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CAPÍTULO 4: A UFPA FRENTE AO TRABALHO: uma análise das pesquisas

4.1 AS PESQUISAS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: onde estão as

Saviani (2013), ao discutir a “participação da universidade no desenvolvimento nacional”, analisa a relação da “universidade e a problemática da educação e da cultura” brasileira. Sustenta-se que essa análise se faz necessária para que se possa compreendê-la no bojo da dinâmica social macro da sociedade, dissipando de vez aquela ideia do senso comum de que a universidade vive apartada da realidade.

[...] Nas discussões sobre o tema universidade, são frequentes afirmações como estas: “A universidade não leva em conta a realidade”; “A universidade é dissociada da realidade”; “Há um divórcio entre a universidade e a realidade dos seus alunos”; “A universidade ignora a realidade dos seus alunos; não leva em conta a realidade das escolas de 1º e 2º graus, a realidade econômica, o mercado de trabalho etc”. (SAVIANI, 2013, p. 85-86, grifos do autor).

A edição do livro Educação: do senso comum à consciência filosófica é de 2013, mas o referido texto foi escrito por Saviani em 1979, há 37 anos. Contudo, mesmo hoje ainda se ouvem essas questões. Não teria a universidade enfrentado como deveria essa questão? Nada foi feito nesse período? A resposta é que a universidade vem enfrentando essa problemática por meio das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Muito foi feito nesse sentido, mas muito ainda há de se fazer.

Entretanto, Saviani (2013) mostra que esse debate é mais complexo, e que se faz necessário questionar: o que é a realidade? Ou, o que é a universidade? Ou, ainda, como é produzida a universidade? Acredita-se, ainda: o que é pesquisa? O que é extensão?

São muitas as questões que perpassam esse debate, contudo interessa se dedicar, orientados por Saviani (2013) a questão: como é produzida a universidade?

[...] A universidade, enquanto instituição, é produzida simultaneamente e em ação recíproca com a produção das condições materiais e das demais forma espirituais. É, pois, produzida como expressão do grau de desenvolvimento da sociedade em seu conjunto. Segue-se, pois, que a universidade concreta (a universidade enquanto síntese das múltiplas determinações”) sintetiza o

histórico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural, numa palavra, a realidade humana em seu conjunto. (SAVIANI, 2013, p. 89).

Essa definição ajuda a afirmar, portanto, que a universidade não está e nem nunca esteve fora da realidade. As pesquisas analisadas explicitam exatamente esse aspecto que está sendo discutido. Portanto, a universidade, por não encontrar-se fora da realidade, carrega as marcas dessa realidade e dialoga com essa realidade, ou na perspectiva da manutenção ou do enfrentamento das suas problemáticas.

Um desses aspectos refere-se às assimetrias regionais brasileiras. O Brasil, por possuir dimensão territorial continental, produziu em seu interior níveis de desenvolvimento assimétricos, como se pode observar entre as Regiões Sudeste e Norte, por exemplo. Isso se traduz na oferta de Programas de Pós-Graduação no Brasil. As diferenças entre as Regiões são abissais. Enquanto a Região Norte do Brasil possui 298 Cursos de Pós-Graduação, a Região Sudeste, mais desenvolvida economicamente e, também, mais populosa, possui 2.993 Cursos de Pós-Graduação: 10 (dez) vezes mais cursos. A região nordeste possui quase 04 (quatro) vezes mais cursos que a região norte, considerando que o nordeste possui 1.157 cursos, conforme apresentado no quadro a seguir:

Quadro 4 – Dados quantitativos de programas recomendados e reconhecidos – por região. REGIÃO

Programas e Cursos de Pós-

Graduação Totais de Cursos de Pós-Graduação

Total M D F M/D Total M D F CENTRO-OESTE 339 136 9 47 147 486 283 156 47 NORDESTE 840 377 15 131 317 1157 694 332 131 NORTE 224 104 4 42 74 298 178 78 42 SUDESTE 1891 389 39 361 1102 2993 1491 1141 361 SUL 889 290 9 150 440 1329 730 449 150

Fonte: SNPG. Disponível em:

<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitati voRegiao.jsf>.

Acesso em: 15 abr. 2016.

Para aprofundar esta análise seria preciso confrontar esses dados com aqueles referentes à população e ao número de pessoa por faixa etária e nível de escolaridade, o que demandaria certo desvio em relação à investigação do problema desta pesquisa. Portanto, fica apresentado os dados referentes à oferta da Pós-Graduação no Brasil, com os dados referentes ao ano de 2016, como uma forma de ilustrar o contexto onde se encontram inseridos os programas de pesquisa que são analisados nesta tese.

Ao se ter como fonte as informações fornecidas no Portal da CAPES, no que se refere aos Cursos Recomendados/ Reconhecidos, pode-se informar que há 4.183 Programas de Pós- Graduação e 6.263 Cursos de Pós-Graduação no Brasil. Desses, 170 Programas e 244 Cursos são de Educação, 78 Programas e 127 Cursos são da área de Sociologia e Antropologia, e 335 Programas e 432 Cursos são da área Interdisciplinar, conforme quadro a seguir.

Quadro 5 – Dados quantitativos de programas recomendados e reconhecidos – programa de Pós-Graduação e cursos de Pós-Graduação – 2016.

ÁREA

AVALIAÇÃO

Programas e Cursos de Pós-

Graduação Totais de Cursos de Pós-Graduação

Total M D F M/D Total M D F

EDUCAÇÃO 170 54 0 42 74 244 128 74 42

SOCIOLOGIA E

ANTROPOLOGIA 78 26 1 2 49 127 75 50 2

INTERDISCIPLINAR 335 133 13 92 97 432 230 110 92

Fonte: SNPG. Disponível em:

<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoRe giao.jsf>.

Acesso em: 15 abr. 2016.

Nesse quantitativo de Cursos apresentados, são considerados cursos recomendados, ou seja, que atendam às exigências básicas estabelecidas pela CAPES. Nesse sentido, o Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)55 informa que “[...] os Cursos de Mestrado Profissional, Mestrado (Acadêmico) e Doutorado avaliados com nota igual ou superior a "3" são recomendados pela CAPES ao reconhecimento (Cursos novos) ou renovação do reconhecimento (Cursos em funcionamento) pelo Conselho Nacional de Educação – CNE/MEC”. Destacam, ainda, que “[...] somente os Cursos reconhecidos pelo CNE/MEC estão autorizados a expedir diplomas de Mestrado e/ou Doutorado com validade nacional”. Trata-se de processo avaliativo que busca a melhoria da formação oferecida em nível de Pós-Graduação no Brasil, mas devido aos seus rígidos padrões de exigência, são amplamente criticados por inúmeros pesquisadores.

Esse é o cenário nacional que contextualiza a realidade dos Programas de Pós- Graduação analisados. Especificamente, em relação a essa investigação, pode-se afirmar que uma análise atual da produção das pesquisas sobre a temática “Trabalho e Educação”, que absorve, portanto, o objeto desta pesquisa, constitui-se em atividade de grande efervescência no Brasil. Além de um Grupo de Trabalho, consolidado na Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), o GT 9, intitulado “Trabalho e Educação”,

segundo levantamento realizado em 2014 durante o II INTERCRÍTICA, “Intercâmbio Nacional dos Núcleos de Pesquisa em Trabalho e Educação”, identificou-se um número significativo de núcleos de pesquisa no Brasil.

A Lista de Grupos de Pesquisa sobre Trabalho e Educação no Brasil, construída com as informações do site da II INTERCRÍTICA56, mostra que existiam 35 Grupos de Pesquisas no Brasil, no ano de 2014. Apesar do número grande de pesquisa e grupos de pesquisa sobre a temática maior que acolhe o objeto desta análise, as pesquisas sobre a relação universidade e trabalho ainda são muito raras57.

Vale um destaque para um Grupo que estuda Trabalho e Conhecimento na Educação Superior (TRACES), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que possui temática próxima desta pesquisa, fazendo uma análise no campo temático do “trabalho” e da “Educação Superior”, que compreende estudos sobre a universidade.

A Pós-Graduação na UFPA, conforme destacado, possui dados bastante expressivos em relação à expansão da Pós-Graduação. No que tange especificamente às pesquisas sobre a categoria central, pode-se afirmar que 06 (seis) Programas de Pós-Graduação possuem pesquisas sobre a relação “trabalho” e “educação”, conforme se pode observar no quadro a seguir.

Quadro 6 – Pesquisa sobre Trabalho nos programas de PÓS-GRADUAÇÃO da UFPA – 2016 PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO NÚMERO DE PESQUISA EM NÍVEL DE MESTRADO NÚMERO DE PESQUISA EM NÍVEL DE DOUTORADO TOTAL DE PESQUISA POR PROGRAMA PPGED 25 07 32 PPGSA 13 08 21 PPGDSTU 12 04 16 PPGSS 19 00 19 PPGD 08 00 08 PPGE 03 00 03 TOTAL DE PESQUISA POR NÍVEL DE PESQUISA 80 19 - TOTAL GERAL 99

Fonte: sites dos programas de Pós-Graduação da UFPA.

56 Disponível em: <http://www.gepte.com.br/intercritica>. Acesso em: 19 fev. 2015.

57 Construída com as informações do site da II INTERCRÍTICA – Intercâmbio Nacional dos Núcleos de Pesquisa em Trabalho e Educação. Disponível em: <http://www.gepte.com.br/intercritica>. Acesso em: 19 fev. 2015.

Vale ressaltar que as pesquisas sobre trabalho e educação encontram-se em maior número nos seguintes programas: Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED), do Instituto de Ciências da Educação (ICED), com 25 Dissertações e 07 (sete) Teses; Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (ICFCH), com 13 Dissertações e 08 (oito) Teses; e no Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), com 12 Dissertações e 04 (quatro) Teses, totalizando 69 pesquisas em níveis de Mestrado e Doutorado.

Além dessas pesquisas, foram encontradas outras, em menor número, no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (19 Dissertações), no Programa de Pós-Graduação em Direito (08 Dissertações) e no Programa de Pós-Graduação em Economia (03 Dissertações).

Na seção seguinte, foi realizado um debate sobre as concepções de “trabalho” e, logo em seguida, de “educação”. Essa análise foi relacionada com as abordagens teórico- metodológicas das pesquisas, no intuito de compreender as contribuições da universidade para a análise dessas categorias.

4.2 AS CONCEPÇÕES DE “TRABALHO” NAS TESES E DISSERTAÇÕES DOS