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CAPÍTULO II – IMPORTÂNCIA DA JURISPRUDÊNCIA E NECESSIDADE DE SUA

5.3 A insegurança gerada pela ausência de harmonização da jurisprudência

5.3.1 A demora na resolução de causas controversas pelos tribunais superiores como

Não fossem apenas as deficiências do sistema de tutela coletiva de direitos individuais homogêneos e a ausência de harmonização da jurisprudência, há demandas que versam sobre litígios de massa que são paradigmáticas, mas ficam anos aguardando para serem julgadas. Vejamos alguns exemplos:

375 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1941,

p. 223

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Continua o doutrinador criticando o processo de simples cópia de julgados sem qualquer critério: “O processo é erradíssimo. Os julgados constituem bons auxiliares de exegese, quando manuseados criteriosamente, criticados, comparados, examinados à luz dos princípios, com os livros de doutrina, com as exposições sistemáticas do Direito, em punho. A jurisprudência, só por si, isolada, não tem valor decisivo, absoluto. Basta lembrar que a forma tanto os arestos brilhantes, como as sentenças de colégios judiciários onde reinam a incompetência e a preguiça [...] Logo, a citação mecânica de acórdãos não pode deixar de conduzir a erros graves”. (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1941, p. 224)

Muito ainda se discute sobre a desaposentação, apesar de haver posicionamento do STJ pela possibilidade de as pessoas aposentadas que continuarem trabalhando e recolhendo contribuições previdenciárias requerer a renúncia e realização de novo cálculo de aposentadoria, incluindo nesse cálculo as novas contribuições.

Numa das teses, discute-se sobre a possibilidade de o aposentado renunciar seu direito à aposentadoria para que sejam feitos novos cálculos levando-se em consideração as contribuições previdenciárias posteriores à concessão do benefício. Também se discute sobre necessidade de devolução ou não dos valores recebidos.

No STJ já há posicionamento sobre a possibilidade de renúncia à aposentadoria, sem que haja necessidade de devolução dos valores percebidos.

Mas até que o STJ firmasse entendimento nesse sentido, o TRF da 3ª Região entendia que aqueles que tivessem se aposentado e que continuassem trabalhando não teriam direito a renunciar a aposentadoria para a realização de cálculo de novo benefício. No TRF da 4ª Região, por outro lado, entendia-se que o aposentado teria o direito de renunciar o benefício recebido, só que para isso teria que devolver todas as contribuições recebidas. Em São Paulo, o TRF chegou até a admitir a aplicação pelos juízes do art. 285-A377.

Apesar de esses tribunais se renderem ao posicionamento do STJ, que já exarara posicionamento em favor dos segurados em 2005378 (há mais de sete anos), verifica-se que na 5ª Região ainda são encontrados julgados em sentido contrário ao do STJ379.

Mais recentemente, diante da divergência do posicionamento da Turma Nacional de Uniformização verificada nos autos 0503644-88-2007.4.05.8400, que se originaram da 7ª Vara do Juizado Especial Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte, houve interposição de pedido de uniformização perante o STJ (Pet. 9.231-DF)380, distribuído ao

377

TRF 3ª Região, Autos nº. 0000484-64.2008.4.03.6127, rel. Des. Márcia Hoffmann, j. 02.08.2010.

378 STJ. 6ª Turma. REsp. 692.628-DF, rel. Min. Nilson Naves, j. 17.05.2005, v.u. Apesar desse primeiro

precedente tratando do regime geral de previdência, verifica-se que apenas em 2008 a 6ª Turma aderiu a esse entendimento (3 anos depois) – REsp. 557.231-RS, rel. Min. Paulo Gallotti, j. 08.04.2008, v.u.

379 2ª Turma, Autos nº 0006986-19.2011.4.05.8500, rel. Des. Francisco Barros Dias, j. 26.06.2012; 4ª Turma,

Autos nº. 0008834-59.2011.4.05.8300, rel. Des. Ivan Lira de Carvalho, j. 19.06.2012; 1ª Turma, Autos nº. 0003287-29.2011.4.05.8400, rel. Des. Francisco Cavalcanti, j. 31.05.2012.

