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CAPÍTULO 4: A UFPA FRENTE AO TRABALHO: uma análise das pesquisas

4.5 AS CONTRIBUIÇÕES DA UNIVERSIDADE FRENTE AO

Segundo Frigotto (2010), o trabalho ganha uma dimensão que é possível identificar como ontológica, mas que por sua vez é dissipada no interior do modo de produção capitalista. Pois, para ele:

[...] O trabalho, processo pelo qual o homem entra em relação com as condições objetivas de sua produção, e por sua ação – conjuntamente com os demais homens – transforma e modifica a natureza para produzir-se e reproduzir-se, fundamento do conhecimento humano e princípio educativo, transfigura-se – sob as condições capitalistas – numa mercadoria força de trabalho, trabalho assalariado. De elemento que possui a peculiaridade histórica do ser homem, isto é, de elemento que constitui o devir humano, reduz-se a uma ocupação, um emprego, uma ação alienada. E o homem, que é ao mesmo tempo natureza, indivíduo e, sobretudo, relação social, que pelo trabalho não só faz cultura, mas faz a si mesmo, fica reduzido a uma abstração – homo oeconomicus racional – cujas características genéricas, universais e a-históricas são a racionalidade, o individualismo e o egoísmo. (FRIGOTTO, 2010, p. 243).

Essa concepção de trabalho ratifica a perspectiva do trabalho enquanto uma atividade eminentemente humana, enquanto princípio educativo em sua perspectiva ontológica, mas

ressalta, também, as contradições do processo de trabalho no interior do modo de produção capitalista, destacando a sua perspectiva alienante.

Saviani (2007) também ressalta os “fundamentos ontológico-históricos” do trabalho e da educação na vida humana, reforçando a crítica à exploração do trabalhador.

Frigotto (2002), por sua vez, trava um debate com Offe (1989), Schaff (1964, 1974, 1990) e Kurz (1992), em torno da disputa sobre o fim da centralidade do trabalho na constituição do homem em meio à crise do capitalismo, discordando destes e enfatizando a sua compreensão do trabalho enquanto categoria sociológica central para a compreensão do homem e da sociedade capitalista.

Para Gramsci (2006), por sua vez, o trabalho enquanto princípio educativo é a forma própria, por meio da qual o homem participa ativamente na vida da natureza, visando em transformá-la e socializá-la cada vez mais profunda e extensamente. Gramsci (2006) não defende a unidade entre teoria e prática, entre pensar e fazer, entre trabalho intelectual e trabalho industrial, apenas na escola e nas suas práticas educativas, mas também em toda a vida social. É nesse sentido que, para Gramsci (2006), as academias, ou seja, a universidade deve assumir uma função social fundamental na formação do trabalhador.

[...] Num novo contexto de relações entre vida e cultura, entre trabalho intelectual e trabalho industrial, as academias deveriam se tornar a organização cultural (de sistematização, expansão e criação intelectual) daqueles elementos que, após a escola unitária, passarão para o trabalho profissional, bem como um terreno de encontro entre estes e os universitários. (GRAMSCI, 2006, p. 40).

Essa contribuição de Gramsci (2006) reforça a ideia de uma universidade fundamentada na indissociabilidade entre trabalho e educação. A sua perspectiva marxista de compreender a sociedade e a educação reforçam essa concepção de educação humanização e libertadora.

Lombardi (2005) destaca a atualidade da teoria marxista, assim como discute o contexto das propostas pedagógicas burguesas e socialistas no Século XIX, fruto do embate entre burguesia e proletariado, e traz uma breve discussão sobre a concepção de educação, do ensino e da formação profissional na obra de Marx e Engels, enfatizando, também, as contribuições de Lenin, Krupskaja e Makarenko na conformação de uma proposta pedagógica comunista.

Segundo Lombardi (2005), a eternização capitalista, dada por uma perspectiva teórica defensora do fim da história, precisa demonstrar que as aceleradas transformações em curso desvelam um processo de constante recomeçar de uma história marcada pela contradição.

Nesse ponto, precisa-se voltar novamente a Sánchez Gamboa (2012), afirmando que se faz necessário tomar o esforço da pesquisa na universidade como um “trabalho humano” e não como “exercício acadêmico”.

[...] Se tomarmos os esforços da iniciação científica e a elaboração de dissertações e teses, exigidos nos cursos de graduação e pós-graduação, como “trabalho humano” e não como simples exercício acadêmico, certamente é possível superar os diferentes desvios e condicionantes que reduzem a capacidade de compreensão da problemática da realidade e a dimensão transformadora da pesquisa a um simples exercício de repetição de um saber técnico. Tal reducionismo que desvirtua a tarefa fundamental de produzir novas respostas e acumulação de massa crítica para a transformação da realidade ser superado em prol de um conhecimento que contribua para que nossos países em desenvolvimento percorram seus caminhos de afirmação científica, econômica, política e cultural de que tanto necessitam. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2012, p. 47).

Nesse sentido, pode-se afirmar que essas pesquisas, socializados por meio desses trabalhos acadêmicos em nível de Mestrado e Doutorado, apresentam contribuição imensurável para compreensão do mundo do trabalho, assim como explicitam as inúmeras nuances do processo de exploração do trabalhador.

Este estudo não coincide com o estudo de Sánchez Gamboa (2012), mas aproxima-se consideravelmente deste, da categoria de pesquisa que ele, fundamentado em Vielle (1981), identifica como “pesquisa das pesquisas”. Ele expõe que se pode identificar uma preocupação crescente como essa categoria de pesquisa.

[...] As revistas especializadas em educação vêm dedicando espaço cada vez maior à análise da investigação realizada na área. Há uma preocupação, entre outros aspectos, com o grau de eficiência da investigação em educação, sua utilidade, sua correspondência às necessidades reais, a conveniência ou não de determinar prioridades de estudo, a importância de se detectar se as investigações estão orientadas na direção da conservação do status quo ou em direção da mudança das atuais estruturas da sociedade. Hoje especialmente questiona-se o tipo de método utilizado nas investigações educativas e a forma de abordar os diferentes problemas; questiona-se a investigação empírica por privilegiar só algumas formas de investigar a multifacetária e contraditória realidade educativa; e coloca-se a necessidade de uma reflexão sobre o contexto da investigação de onde se obtém seu sentido. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2012, p. 25).

Sua pesquisa trata-se, portanto, de estudo epistemológico das pesquisas desenvolvidas na área da educação, considerando ser a preocupação com o método um aspecto positivo da Pós-Graduação em Educação. Sobre discutir “teoria e método” nas pesquisas analisadas, Sánchez Gamboa (2012) diz que: