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2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS TEORIAS ADMINISTRATIVAS

2.2.2 A organização enquanto organismo: escola das relações humanas, teoria geral

2.2.2.3 Abordagem contingencial

Stoner (1999, p. 35) esclarece que a abordagem contingencial foi desenvolvida por administradores e pesquisadores que tentavam aplicar os conceitos das principais escolas em situações reais. Quando métodos altamente eficazes em uma situação não funcionavam em outras, eles buscavam uma explicação. Os escritores dessa abordagem tinham uma resposta: os resultados são diferentes, porque os contextos são diferentes. Desta forma, uma técnica que funcione em uma situação pode não ser adequada em outras.

Caravantes (2005, p. 166) afirma que os dois princípios básicos da Teoria da Contingência são:

- não há uma melhor maneira de organizar;

- uma determinada forma de organizar não será igualmente eficaz para todas as situações.

Burns e Stalker (apud MORGAN, 1996, p. 53), focalizando empresas em diferentes ramos industriais, demonstram que a intensidade das mudanças no ambiente, bem como as condições do mercado, podem interferir nos enfoques utilizados pelas organizações. Por exemplo, em organizações como uma empresa fabricante de engrenagens de câmbio, que opera na área de engenharia industrial, que enfrentam condições incertas e turbulentas, o enfoque mecanicista de organização apresentou tendência a ser abandonado, ou seja, a adoção de enfoques mais orgânicos e flexíveis foram necessários ao sucesso operacional. Em empresas de sucesso da indústria eletrônica, o abandono da orientação mecanicista foi ainda mais evidente, como no caso de indústrias envolvidas na fabricação de rádios e televisores, com a necessidade de se manter à frente no mercado e de promover mudanças tecnológicas através de freqüentes modificações no produto, e, ainda, a necessidade de interligar desenvolvimentos de pesquisas e a produção, exigiram colaboração e comunicação livres e abertas entre departamentos e diferentes níveis de hierarquia.

Mintzberg (1995, p. 132) comenta os resultados dos estudos realizados por Joan Woodward sobre os efeitos na estrutura de três diferentes formas de sistemas técnicos utilizados em ramos industriais: produção por unidade, produção em massa e produção por processo. A seguir apresenta-se algumas de suas características:

- nas empresas de produção por unidade, onde os produtos são fabricados por pedido, e o trabalho operacional não podem ser padronizado, a estrutura prevalente é a orgânica;

- nas empresas de produção em massa, caracterizada pela padronização dos processos, Woodward presenciou características da administração clássica como: ênfase na comunicação escrita, unidade de comando, rígida separação entre linha e assessoria, etc;

- nas empresas dirigidas para produção por processo, que são caracterizadas pela automação, Woodward identificou a substituição dos trabalhadores sem habilidades, amarrados no sistema técnico, por operadores habilitados destinados a mantê-lo, enquanto nos níveis médios da estrutura, ocorre a substituição de gerentes, por uma assessoria de apoio. A pesquisadora observou que as estruturas desse tipo de empresa, em geral, eram orgânicas por natureza.

Os estudos realizados por Burns e Stalker e Woodward demonstraram a necessidade da flexibilização das formas de gerenciamento, levando em consideração o ramo de atuação industrial, ou seja, apontaram que diferentes tecnologias e ambientes exigem adequação das estruturas organizacionais. Assim, é possível verificar um contínuo nas formas das organizações que se enquadram entre o posicionamento mecanicista até o orgânico.

Mintzberg (1995, p. 140) apresenta a hipótese que quanto mais dinâmico for o ambiente, mais orgânica será a sua estrutura. O autor coloca que em um ambiente caracteristicamente estável, a organização toma a forma de um sistema protegido, o qual pode padronizar seus procedimentos desde a base até o topo. Ao contrário, as organizações que enfrentam fontes incertas de suprimentos, demandas imprevisíveis de clientes, alta rotatividade de pessoal, condições políticas instáveis, ou rápidas mudanças de tecnologia (conhecimento), não conseguem facilmente prever seu futuro e, assim, não podem confiar na padronização para coordenar. Neste contexto, faz-se necessário um mecanismo de coordenação mais flexível e menos formal, em outras palavras, faz-se necessário uma estrutura orgânica.

Mintzberg (1995, p. 102) afirma que a centralização ocorre quando todo poder para tomada de decisões encontra-se nas mãos de uma única pessoa, ou seja, as decisões são tomadas por uma única mente e depois implantadas por meio da supervisão direta. Entretanto, as organizações sentem necessidade de descentralizar o poder, porque nem todas as decisões podem ser compreendidas em um centro, em uma única mente.

[...] Os gerentes do topo, com poderes para delinear a estrutura, vêem os erros cometidos abaixo e acreditam eles podem fazer melhor porque julgam-se mais competentes ou porque supõem poderem mais facilmente coordenar as decisões. Desafortunadamente, em condições complexas isto inevitavelmente conduz a uma

situação conhecida como “pletora de informações”. Quanto mais informações o cérebro tenta receber, menor a quantidade total que realmente nele permanece. As pessoas na base da hierarquia, com o conhecimento necessário, acabam tendo que submeter-se aos gerentes do topo que estão por fora da situação real. (MINTZBERG, 1995, p. 103).

O mesmo autor, aponta outras razões para ocorrência da descentralização: permite a organização responder rapidamente as condições locais e, ainda, constitui um estímulo motivador para as pessoas.

Desta forma, sob o ponto de vista da abordagem contingencial, a função do administrador consiste em analisar as características do ambiente interno e externo à organização, e identificar quais técnicas funcionam melhor diante de determinadas circunstâncias, em um momento específico. A flexibilidade deve ser uma característica presente no funcionamento organizacional, pois os resultados só poderão ser obtidos quando as ações estiverem coerentes e adaptadas à situação em que são empregadas.

Apesar das contribuições apresentadas na abordagem contingencial, Caravantes (2005, p. 166) apresenta dúvidas no tratamento desses conceitos, enquanto uma teoria, pois o autor afirma que a abordagem não possui substância para se manter sozinha. Da mesma forma, Stoner (1999, p. 35) coloca que a abordagem contingencial vem sendo questionada por vários teóricos, que argumentam que ela ainda não se desenvolveu a ponto de poder ser considerada uma verdadeira teoria por si própria.