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CAPÍTULO 4: A UFPA FRENTE AO TRABALHO: uma análise das pesquisas

4.2 AS CONCEPÇÕES DE “TRABALHO” NAS TESES E DISSERTAÇÕES

ANTROPOLOGIA E EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO DA UFPA

Por se ter como referência as Teses e Dissertações, produzidas nos Programas de Pós- Graduação da Universidade Federal do Pará e selecionadas para esta pesquisa, foi feita uma análise das concepções de “trabalho” que embasam essas pesquisas.

As pesquisas selecionadas são de 04 (quatro) Áreas de avaliação da CAPES (Educação, Sociologia e Antropologia58; e Interdisciplinar), com os mais variados objetos, mas que estruturam as suas reflexões sobre a categoria “trabalho”.

O intuito de analisar essa categoria impõe outra tarefa. A análise da abordagem epistemológica das pesquisas. Para isso, fez-se necessário identificar os fundamentos que sustentam a sua epistemologia. O caminho para desvelar os elementos que estruturam sua epistemologia foi alcançado por meio da análise dos elementos da teoria e do método dessas pesquisas. Nesse sentido, Sánchez Gamboa (2012), fundamentado em Bachelard (1989),

58 O Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) passou em 2013 a chamar-se de Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), juntando, assim, em um só programa, duas áreas de avaliação da CAPES.

afirma que “[...] quando o cientista realiza as suas investigações, além de elaborar resultados, elabora também uma filosofia”.

[...] Em toda prática explícita dos cientistas existe uma filosofia implícita. Quando investigamos, não somente produzimos um diagnóstico sobre um campo problemático, ou elaboramos respostas organizadas e pertinentes para questões científicas, mas construímos uma maneira de fazer ciência e explicitamos uma teoria do conhecimento e uma filosofia. Utilizamos uma forma de relacionar o sujeito e o objeto do conhecimento e anunciamos uma visão de mundo, isto é, elaboramos, de maneira implícita ou oculta, uma epistemologia, uma gnosiologia e expressamos uma ontologia. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2012, p. 50).

Compreender essa teoria do conhecimento ou essa filosofia não é tarefa fácil. Nesse sentido, com o intuito de buscar elementos que ajudem a entender a epistemologia dessas pesquisas, a presente análise levou em consideração os seguintes aspectos: título das teses e dissertações, resumos, palavras-chave e introduções apresentadas na Tese ou Dissertação. Conforme já destacado na introdução desta Tese, em alguns casos analisaram-se as considerações finais, para fundamentar a compreensão dos elementos investigados. Para isso, procurou-se considerar o que recomenda Evangelista (2015).

[...] Se compreendemos a empiria como “gestada” na história, como manifestação da consciência humana na história, e se a tomamos como passível de conhecimento pelo sujeito histórico podemos considerar que conhecê-la é conhecer a própria consciência do homem. Pelo seu conhecimento é possível articular outras formas de consciência. Em síntese, expressam vida, conflitos, litígios, interesses, projetos políticos – história. Na efervescência dessas determinações se encontram pesquisador, documento e teoria. (EVANGELISTA, 2015, s/p).

Depreende-se do excerto apresentado que essas Teses e Dissertações, tomadas como relatórios públicos das pesquisas realizadas por esses diversos pesquisadores, fornecem elementos que auxiliam na compreensão, além dos aspectos teóricos e metodológicos, dos elementos históricos que forjaram a compreensão dessas categorias nessa imbrincada relação, citada por Evangelista (2015) entre o “pesquisador, documento e teoria”.

Ao se considerar os aspectos citados, foram selecionadas as Teses e Dissertações do PPGED que serão apresentadas a seguir. Todas essas pesquisas abordam a categoria “trabalho” como “temática guarda-chuva”, onde se articulam diversos objetos de estudos. Todas elas, sejam em seus títulos, nos resumos, nas suas palavras-chave ou na introdução explicitam ligação estreita com essa temática. Seja abordando a “educação tecnológica”, o “trabalho de pessoas com deficiência”, o “trabalho do pedagogo”, a “profissionalização e

escolarização”, os “saberes em assentamentos”, as “políticas de formação”, o “trabalho e adoecimento docente”, o “trabalho e movimentos sociais”, o “trabalho infantil”, o “trabalho docente”, essas pesquisas buscam a compreensão do mundo do trabalho e explicitam a contribuição da universidade no processo de produção do conhecimento frente ao trabalho.

