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2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS TEORIAS ADMINISTRATIVAS

2.2.2 A organização enquanto organismo: escola das relações humanas, teoria geral

2.2.2.2 Teoria geral dos sistemas

A Teoria Geral dos Sistemas foi fundada pelo biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, que apresenta uma nova maneira de perceber e estudar os problemas das diversas ciências criadas pelo homem. A visão dicotômica, de análise e isolamento, evolui para uma

concepção de síntese, agregação, buscando o que existe em comum entre as diversas áreas de conhecimento. Senge (1998) coloca que desde a infância somos educados a desdobrar problemas em partes para facilitar o entendimento das tarefas e assuntos complexos, mas isso cria um problema maior que é a incapacidade de percebermos as conseqüências de nossas ações e, também, a conexão entre as partes e o todo. O pensar sistêmico é uma forma de perceber as totalidades, um esquema para enxergar padrões e inter-relações.

A emergência do pensamento sistêmico representou uma profunda revolução na história do pensamento científico ocidental. A crença segundo a qual em todo sistema complexo o comportamento do todo pode ser entendido inteiramente a partir das propriedades de suas partes é fundamental no paradigma cartesiano [...].

O grande impacto que adveio com a ciência do século XX foi a percepção de que os sistemas não podem ser entendidos pela análise. As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo mais amplo. (CAPRA, 1996, p. 41).

Enquanto o pensamento analítico procura isolar um fato para entendê-lo, o pensamento sistêmico o contextualiza, procura compreendê-lo dentro de um todo maior. Assim, na mudança do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico, a relação entre as partes e o todo foi modificada. O mundo vivo passou a ser percebido como uma rede de relações interdependentes.

Bertalanffy (1975, p. 60) afirma que enquanto no passado a ciência tentava explicar os fenômenos observáveis, reduzindo-os à interação de unidades investigáveis independentemente uma das outras, na ciência contemporânea aparecem concepções que se referem ao que é chamado de “totalidade”, onde não é possível estudar um sistema isolando suas partes separadamente.

Capra (1996, p. 49), esclarece que essa nova abordagem da ciência levanta de imediato uma importante questão: se tudo está conectado com tudo, como entenderemos alguma coisa? Se todos os fenômenos naturais estão, em última instância, interconectados para explicar qualquer um deles, precisa-se compreender todos os outros, o que é impossível. Desta forma, o autor coloca que o que viabiliza a abordagem sistêmica como ciência é a descoberta de que há conhecimento aproximado. O velho paradigma fundamenta-se na crença cartesiana na certeza do conhecimento científico, entretanto, no novo paradigma, entende-se que todas as concepções e teorias científicas são limitadas e aproximadas.

Segundo Lodi (1981, p. 201), a Teoria de Sistemas veio enriquecer a Teoria da Organização com noções importantes para explicar o funcionamento da empresa, ou seja, com a introdução de conceitos como totalidade, crescimento, informação, feedback, entropia, sistema entre outros.

Para Caravantes (2005, p. 147), um sistema é qualquer entidade conceitual ou física, composta de partes interdependentes, dotadas de um objetivo. Essas são denominadas como subsistemas.

Katz e Kahn (1978, p. 56) descrevem cinco subsistemas básicos referentes ao funcionamento organizacional: subsistemas técnicos ou de produção (que objetiva fazer com que o trabalho seja executador); subsistemas de apoio (responsável com as transações com o meio ambiente); subsistemas de manutenção (que visa vincular as pessoas a seus papéis funcionais); subsistemas adaptativos (responsável em perceber as mudanças no ambiente externo e traduzir seu significado para a organização); subsistemas gerenciais (visam controlar, coordenar e dirigir os muitos subsistemas da estrutura).

O funcionamento de uma organização precisa ser entendido a partir das relações que são estabelecidas com o seu meio externo. Dependendo da maneira como for abordada, um determinado sistema social poderá ser classificado como sistema, subsistema ou supersistema. Assim, cada sistema pode ser o subsistema de um todo ainda maior. Um departamento é um subsistema de uma fábrica, que pode ser um subsistema de uma empresa, que pode ser um subsistema de um conjunto de indústrias.

