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Instituições assistenciais de abrigo e de atendimento

5 DA (IN) EXISTÊNCIA DE UMA REDE DE APOIO À PESSOA IDOSA

5.4 Instituições assistenciais de abrigo e de atendimento

Em casos de abandono, maus tratos, tortura, ou qualquer outra forma de violência contra o idoso em que este não possa mais conviver com o familiar responsável pelo mesmo, existem as casas de apoio ou de acolhimento de idosos.

As casas abrigo não têm a função de acolher idosos quando os filhos não querem ter a responsabilidade do cuidado prevista nas leis, mas sim, acolher idosos em situações de violência e risco à sua integridade física e mental. Ademais, a direção das casas tem o dever de, se possível, tentar a reintegração dos idosos à sua família de origem, considerando que, por disposição constitucional, o principal responsável pela pessoa é a família, o que fez alterar a política de acolhimento para política de atendimento.

Dentre as instituições destinadas ao acolhimento de idosos em Teresina – Piauí elegeu- se duas casas abrigo para retratarem as atividades desenvolvidas: a Vila do Ancião, instituição governamental, e a Casa São José, organismo não-governamental.

5.4.1 Vila do Ancião – Organismo Governamental

Em visita à Vila do Ancião, em setembro de 2015, foi informado, através da sua direção, que a casa é uma das mais antigas instituições de acolhimento, fundada em agosto de 1978, obra benemérita de Dona Maria José Ferraz Arcoverde.

Antigamente a casa funcionava como “abrigo de passagem”, pois hospedava idosos que vinham do interior para fazer tratamento na capital, e ali podiam permanecer durante o tempo que fosse necessário. Posteriormente, essa situação foi se modificando e hoje funciona com o acolhimento de idosos em situação de abandono, sem vínculo familiar, ou em situação de violência, encaminhados à casa por determinação judicial.

A Vila do Ancião, antes ligada à Secretaria Estadual de Serviço Comunitário do Piauí, hoje é vinculada à Secretaria de Assistência Social e Cidadania – SASC, sendo mantida pelo Estado. Atualmente abriga 65 (sessenta e cinco) idosos, sendo que 97% (noventa e sete por cento) possuem algum tipo de deficiência física ou mental.

A estrutura da Vila do Ancião está fixada numa extensa área projetada em forma de sol, em que a diretoria corresponde ao centro, e os raios são as alas dos idosos. Ao todo são 7 (sete) alas, divididas em femininas e masculinas.

As alas são formadas por quartos individuais e por pequenos apartamentos. Os quartos individuais possuem porta, janela, ventilador e geralmente são mobiliados com uma cômoda, cama e outros pertences do idoso. No centro dessas alas dos quartos individuais existem os banheiros coletivos.

Já as alas dos pequenos apartamentos, agrupados um a um, são formados por dois cômodos térreos que são subdivididos em quarto, sala, cozinha, banheiro e uma pequena área, sendo geralmente ocupados por idosos que são independentes.

Para aqueles idosos que estão acamados, ou em tratamento de quimioterapia, hemodiálise, HIV, existem duas alas apropriadas (uma masculina e outra feminina), com 14 (quatorze) quartos cada, e 2 (dois) cuidadores por ala.

Alguns quartos individuais possuem grades nas portas e janelas, onde os idosos passam algum tempo trancados, e segundo a supervisão, em razão do idoso ser portador de alguma doença mental e às vezes ser agressivo, ou ainda estar acometido pelo mal de Alzheimer e ter de ficar trancado por não disporem de cuidadores que os assistam em tempo integral.

Toda ala tem um tambor para lixo e outro para roupa suja. Todos os dias as roupas de cama e roupas pessoais dos idosos são trocadas, e todos tomam ao menos um banho diário, o que às vezes se torna insuficiente devido ao clima quente de Teresina, entretanto, não dispõem de cuidadores suficientes para a realização da tarefa, pois como se afirmou, a maioria dos idosos é deficiente físico e/ou mental.