Analisaram-se, também, as produções da área da Sociologia e Antropologia, tendo como referência os resumos das Teses e Dissertações produzidas no Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará. Foi feita uma análise das concepções de trabalho e educação que embasam essas pesquisas. Ao se considerar os aspectos citados, destaca-se que essas pesquisas abordam a categoria trabalho. Contudo, a maioria aborda o trabalho enquanto uma categoria sociológica central para compreensão do homem e dos processos sociais e poucas pesquisa tratam diretamente da relação indissociável entre trabalho e educação.

Dentro dessas variações de objetos no bojo da temática “trabalho”, cita-se: a “organização e reorganização dos trabalhadores”, a “flexibilização do trabalho”, o “movimento operário”, o “modo de vida” de trabalhadores, o “trabalho, adoecimento e saúde”, a “gestão de recursos humanos”. São pesquisas que abordam o trabalho e as suas relações mais diversas com a vida social.

No que tange às concepções de trabalho apresentadas nessas pesquisas, algumas apontam na perspectiva marxista, outras apontam na perspectiva liberal da teoria do capital humano, outras na perspectiva da antropologia interpretativa, outras na teoria das representações sociais.

Assim como nos demais programas, analisaram-se as pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido que abordam a categoria trabalho. Nesse programa, a concepção de trabalho volta-se para o processo macro de socialização do homem, não se dedicando ao espaço escolar. Investigam- se a “exploração do trabalhador”, o “trabalho escravo”, o “adoecimento do trabalhador”, entre outras temáticas.

A análise dos dados permitiu agrupar as Teses e Dissertações dos três Programas analisados, nas seguintes temáticas: Trabalho e Educação; Reestruturação Produtiva; Trabalho Escravo; Educação Profissional; Trabalho e Adoecimento; Condições de Vida do Trabalhador. Essas temáticas agrupam o maior número de Teses e Dissertações, mas existem algumas pesquisas, dentre as selecionadas, que não se enquadram nessas temáticas. Por isso, são apresentadas no tópico “outras temáticas”.

Nos tópicos a seguir apresenta-se a descrição e a análise das pesquisas selecionadas para estudo, tendo como foco os referenciais teóricos apresentados em cada um desses estudos.

 A concepção de “trabalho” nas pesquisas sobre “Trabalho e Educação”

A temática “trabalho e educação” encontra-se abordada em 13 pesquisas que a investigam a partir de temas, como exemplo: qualificação profissional de trabalhadores jovens e adultos; trabalho, educação e movimentos sociais; trabalho e educação em “acordo de pesca”; trabalho do pedagogo no tribunal de justiça; inserção de deficientes e de jovens no mercado de trabalho; trabalho infantil; cooperativismo, saberes e letramento de trabalhadores rurais.

A maioria das pesquisas que abordam essas temáticas tem como referência a teoria marxista. 01 (uma) delas volta-se para a análise desse processo no espaço intra-escolar59 e 12 fazem essa investigação no espaço não-escolar.

Dentre as pesquisas que se fundamentam na concepção marxista de trabalho para analisar o processo educativo no espaço escolar, destaca-se uma dissertação desenvolvida por Canali (2010), que analisa o papel da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará na Certificação da Qualificação Profissional de trabalhadores jovens e adultos da Amazônia Paraense, sob a perspectiva de uma Educação Integral.

Segundo a autora, foram enfatizadas na investigação as experiências formativas do “Programa Integração e o Projeto Integrar desenvolvidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT)” e o “Projeto de Formação de Professores, Magistério – Nível Médio – do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA)”. Essa pesquisa afirma, em sua conclusão, que a Escola de Aplicação contribuiu para a qualificação profissional dos trabalhadores. A análise dessa pesquisa revela que esse estudo reforça a indissociabilidade entre trabalho e educação e o analisa como o processo de certificação da qualificação profissional de trabalhadores. A pesquisa destaca, também, a possibilidade de uma formação

