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A urgência de uma comunicação proativa dos entes públicos

As diferentes campanhas de comunicação empreendidas por órgãos da saúde, e mesmo entidades privadas, a respeito da importância da detecção precoce do câncer de mama já são bastante conhecidas do público. Todas as peças concentram seus esforços para um foco preventivo da doença. Mas quais ações de comunicação falam à mulher que tenha confirmado o diagnóstico? A quem cabe desenvolver as necessárias estratégias de comunicação para falar com a paciente, com seus familiares e, por fim, com a sociedade na qual esta mulher está inserida? Neste aspecto, compartilhamos do entendimento de Mariângela Haswani (no prelo), a respeito da comunicação pública promovida por entes estatais, de que “o Estado seja necessariamente ativo sempre que a informação em pauta significar garantia de direitos fundamentais”.

Muito se tem dito a respeito da juventude e da ainda não consolidada conceituação do campo da comunicação pública (Haswani, 2011; Matos, 2011; Duarte, 2009). No entanto, é forçoso aceitar, como observou Jaramillo López, que, a respeito dos diferentes enfoques dados pelos estudiosos do tema, três aspectos parecem estar sempre presentes:

a noção de comunicação associada à compreensão do público; o que opera em diferentes cenários, entre eles o estatal, o político, o organizacional e o midiático; e o que é um conceito vinculado a princípios como visibilidade, inclusão e participação. (López, 2012, p. 247)

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Comunicação pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas

São muitas as perguntas das mulheres com diagnóstico positivo para câncer de mama: Tenho que parar de trabalhar por causa do câncer? Meu cabelo vai cair? Vou ficar gorda? Meus ossos enfraquecerão? Vou perder meus dentes? Tenho de me tratar com psicólogo, nutricionista? Posso contar para o meu namorado? Minha filha também terá câncer? Com um diagnóstico de câncer de mama, quais são os meus direitos? O que faço com a minha cura? Ou seja: além de receber a confirmação da doença, a mulher diagnosticada com câncer de mama voltará para casa insegura, fragilizada e com inúmeros questionamentos – sendo que muitos ficarão sem respostas, pois algumas dessas mulheres não saberão onde, nem a quem perguntar. E os motivos são tão variados quanto as perguntas. Algumas pacientes se calam por timidez, medo da morte ou qualquer outro sentimento que as impeça de ir adiante e buscar ajuda. Há também as que preferem não perguntar, por temerem a resposta. Aqui, é importante salientar que familiares e amigos de uma paciente com câncer de mama também vivenciam esse drama, em maior ou menor grau e que, portanto, também devem ser considerados pelas ações de comunicação dos órgãos estatais responsáveis.

Monteiro (2009), ao elencar os princípios da comunicação pública propostos em 2005 pelo então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República (Secom), destacou:

o direito do cidadão à informação, como base para o exercício da cidadania; o dever do Estado de informar, zelando pelo conteúdo informativo, educativo e de orientação social daquilo que divulga; a comunicação pública como instrumento de diálogo, interatividade e envolvimento do cidadão nas políticas públicas. (Monteiro, 2009, p.34-35)

No que diz respeito às estratégias de políticas públicas de saúde direcionadas ao tratamento do câncer de mama, pacientes e profissionais da saúde concordam que as informações deveriam ser mais específicas sobre as questões que envolvem a doença. De modo geral, campanhas publicitárias (governamentais ou de instituições privadas), entrevistas exibidas na televisão, matérias jornalísticas, novelas, filmes etc., falam da importância do exame de mamografia, porém não enfatizam os aspectos da prevenção, nem dão o devido destaque às informações sobre os tipos de tratamentos disponíveis.

Ainda no âmbito das estratégias de políticas públicas de saúde, vale ressaltar que, diferente do que acontece em hospitais que atendem convênios particulares, nos da rede pública não há material de apoio (cartilhas, folders etc.) para auxiliar os profissionais da saúde a transmitir informações essenciais sobre o câncer de mama. De modo que os únicos recursos que continuam sendo utilizados pelas estratégias de políticas públicas de saúde são: personalidades midiáticas incentivando o autoexame e as campanhas convocando as mulheres para o mutirão de mamografia.

Sobre campanhas que utilizam pessoas famosas (por exemplo, as do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – IBCC, com artistas vestindo as camisetas da campanha

“O câncer de mama no alvo da moda”), os profissionais da saúde consideram que elas, apesar de colaborarem no sentido de mobilizar as mulheres a realizar os exames preventivos, apresentam um conteúdo insuficiente, pois não abordam outras questões importantes, como as funções da mama, as formas de prevenção etc.

Quanto aos medos e mitos que envolvem o câncer de mama, os profissionais da saúde consideram que as dificuldades que as pacientes têm para entender tanto a patologia quanto o tratamento se devem, em parte, às informações desencontradas e equivocadas que surgem no imaginário coletivo por conta do estigma que a doença ainda carrega.

Assim, é preciso desmistificar o câncer, com rastreamento e ações educativas. E citam exemplos de países europeus, onde o rastreamento é de 100%, enquanto no Brasil essa porcentagem está bem longe de ser alcançada.

Embora seja inegável a importância de informar e mobilizar as mulheres para os mutirões de mama e para o autoexame, vale resgatar aqui a hipótese apresentada inicialmente neste trabalho: as informações e campanhas sobre o câncer de mama devem ser aprimoradas, para que as mulheres compreendam melhor o funcionamento do próprio corpo. Nas campanhas atuais, é priorizado o atendimento de mulheres que estão nos chamados grupos de risco, com idade acima de 40 anos. Na verdade, trata-se, como mencionado nos relatos dos profissionais da saúde, de uma ação meramente estatística.

É relevante, a este respeito, resgatar a contribuição de Brandão (2009), em trabalho que apresentou as várias possíveis acepções a respeito do termo “comunicação pública”. Dentre elas, a autora destaca um exemplo do passado das ações de comunicação do Estado na área da saúde pública, para a qual

[...] foram construídas estratégias de aproximação e informação para núcleos de populações necessitadas, em que o uso pedagógico da comunicação foi determinante para a melhoria das condições de vida. (Brandão, 2009, p.4)

Ações educativas podem ser iniciadas a partir do profissional de saúde. E aqui

vale destacar a importância da comunicação, que deve fazer parte dos estudos em medicina durante todo o período de formação dos profissionais da saúde. Embora seja uma recomendação dos Parâmetros Curriculares do MEC, isso não foi constatado nos relatos pessoais dos profissionais de saúde. Para muitos, a comunicação está associada à mídia.

Já do lado das pacientes, inseguras e fragilizadas pela possibilidade de terem uma doença que, mais que o temor da morte, desperta muita angústia e sofrimento por mexer com símbolos importantes de feminilidade, algumas chegaram a admitir que somente conseguem informações sobre a doença nos meios de comunicação (ainda que superficiais) ou por conta própria, pesquisando na internet o que muitas vezes pode gerar interpretação errônea e fazer com que elas fiquem ansiosas até o dia da consulta. Contudo, embora exista muita informação questionável, a internet oferece uma infinidade de sites com