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2.1 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS SOBRE O TRABALHO E AS ORGANIZAÇÕES:

2.1.3 Sociedade do conhecimento

Existem diferenças extraordinárias que caracterizam as organizações da chamada Terceira Onda. Mais uma vez o avanço da ciência abre os caminhos para a construção de uma sociedade radicalmente nova.

Dentre as inúmeras mudanças sugeridas por Toffler (1997), como conseqüências da Terceira Onda, chama-se a atenção para algumas que divergem radicalmente da realidade industrial até então dominante:

- Produção em massa: caracterizada pela fabricação em série de produtos padronizados idênticos, é substituída pela produção em série curta e produtos parciais, ou, completamente personalizados. O autor complementa que a produção em massa continuará a fazer parte de nossa realidade, entretanto esses são produtos das indústrias mais atrasadas e não os mais adiantados (p. 186);

- descentralização e desurbanização da produção: o novo sistema pode deslocar milhões de empregos para fora das fábricas e dos escritórios, para os quais a Segunda Onda os mudou, e recolocá-los ao lugar de onde vieram: a casa. Com efeito, uma quantidade de trabalho não calculada, mas considerável, já está sendo feita em casa por vendedores, arquitetos, desenhistas, advogados, pesquisadores acadêmicos; e por muitas outras categorias profissionais (p. 199- 202);

- a Terceira Onda desafia a sincronização mecânica através do “tempo flexível”: uma combinação que permite aos trabalhadores, dentro de limites predeterminados, escolherem as suas próprias horas de trabalho. Além disso, existe um interesse crescente entre eles para atuar com tempo parcial. Cada vez mais pessoas estão trabalhando fora dos horários fixos (p. 248-250);

- o trabalho repetitivo torna-se menos fragmentado, com cada pessoa fazendo uma tarefa um tanto maior. Os trabalhadores enfrentam com mais freqüência mudanças em suas atividades, bem como uma sucessão de transferências de pessoal, mudança de produto e reorganizações. Os empregadores da Terceira Onda precisam cada vez mais de pessoas que aceitem responsabilidades, que compreendam como o seu trabalho se relaciona com os outros, enfim, pessoas que sejam menos pré-programadas e mais criativas (p. 378-379).

Sendo assim, as transformações continuam abalando consideravelmente os conceitos criados pela era industrial. Enquanto países do Terceiro Mundo continuam passando pelo processo de industrialização, as economias desenvolvidas em países como América do Norte, Europa e Japão estão adquirindo as características de uma sociedade pós-industrial, baseando-se no avanço do conhecimento e criação de novos paradigmas.

Crawford (1994, p. 16) apresenta um modelo, criado por historiadores econômicos, para estudar o desenvolvimento econômico mundial. O modelo é o seguinte: “[...] novos conhecimentos levam a novas tecnologias, as quais, por sua vez, levam a mudanças econômicas; que, conseqüentemente, geram mudanças sociais e políticas, as quais em última instância, criam um novo paradigma ou visão de mundo. [...]” (CRAWFORD, 1994, p. 16).

O ponto de partida para as mudanças é a criação de novos conhecimentos, e, também, a sua aplicação prática. Disso resultam novas concepções, novas maneiras de perceber e solucionar problemas que se apresentam às organizações.

Drucker (2001, p. 33) diz que o conhecimento é o recurso básico para os indivíduos e para economia na sociedade atual. Os fatores tradicionais de produção como a terra, a mão-de-obra e o capital não desaparecem, mas tornam-se secundários. Eles podem ser obtidos, desde que haja conhecimento especializado. Esse, por sua vez, torna-se produtivo somente quando integrado a uma tarefa. Por esse motivo, a sociedade do conhecimento também é uma sociedade de organizações: o objetivo e a função de toda organização é a integração de conhecimentos especializados em uma tarefa comum.

O conhecimento, como consideramos hoje, é comprovado por meio da ação. O que atualmente significa conhecimento é a informação que se efetiva em ação, a informação focalizada nos resultados. Esses resultados são vistos fora da pessoa – na sociedade e na economia, ou no progresso do conhecimento em si. (DRUCKER, 2001, p. 32).