59 De acordo com Frigotto, a relação entre escola e trabalho é uma relação de mediação, podendo constituir-se em campo de negação das relações sociais de produção. Essa nova ideia da escola como espaço de mediação condicionará as produções teóricas dos anos 80 e as lutas em torno da educação como direito de cidadania. Retomava-se a discussão sobre a função social da escola, sob novas bases. Defendia-se a proposta de uma escola que tivesse o trabalho como princípio educativo, tendo como meta a formação omnilateral do homem. Essas concepções influenciaram a discussão dos projetos de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), assumindo um lugar de destaque nas pesquisas dos educadores. A temática da qualificação para o trabalho, nessa época, ficou eclipsada, reaparecendo apenas em meados dos anos 80, a partir do já clássico trabalho de Kuenzer, intitulado Pedagogia da Fábrica (1984) (SHIROMA; CAMPOS, 1997, p. 16).

“com foco na humanização” de trabalhadores jovens e adultos da Amazônia Paraense. Por fim, afirma-se que a sua concepção de trabalho fundamenta-se na Teoria Marxista, destacando o trabalho na perspectiva ontológica e educativa.

As pesquisas que analisam a relação trabalho e educação, voltando-se para os espaços não-escolares, agrupam-se em torno das questões sobre “trabalho, educação e movimentos sociais”; “trabalho e educação em acordo de pesca”; “trabalho do pedagogo no tribunal de justiça”; “inserção de deficientes e de jovens no mercado de trabalho”; “trabalho infantil”; “cooperativismo, saberes e letramento de trabalhadores rurais”.

A análise revela que a concepção de “trabalho” de Martins (2011) fundamenta-se na Teoria Marxista, considerando que, para ele, “os pescadores aprendem no e pelo trabalho”. O autor compreende, portanto, o trabalho como elemento fundamental no processo de humanização, assim como concebe, também, o trabalho enquanto princípio educativo. A análise dos dados demonstra que o autor, por meio de seus resultados, consegue sustentar sua concepção de trabalho e explicitar como ocorre o processo de construção dos saberes e como esses saberes impulsionam sua participação no movimento social. Seus resultados demonstram também a adequação do referencial marxista para análise dessa problemática específica. Essa afirmação reforça uma concepção de “trabalho” fundamentada em uma perspectiva analítica construída sobre as bases do materialismo histórico e dialético, conforme anuncia o autor.

A Dissertação de autoria de Barra (2013) relata que sua pesquisa demonstra que “[...] os pescadores desenvolvem seus saberes a partir do seu trabalho”, o que reforça a perspectiva marxista de que o processo de produção da cultura e da humanização ocorre por meio da ação do homem na realidade por meio do trabalho. Destaca que as relações de produção desenvolvidas por meio, por exemplo, dos acordos de pesca, são fundamentais para a formação desses pescadores. Contudo, essa pesquisa alerta para a presença de “valores próprios do capital” presente nessas práticas. Destaca, entretanto, que a luta e a participação política são fundamentais na construção da “identidade de classe” desses pescadores. Essas críticas são resultados de suas análises fundamentadas na concepção de trabalho estruturada sobre a teoria marxista.

Ao afirmar que o “[...] estudo identificou que os pedagogos do TJE estão construindo práticas de trabalho por meio da associação entre os saberes adquiridos na academia e no próprio exercício da profissão”, Freitas (2012) destaca o processo praxiológico inerente ao trabalho, decorrente do confronto salutar entre o conhecimento acadêmico oriundo da Formação Inicial do Pedagogo e o conhecimento resultante da práxis de sua atuação

profissional em um tribunal de justiça. É por meio dessas práticas cotidianas de trabalho que os pedagogos reconstroem dialeticamente a sua identidade profissional. Esse argumento complementa-se com a ideia de que a definição do Projeto Pedagógico de Curso não pode ser definida pelos interesses do “mercado de trabalho”.

Os profissionais recém-formados, desprovidos de reflexão crítica sobre a sua formação, equivocadamente, ressentem-se da ausência de semelhanças entre os objetivos pedagógicos de seus cursos e as necessidades estreitas dos postos de trabalho apresentados pelo mercado. Por outro lado, a autora destaca que a constituição da identidade profissional agrava-se com a ausência de “formação em serviço”, que deveria ser oferecida pela instituição que o recebe enquanto profissional.

Percebe-se que a autora crítica à instituição por não oferecer a formação continuada para seus trabalhadores pedagogos, ou seja, mesmo que regimentalmente conste-se a existência de uma “política de formação de servidor”, essa ainda não ocorre efetivamente.

