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Da comunicação pública para uma esfera pública política

Brandão (2007) aborda a comunicação pública sob as nuances deliberativas habermasianas, e nos apoia na correlação entre as conversações cotidianas e seus contornos políticos. Para a autora, “a comunicação pública é parte integrante da vida política da sociedade, como tal, ela não é um poder em si, mas o resultado do poder do cidadão quando organizado e constituído como sociedade civil” (Brandão, 2007, p.30). A autora ainda relaciona, de maneira indireta, o desenvolvimento do conceito de comunicação pública ao desenvolvimento de ferramentas democráticas, no sentido de que o conceito “cresce e se organiza na mesma medida em que cresce e se estabelece o poder desses cidadãos”, aqui também postulados como usuários, “na nova configuração da sociedade civil”.

A seguir resgatamos Habermas, para pontuarmos algumas considerações sobre a comunicação pública e a esfera pública política.

Para o autor, “a esfera pública política tem de se formar a partir dos contextos comunicacionais de pessoas virtualmente atingidas” (Habermas, 1992, p.97).

Notamos que a esfera pública política tem duas características fundamentais: 1) o caráter potencial comunicativo entre todos os indivíduos de uma sociedade; 2) os discursos que permeiam a esfera pública política circulam em vista das

expressões linguístico-simbólicas a partir de indivíduos afetados por determinados acontecimentos.

Habermas (1992, p.97) ainda descreve a pragmática da esfera pública política: “os problemas tematizados na esfera pública política transparecem inicialmente sob pressão social exercida pelo sofrimento que se reflete no espelho de experiências pessoais de vida” (Habermas, 1992, p.97).

Ainda em relação à esfera pública política, Habermas coloca que:

há uma união pessoal entre os cidadãos do Estado, enquanto titulares da esfera pública política, e os membros da sociedade, pois em seus papeis complementares de trabalhadores e consumidores (...) eles estão expostos, de modo especial, às exigências específicas e às falhas dos correspondentes sistemas de prestação. (...) A esfera pública retira seus impulsos da assimilação privada de problemas sociais que repercutem nas biografias particulares. (Habermas, 1992, p.98)

Habermas serve de embasamento para as considerações de Gamson (2009) acerca do “enquadramento de injustiça”. Segundo Gamson, as pessoas formam opinião quando um assunto lhes causa estranheza e há a sensação de que alguém (ele ou outrem) está sofrendo injustiça.

Nesse sentido, podemos afirmar que a comunicação pública é uma ferramenta de caráter discursivo que se dá no fenômeno social “espaço público”, e que, podemos perceber sua manifestação mais pragmática quando seus temas penetram na esfera pública política, fazendo mover o jogo de poder discursivo entre a periferia e o centro das sociedades, no embate resolutivo da produção e aplicação de políticas públicas.

Mais uma vez, a regulamentação normativa de regras explícitas sobre a disponibilização de informações e dados, oriundos dos atos de Estado – e governos – é um contingente característico de sociedades cujas ferramentas internet, celular e computador participam da vida cotidiana, e, de maneira pontual, não podem ser desconsideradas quando do observar da comunicação pública.

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Comunicação pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas

Considerações finais

Num Brasil em processo de democratização da vida social, é paradigmática a publicação de uma lei que reforça os instrumentos online e em rede que permitem o acesso aos atos diretos e indiretos do Estado, na medida em que ela aborda de maneira significativa a necessidade dos governos em fornecer possibilidades discursivas para qualquer cidadão se apropriar do desenvolvimento a da aplicação de políticas públicas.

Acreditamos que sua publicação vem atender a crescente demanda social por busca de informações acerca dos procedimentos governamentais, tendo como protagonista uma sociedade civil que se apropria da necessidade de conhecer e entender como as políticas públicas são implementadas, no cotidiano de um dado mandato de governo ou mesmo num espaço de tempo maior durante diversos mandatos.

Dentre muitas, a pergunta visceral que fica é: podemos o que queremos?

Se a publicação de uma lei é, de um lado, a normatização da convivência social, e de outro, a materialização das necessidades que a periferia negocia com o centro do poder social, a comunicação pública será “um processo de interlocução que preza o interesse coletivo, definido coletivamente na esfera pública de troca argumentativa”, à medida que mais democrática seja uma sociedade (Matos, 2009 p.11).

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