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A comunicação pública pode ser protagonizada por diversos atores: Estado, Terceiro

Setor (associações, ONGs, etc.), partidos políticos, empresas privadas, órgãos de imprensa privada ou pública, sociedade civil organizada, etc. Ela não é determinada exclusivamente pelos promotores/emissores da ação comunicativa, mas, sim, pelo objeto que a mobiliza – o interesse público – afastando-se, ainda, de uma finalidade de cunho mercadológico.

É uma comunicação que tem o olhar voltado à coletividade. Conforme López (2003), é a intenção do agente – o enfoque que ele dá à ação comunicativa – que faz que ocorra a transmutação de sentido comunicativo.

Um aspecto importante para a compreensão do conceito de comunicação pública é

observar que ela abrange três áreas da comunicação: o jornalismo, as relações públicas e a publicidade e propaganda. Esses campos não devem ser confundidos com as formas de mediação utilizadas (radiodifusão, impressos, internet e outros), nem tampouco com os seus promotores/sujeitos. Pela natureza de suas atividades, observa-se que o jornalismo é a área que mais tem proximidade com o interesse público, enquanto a propaganda e a publicidade, por sua natureza persuasiva e voltada a fins mercadológicos, menos. A partir dessa lógica, e das intenções apontadas por López (2003), apresentamos o quadro a seguir:

Figura 2

Gradação das intenções do agente de comunicação pública.

Gradação das intenções do agente de comunicação

Comunicação Pública

Comunicação presidida pelo direito

à informação, com olhar direcionado prioritariamente para o interesse do cidadão ou da coletividade em primeiro planto, não

sendo ancorada na perspectiva de resultados particulares como vendas ou promoção de imagens. Comunicação presidida pelo direito

de setores privados, sejam eles religiosos,

econômicos, partidários, etc., de influenciar a opinião pública, para obtenção de um comportamento de consumo, de voto, de adesão, etc. (no primeiro planto

está o interesse de grupos ou de pessoas). Comunicação de interesse privado + público Forma publicitária ou de propaganda Zona de Intersecções Fonte: Bucci/Koçouski Forma de oferecimento de dados, transparência pública, serviços de utilidade pública, fiscalização, jornalismo + privado <<<<>>>>

A análise da comunicação pública realizada a partir dos promotores/emissores admite que o Estado é crucialmente diferente em relação aos demais atores, uma vez que suas atividades têm obrigação legal de serem pautadas pela supremacia do interesse público. O Estado de Direito distingue-se, também, pelo fato de que suas atividades exigem transparência. Conforme aponta Bobbio (2010, p.30):

A república democrática – res publica não apenas no sentido próprio da palavra, mas também no sentido de exposta ao público – exige que o poder seja visível: o lugar onde se exerce o poder em toda forma de república é a assembleia dos cidadãos (democracia direta), na qual o processo de decisão é in re ipsa público, como ocorria na ágora dos gregos; nos casos em que a assembleia é a reunião dos representantes do povo, quando então a decisão seria pública apenas para estes e não para todo o povo, as reuniões da assembleia devem ser abertas ao público de modo a que qualquer cidadão a elas possa ter acesso.

O Estado é, portanto, o único entre os demais atores que deve atuar integralmente com a comunicação pública. Todos os demais têm a liberdade de desenvolver ações comunicativas

que não sejam propriamente voltadas ao interesse público, promovendo produtos, serviços e ideologias, representando interesses privados, grupos econômicos, religiosos, políticos, etc.

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Heloiza Matos (org.)

Dessa forma, a comunicação no âmbito estatal deve ser tratada pelo viés da comunicação pública, como o reconhecimento do direito do cidadão – não apenas em seu contato

direto com o Estado, mas também quando é representado por meio da imprensa ou de qualquer outro tipo de coletividade – de ser informado sobre os atos dos governos/ administrações. No Brasil, essa prerrogativa vai ao encontro do princípio constitucional da publicidade.5 E ademais o uso da comunicação social para fins de promoção pessoal,

partidária ou ideológica é inconstitucional: infringe o princípio da impessoalidade.6

A comunicação pública não é um modelo utópico, em substituição às demais formas

comunicativas existentes. Ela tem um campo definido de abrangência. Apresenta como característica intrínseca a perspectiva ética do interesse público – sem a qual ela deixa de existir enquanto conceito.

Com base no exposto, apresentamos o seguinte conceito: comunicação pública é uma

estratégia ou ação comunicativa que acontece quando o olhar é direcionado ao interesse público, a partir da responsabilidade que o agente tem (ou assume) de reconhecer e atender o direito dos cidadãos à informação e participação em assuntos relevantes à condição humana ou vida em sociedade. Ela tem como objetivos promover a cidadania e mobilizar o debate de questões afetas à coletividade, buscando alcançar, em estágios mais avançados, negociações e consensos.

O quadro a seguir apresenta quais atores têm mais relação com a atividade de comunicação pública, a partir do intercruzamento de promotores/sujeitos e de suas características

funcionais:

5 Sobre o princípio constitucional da publicidade, Mello diz que: “Não pode haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida. Tal princípio está previsto expressamente no art. 37, caput, da Lei Magna, ademais de contemplado em manifestações específicas do direito à informação sobre os assuntos públicos, quer pelo cidadão, pelo só fato de sê-lo, quer por alguém pessoalmente interessado (2001, p.84-85).

6 O princípio constitucional da impessoalidade está no art. 37 da Constituição Brasileira. Conforme Meirelles: “Esse princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas (CF, art. 37, §1º).” (1993, p.85).

Quadro 2

A comunicação pública a partir dos atores.

Fonte: Koçouski (2012).