Freitas (2012) alerta, ainda, que, mesmo se ocorresse, seria sobre os fundamentos da “Pedagogia das Competências”, conforme está estabelecido legalmente. Ou seja, essa pesquisa analisa a relação trabalho e educação presente no espaço do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, destacando o trabalho do pedagogo em um ambiente não escolar. A concepção de trabalho presente nessa pesquisa fundamenta-se na ideia do trabalho enquanto processo de humanização do homem, o que reflete a base marxista da pesquisa, no que se refere ao trabalho nos seus aspectos educativos e ontológicos, em confronto com as ideias da formação instrumental e técnica defendida pela Pedagogia das Competências.

Ressalta-se ainda duas pesquisas sobre a inserção no mercado de trabalho, que apresenta-se como uma das problemáticas de grande relevância científica e social. Uma dessas pesquisas aborda a inserção de trabalhadores com deficiência.

Segundo Benjamin (2013), pode-se afirmar, pela análise dos dados dessa pesquisa, que se chocam nesse processo a característica formal da inclusão presente na lei com a característica excludente da lógica empresarial, exacerbada pela lógica, também excludente, da nossa escola básica, revelada na baixa escolaridade desses trabalhadores. Conclui sua pesquisa afirmando que “[...] os programas de formação profissional em estudo funcionam com precariedade devido à insuficiência de recursos para sua execução”.

Essa pesquisa de Benjamin (2013) aborda, portanto, em tom de denúncia, a ausência de políticas públicas para a formação e inserção dos trabalhadores com deficiência no mundo do trabalho. Afirma que as possibilidades de formação desses trabalhadores no Município de Barcarena – PA, oferecidos pela APAE, enfrentam “insuficiência de recursos” para financiar

processos formativos de melhor qualidade. Observa-se, também, nessa pesquisa, a preocupação em explicitar a necessária articulação entre trabalho e educação no processo de humanização, principalmente de sujeitos com deficiência. Sua concepção de “trabalho” é concebida como uma possibilidade de humanização, inclusão social e inserção no “trabalho informal ou formal”.

A inserção das pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho é a temática investigada por Moraes (2008). A análise dessa pesquisa, por sua vez, revela que a concepção de trabalho inferida dessa pesquisa apoia-se em referenciais críticos, como Marx (1982) e Antunes (1995), destacando o caráter explorador e excludente inerente ao capital. Crítica, também, a perspectiva da empregabilidade, mas seus dados não lhe permitem aprofundar esses aspectos do processo do capital.

Souza (2011) investigou a relação entre a formação acadêmica e a inserção do egresso no mercado de trabalho. Essa pesquisa analisa o ingresso no mercado de trabalho de alunos do Curso de Administração. Desenvolve-se de maneira muito próxima da problemática que orienta esta pesquisa: primeiro, analisa a universidade frente ao trabalho, por meio da análise da formação de profissionais para o mercado de trabalho e por meio da produção de conhecimento sobre esse processo; segundo, investiga como a lógica privada insere-se nas universidades, mesmo nas públicas, por meio, inclusive, dos conteúdos dos cursos.

Outra pesquisa aborda a inserção de “jovens com formação superior no mercado de trabalho paraense”. Amaral (2014) aproxima-se da teoria do capital humano ao afirmar que ela parte “[...] do pressuposto de que os egressos universitários são profissionais qualificados, com maiores possibilidades de ascender socialmente no mercado de trabalho”. Apesar de, logo em seguida, destacar que “[...] a conexão entre escolaridade e inserção não se dá de forma direta, mas mediada por certas características dos egressos, entre as quais as redes de relações sociais”. Fundamentado no conceito de “Redes Sociais” (Mark Granovetter), nos conceitos Capital Social e Capital Cultural (Pierre Bourdieu), nos conceitos de Experiência Social (François Dubet) e de mercado de trabalho (Claude Dubar), a sua análise apresenta três aspectos principais:

[...] a) O trabalho permanece no centro da atenção dos jovens e as práticas relacionadas com a sua qualificação são muito relevantes para o ingresso e permanência no mercado de trabalho, vistas como condição sine qua non; b) As redes de relações informais funcionam como importante recurso para o acesso ao mercado de trabalho; c) As redes, porém, não os mantêm ou sustentam no emprego em sua área de formação, se não tiverem experiência e qualificação adequada ao perfil exigido para o cargo. (AMARAL, 2014).

