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4 VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE CONTRA O IDOSO

4.3 A violência praticada contra o idoso

4.3.1 A violência institucional e a política

Primeiramente a abordagem que se fará sobre esse tipo de violência, será de forma geral, para em seguida caracterizá-la em relação à vítima idosa.

O Ministério da Saúde, em 2001, ao discutir sobre os tipos de violência, assim definiu a violência institucional:

Violência institucional é aquela exercida nos ou pelos próprios serviços públicos, por ação ou omissão. Pode incluir desde a dimensão mais ampla da falta de acesso à má qualidade dos serviços. Abrange abusos cometidos em virtude das relações de poder desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições, até por uma noção mais restrita de dano físico intencional. Esta violência pode ser identificada de várias formas: peregrinação por diversos serviços até receber atendimento; falta de escuta e tempo para a clientela; frieza, rispidez, falta de atenção, negligência; maus tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual, gênero, deficiência física, doença mental; [...] diagnósticos imprecisos, acompanhados de prescrição de medicamentos inapropriados ou ineficazes, desprezando ou mascarando os efeitos da violência (2001, p. 21-22).

No mesmo sentido, para Minayo, a violência institucional se reflete na “aplicação ou omissão na gestão das políticas sociais pelo Estado e pelas instituições de assistência” (2005, p. 14).

Verifica-se, portanto, que a violência institucional é ampla, abrangendo ação e omissão do Estado, os serviços prestados e os profissionais que integram as instituições públicas.

A violência institucional pode ser classificada como realizada pelo Estado de forma legal ou não. A praticada de forma legal é entendida como aquela em que o Estado usa dos meios moderados e com a previsão legal para manter a ordem, também chamada de violência autorizada ou legítima. Já a violência praticada pelas instituições estatais de forma ilegal, trata-se de ilícito (SUDBRACK, 2008, p. 52-54).

Como exemplo, relembra-se que o ano de 2013 foi marcado de manifestações em várias cidades do Brasil por mais qualidade e tarifas mais baixas nos transportes públicos, por melhorias na educação e na segurança, e contra o uso de dinheiro público em obras da Copa do Mundo, tendo a polícia, sob a justificativa de manter a ordem, que atuar contra os vândalos que aproveitavam para depredar o patrimônio público e privado.

Veja o relato que foi veiculado na mídia:

Manifestantes furaram um bloqueio policial e tentaram se aproximar do Estádio Nacional Mané Garrincha, onde as seleções do Brasil e da Austrália se enfrentariam horas depois. Balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo foram utilizados contra manifestantes, em meio aos torcedores que chegavam ao estádio. Antes, os manifestantes haviam tentado depredar uma concessionária de veículos e o prédio da TV Globo (SARDINHA, 2013).

A violência praticada pelos policiais (nesse ato representando o poder de polícia) atuando no pressuposto de enfrentar atos considerados ilegais, utilizando balas de borracha, arma de efeito moral e gás lacrimogênio para dispersar manifestantes que em meio aos protestos ameaçavam depredar o patrimônio público, entende-se justificável e necessária para a manutenção da ordem nacional. Trata-se de violência das instituições estatais considerada de forma legal.

Já a violência praticada pelas instituições estatais de forma ilegal pode ser exemplificada como a praticada em hospitais públicos onde pessoas são atendidas precariamente em macas, amontoadas nos corredores de hospitais sem leitos e sem condições de higiene; quando os responsáveis pelas merendas escolares fazem centenas de crianças não usufruírem desse direito por desvio das verbas; ou ainda quando policiais torturam presos como forma de obter confissões.

No caso dos idosos, se tem notícias de várias denúncias veiculadas pela mídia em que idosos são atendidos de forma precária em corredores de hospitais públicos. No dia 08 de abril de 2014, no Hospital de Urgência de Teresina – HUT, um idoso foi atendido no chão do hospital porque faltavam macas e leitos, vindo a óbito no dia seguinte (MADEIRO, 2014).

No que diz respeito à violência pelo poder político, esta pode manifestar-se através das formas despóticas, tiranas, das repressões, dos golpes, que objetivam o estabelecimento do poder político, sua manutenção ou funcionamento (MICHAUD, 1989, p. 26), que difere da violência institucional em razão de esta se configurar, como prática das instituições e a

política como atos do poder político que se materializa em forma das ditaduras, golpes e tiranias.

No Brasil, o regime autoritário que se formou a partir de 1964, onde muitos acusados de subversão e atos atentatórios contra o governo foram sumariamente presos, torturados e mortos nas prisões demonstra a violência pelo poder político.

Nesse sentido, as observações de Monique Cittadino e Rosa Silveira:

[...] Assim, imediatamente após o golpe, iniciaram-se as “operações limpeza”, voltadas para a busca e apreensão dos agentes inimigos. As prisões sucederam em larga escala, promovidas, sobretudo, pelas operações “arrastão” e “pente fino”, atingindo não só os militares de esquerda, bem como qualquer individuo suspeito de “atividades subversivas”. [...] Buscaram-se, através da instalação de um amplo processo repressivo, a desestruturação do Estado populista e a desmobilização da sociedade civil (2005, p. 148).

Ainda sobre a violência e o poder político, Hannah Arendt, em sua obra Sobre a Violência, afirma:

A violência pode ser justificável, mas nunca será legítima. Sua justificação perde em plausibilidade quanto mais o fim almejado distancia-se no futuro. [...] Poder e violência, embora sejam fenômenos distintos usualmente aparecem juntos. [...] a equação ordinária entre violência e poder assenta-se na compreensão do governo como a dominação do homem pelo homem através da violência (2001, p. 41).

Dessa forma, a violência política contra o idoso, pode ser categorizada a partir de uma perspectiva política estruturante, como uma violência institucional de fundo, como decisão política de não efetivar politicas públicas dignas às pessoas idosas (não aprovação de políticas públicas como a educacional, criação de leis, instituições que visem à dignidade da pessoa idosa), considerando que a violência institucional é mais ampla que a relação entre o usuário e o atendente da instituição pública, mas uma visão de estruturação e funcionamento do Estado.