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Classificações da agressão ou do comportamento agressivo

4 VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE CONTRA O IDOSO

4.2 Classificações da agressão ou do comportamento agressivo

Segundo Leonard Singer (1975, p. 80-83), numa perspectiva psicológica, existem provas de que há diversos tipos de comportamento agressivo e de que cada um deles representa uma resposta a bases diferentes fisiológicas, neurológicas etc.

Contudo, sabe-se que as formas de agressão dependem muitas vezes da verificabilidade de sua externação, e de como ela é percebida e reprimida no meio social e jurídico.

Nesse sentido, o presente trabalho traz as seguintes classificações da agressão, seja da seara psicológica, psicanalítica ou jurídica: agressão direta e indireta; agressão física e verbal; agressão disciplinar e a gerada pelo sentimento de poder; agressão irritável, de cólera e a gerada pelo medo; e agressão benigna e maligna.

O referencial teórico para essa classificação, que não pretende ser taxativa e nem exaustiva, tomou por base os autores Leonard Singer, Fernandes e Fernandes e Erich Fromm.

4.2.1 Agressão direta e indireta

Na agressão direta o indivíduo envida seus esforços para atingir o indivíduo alvo, objeto de sua frustação. A agressão direta pode ser exemplificada como o soldado que atira no inimigo em combate Mas esse indivíduo alvo pode revidar e o agressor, permanecendo frustrado, tende a orientar sua raiva para um alvo substitutivo, e isso se chama agressão deslocada ou indireta (SINGER, 1975, p. 10-11).

Outro exemplo da agressão direta, especificamente no que diz respeito aos idosos, seria aquela praticada pelo filho contra o pai idoso (objeto da frustração), que o agredia quando criança. Já sobre a agressão deslocada, um exemplo deixado nas entrelinhas e citado por Jobson Arruda seria a raiva de Hittler contra os judeus, vez que os nazistas não tinham conseguido êxito na Primeira Guerra Mundial, como se observa no trecho a seguir:

As maiores vítimas do nazismo na Europa foram os judeus. Frustrados pela derrota na Primeira Guerra Mundial, humilhados pelo Tratado de Versalhes, vivendo no caos político, econômico e social, os nazistas precisavam encontrar um bode expiatório, um responsável por todo o mal que afligia a Alemanha. Hitler escolheu os judeus (1980, p. 356).

Como se pode notar a agressão direta funciona como uma forma de revidar uma frustração causada pela vítima ao seu agressor, ao passo que a deslocada transfere a raiva de uma frustração do sujeito agressor para outro sujeito que passa a ser o “objeto” perseguido ou ameaçado.

4.2.2 Agressão física e verbal

A agressão física, a desferida contra pessoa, geralmente ocasiona a violência física, já a agressão verbal pode ser feita através de palavras, e por atos. Na agressão realizada através de atos não se tem a necessidade da presença da vítima. Assim, a agressão pode ser realizada agredindo de forma direta, coisas e não pessoas, como no exemplo do esvaziamento de um pneu do carro da vítima por um vizinho desafeto (SINGER, 1975, p. 10).

A agressão física pode ser exemplificada como a reação de um transeunte que, ao presenciar um cuidador que, em praça pública, puxa de forma grotesca os cabelos de um idoso, reage energicamente empurrando o cuidador e desferindo-lhe um soco.

Os xingamentos contra a vítima são exemplos de agressão verbal. Palavras como “velha imprestável”, “velha esclerosada”, “velha burra” etc., proferidas pela filha contra a mãe idosa constitui agressão verbal, que pode evoluir ou não para a violência física ou psicológica.

4.2.3 Agressão disciplinar e a gerada pelo sentimento de poder

A agressividade disciplinar tem por viés o ato de punir para corrigir um suposto erro praticado pela vítima, como a que ocorre quando os pais agridem os filhos com o objetivo de corrigi-los. E a agressividade decorrente do sentimento de poder é a gerada pela posição de domínio de um ser humano sobre o outro (FERNANDES; FERNANDES, 2010, p. 121), como exemplo a agressividade de delegados contra prisioneiros no interior de Delegacias, em razão de seu cargo e posição de superioridade.

Como exemplo da agressividade disciplinar em relação a idosos, citam-se os maus tratos praticados por cuidador responsável pelo idoso, tão somente para impor um suposto castigo à vítima que não conseguiu mais levantar-se sozinho. Já a tortura praticada pelos cuidadores contra idosos, como surras com cintas e bengalas em razão de sua não agilidade no andar, é exemplo da agressividade em função da posição de superioridade dos agressores e fragilidade das vítimas idosas.

4.2.4 Agressão irritável, de cólera e a gerada pelo medo

Segundo Fernandes e Fernandes (2010, p. 121) a agressividade irritável é aquela provocada pela presença de qualquer circunstância que produza a irritação. Já a agressão de cólera, por sua vez “é iniciada por qualquer estímulo que induza a cólera: insulto, ataque ou presença de elementos desagradáveis” (SINGER, 1975, p. 13).

Como exemplo da agressividade irritável pode-se citar a prática de agressão da filha contra o pai idoso, desferindo-lhe golpes pelo corpo com uma colher de pau, pelo fato deste não querer comer a refeição que lhe foi preparada. O fato do idoso não querer alimentar-se é circunstância que produz a irritação da filha. A cólera pode ser responsável, por exemplo, por tapas e socos aviltantes desferidos contra o idoso, no momento de uma discussão, para que este entregue o cartão magnético, com o qual recebe os proventos da aposentadoria, ao filho que deseja usufruir-se do montante.

Na agressividade gerada pelo medo são comuns atos de legítima defesa. Trata-se de agressão física como forma de reação a uma ação ou pela presença do agente agressor (FERNANDES; FERNANDES, 2010, p. 121). Como no caso da idosa que, numa atitude de reação, desfere vários golpes de bengala no assaltante que tenta subtrair-lhe a bolsa, mudando o sujeito ativo da agressão para o próprio idoso, justificada a agressão pela legítima defesa de uma ação violenta prevista no ordenamento jurídico.

4.2.5 Agressão benigna e maligna

Essa classificação, trazida por Erich Fromm (1975, p. 254-295), compreende que a agressão auto protetiva, que visa à defesa da vida, de ameaças externas, é a agressão benigna.

Tem-se como exemplo uma fêmea que agride o animal intruso que tenta se aproximar de seu filhote.

Já a maligna é especificamente humana, não originada de nenhum instinto animal, mas do contexto da sociedade atual (opressão, manipulação, exploração humana, ânsia pelo poder) que provocou a deformação humana, e que faz com que o ser humano sinta prazer em destruir, em torturar, em matar:

O que é único no homem é o fato de que pode ser levado por impulsos a matar e a torturar, e o de que sente prazer em proceder dessa maneira; é o único animal que pode ser um assassino e um destruidor de sua própria espécie sem qualquer ganho racional, biológico ou econômico. (...) A agressão maligna, é bom que nos lembremos disso, é especificamente humana e não originada de um instinto animal (FROMM, 1975, p. 254). Como se pode observar, as diversas formas de agressividade geralmente não se dão de forma isolada, mas entrelaçadas, e que podem ter como consequência a violência, principalmente quando visualizada no contexto jurídico.