Exmo. Min. Napoleão Nunes, que determinou a suspensão de demandas que tratam de desaposentação, nos termos do art. 2º da Resolução 10 de 2007381.

Apesar de já haver posicionamento do STJ firme no sentido da possibilidade de desaposentação sem devolução de valores, encontra-se pendente no STF o RE 381.367-RS. Esse recurso foi distribuído em 15.04.2003 no STF. No mesmo ano houve substituição o relator (Exmo. Sr. Min. Marco Aurélio), que proferiu seu voto em sessão de 16.09.2010. Após, o Exmo. Sr. Min. Dias Toffoli pediu vista e ainda não proferiu voto. Em suma, já se foram quase 10 anos de indefinição judicial. Enquanto isso o STJ vem tentando uniformizar o entendimento nacional, que poderá até ser alterado com a decisão do STF. Se já houvesse posicionado no sentido de cabimento da desaposentação, todos aqueles que continuam trabalhando e recolhendo contribuição social poderiam fazer seus pedidos de desaposentação administrativamente. Se, por outro lado, a decisão do STF fosse pela improcedência de tal direito, as pessoas deixariam de ajuizar as demandas, pois os advogados já orientariam seus clientes sobre o insucesso da demanda.

Outra questão que também envolve milhares de processos é a correção dos ativos que estavam depositados em cadernetas de poupança e sofreram correção a menor que a inflação (expurgos inflacionários). No STF pende de julgamento os RE 591.797 e RE 626.307. O primeiro dos recursos foi distribuído no STF em 13.08.2008. Quase dois anos após foi reconhecida a repercussão geral do recurso (16.04.2010) e em 27.08.2010 houve a suspensão de todos os demais processos que estejam tramitando e que versem sobre o tema objeto de discussão. Não obstante, mais dois anos se passaram sem que tenha ainda sido resolvida essa controvérsia382.

É preciso que haja prioridade no julgamento dos recursos representativos de controvérsia, pois a manutenção de julgamentos dessas causas traz instabilidade e causa abarrotamento desnecessário de demandas perante o judiciário. Não podemos nos esquecer da existência do princípio constitucional da razoável duração do processo, que decorre do próprio art. 5º, XXXV, e que agora se encontra expressamente previsto. A manutenção da demora em se julgar recursos paradigmáticos pelo próprio Judiciário acaba por sobrecarregar

381 Art. 2º. “Admitido o incidente, o relator: I - poderá, de ofício ou a requerimento da parte, presentes a

plausibilidade do direito invocado e o fundado receio de dano de difícil reparação, deferir medida liminar para suspender a tramitação dos processos nos quais tenha sido estabelecida a mesma controvérsia; [...]”

382 O número de ações sobre o tema só não aumentou mais em razão do prazo prescricional para ajuizamento das

esse mesmo órgão, diante das inúmeras demandas que acabam sendo propostas todos os dias, pois ninguém esperará haver uma decisão para ajuizar sua demanda. Os próprios advogados orientação seus clientes a ajuizarem as demandas para que não percam sua pretensão pela prescrição.

Infelizmente não temos informações sobre a grande quantidade de demandas ajuizadas que estão tramitando aguardando uma definição que ainda não foi exarada pelos tribunais superiores, o que dificulta ainda mais a sensibilização não só do STF, mas da sociedade e do Legislativo, para que haja estipulação de prazos razoáveis para o julgamento de demandas repetitivas.

No STJ o próprio tribunal se reuniu com representantes dos demais tribunais de segundo grau e assinaram um acordo de cooperação para julgamento dos recursos repetitivos. Ao final do encontro (realizado nos dias 26 e 27.06.2012) o Min. Ari Pargendler afirmou que o STJ está buscando mecanismos para julgar os recursos repetitivos em até seis meses383.

5.4 A necessidade de estabilização da jurisprudência com fulcro na segurança