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CAPÍTULO 2: UNIVERSIDADE E TRABALHO: o trabalho e suas relações com

3.2 CONCEPÇÕES DE UNIVERSIDADE E A MATERIALIDADE DE

3.3.4 Universidade do movimento social

No bojo das contradições existentes entre a ideia e a sua materialização, menciona-se, ainda, a Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS)43 que ‘nasceu’ das atividades do Fórum Social Mundial (FSM) de 2003 como uma Universidade Popular. Trata-se de um espaço de encontro e intercâmbio dos movimentos sociais, e de um modelo institucional que mais se aproxima da teoria marxista, considerando que a sua prática formativa pauta-se no questionamento da ordem social vigente e atua na perspectiva da luta social pela superação da exploração do trabalhador.

Segundo as informações fornecidas pela Instituição, a “[...] UPMS surge para articular os conhecimentos diversos, fortalecendo novas formas de resistência e contribuindo para a reinvenção da emancipação social, entendida aqui como a base em que projetos plurais transformam relações de poder em relações de autoridade partilhada”44.

A UPMS, ou Rede Global de Saberes, como seus membros a chamam, tem como objetivo contribuir para o maior conhecimento recíproco entre os movimentos sociais.

43 Disponível em: www.universidadepopular.org/site/pages/pt/sobre-a-upms.php>. Acesso em: 22 abr. 2015. 44 Disponível em: www.universidadepopular.org/site/pages/pt/sobre-a-upms.php>. Acesso em: 22 abr. 2015.

Trata-se de uma Instituição que tem como público alvo “[...] os ativistas e dirigentes dos movimentos sociais, membros de organizações não governamentais, bem como cientistas sociais, investigadores e artistas empenhados na transformação social progressista”45.

Do ponto de vista operacional, a “[...] UPMS funciona através de uma rede de interações orientada para promover o conhecimento e a valorização crítica da enorme diversidade dos saberes e práticas protagonizados pelos diferentes movimentos e organizações”46.

No tange aos aspectos teórico-metodológicos, fundamenta-se:

[...] em dois procedimentos metodológicos básicos formulados por Boaventura de Sousa Santos e partilhados nas experiências de UPMS já realizadas até o momento a tradução intercultural e interpolítica e a ecologia de saberes. A tradução intercultural visa aumentar a inteligibilidade recíproca e necessária entre movimentos, organizações e pesquisadores sem destruir a autonomia dos movimentos, suas linguagens próprias e conceitos, observando o que os divide e o que os une para tentar organizar ações coletivas. Muitas vezes, o que separa os movimentos não são questões de conteúdo, mas antes de linguagem, de diferentes tradições históricas e culturais de luta47.

Trata-se de um movimento formado por um conjunto de instituições nacionais e internacionais que realizam formação e lutas ligadas aos movimentos sociais.

Outro exemplo forte de Universidade Popular é uma instituição conhecida como Universidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).

A “Universidade do MST” ou “Escola Nacional Florestan Fernandes” constitui-se uma proposta de Universidade Popular, conforme debatido em seção anterior. Essa experiência busca ressignificar a forma clássica de fazer universidade.

[...] O processo de formação e aprendizagem sempre foi uma preocupação dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil. Ter uma universidade dos movimentos sociais é uma aspiração sempre presente no imaginário dos movimentos sociais. Contudo, não se trata de uma universidade formal, mas sim de uma universidade ressignificada - uma universidade de base popular, de difusão e respeito aos diferentes saberes, de pedagogias reconhecidas no cotidiano dos movimentos sociais. Enfim, uma universidade que horizontaliza os diferentes saberes, contrapondo-se à lógica dominante e a toda e qualquer forma de opressão.48.

45 Disponível em: www.universidadepopular.org/site/pages/pt/sobre-a-upms.php>. Acesso em: 22 abr. 2015. 46Disponível em: www.universidadepopular.org/site/pages/pt/sobre-a-upms.php>. Acesso em: 22 abr. 2015. 47 Disponível em: www.universidadepopular.org/site/pages/pt/sobre-a-upms.php>. Acesso em: 22 abr. 2015. 48 Disponível em: <http://www.universidadepopular.org/site/pages/pt/universidades-populares.php>. Acesso em: 22 abr. 2015.

A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), inaugurada em evento internacional, em 23 de janeiro de 2005, está situada em Guararema, a 70 km de São Paulo, e foi construída entre os anos de 2000 e 2005, por meio do trabalho voluntário dos trabalhadores sem-terra e demais simpatizantes.

