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CAPÍTULO 2: UNIVERSIDADE E TRABALHO: o trabalho e suas relações com

3.2 CONCEPÇÕES DE UNIVERSIDADE E A MATERIALIDADE DE

3.3.1 Universidades públicas federais

Esse modelo institucional de universidade fundamenta-se na concepção humboldtiana de universidade. Modelo clássico de universidade que proliferou-se a partir do modelo europeu, derivado principalmente das primeiras universidades que surgiram e não possui uma relação direta com o trabalho. Tal modelo aproxima-se da teoria liberal, analisada anteriormente nesta Tese. Valoriza o Trabalho Intelectual e o Trabalho Abstrato, conforme já destacado e vive uma autonomia relativa do estado e do mercado. Centra-se na produção do conhecimento universal, por meio da investigação científica livre, autônoma, dos interesses do Estado ou da Igreja, em todas as áreas do conhecimento. Junta em seu interior, correntes teóricas opostas, inclusive, onde lutam liberais e marxistas. Não se está afirmando que há uma

convivência harmônica. Pelo contrário, a divergência de ideias e a contradição, alimentadas pelo debate livre, encontrou terreno fértil nesse modelo institucional.

Entretanto, por diversas vezes, em vários momentos históricos, diferentes grupos ou ideias se tornam hegemônicos no interior da universidade, alterando profundamente a sua configuração ideal.

Nesse contexto, foram analisadas as influências da concepção humboldtiana de universidade, materializada pela Universidade de Berlim, no sentido de enfatizar a pesquisa como centro da universidade clássica, considerando as características de uma universidade humboldtiana.

No Brasil, especificamente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei n. 9.394/96) destaca, em seu artigo 52, que as universidades “[...] são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano”, exigindo, pelo menos legalmente, uma aproximação com o mundo do trabalho.

O Decreto n. 5.773, de 09 de maio de 2006, complementa essa caracterização em seu art. 12, afirmando que “[...] as instituições de educação superior, de acordo com sua organização e respectivas prerrogativas acadêmicas, serão credenciadas como: I – Faculdades; II – Centros Universitários; e III – Universidades”.

Entretanto, em 12 de dezembro de 2007, por meio da Portaria Normativa n. 40, redefiniu-se esses níveis de organização acadêmica das instituições de Educação Superior, ficando estes definidos da seguinte forma:

 Faculdade (categoria que inclui institutos e organizações equiparadas, nos termos do Decreto n. 5.773, de 2006).

 Centro Universitário (dotado de autonomia para a criação de cursos e vagas na sede, está obrigado a manter um terço de mestres ou doutores e um quinto do corpo docente em tempo integral).

 Universidade (dotada de autonomia na sede, pode criar Campus fora de sede no âmbito do Estado e está obrigada a manter um terço de mestres ou doutores e um terço do corpo docente em tempo integral).

 Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (para efeitos regulatórios, equipara-se a universidade tecnológica).

Essa lei explicita a “universidade” como o mais alto nível de organização acadêmica da Educação Superior brasileira. É esse nível que interessa analisar nesta pesquisa, considerando a sua importância enquanto produtora de conhecimento na sociedade moderna.

Destaca-se, entretanto, que modelos e concepções teóricas não se manifestam tal qual, na realidade. Nesse sentido, destaca-se a experiência da Universidade Federal do Pará, como uma materialização que se aproxima de forma explícita dessa concepção.

Segundo dados históricos fornecidos no site da Instituição28, a Universidade do Pará foi criada pela Lei n. 3.191, de 2 de julho de 1957, sancionada pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, após cinco anos de tramitação legislativa. Como a maioria das Universidades brasileiras, se formou a partir junção de faculdades já existentes. No caso da UFPA, formou-se a partir das sete faculdades federais, estaduais e privadas existentes em Belém: Medicina, Direito, Farmácia, Engenharia, Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras e Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais.

Assim, depois de mais de 18 meses de sua criação, a Universidade do Pará foi solenemente instalada em sessão presidida pelo Presidente Kubitschek, no Teatro da Paz, em 31 de janeiro de 1959.

Segundo essas informações, a sua instalação foi um ato meramente simbólico, isso porque o Decreto n. 42.427 já aprovara, em 12 de outubro de 1957, o primeiro Estatuto da Universidade, que definia a orientação da política educacional da Instituição e, desde 28 de novembro do mesmo ano, estava em exercício o primeiro reitor, Mário Braga Henriques (nov. 1957 a dez. 1960). Depois disso, em 19 de dezembro de 1960, tomou posse José Rodrigues da Silveira Netto, que ocupou a Reitoria durante oito anos e meio (dez. 1960 a jul. 1969).

O processo de fortalecimento institucional ganhou uma nova dimensão, com a primeira reforma estatutária da Universidade, que aconteceu em setembro de 1963. Dois meses após a reforma estatutária, a Universidade foi reestruturada pela Lei n. 4.283, de 18 de novembro de 1963. Mas, 05 (cinco) anos depois, uma nova reestruturação da Universidade foi tentada, em 1968. Do final de 1968 ao início de 1969, uma série de diplomas legais, destacando-se as Leis n. 5.539 e 5.540/68, estabeleceu novos critérios para o funcionamento das Universidades.

