em suas formas ativa e passiva. A contribuição desta última é indispensável à compreensão da natureza sofrida dos sintomas e domina quase invariavelmente uma parte da conduta social do doente. É também por intermédio dessa ligação da libido com a crueldade que se dá a transformação do amor em ódio, das moções afetuosas em moções hostis, que é característica de um grande número de casos de neurose e até, ao que parece, da paranoia em geral (FREUD, 1996, p. 156).

Ademais, comportamentos como ódio, amor, desejos sexuais, paixões etc., são elementos que compõem o caráter humano, e que muitas vezes não satisfeitos ou não inibidos, levam a pessoa à agressividade.

A inibição das pulsões de ódio, de agressividade, pode ser reduzida ou controlada quando na fase da infância, com a formação da consciência, e posteriormente, através da formação do caráter e da personalidade (FERRARI, 2006, p. 51-52).

Para Freud, desde o nascimento e nos primeiros anos de vida vai sendo formado o caráter e o temperamento, que significa a “expressão das intensidades e das combinações das pulsões que vão determinar as predisposições da personalidade, inclusive se será mais amistosa ou mais agressiva” (ALMEIDA, 2010, p. 17).

É em sua obra O Mal Estar na Civilização que Freud destaca que o ser humano não se exterioriza como uma criatura amorosa, branda, que só agride para se defender, ao contrário, entre seus atributos está a agressividade:

[...] os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes pulsionais deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade. (...) essa cruel agressividade espera por alguma provocação, ou se coloca a serviço de algum outro intuito, cujo objetivo também poderia ter sido alcançado por medidas mais brandas (2014, p. 133).

É válido ressaltar que Freud “jamais abandona a ideia da crueldade como parte da ‘natureza’ humana, e do fato de que algumas de suas expressões são absolutamente normais e universais” (FUKS; JAQUES, p. 170-173).

No homem, portanto, segundo Freud, existe um dualismo constante que habita o seu interior e o seu inconsciente: a pulsão de vida e de morte, o proibido e o permitido, o consciente e o inconsciente. Nas palavras de Van Rillaer:

[...] l’antagonisme des désirs et des interdits; les dualismes pulsionnels (pulsions sexue/pulsions du moi; pulsions de vie/pulsions de mort); les conflits entre les instances psychiques; le príncipe de plaisir et le príncipe de réalité; la tensions entre régression et élaboration; la présence simultanée de tendances actives et passives, masculines e féminines, etc. Chez Freud, les choses sont en tension et ne finissent pas forcément s’arranger. Il n’y a pas d’harmonie préétable et l’équilibre semble même a tout jamais exclu. Le conflit es au coeur de l’existence; l’humain est condamné a vivre une situation dramatique (1975, p. 60-61)9.

9 O antagonismo dos desejos e das proibições; os dualismos pulsionais (impulsos sexuais / impulsos do ego;

pulsões de vida / pulsões de morte); os conflitos entre as instâncias psíquicas; o princípio de prazer e princípio de realidade; as tensões entre regressão e elaboração; a presença simultânea de tendências ativas e passivas,

A teoria de Freud é importante para a criminologia clínica, dentre outros aspectos, na medida em que estuda e justifica componentes dos transtornos sexuais, dos desejos e da agressividade ligada ao comportamento e a fatores psíquicos.