• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1: UNIVERSIDADE E O MUNDO DO TRABALHO: as diferentes

1.1 A CONCEPÇÃO DE TRABALHO NAS TEORIAS LIBERAIS

1.1.2 A teoria neoliberal a preponderância do capital sobre o trabalho:

9 Economista, teórico do liberalismo econômico, Prêmio Nobel de Economia de 1976, autor do livro Capitalismo

e Liberdade (1962) e colaborador de vários governos neoliberais no mundo todo. Nasceu nos Estados Unidos,

Friedman (1982) apresenta uma análise da “relação entre liberdade econômica e liberdade política” e sobre “o papel do governo numa sociedade livre”, assim como sobre o “papel do governo na educação”. Essa discussão ajuda a compreender a concepção neoliberal subjacente à sociedade capitalista.

De modo geral, Friedman (1982) apresenta uma ideia de que o poder do governo deve ser limitado e descentralizado. Defende, nesse sentido, a inexistência de mecanismos que regulem o mercado. Para ele, a liberdade é baseada na discussão livre e cooperação voluntária. Define liberdade como a ausência de coerção e a regulação natural da economia.

A concepção, em voga, concebe o liberalismo com a ausência total do Estado na economia. O autor ressalta, entretanto, que a participação do governo é salutar. Friedman (1982) defende que o livre mercado não significa a total ausência do Estado. E não apenas isso, ele ressalta que tal ausência traria prejuízos à sociedade, ou seja, prejuízo à reprodução do capital.

No detalhamento da análise, percebe-se que Friedman (1982) explicita a ideia de que geralmente se acredita que política e economia constituem territórios separados, apresentando pouquíssimas interrelações; que a liberdade individual é um problema político e o bem estar material um problema econômico; e que qualquer tipo de organização política pode ser combinado com qualquer tipo de organização econômica. Todavia,

[...] A mais importante manifestação contemporânea desta ideia está refletida no conceito de "socialismo democrático", quando então se condenam as restrições à liberdade individual imposta pelo "socialismo totalitário" na Rússia e se considera possível adotar as características essenciais da organização econômica russa e, ao mesmo tempo, garantir a liberdade individual por meio de determinada organização política. A tese deste capítulo é que um tal ponto de vista é puramente ilusório; que existe uma relação íntima entre economia e política; que somente determinadas combinações de organizações econômicas e políticas são possíveis; e que, em particular, uma sociedade socialista não pode também ser democrática, no sentido de garantir a liberdade individual. (FRIEDMAN, 1982, p. 05).

Nesse sentido, para Friedman (1982), a organização econômica desempenha um papel duplo na promoção de uma sociedade livre. Ele explica que, de um lado, a liberdade econômica é parte da liberdade entendida em sentido mais amplo. Portanto, um fim em si próprio. Em segundo lugar, a liberdade econômica é também um instrumento indispensável para a obtenção da liberdade política.

Em outras palavras, pode-se afirmar que Friedman (1982) reforça a ideia liberal de centralidade do mercado. Friedman (1982) destaca a evidência histórica da relação existente entre liberdade política e mercado livre. Defende que não conhece nenhum exemplo de

sociedade que apresentasse grande liberdade política e que também não tivesse usado algo comparável com um mercado livre para organizar a maior parte da atividade econômica.

Friedman (1982) diz que, para os liberais, os meios apropriados são a discussão livre e a colaboração voluntária, o que implica considerar inadequada qualquer forma de coerção. Esse autor enumera de modo específico, embora, ainda, geral, as áreas que não podem ser tratadas em termos de mercado – ou que só podem sê-lo a um custo tão alto que o uso dos canais políticos se torna mais conveniente. Essas áreas são as seguintes: o governo como legislador e árbitro; ação por intermédio do governo na base de monopólio técnico e efeitos laterais; e ação por meio do governo em bases paternalistas.

No que tange à relação entre trabalho e educação na concepção neoliberal de Friedman (1982), pode-se afirmar que a sua concepção de educação declara-se imprescindível, pois aumenta o valor econômico do futuro trabalhador e prepara bons cidadãos. Nesse sentido, discute sobre o papel das instituições de ensino financiadas exclusivamente pelo governo. Ele posicionava-se totalmente contrário ao monopólio técnico.

Para Friedman (1982), a intervenção governamental no campo da educação pode ser interpretada de dois modos:

 O primeiro diz respeito aos "efeitos laterais", isto é, circunstâncias sob as quais a ação de um indivíduo impõe custos significativos a outros indivíduos pelos quais não é possível forçar uma compensação, ou então produz ganhos substanciais pelos quais também não é possível forçar uma compensação – circunstâncias estas que tornam a troca voluntária impossível.

 O segundo é o interesse paternalista pelas crianças e por outros indivíduos irresponsáveis. Efeitos laterais e paternalismo têm implicações muito diferentes para (1) a educação geral dos cidadãos e (2) a educação vocacional especializada. As razões para a intervenção governamental são muito diferentes nessas duas áreas, e justificam tipos muito diferentes de ação.

Uma observação preliminar faz-se necessária ao se analisar o pensamento de Friedman (1982): é importante distinguir entre "instrução" e "educação". Para o autor, nem toda a instrução está relacionada com educação, e nem toda educação, com a instrução. O tema de interesse adequado é a educação. As atividades do governo estão em grande parte limitadas à instrução.

Outra ideia importante do pensamento de Friedman (1992) se refere ao conjunto de medidas que, nessa área, está constituído pelo que se chamou impropriamente de "seguro social". Outras medidas desse tipo são o programa de habitação, as leis de salário mínimo, os

subsídios à agricultura, a assistência médica para grupos particulares, os programas especiais de ajuda etc., o apoio à velhice e o seguro para os sobreviventes.

Friedman (1982) faz uma suposição para ilustrar a sua teoria: suponha-se que alguém aceite, como ele aceita, a linha liberal de raciocínio como capaz de justificar a ação governamental para aliviar a miséria e colocar, como é a intenção, um andar a mais no padrão de vida de cada pessoa da comunidade. Ainda permanecem as questões: quanto e como? Não se vê nenhum modo de decidir "quanto", a não ser em termos do volume de taxas que – e, com isso se quer dizer a maioria – se esteja disposto a aceitar para tais propósitos. A questão "como" deixa muito terreno para especulações.

Friedman (1982) finaliza dizendo que, ao contrário do que podem achar seus críticos, ele prezava a liberdade e a igualdade no capitalismo e era contra a discriminação de qualquer tipo. Cabe, entretanto, questionar sobre os sentidos dessa liberdade e igualdade de mercado, subjugadas ao poder de consumo do capital.

Essa concepção teórica vem sustentando historicamente a possibilidade de criação de uma concepção de universidade heterônoma (SGUISSARDI, 2003), operacional (CHAUÍ, 1999) e materializada nos modelos institucionais das universidades coorporativas que se caracterizam pela radicalização da concepção da educação enquanto mercadoria e que precisa ser produzida por um custo cada vez menor em um período de tempo cada vez menor. Esse fenômeno se manifesta na proliferação de instituições privadas, centradas unicamente no ensino, em cursos com custos cada vez menores e tempo exíguo de “certificação” de mão de obra, nos moldes estreitos do “mercado de trabalho”.

1.1.3 A teoria do capital humano e a ideia de "capital educacional": Theodore William