No período de julho de 1969 a junho de 1973, o Reitor foi Aloysio da Costa Chaves, que aprovou o novo plano de reestruturação da Universidade Federal do Pará. Um dos elementos essenciais desse plano foi a criação dos Centros, com a extinção das Faculdades

existentes, e a definição das funções dos Departamentos. Em 02 de setembro de 1970, o Conselho Federal de Educação aprovou o Regimento Geral da Universidade Federal do Pará, por meio da Portaria n. 1.307/70.

Por ter como referências essas informações, fornecidas pela UFPA, relata-se que Clóvis Cunha da Gama Malcher tomou posse em julho de 1973, seguido por Aracy Amazonas Barretto, em 1977, e Daniel Queima Coelho de Souza, em 1981. No exercício de 1985, o Regimento da Reitoria foi reformulado, após a aprovação da Resolução n. 549, do Conselho Universitário, em 09 de dezembro de 1985, passando a vigorar até a presente data.

Em período mais recente, José Seixas Lourenço ocupou a Reitoria, no período de julho de 1985 a junho de 1989; Nilson Pinto de Oliveira, de julho de 1989 a junho de 1993; Marcos Ximenes Ponte, de julho de 1993 a junho de 1997; e Cristovam Wanderley Picanço Diniz, de julho de 1997 a junho de 2001. Nos períodos de 2001 a 2005 e de 2005 a 2009, foi Reitor da Universidade Federal do Pará, o Prof. Alex Bolonha Fiúza de Mello. O atual Reitor é o Prof. Carlos Edílson de Almeida Maneschy, eleito para o quadriênio julho 2009 – junho 2013 e reeleito para o quadriênio julho 2013 – junho 201729.

A Universidade Federal do Pará é uma instituição federal de Ensino Superior, organizada sob a forma de autarquia, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Ensino Superior (SESu). O princípio fundamental da UFPA é a integração das funções de ensino, pesquisa e extensão.

Enfim, atualmente, segundo informações fornecidas pela própria Instituição30, a Universidade Federal do Pará possui 14 institutos, 12 campi, 01 Escola de Aplicação, 02 Hospitais Universitários, 06 núcleos e 52 polos universitários. Está composta por uma população universitária de 61.938 pessoas, sendo 2.693 professores, incluindo os efetivos do Ensino Superior, os efetivos do Ensino Básico, os substitutos e visitantes; 2.375 servidores técnico-administrativos; 9.572 alunos de cursos de Pós-Graduação; 40.275 alunos matriculados nos cursos de Graduação, sendo 21.325, na capital e 18.950 distribuídos pelo interior do Estado; 1.372 alunos do Ensino Fundamental e Médio da Escola de Aplicação; 5.121 alunos dos Cursos Livres oferecidos pelo Instituto de Letras e Comunicação (ILC), pelo

29 Entretanto, após renúncia do Reitor Carlos Edílson de Almeida Maneschy, em 17 de maio de 2016, para concorrer à cargo eletivo, realizou-se consulta direta à comunidade universitária sobre a escolha de candidatos aos cargos de Reitor e de Vice-Reitor, em 29 de Junho de 2016, por meio da qual elegeu-se para o quadriênio de 2016-2020, Professor Dr. Emmanuel Zagury Tourinho (Reitor) e Professor Dr. Gilmar Pereira da Silva (Vice- Reitor).

30 Ano Base 2015.

Disponível em:<http://www.ufpanumeros.ufpa.br/doc/UFPAemNumeros2016_AB2015_final.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2016.

Instituto de Ciências da Arte (ICA), pela Escola de Teatro e Dança, pela Escola de Música e pela Casa de Estudos Germânicos, além de 530 alunos dos cursos técnicos e profissionalizantes, vinculados ao Instituto de Ciências da Arte. Nesse universo, a UFPA oferece 535 cursos de Graduação e 73 Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu, sendo 68 cursos de Mestrado e 37 de Doutorado. E, executou, em 2015, um orçamento de R$ 1.308.347.295,40.

A Universidade Federal do Pará possui, como missão: “produzir, socializar e transformar o conhecimento na Amazônia para a formação de cidadãos capazes de promover a construção de uma sociedade sustentável”. Como visão institucional, “ser referência nacional e internacional como Universidade Multicampi integrada à sociedade e centro de excelência na produção acadêmica, científica, tecnológica e cultural”. E, como, princípios institucionais da UFPA, destacam-se:

 a universalização do conhecimento;

 o respeito à ética e à diversidade étnica, cultural e biológica;  o pluralismo de ideias e de pensamentos;

 o ensino público e gratuito;

 a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;

 a flexibilidade de métodos, critérios e procedimentos acadêmicos;  a excelência acadêmica; e

 a defesa dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente.

Cita-se esse caso por ser a instituição pesquisada, mas destaca-se, também, a universidade com maior número de alunos de Graduação do Brasil que, por isso, é considerada como instituição que carece de uma análise no que tange à sua atuação social.