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Aspectos da comunicação interpessoal e ações de comunicação estatal

Vanderli Duarte de Carvalho

Resumo

A questão relacional na área da saúde envolve o imaginário sociocultural. Nos casos de mulheres com câncer de mama, denota um caráter emergencial em virtude do elevado número de ocorrências e pelo desconhecimento e/ou falta de percepção feminina da doença, o que dificulta a prevenção e o tratamento em tempo hábil. O entendimento do processo comunicacional, relacionado, em particular, às informações de prevenção do câncer de mama, apesar de amplamente abordado pela mídia, ainda é incipiente nas ações práticas a partir da constatação do diagnóstico, tanto por parte do Estado e de seus órgãos – ao não contemplarem políticas de comunicação que privilegiem aspectos da informação, da orientação e do esclarecimento para as pacientes, suas famílias e para toda a sociedade –, como também na ausência de capacitação e desenvolvimento das equipes de profissionais de saúde enquanto agentes multiplicadores destas mesmas informações. Na comunicação entre profissionais da saúde e pacientes, a relação unidirecional está associada ao ensino da medicina baseado no modelo biomédico, fator que impede que se estabeleça uma relação interpessoal satisfatória. Este trabalho reflete uma inquietação que vem se transformando em objeto de estudo da comunicação e saúde e áreas interdisciplinares, como a educação e a sociologia, tanto do ponto de vista prático quanto teórico. Ao direcionar um olhar mais atento às práticas discursivas (analisadas a partir de relatos de pacientes com câncer de mama e de alguns profissionais de saúde), procuramos analisar os problemas comunicacionais existentes na relação profissionais da saúde versus pacientes. Nesse sentido, também avançamos na direção de um diálogo com a comunicação em saúde, para ressaltar a importância da educação como uma área que possibilita que se forme uma tríade importante no cenário atual: educação, comunicação e saúde.

Palavras-chave: Políticas de comunicação, comunicação e saúde, câncer de mama, relação

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Comunicação pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas

Introdução

Focado no câncer de mama feminino, este artigo abordou a doença em duas perspectivas: a da equipe multiprofissional que cuida de pacientes com essa patologia e a das mulheres que estavam em tratamento em decorrência da doença. Estudos revelam que construções culturais, no que se refere ao diagnóstico da doença, induzem a mulher a assumir o papel de doente, com drásticas implicações em sua rotina de vida.

O recorte na questão do câncer de mama feminino1

se deve ao fato de a doença afetar física e psicologicamente a paciente – podendo ainda ter consequências socioculturais. A área da comunicação funciona como aporte de conhecimento, uma vez que abarca e se nutre de diferentes áreas, entre elas: sociologia, antropologia, filosofia, história, direito, ciência política, psicologia, história, economia, psicossociologia e os múltiplos estudos da linguagem. A comunicação é um saber multifatorial, portanto, interdisciplinar e multidisciplinar. No campo da saúde, a comunicação se expressa em vários segmentos, por meio de campanhas públicas e na relação interpessoal, entre profissionais da saúde e pacientes. Por ser campo de grande interesse público, a interface da saúde com a sociedade é medida pelas relações desses profissionais com os pacientes e pela mídia em geral, que a cada dia traz novidades sobre diagnósticos, medicamentos e tratamentos para as diferentes patologias. Assim, a divulgação dos avanços científicos, ao mesmo tempo que representa uma preciosa aliada dos pacientes e de seus familiares – particularmente na área de câncer –, gera expectativas que nem sempre correspondem à realidade, pois os resultados das pesquisas – apesar dos maciços investimentos no setor – ainda não vislumbram a cura desejada.

As relações de poder podem ser percebidas nos diferentes cenários nos quais circulam profissionais da saúde e pacientes: ambientes acadêmicos, hospitais, clínicas, ambulatórios e consultórios – aliás, espaços que privilegiam os profissionais da saúde, já que estão em seu hábitat natural. Simultaneamente, as relações desses profissionais com os pacientes e seus familiares contribuem (e muito) com o tratamento e o bem-estar desejado. De modo que não é por acaso que o debate sobre o papel desses profissionais da saúde no relacionamento com os pacientes tem sido objeto de estudos, seja no campo da saúde, seja no da comunicação.

Nessa relação com os profissionais de saúde, qual pode ser, então, a expectativa dos pacientes fragilizados? De que forma os profissionais da saúde podem contribuir para o bem- estar dos pacientes, ajudando no tratamento após diagnósticos, que ainda representam uma sentença de morte para os pacientes? Como esses profissionais são capacitados/ educados para manter uma relação positiva com os pacientes, que vá além da parte técnica? Ademais, é fundamental entender que as atitudes, a empatia e a postura são princípios (inclusive propostos nos parâmetros curriculares do curso de medicina) do ato médico e 1 Este trabalho, também publicado em Nó no peito (Editora Desatino, 2012), reflete e amplia a discussão da tese de

doutorado defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista em 2011 sob a orientação da Prof. Dr. Elizabeth Moraes Gonçalves. O trabalho Relatos pessoais de mulheres com câncer de mama e profissionais da saúde está disponível no site <http://www.metodista.br>.

que se forem apreendidos de maneira adequada, podem ser aplicados durante a consulta, com benefício direto aos pacientes.

No entanto, pelo fato de o Sistema Público de Saúde não favorecer um atendimento com qualidade no que diz respeito aos aspectos técnicos – o que faz que toda a equipe técnica enfrente dificuldades relacionadas à infraestrutura e à sobrecarga de atendimentos –, não cabe aqui depositar apenas nos profissionais de saúde a responsabilidade pelos problemas de relacionamento existentes.

Para entender o contexto atual, é necessário, primeiramente, discutir o papel do Estado nas questões públicas de saúde – saber, portanto, da responsabilidade dos programas de saúde em relação aos pacientes não apenas quanto às ações terapêutico- medicamentosas, ou mesmo sobre as políticas de prevenção/detecção precoce do câncer de mama, mas, principalmente, sobre o papel dos agentes públicos na construção de estratégias de comunicação e relacionamento com as mulheres que tenham confirmado o diagnóstico para a doença.

A urgência de uma comunicação proativa dos entes