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CAPÍTULO II – IMPORTÂNCIA DA JURISPRUDÊNCIA E NECESSIDADE DE SUA

4.1 O incidente de uniformização de jurisprudência

4.1.5 A uniformização de jurisprudência nos juizados especiais federais

Apesar de não haver previsão de instituto semelhante na Lei 9.099/1995, a Lei 10.259/2001 inseriu a uniformização de interpretação de lei federal no seu art. 14117. Tal instituto também foi inserido na legislação que trata dos juizados especiais da Fazenda Pública.

Denominado pela legislação como incidente, na verdade o instituto tem verdadeira natureza recursal118, em nada se assemelhando aos incidentes de uniformização de jurisprudência e à assunção de competência119. Isso se justifica porque o acolhimento do

pedido de uniformização de jurisprudência tem efeitos modificativos sobre o que fora decidido. O incidente de uniformização, como visto acima, é julgado antes do próprio recurso, o que não ocorre com o pedido de uniformização.

De acordo com o artigo mencionado, a uniformização só terá cabimento se houver divergência sobre questões de direito material. Assim ficam de fora divergências processuais (mesmo que seja sobre o procedimento aplicável ao próprio juizado)120. Essa divergência

deverá se dar entre turmas recursais. A divergência poderá se dar entre turmas recursais de

solicitação do pronunciamento prévio é dada ao juiz no momento de proferir seu voto: portanto, quando o julgamento já está terminando, após a sustentação oral (art. 565 do novo CPC)”. (GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito processual civil. São Paulo: José Bushatsky, 1974, p. 145 e 148-149). Vale também destacar severas críticas feitas por Rodolfo Mancuso ao instituto, afirmando que o custo benefício do instituto é mínimo e que na melhor das melhores hipóteses haverá apenas a edição de uma súmula persuasiva. (MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 4. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 271-272)

117 Sobre críticas ao instituto, ver: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Federais Cíveis e

Criminais. 3. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 301-306

118 Nesse sentido: TNU. QO 1. j. 12.11.2002: “Os Juizados Especiais orientam-se pela simplicidade e celeridade

processual nas vertentes da lógica e da política judiciária de abreviar os procedimentos e reduzir os custos. Diante da divergência entre decisões de Turma Recursais de regiões diferentes, o pedido de uniformização tem a natureza jurídica de recurso, cujo julgado, portanto, modificando ou reformando, substitui a decisão ensejadora do pedido. A decisão constituída pela Turma de Uniformização servirá para fundamentar o juízo de retratação das ações com o processamento sobrestado ou para ser declarada a prejudicialidade dos recursos interpostos”. CARREIRA ALVIM, José Eduardo; CARREIRA ALVIM, Luciana Gontijo.

Comentários à Lei dos Juizados Especiais Federais Cíveis. Curitiba: Juruá, 2005, p. 201-202

119 “[...] não deixa de ser em sua essência um ‘recurso especial’” [...] (FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados

Especiais Federais Cíveis e Criminais. 3. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 308)

120 Nesse sentido: Súmula 1 da Turma de Uniformização da 4ª Região: “Não caberá pedido de uniformização de

interpretação de lei federal quando a divergência versar sobre questões de direito processual”. Nessa hipótese, todavia, o art. 18 do Provimento 7/2010 do CNJ prevê a possibilidade de consulta à Turma Nacional de Uniformização.

uma mesma região ou entre turmas recursais pertencentes a regiões distintas, ou até mesmo entre a turma recursal e súmula ou jurisprudência dominante do STJ. Na primeira hipótese a divergência será apreciada em reunião conjunta das turmas em conflito. Nas demais, a divergência será julgada pela Turma de Uniformização, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal. Se houver, por sua vez, divergência entre a orientação firmada pela Turma de Uniformização e súmula ou jurisprudência dominante do STJ, a divergência (que deve ser sobre direito material) será dirimida pelo STJ, que se manifestará mediante provocação da parte interessada.

No que tange à competência do STJ, parece-nos que a norma padeça de inconstitucionalidade diante da previsão infraconstitucional de competência do STJ, pois a competência desse tribunal é prevista na própria Constituição (art. 105)121.

Esse instituto prevê também a manifestação de amicus curiae122. Já em 2001 previu o legislador o julgamento por amostragem e a retratação pelo órgão a quo quando trouxe a disposição de retenção de julgamentos de pedidos de uniformização “idênticos” (relativos à matéria idêntica)123 – algo que somente foi introduzido no CPC anos mais tarde (art. 543-B e 543-C). De acordo com a dicção legal do art. 14, § 6º, “Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subseqüentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça”.

Após o julgamento do pedido de uniformização, os demais pedidos que ficaram sobrestados serão apreciados pelas próprias turmas recursais que poderão exercer o juízo de retratação.

Discute-se sobre a vinculatividade da decisão que julga essa uniformização. O texto legal afirma que a turma poderá se retratar. Por sua vez, extrapolando os limites, a Resolução 22 do CJF, em seu art. 15, § 3º dispõe que o posicionamento exarado na resolução da divergência “deve ser adotada pela turma de origem para fins de adequação ou manutenção do

121 No mesmo sentido: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais. 3. ed.

São Paulo: RT, 2010, p. 307-308

122 Em sentido contrário, afirmando que esse terceiro deva ser um terceiro prejudicado (algo semelhante à

assistência, mas sem mencionar este instituto): CARREIRA ALVIM, José Eduardo; CARREIRA ALVIM, Luciana Gontijo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Federais Cíveis. Curitiba: Juruá, 2005, p. 213

123 CARREIRA ALVIM, José Eduardo; CARREIRA ALVIM, Luciana Gontijo. Comentários à Lei dos Juizados

acórdão recorrido”. Na interpretação do dispositivo, Joel Dias afirma que há vinculatividade no dispositivo124.

Esse instituto é regulamentado pela Resolução 22 do Conselho da Justiça Federal. A parte deverá apresentar o pedido de uniformização em 10 dias e a outra parte será intimada a apresentar contrarrazões. De acordo com a referida resolução, o pedido será feito ao presidente da turma recursal ou ao presidente da turma regional, que fará o juízo de admissibilidade. Se o presidente não admitir o incidente, a parte poderá interpor agravo nos próprios autos, no prazo de 10 dias (medida essa não prevista pela lei, mas pela resolução do CJF), que muito se assemelha ao recurso de agravo previsto no art. 544 do CPC.