• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

2.3 Planejamento e gestão ambiental

2.3.1 Abordagem holística, multidimensional, integrada e transdisciplinar

Com vistas a alcançar o desenvolvimento sustentável e garantir a concepção de identidade do território, o planejamento e a gestão ambiental devem adotar uma abordagem holística, multidimensional, integrada e transdisciplinar.

Para Araújo Júnior (2005), a sociedade é a principal responsável por tudo o que acontece no planeta e apenas a mudança imediata de comportamento será capaz de evitar conseqüências imprevisíveis, e é por meio do entendimento do planeta como algo único e interdependente que é possível iniciar esse processo de mudança de comportamento. A abordagem holística e sistêmica corresponde à visão global do que nos cerca. Pensando de forma holística, percebe-se que tudo no mundo possui uma interdependência, principalmente quando se trata de meio ambiente.

Fritjof Capra (2000 apud JARA, 2004) afirma que umas das intuições mais importantes da compreensão sistêmica da vida é o reconhecimento de que as redes são o padrão básico de organização de todos os sistemas vivos.

No que se refere à percepção da totalidade complexa na relação natureza e sociedade, Buarque (1999, p. 54) comenta:

O referencial de análise para o desenvolvimento sustentável deve ser holístico porque requer uma observação do comportamento da totalidade, que envolve interações complexas entre os sistemas sociais, econômicos e ambientais, subsistemas do objeto de trabalho e de planejamento. Trata-se de uma abordagem do todo que resulta das relações entre seus componentes - subsistemas - cujas propriedades essenciais surgem das interações e das relações entre as partes.

Nessa linha de raciocínio, Crema (1991) acredita que a ênfase excessiva na análise - na parte - conduz ao reducionismo, enquanto a focalização unilateral na síntese - no todo -

conduz ao globalismo obscurecedor, levando, se por caminhos opostos, à alienação e desequilíbrio. Por essa razão, esses dois enfoques são complementares.

Historicamente, os métodos construídos dão uma idéia dividida, isolada dos fenômenos da natureza. Segundo Fagúndez (2004), a origem dessa separação no passado pode ter sido em função da demarcação do espaço político e do campo da ciência, sendo hoje essa separação obstáculo para que se possa compreender a vida em sua complexidade, que, na verdade, não respeita fronteira. Porém, a visão fragmentada está em crise. Sociologicamente, pois, opera-se a separação entre jovens e adultos; entre jovens e velhos; entre homens e mulheres; esquerdistas e direitistas; pobres e ricos. A ciência buscou fragmentar para compreender. Surgem, no entanto, novas disciplinas e áreas do conhecimento, como o Direito Ambiental, que trata da vida na sua magnitude, na sua complexidade, na sua multidimensionalidade, trazendo uma visão holística, reconhecida pelo próprio legislador, onde o objeto dinâmico de estudo é a natureza, que não basta separar o todo em partes para compreender certo fenômeno. Da fragmentação se deve partir para a visão holística, que não descarta o estudo das partes, sem deixar de perceber a relação que há entre todos os elementos. Complementarmente, a abordagem multidimensional envolve a amplitude do conceito de desenvolvimento sustentável aplicado ao planejamento do futuro da sociedade.

No que diz respeito à abordagem integrada no planejamento e gestão ambiental, ressalta- se a necessidade de um vínculo estreito entre os recursos naturais e o meio, visando alcançar uma relação de harmonização dos objetivos de conservação ambiental e promoção do desenvolvimento sócio-econômico. Para isso, o meio ambiente deve ser visto como uma fonte de bens imateriais e com potencial de recursos naturais a serem mobilizados na busca do desenvolvimento econômico e social, onde a gestão dos recursos possui uma visão estratégica de desenvolvimento em longo prazo. Por meio do fracionamento, há uma tendência de desestruturação do meio ambiente.

Conforme Godard (2000), as instituições públicas dificilmente conseguem alcançar uma gestão global dos meios e dos equilíbrios naturais. Além disso, a ausência de integração pode gerar manipulação de interesses por pequenos grupos. Como problemas da administração pública pode-se mencionar a fragmentação e setorialização da ação administrativa, além da inadequação da organização territorial. Assim, deve-se evitar confiar as tarefas de gestão de um domínio de recursos ou de um território a um organismo único. Além disso, na gestão de recursos e do meio ambiente, a descentralização é insuficiente, pois não assegura uma articulação adequada entre o local e o global. É preciso estabelecer novas relações entre os níveis, reduzindo responsabilidades exclusivas e aumentando responsabilidades conjuntas, promovendo a harmonização dos pontos de vista dos vários níveis territoriais. Dessa forma, ressalta-se a importância da co-responsabilidade na gestão ambiental, em uma visão sistêmica e integrada, envolvendo diversos atores sociais com distintos interesses na busca de um consenso na resolução de conflitos.

Na lógica da necessidade de diálogo entre os diversos campos do saber, cabe destacar ainda a importância do enfoque transdisciplinar. Segundo Snow (1959), a multidisciplinaridade trata das várias disciplinas que estudam o mesmo objeto. Já a interdisciplinaridade corresponde à transferência de métodos de uma disciplina para outra. Enquanto que a transdisciplinaridade relaciona-se com o que atravessa, com o que está entre e o que está além das disciplinas. A transdisciplinaridade é uma teoria do conhecimento, é um diálogo novo entre campos disciplinares, entre as ciências exatas, humanas, a arte e a tradição (religiões, mitos e símbolos). Surgiu em função das várias rupturas epistemiológicas e redução do sujeito, com a intenção de restituir a integridade do ser humano. A predominância disciplinar ou separatista perde a aptidão de contextualizar, ou seja, sem compreensão, não há civilização possível.

Para o autor a abordagem transdisciplinar, em uma visão globalizadora, sistêmica e integrada, permite a interação entre as disciplinas, constituindo um importante instrumento para a criatividade na resolução de conflitos sócio-ambientais, onde estão presentes fatores bióticos, abióticos e culturais. Tratar a realidade como uma totalidade, com suas múltiplas dimensões e de forma integrada e transdisciplinar, é uma missão complexa, porém possível.