“Conhecimento é a capacidade de aplicar a informação a um trabalho ou a um resultado específico” (CRAWFORD, 1994, p. 21).

A sociedade pós-industrial revela uma nova concepção de trabalho para as pessoas e organizações. As atividades repetitivas e monótonas, que exigiam operários pontuais, obedientes às normas e procedimentos, são trocadas por funções que exigem do novo trabalhador um conhecimento especializado, uma capacidade de adaptação às constantes mudanças e, acima de tudo, uma postura inovadora na busca de constante aperfeiçoamento. A “tarefa de pensar, criar”, antes atribuída aos níveis hierárquicos mais altos, passa a ser de

todos os integrantes de uma organização. Essa passa a buscar e a aplicar o conhecimento de forma mais intensiva no trabalho, nos produtos e processos, e na própria concepção de trabalho.

Este sistema pune trabalhadores que mostram obediência cega. Recompensa os que – dentro de limites – recalcitram. Os trabalhadores que procuram significado, que discutem a autoridade, que querem exercer critério individual ou que exigem que seu trabalho seja socialmente responsável podem ser olhados como desordeiros nas indústrias da Segunda Onda. Mas as indústrias da Terceira Onda não podem funcionar sem eles. (TOFFLER, 1997, p. 380).

A depreciação da força de trabalho não acontece mais pelo processo físico da idade, e, sim, pela rapidez com que os conhecimentos se tornam ultrapassados. O caminho mais promissor para os trabalhadores da sociedade do conhecimento é a constante procura por aprendizado e atualização. Acentua-se a importância da educação.

Segundo Argyris (2000, p. 83), as empresas que ambicionam manterem-se competitivas no mercado extremamente competitivo, necessitam primeiramente resolver um dilema básico: o sucesso nos mercados, depende cada vez mais do aprendizado. Entretanto, a maioria das pessoas não sabem aprender. A maioria das empresas não apenas enfrentam as dificuldades relacionadas ao dilema do aprendizado, mas também, em geral, não estão conscientes de sua existência. O motivo: a má compreensão do que seja aprendizado e de como promovê-lo.

As empresas têm condições de aprender como resolver o dilema do aprendizado. O necessário é concentrar o foco dos programas de aprendizado organizacional e de melhoria contínua na maneira como os gerentes e empregados raciocinam sobre seu próprio comportamento. Ensinar as pessoas a raciocinar sobre seu comportamento de um modo novo e mais eficaz rompe as defesas que bloqueiam o aprendizado organizacional. (ARGYRIS, 2000, p. 85).

Nonaka (2000, p. 27) coloca que os gerentes ocidentais têm uma visão muito estreita do que seja conhecimento e da maneira como as empresas são capazes de explorá-lo, pois acreditam que o único conhecimento útil sejam os dados quantificáveis. Não obstante, a criação de novos conhecimentos não é apenas uma questão de “processamento” mecanicista de informações objetivas, depende do aproveitamento dos insights, das intuições e dos ideais tácitos, e, muitas vezes, altamente subjetivos dos empregados.

[...] Criar novos conhecimentos significa, quase literalmente, recriar a organização e todas as pessoas que a compõem, num processo ininterrupto de auto-renovação pessoal e organizacional. Na empresa criadora de conhecimento, a invenção de novos conhecimentos não é atividade especializada – província exclusiva das áreas de P&D, marketing ou planejamento estratégico. É uma forma de comportamento; na verdade, um modo de ser, em que todos são trabalhadores do conhecimento – ou seja, empreendedores. (NONAKA, 2000, p. 31).

Nonaka (2000, p. 43) também afirma que o livre acesso à informação é uma característica importante para empresa criadora de conhecimento, pois, quando existe discrepância de informação, os membros da organização tornam-se incapazes de interagir em bases iguais, tolhendo a busca de diferentes interpretações do novo. Nenhum departamento tem responsabilidade exclusiva pela criação de novos conhecimentos, pois o valor da contribuição de qualquer pessoa é determinado menos por sua localização na hierarquia organizacional do que pela importância da informação obtida.

