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1 INTRODUÇÃO

2.4 Conflitos sócio-ambientais

2.4.1 Gestão de conflitos

A pesquisa sobre o manejo dos recursos naturais tem dedicado pouca atenção a proposições essenciais da análise de conflitos. A prática de manejo dos conflitos deve estar fundada nos distintos ambientes sociais e culturais onde se encontram, em uma perspectiva heterocultural (CHEVALIER; BUCKLES, 2000).

Análise de conflitos

Sepulveda (2005) acredita que, em uma situação de conflito, existam três variáveis passíveis de análise:

1. a natureza do conflito; 2. os fatores subordinantes; 3. a evolução da situação.

Uma vez definida a natureza do conflito, é importante conhecer os fatores relacionados à diferença de perspectiva dos atores envolvidos, que podem ser:

1. informação: conhecimento fundamentado;

2. percepção: interpretação dos acontecimentos que o rodeiam; 3. status: poder que uma pessoa ou grupo detém;

4. personalidade: temperamentos fortes nas partes negociantes.

O surgimento e a evolução de um conflito podem ocorrer da seguinte forma: 1. incubação: conhecimento da situação incômoda;

2. conscientização: formalização da discórdia;

3. disputa: discussão das razões que estão na origem do conflito (fase crucial para a resolução ou agravamento do conflito);

4. eclosão: posições radicalizadas; as percepções dos pontos de vista ficam distorcidas e se desloca o objetivo do conflito.

O mesmo autor destaca que, na descrição dos conflitos sócio-ambientais, três tipos de variáveis devem ser analisadas:

1. variáveis de contexto: localização geográfica e temporal, os temas, as causas e os elementos detonantes dos conflitos;

2. atores: as posições e os interesses, os conhecimentos e o domínio da informação, o grau de organização e a atitude frente à violência;

3. processos e desenlaces: estratégias propostas, as medidas usadas, os acordos forjados e efetivamente executados, bem como seus impactos.

Destaca ainda que o poder é elemento importante no desenvolvimento de um conflito e pode alterar totalmente o rumo do conflito, em função de sua natureza dinâmica. Há vários elementos que permitem aos diferentes atores incrementar seu poder no processo de gestão de conflitos, podendo-se mencionar os seguintes:

1. manejo do conhecimento, comparando velhas técnicas de gestão de recursos naturais e novos processos;

2. alianças com diferentes grupos ou organizações locais e internacionais, incrementando assim as possibilidades de acesso a recursos econômicos, vínculos políticos e conhecimentos técnicos;

3. organização articulada com forte poder de convocação formal; 4. base legal existente, com apoio em leis e tratados;

5. recursos econômicos para pressionar e influir em diferentes setores de interesse.

Métodos de superação de conflitos

Ainda segundo Sepulveda (2005), dentre os métodos mais usados na superação de conflitos, destacam-se: a arbitragem, a conciliação, a negociação e a mediação. Cada um desses mecanismos possui características próprias que os diferenciam dos demais; por isso é importante que se selecione aquele que melhor se ajuste às necessidades de cada caso concreto. A seguir são apresentadas as características de cada um desses métodos.

1. Arbitragem:

- arbitragem em direito: o conflito se resolve pela aplicação da lei;

- arbitragem em consciência ou de equidade: o árbitro interpreta o conflito e o resolve, com base no seu próprio conceito;

- as partes, de forma voluntária, escolhem procedimentos e o árbitro ou tribunal arbitral.

2. Conciliação:

- conciliação extraprocessual: produz-se independentemente de um processo judicial e as partes nomeiam um conciliador para ajudar a chegar a um acordo que, caso ocorra, é apresentado ao juiz, que pode dar-lhe status de uma sentença, tornando-o obrigatório para as partes;

- conciliação intraprocessual: etapa obrigatória do processo no qual o juiz cita as parte e propõe a elas um acordo que seja benéfico para todos;

- caráter voluntário e opcional, onde as partes podem escolher o conciliador, economizando assim tempo e dinheiro.

3. Negociação:

- processo voluntário em que os atores em conflito se reúnem, sem intervenção de um terceiro, para encontrar uma solução mutuamente satisfatória;

- forma recomendável de resolver os desacordos em todos níveis, pois fortalece a habilidade das partes de se comunicarem e resolverem os próprios problemas, enfrentando-os de maneira construtiva e responsável.

4. Mediação:

- processo que consiste na assistência de uma terceira pessoa neutra para negociar o processo de resolução;

- o mediador é facilitador da comunicação e ajuda as partes a escutar e entender as necessidades umas das outras;

- incentiva o diálogo, a comunicação, a cooperação e o respeito entre as partes, sendo voluntária e opcional, com economia de tempo e dinheiro;

- baseia-se na confiança que as partes depositam no mediador e, por ter caráter de autogestão, permite desenvolver formas próprias de manejar e enfrentar o conflito. Conforme Furtado de Souza e Furtado (2004), o conceito de mediação é entendido como um processo de construção de ações compartilhadas entre os indivíduos e as organizações, com o intuito de desenvolver a capacidade dos comunitários de influenciar as políticas e analisar suas práticas. Na perspectiva da mediação como uma abordagem para a inclusão social, os autores definem mediar como moderar, facilitar ou inclusive atuar como árbitro num processo dialético e dialógico entre partes distintas. Nesse sentido, implica um processo

de se interpor diferentes interesses, com o fim de encontrar antecipadamente um caminho para evitar, conviver, minimizar e encontrar soluções para os conflitos. A mediação exige que as instituições construam, aperfeiçoem e fortaleçam suas abordagens de trabalho, dentro de uma visão crítica e democrática, que considere os atores locais como sujeitos das ações de desenvolvimento. A mediação acontece, portanto, por intermédio da participação, tendo em vista a ação conjunta, o senso de responsabilidade, a valorização da cultura local, a valorização dos conhecimentos e saberes, o processo de conscientização e a construção coletiva.

Segundo IBAMA (2001), a mediação é o processo pelo qual uma terceira pessoa (física ou jurídica) coordena, orienta, conduz ou regula a negociação de conflitos. É uma das formas de negociar a solução de problemas e conflitos de interesse quanto ao uso e proteção dos recursos ambientais. Também é utilizada para promover a participação social e melhorar a eficácia do processo de avaliação de impacto ambiental, quando há interesses antagônicos entre grupos sociais, objetivando facilitar acordos e evitar ações judiciais.