[...] A inauguração da Escola Nacional Florestam Fernandes (ENFF), em 2005, e as experiências de licenciaturas em educação do campo no regime de alternância, que se expandem, incentivadas pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e pelo Ministério da Educação (MEC), abrem caminhos para a retomada de um fio da meada perdido no interior da universidade pública brasileira, pelo qual a universidade se colocava dentro de um projeto de sociedade autêntico e marcado pela democratização da cultura, da política e da economia. (TEIXEIRA; LOBO, 2013, p. 165-166).

Essa ideia de universidade carrega em si, as categorias centrais desta pesquisa. Traz em si o debate sobre a formação dos trabalhadores em nível superior, centrada em uma reflexão da profunda relação existente entre trabalho e educação, constituída em torno da concepção do trabalho como categoria ontológica central na formação do trabalhador. Além disso, esse projeto de formação do trabalhador nasce plasmado sobre a ideia de universidade como uma instituição “necessária”, mas que precisa ser transformada pelas diretrizes de outro “projeto de sociedade”.

A Escola Nacional Florestan Fernandes, ou Universidade do MST, “[...] juridicamente, apresenta-se como uma associação de direito privado, sem fins lucrativos” (TEIXEIRA; LOBO, 2013, p.168). Orienta-se pelos seguintes objetivos:

I. Promover o desenvolvimento econômico, social, cultural, da cidadania e dos direitos humanos no meio rural e a melhoria das condições de vida do homem e da mulher do campo;

II. Promover a capacitação de assentados da Reforma Agrária, de pequenos produtores e de trabalhadores em geral, nas diversas áreas do conhecimento técnico e científico;

III. Estimular e apoiar a cooperação e as formas associativas de organização da produção;

IV. Incentivar e promover a agroecologia, a conservação e proteção do meio ambiente;

V. Promover pesquisas e estudos que visam contribuir para o desenvolvimento dos assentados, de pequenos agricultores e trabalhadores rurais;

VII. Estimular o desenvolvimento de formas de cooperação no trabalho e na cooperação agrícola, apoiando o trabalho voluntário nos termos da Lei n. 9.608, de fevereiro de 1998;

VIII. Sediar, organizar e/ou promover cursos nas diversas áreas do conhecimento, formais e informais, com caráter de estudo, reflexão, análise e debates, direcionados e/ou correlacionados com os objetivos acima.

Trata-se de uma Instituição com ampla atuação na formação dos trabalhadores, nas áreas do ensino, pesquisa e extensão. Em vários níveis e modalidades que vão da Educação Infantil à Pós-Graduação. Segundo o art. 3º do seu Regimento:

[...] A ENFF, para a realização dos seus objetivos, poderá sediar, organizar e promover cursos nas diversas áreas do conhecimento, a educação formal e informal, a capacitação e a pesquisa nas seguintes modalidades: I. Educação de Jovens e Adultos; II. Educação Infantil e Fundamental; III. Educação Média e Profissionalizante: Curso Técnico de Administração de Cooperativas, Curso Técnico em Saúde Comunitária, Curso Técnico em Comunicação; IV. Curso Normal para o campo e outros cursos na área da educação; V. Educação Superior: atividades de ensino, Graduação e Pós- Graduação, de pesquisa e de extensão; VI. Cursos seminários, conferências, palestras, debates, oficinas, eventos em geral, com caráter educacional, formativo e técnico, com temáticas específicas em cada área de conhecimento ou multidisciplinares, direcionados para os trabalhadores do campo e da cidade; VII. Cursos e atividades em geral direcionadas para a comunidade da região da sede da ENFF; VIII. Oficinas e Cursos na área de desenvolvimento da cultura e da arte; X. Pesquisa de interesse da Reforma Agrária, do Campo e da Educação; XI. Centro de Documentação sobre Educação Popular, Educação Popular, Educação do Campo, Reforma Agrária, Camponeses e Movimentos Populares; XII. Publicações de Materiais; XIII. Intercâmbio de experiências. XIV. Seminários e Debates; XV. Outros cursos a serem instituídos.

A ENFF constitui-se como uma Instituição diretamente ligada ao movimento social, que se direciona na perspectiva da “Formação de Quadros Políticos” ligados a esses movimentos sociais. Atua na área do ensino, pesquisa e luta social, conforme se pode observar dos seus objetivo e área de atuação. Fundamenta-se na Pedagogia da Alternância, tendo como referência as diversas experiências de Educação Popular realizadas no Brasil.