Conforme destacado, os três aspectos identificados relacionam-se com os fundamentos da TCH, conforme destaca Schultz (1971) e aproxima-se da ideia da empregabilidade. Se fundamentarmos essa crítica em Frigotto (2010), será possível entender que se trata de uma relação direta com os elementos da ideia da empregabilidade, relacionando o “ingresso e permanência no mercado de trabalho”, estreitamente com elementos da qualificação do trabalhador.

O trabalho infantil é objeto de duas dessas pesquisas. Souza (2014) analisa os “discursos das crianças e dos adolescentes sobre o trabalho infantil na Grande Região Metropolitana de Belém-PA” e Sanches (2014) faz um “estudo antropológico sobre a relação criança e trabalho”. São duas abordagens, diferenciadas da mesma problemática.

Souza (2014) expõe sua opção teórica pelo “conceito marxiano de trabalho como princípio educativo que, no contexto do capitalismo, encontra-se marcado pelo fetichismo da mercadoria”. Sua Tese explicita a sua concepção de trabalho enquanto dimensão fundamental da formação do homem. Explicita, também, o princípio educativo como elemento estruturante de suas críticas: a existência do trabalho infantil em nossa sociedade, inclusive na Amazônia. A prática do trabalho infantil demonstra a face desumanizadora do capital, considerando que essa prática nega o direito à formação ampla dessas crianças, mutilando, inclusive, a sua formação profissional.

A concepção de trabalho que emerge da pesquisa de Sanches (2014) refere-se à ideia de que este se constitui em prática dissolvida nas relações sociais, mas busca analisar as representações e sentidos do trabalho em detrimento de destacar as implicações que o trabalho, durante a infância, provoca no processo formativo dessas crianças.

Além dessas pesquisas, duas delas analisam o trabalho no campo, a realidade do trabalhador rural, a pesquisa de Alfaia (2012) analisa a “formação social do trabalhador, tomando por base a categoria da práxis”, tendo como base o processo do cooperativismo.

A outra, de Lopes (2009), analisa o processo de “letramento” dos trabalhadores rurais. A concepção de “trabalho” que se infere dessa pesquisa fundamenta-se em uma concepção que não pressupõe uma unidade ontológica com suas práticas produtivas. Não se pode minimizar as contribuições da leitura no processo de leitura do mundo (FREIRE, 1987) assim como as contribuições de Vygotsky (1991) no que se refere ao processo de formação social do indivíduo.

Subjacente a esse debate, existe outra dimensão referente aos diversos tipos de saberes, preterido em detrimento do conhecimento científico hegemônico em nossa sociedade. Portanto, os trabalhadores são detentores de um saber não letrado, mas um saber que sustenta

as suas relações de produções e as suas práticas produtivas enquanto agricultores. Não se encontram, portanto, “mergulhados na ignorância e na escuridão”. A aquisição da leitura e da escrita torna-se imprescindível enquanto instrumento de inserção ativa, participativa e crítica na realidade que o circunda.

A falar de saberes tecem-se relações com a temática de outra pesquisa. Pantoja (2015) desenvolveu pesquisa sobre “saberes do trabalho na carpintaria naval”. As análises mostram, assim como vem ocorrendo em outras categorias de trabalhadores, a ausência de uma “consciência de classe si”, resultante em grande parte da ofensiva do capital sobre as condições de vida dos trabalhadores.

Essa ofensiva do capital contra o processo de organização política dos trabalhadores, identificada por Pantoja (2015), explica as mudanças na identidade profissional desses trabalhadores. Por outro lado, os “saberes pedagógicos resultantes do processo de produção- formação, enquanto princípio educativo, são, também, saberes construídos sobre a organização do trabalho, que mostram uma formação integral do sujeito para o exercício profissional”. A concepção de trabalho que baseia essa pesquisa fundamenta-se na teoria marxista e pressupõe a relação trabalho e educação, destacando o trabalho enquanto princípio educativo e a sua dimensão ontológica no processo de formação do trabalhador.

A partir da análise do material, coletado nas teses e dissertações selecionadas para esse