Conforme Katz e Kahn (1978, p. 76), os sistemas sociais, como abertos, dependem de outros sistemas sociais. Sua denominação como subsistemas, sistemas ou supersistemas está diretamente ligada ao nível de autonomia na execução de suas funções e aos interesses particulares do investigador.

A teoria de sistemas está basicamente interessada pelos problemas de relações, de estrutura e de interdependência e não pelos atributos constantes dos objetos. Em abordagem geral, ela lembra a teoria de campo, exceto que sua dinâmica lida tanto com configurações temporais como espaciais. As formulações mais antigas de constructos de sistema lidavam com os sistemas fechados das ciências físicas, nos quais as estruturas relativamente autocontidas podiam ser tratadas, com êxito, como se fossem independentes de forças externas. Mas os sistemas vivos, quer sejam organismos biológicos, quer sejam organizações sociais, se acham agudamente na dependência de seu meio externo e, por isso, precisam ser concebidos como sistemas abertos. (KATZ; KAHN, 1978, p. 33).

A compreensão das diferenças entre o funcionamento dos sistemas abertos e sistemas fechados foi fundamental para o entendimento do funcionamento organizacional. Analisando o desenvolvimento histórico das teorias administrativas a partir do início do século XX, é possível observar que essas fundamentavam-se em uma concepção de sistema fechado, priorizando as operações internas de uma organização.

Katz e Kahn (1978, p. 35) enumeram nove características que definem os sistemas abertos:

- importação de energia: os sistemas abertos buscam alguma forma de energia do ambiente externo. As organizações sociais necessitam de suprimentos de outras instituições, pessoas ou do meio ambiente material, sendo que nenhuma estrutura social é auto-suficiente.

- A transformação: os sistemas abertos transformam a energia disponível. A organização desenvolve produtos, serviços, pessoas, etc.

- O output: os sistemas abertos exportam certos produtos para o meio ambiente. - Sistemas como ciclos de evento: a troca de energia tem um caráter cíclico,

onde o produto exportado para o ambiente supre as fontes de energia para a repetição das atividades do ciclo.

- Entropia Negativa: o sistema aberto importa mais energia do seu meio ambiente do que a expende, pode armazenar e assim adquirir entropia negativa. - Input de informação, feedback negativo e processo de codificação: os inputs também são de caráter informativo e proporcionam sinais à estrutura sobre o ambiente e seu próprio funcionamento em relação a ele. O feedback negativo é um tipo de input que permitem aos sistemas corrigirem seus erros.

- Estado firme e homeostase dinâmica: a busca de energia para deter a entropia trabalha para manter uma certa constância no intercâmbio de energia, de forma que os sistemas abertos, que sobrevivem, são caracterizados por um estado firme, ou homeostase, que é mais um equilíbrio dinâmico do que estático. - Diferenciação: os sistemas abertos tendem à elaboração e diferenciação, tanto

pela dinâmica de subsistemas como relação entre crescimento e sobrevivência. - Eqüinifinalidade: um sistema pode alcançar o mesmo estado final, partindo de

diferentes condições iniciais e percorrendo uma variedade de caminhos.

A Teoria Geral dos Sistemas propõe que as organizações devam ser tratadas como sistemas abertos, ou seja, em contínua interação com o ambiente externo que, simultaneamente, influencia e é influenciada. Desta forma a preocupação em entender os diferentes ambientes e a relação de interdependência, entre organização e contexto externo, ampliam o foco de estudo para além dos princípios do funcionamento interno. Além disso, essa Teoria proporcionou a visualização da organização como um sistema sociotécnico estruturado, apresentando não apenas os subsistemas como partes importantes de um mesmo sistema, mas, principalmente, enalteceu as inter-relações entre esses como fator indispensável ao seu estudo. Introduz o conceito de sinergia, onde o todo é maior que a soma das partes.