O Instituto Universidade Popular (UNIPOP)49 constitui-se outro exemplo institucional que se aproxima dessa concepção de Universidade Popular.

A UNIPOP é uma entidade civil, sem fins lucrativos, de Utilidade Pública Estadual (Lei n. 5.797, de 17/10/94) e Utilidade Pública Municipal (Lei n. 8.275, de 14/10/2003).

Sua origem é fruto da “[...] mobilização de um conjunto de entidades, movimentos sociais e igrejas comprometidas com a teologia da libertação, para ser um espaço plural de formação de lideranças populares, agentes pastorais e fortalecimento da democracia”50.

[...] A partir da ECO 92, e pelo fato de estar atuando na Amazônia, ampliou o seu raio de ação temática, incluindo, nos processos formativos, a questão ambiental, tanto no Curso de Formação Política quanto junto a educadores/as sociais e jovens de escolas públicas da Região Metropolitana de Belém. Considerando as constantes denúncias de abusos e violação de direitos contra crianças e adolescentes, a UNIPOP trabalhou na mobilização e articulação da sociedade civil, constituindo o Fórum Estadual de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes, combatendo o trabalho infantil e a violência sexual e doméstica contra crianças e adolescentes. Desde 1998, vem contribuindo na formação humana e profissional de jovens em situação de vulnerabilidade social, localizados nas periferias dos bairros da RMB; na formação de educadores/as e gestores/as de ONG's, Conselheiros Tutelares e de Direitos, na formação de gestores/as sociais e na articulação e fortalecimento de Redes e Fóruns, tendo em vista a promoção e a garantia dos direitos humanos: econômicos, sociais, culturais e ambientais, a sustentabilidade do desenvolvimento e da justiça ambiental na Amazônia, o que envolve a melhoria da qualidade de vida de todos e todas que vivem e trabalham nesta região.

[...] Face às constantes denúncias de violação de direitos no Estado do Pará, UNIPOP instituiu como eixo articulador das ações formativas e de mobilização no Trienal 2003-2005, a luta pela promoção, defesa e garantia dos direitos humanos. A partir daí vem investindo na construção de estratégias e parcerias para ações em rede (PAD. FAOR. ABONG) no sentido de seu enfrentamento. Com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), do Rio de Janeiro, assumiu a coordenação, na Região Metropolitana de Belém, da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Investiu no fortalecimento do Fórum DCA e no CEDCA. A partir de julho de 2007 até fevereiro de 2009, atuou na Comissão de Metodologia/FSM e como representante da ABONG, esteve à frente do Comitê Coordenador do Fórum Social Mundial, realizado em Belém, de 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 200951.

Essas informações mostram que não se constitui em uma Universidade nos moldes tradicionais, ou melhor, não atende às bases legais para constitui-se em uma Instituição com ações acadêmicas embasadas na indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão. Mas, segundo as informações fornecidas em seu site, percebe-se que:

[...] nos últimos dez anos tem desenvolvido ações com o segmento juvenil, envolvendo grupos de jovens em 08 bairros da periferia da Região Metropolitana de Belém e na ilha de Cotijuba com os jovens ribeirinhos e em 44 escolas de 22 municípios do Estado, com ações do Com-Vidas, contribuindo para a formação da Rede Juventude e Meio Ambiente,

50 Disponível em:< www.unipop.org.br/pagina.php?cat=145&noticia=296>. Acesso em: 22 abr. 2015. 51 Disponível em:< www.unipop.org.br/pagina.php?cat=145&noticia=296>. Acesso em: 22 abr. 2015.

REJUMA, com formação de CJs – Coletivos Jovens pelo Meio Ambiente, a partir da 1ª Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, em 200352.

[...] As lideranças jovens que participam do Curso na UNIPOP são responsáveis pela aplicabilidade nos seus grupos nos bairros (culturais, esportivos, de Igreja, Centro Comunitário, de escolas, entre outros), estimulando a criação de projetos a partir da realidade existente, buscando alternativas para executá-los. Nosso objetivo é desenvolver em cada jovem, habilidades de criar ideias e colocá-las em prática, descobrir seus potenciais, desenvolver sua autoestima e atitudes mais propositivas, reforçando sua capacidade empreendedora53.

São inúmeras ações sobre os mais diversos temas, como: Educação para o Desenvolvimento Humano; Educação para Valores; Protagonismo Juvenil; Cultura da Trabalhabilidade; Direitos Humanos; Justiça Ambiental; Sexualidade; Educação e Trabalho.