Algumas roupas dos idosos são doadas, outras compradas por eles mesmos com os benefícios da aposentadoria. Existe um funcionário responsável por separar nos armários as roupas de cama e pessoal de cada um dos idosos e distribuir para que seja feita a troca diária pela manhã.

Existe ainda a ala de lazer, onde os idosos se reúnem para assistir televisão ou desenvolver alguma atividade de entretenimento, como aniversariantes do mês, festas comemorativas, entre outras, o que facilita a interação e afetividade entre os mesmos. A convivência entre eles fez surgir inclusive um caso de idosos que se conheceu na unidade e resolveu unir-se em matrimônio.

A casa abrigo conta ainda com as alas onde fica a sala de fisioterapia, a sala de enfermagem, a capela, a cozinha, o refeitório, o auditório, o almoxarifado e a lavanderia.

O quadro de funcionários é formado por diretores, supervisores, fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, cuidadores, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, motoristas, cozinheiros e pessoal de limpeza, a maioria terceirizado.

A Vila do Ancião encontra algumas dificuldades, como exemplo: a falta de terapeuta educacional; poucos cuidadores (deveria ser no mínimo 3 cuidadores por ala, o que não ocorre); casos de fuga dos idosos; máquinas da lavanderia que precisam de manutenção; bem como reforma urgente nos banheiros coletivos.

Ainda não se trabalha em Teresina a experiência de que vem sendo desenvolvida em outros locais onde asilos também são creches, incentivando a convivência intergeracional entre crianças e idosos.

Em Seattle nos Estados Unidos, a Instituição Providence Mount St. Vincent abriga mais de 400 (quatrocentos) idosos que recebem a visita diária de crianças de até cinco anos. A experiência tem sido reveladora de muitos benefícios tanto para os idosos como para as crianças:

De um lado, as crianças aprendem a se relacionar com diferentes gerações, a respeitar os mais velhos e a conviver com pessoas com limitações físicas. Já os idosos recebem carinho e são estimulados intelectual e fisicamente pelos exercícios com os alunos (UOL, 2015).

No Brasil, num bairro pobre na periferia de Belo Horizonte a cuidadora de idosos Vanilda de Jesus Pereira, montou uma biblioteca comunitária na própria casa. A casa funciona tanto como creche, quanto asilo e biblioteca comunitária, onde circulam diariamente crianças e idosos, na perspectiva de empreender a leitura e o contato entre as gerações (Globo, 2014).

5.4.2 Casa São José – Organismo Não-Governamental

A Casa São José – Associação Divina Providência, localizada na Rua Orlando Carvalho nº 4470, no Bairro Santa Isabel, é uma entidade beneficente e de assistência social, fundada em 28 de agosto de 1991, por Joaquim Gomes da Costa e sua família, sem fins lucrativos, destinada a acolher idosos em situação de risco, de violência, e/ou idosos em situação de abandono.

Reconhecida de utilidade pública pela Lei Municipal nº 2.191, de 1993, pela Lei Estadual nº 4.631, também de 1993 e pelo Ministério da Justiça, teve sua execução iniciada somente em julho de 2002 e foi inaugurada em 3 de dezembro de 2006.

A escolha em visitar o abrigo deu-se em função do mesmo ser um exemplo de que a sociedade pode fazer sua parte, contribuindo para o resgate da cidadania e da dignidade do idoso.

Em visita que se deu em setembro de 2015, de acordo com as informações prestadas por H. A., responsável pelo abrigo, a Casa São José possui duas alas (uma masculina e outra feminina); dois clínicos; duas enfermarias; duas enfermeiras; dois cuidadores formais, para cada ala; quartos para duas pessoas com banheiros em cada ala; 34 (trinta e quatro) funcionários ao todo; sala de estar; capela; e área de integração, festas e atividades.