A obtenção do sucesso, bem como sobrevivência em um árduo mercado, depende basicamente da capacidade criativa e inovadora das organizações. Capacidade para responder rapidamente aos clientes e, além disso, para criar novos mercados. O conhecimento, como força central desse processo, está além das informações obtidas nos bancos escolares, perpassa pela questão comportamental. Assim, diplomas obtidos nas universidades de maior referência não garantem ao profissional a sua competência no mercado atual.

Torna-se fundamental para os trabalhadores da era do conhecimento a constante revisão de seus mapas cognitivos e modelos mentais que os orientam em suas ações. Os valores e conceitos implícitos nas ações cotidianas podem constituir os entraves ao sucesso de executivos experientes, qualificados nas melhores instituições de ensino.

Donald Schön (2000), em seu livro “Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem”, traz valiosas contribuições para a discussão sobre as discrepâncias existentes entre as exigências profissionais do atual mercado de trabalho e os pressupostos pedagógicos sobre os quais os currículos escolares estão baseados.

Schön (2000, p. 16-19), ainda escreve que as escolas profissionais da universidade moderna, dedicada à pesquisa, estão baseadas na racionalidade técnica. Essa diz que os profissionais são aqueles que solucionam problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais apropriados para propósitos específicos. Entretanto, nos últimos anos, é possível perceber que os problemas da prática do mundo real não se apresentam aos profissionais com estruturas bem-delineadas, mas na forma de estruturas caóticas e indeterminadas.

Essas zonas indeterminadas da prática – a incerteza, a singularidade e os conflitos de valores – escapam aos cânones da racionalidade técnica. Quando uma situação problemática é incerta, a solução técnica de problemas depende da construção anterior de um problema bem-delineado, o que não é em si, uma tarefa técnica. Quando um profissional reconhece uma situação como única não pode lidar com ela apenas aplicando técnicas derivadas de sua bagagem de conhecimento profissional. E, em situações de conflito de valores, não há fins claros que sejam consistentes em si e que possam guiar a seleção técnica dos meios. (SCHÖN, 2000, p. 17).

Desde o nascimento, o homem se insere em um processo de socialização que inicia com a família. Nessa ocasião começa sua preparação para participar posteriormente das relações sociais mais amplas. A preparação do indivíduo significa que ele, ao longo de sua vida, irá internalizando, apropriando-se da realidade objetiva, construindo sua formação psíquica e estruturando seus modelos mentais, o que lhe possibilitará e influenciará sua ação no mundo. As instituições de ensino, desde a escola primária, apresentam grande influência no desenvolvimento dos modelos cognitivos das pessoas e, por isso, desempenham papel fundamental na sociedade, onde a economia baseia-se no conhecimento.

As exigências do mundo atual impõe a necessidade de algumas transformações nas instituições que se propõe a formar profissionais qualificados e preparados para enfrentar um mercado caracterizado pelas incertezas. O dócil e obediente trabalhador da economia industrial, habituado a seguir rotinas, é, aos poucos, substituído pelo profissional especializado, com domínio de conhecimento técnico, mas, também, capaz de agir em situações não previstas. Um profissional aberto a revisão de conceitos, valores e crenças que embasam as suas tomadas de decisões.

A revolução tecnológica, o aprimoramento dos conhecimentos e avanço da ciência continuam provocando mudanças em uma velocidade que desafia a todos quanto à previsão dos impactos que causarão na sociedade nas próximas décadas. No momento, é possível perceber que as relações de trabalho estão sendo recriadas, e o papel do homem nas organizações industriais mais avançadas está sendo redefinido. Transformações continuarão presentes, alterando drasticamente a sociedade no âmbito social, político e econômico, exigindo da humanidade uma constante adaptação. Os valores, crenças e conceitos presentes hoje podem estar ultrapassados para enfrentar os desafios do amanhã.