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Capital social, reconhecimento e a ressignificação das representações sociais do enfermeiro

Nas considerações finais do estudo conduzido por Fonseca e Silva (2012), as pesquisadoras compreendem que a enfermagem poderia utilizar mais e melhor os meios de comunicação“para elucidar acomunidade científica e a população em geral sobre suas competências e seu papel na sociedade”. Ainda de acordo com as autoras, pesquisas no Brasil e no mundo retratam a “invisibilidade” do profissional em relação à sociedade.

Sem iniciativas formais para intencionalmente se introduzir nos meios de comunicação uma imagem mais profissional do enfermeiro e da enfermagem no Brasil, torna-se difícil estabelecer um contraponto a essa avalanche de informações à qual a sociedade está sujeita. (Fonseca; Silva, 2012, p.58)

Esse apelo à necessidade de iniciativas – as autoras não esclarecem se de órgãos e instituições que representam a enfermagem, ou mesmo dos próprios membros da categoria – permite percebermos um diálogo entre a constatação das autoras e o conceito de capital social, conforme nos é apresentado por Heloiza Matos.

Embora a noção de capital social abarque um campo vasto e diversificado, seu uso se apoia na mesma finalidade: compreender como os atores sociais e as instituições podem, partindo de interesses pessoais, atingir objetivos comuns, e isso mediante uma ação conjunta que é qualitativamente diferente de uma simples agremiação quantitativa. A condição essencial para que isso ocorra é que o indivíduo pertença a uma comunidade civicamente engajada, participando em variadas redes de interação. (Matos, 2011, p.54)

Em obra de 2009, Matos nos apresenta uma revisão dos autores que apresentam diferentes enfoques do conceito, dos propósitos e dos efeitos da construção e manutenção de capital social, seja este de indivíduos ou grupos. Dentre eles, Pierre Bordieu que compreende o capital social como fenômeno que “descreve circunstâncias nas quais os indivíduos podem se valer de sua participação em grupos e redes para atingir metas e benefícios” (Matos, 2009, p.35).

Dessa maneira, antes mesmo que se lute por espaço para os enfermeiros nos meios de comunicação, é necessário compreender de que forma as redes nas quais os enfermeiros e seus órgãos representativos estão inseridos – se estiverem de fato inseridos – e se tais redes estão servindo ao propósito de promover e de manter ações de relacionamentos que construam o reconhecimento da profissão perante a sociedade.

Considerações finais

Ao iniciarmos uma tentativa de abordagem – sob o olhar dos conceitos de representação social – discursos circulantes e reconhecimento, para compreendermos a questão da falta de visibilidade do enfermeiro nos meios de comunicação e a indiferença com a qual as ações de comunicação de seu órgão público representativo são recebidas pela imprensa, percebemos o quão complexo se apresenta o desafio de fazer essa categoria profissional romper a intrincada rede de representações sociais que a revisão específica sobre o assunto demonstrou. Representações que não foram construídas sobre preconceitos (como inicialmente imaginávamos) ou por ignorância dos públicos. Mas, sim, representações co-construídas também pelos próprios enfermeiros que, em seu conflito de identidade, ao mesmo tempo poderosa e desempoderada, abraça e rejeita o – talvez eterno – título de “auxiliar do médico”.

Manter o enfermeiro e seu órgão representativo invisíveis aos meios de comunicação e à sociedade tem efeitos nocivos que vão muito além da exclusão da figura desse profissional dos noticiários. Não se trata aqui de uma demanda motivada exclusivamente por questões corporativistas. Manter os temas de domínio dos enfermeiros na invisibilidade compromete a visibilidade de questões de saúde relevantes para toda a sociedade. Questões estas queversam prioritariamente a respeito da prevenção de doenças, que têm permanecido perigosamente ausentes dos debates dos temas de saúde, focados prioritariamente numa visão hospitalocêntrica, na qual o médico surge como figura central das ações curativas. Dar voz e rosto ao enfermeiro e ao Coren-SP é promover uma necessária mudança de abordagem, privilegiando uma cultura voltada à prevenção de doenças.

Para o campo da comunicação pública, resta uma reflexão a respeito de como fatores não intrínsecos à área de atuação do ente estatal, ou mesmo ao interesse público de suas mensagens, podem comprometer as estratégias de comunicação do setor público. As “imagens” nas “cabeças” das pessoas, conforme sugerido por Walter Lipmann a respeito de opinião pública em 1922, devem obrigatoriamente ser consideradas como aspecto fundamental no planejamento das ações de comunicação.

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