O abrigo possui ao todo 35 (trinta e cinco) idosos, sendo 18 (dezoito) homens e 17 (dezessete) mulheres, e atualmente está com sua lotação máxima. O perfil das idosas

apresenta as seguintes características: todas as dezessete mulheres possuem deficiência (física ou visual) ou demência (vítimas de derrame ou Alzheimer); cinco conversam com facilidade apresentando estado de lucidez; a maioria não tem família, pois eram babás, governantas cujas patroas envelheceram ou faleceram, e elas se viram numa situação de abandono; outras sofreram maus tratos na família e fugiram, virando moradoras de rua e foram posteriormente acolhidas.

Entre os homens, o perfil é formado: por idosos que tiveram várias mulheres e filhos, mas que se não mantiveram laços familiares com nenhuma das famílias; idosos que sofreram maus tratos na família e que fugiram e se tornaram moradores de rua.

A faixa etária entre as mulheres varia entre 63 (sessenta e três) a 99 (noventa e nove) anos, inclusive a que possui 99 (noventa e nove) anos não consegue locomover-se sozinha, mas é lúcida. Entre os homens, a faixa etária varia entre 73 (setenta e três) a 89 (oitenta e nove) anos. O mais velho entre os homens, o de 89 (oitenta e nove) anos não possui autonomia e apresenta um quadro de derrame.

Apesar das dificuldades, a Casa São José conseguiu reintegrar ao longo desses anos doze idosos às suas famílias de origem. Os idosos que residem na Casa São José encontram-se bem instalados, em quartos ventilados, iluminados e com ar-condicionado. O abrigo possui ainda um refeitório em cada ala (onde são servidas seis refeições ao dia) e uma capela onde são celebradas missas diariamente.

É válido lembrar que são apenas dois cuidadores para 18 (dezoito) homens e duas cuidadoras para 17 (dezessete) mulheres, em que quase todos apresentam um quadro de Alzheimer, derrame e diabetes, o que compromete a autonomia.

Em uma das visitas, presenciou-se um dos idosos com Alzheimer sofrer uma queda da cadeira porque se levantou e perdeu o equilíbrio, enquanto os cuidadores estavam um pouco mais afastados cuidando de outros idosos.

A Casa São José possui convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social que ajuda com a quantia de RS 2.000,00 (dois mil) reais por mês, o que não cobre nem a despesa, por exemplo, que o abrigo tem com fraldas geriátricas.

Esporadicamente, o abrigo conta com o benefício da justiça estadual quando esta determina que algum apenado com pena alternativa distribua cestas básicas e participe de alguma atividade ali desenvolvida.

Outro aspecto que deve ser citado, é que muitos chegaram ao abrigo sem documentação, sem registro de nascimento ou carteira de identidade. A diretoria do abrigo encaminhou todos aos órgãos competentes para providenciar a documentação, inclusive para que pudessem receber o benefício da aposentadoria, que é convertido para uso pessoal do idoso.

O abrigo hoje se encontra em dificuldades financeiras, apesar da ajuda da comunidade, e não recebe nenhum tipo de incentivo do governo estadual, conta tão somente com o apoio da sociedade civil.

Um dos problemas enfrentados não só na Casa São José, mas também em outras instituições governamentais e não governamentais de acolhimento ao idoso, diz respeito ao número de vagas. Atualmente o abrigo não dispõe mais de vagas, que somente surgem quando um dos idosos vem a óbito.

Esse problema é preocupante, pois além dos vários tipos de violência a que está sujeito o idoso (abandono, maus tratos, isolamento, etc.), ainda precisa sair peregrinando de abrigo em abrigo em busca de um teto para ali passar o resto de seus dias.

Vale lembrar que essa situação não ocorre somente em Teresina, e a violência sofrida deixa marcas de ordem física, econômica, mas principalmente de ordem emocional, “dentre estas estão a necessidade de abandonar a casa, a depressão, o isolamento e a separação de familiares queridos” (FALEIROS; BRITO,2009, p. 15).

A situação de violência a idosos seja por questões culturais, econômicas ou sociais às vezes demora a ser denunciada em razão muitas vezes da vergonha por se tratar de familiares, e do medo.