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1 INTRODUÇÃO

3.4 Contexto legal

3.4.2 Legislação estadual

No âmbito do contexto legal estadual, com foco na análise de conflitos sócio-ambientais, merecem destaque:

Constituição do Estado do Maranhão

A Constituição do Estado do Maranhão (MARANHÃO, 1989) aborda aspectos de interesse para esta dissertação, tais como: meio ambiente; políticas fundiária, agrícola e agrária, e pesqueira; disciplinamento da criação de rebanho bubalino; processo de discriminatória; e proteção dos campos naturais inundáveis da Baixada Maranhense.

No que se refere à política fundiária, cabe citar o artigo 196, que trata da preservação natural dos babaçuais, considerados fonte de renda do trabalhador rural. Nas terras públicas e devolutas do Estado, assegura-se a exploração dos babaçuais em regime de economia familiar e comunitária. Ainda sobre o babaçu, destaca-se a Lei Estadual nº 4.734/86, de 18 de junho de 1986 (MARANHÃO, 1986), que proíbe a derrubada de palmeira de babaçu e prevê aplicação de multas aos infratores.

Sobre as políticas agrícola e agrária, cabe mencionar que, segundo o artigo 197 da Constituição Estadual, as mesmas devem ser formuladas e executadas em nível estadual e municipal, nos termos da Constituição Federal, com vistas à melhoria das condições de vida, fixação do homem na terra e democratização do acesso à propriedade, garantindo a justiça social e desenvolvimento econômico e tecnológico, com a participação e integração dos trabalhadores rurais. Uma de suas orientações é no sentido de se formular e implementar uma política do desenvolvimento agrícola compatível com a preservação do meio ambiente e conservação do solo, que estimule um sistema de produção baseado na integração da agricultura, pecuária e piscicultura.

Com relação à política pesqueira, os artigos 201 e 202 definem que o Estado deve elaborar um plano de desenvolvimento do setor pesqueiro, onde um dos objetivos seria fomentar e proteger a pesca artesanal e a piscicultura por meio de programas de crédito, rede de frigoríficos, pesquisa, assistência técnica e extensão pesqueira, além de manter linha especial de crédito para apoiar a pesca artesanal. Definem, ainda, que compete ao Estado preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prever um manejo adequado das espécies e ecossistemas aquáticos.

No capítulo exclusivo sobre meio ambiente (capítulo IX), onde é definido que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, impondo a todos, e em especial ao Estado e Municípios, o dever de zelar por sua preservação e recuperação, o artigo 239, parágrafo 1º, estipula que a devastação da flora nas nascentes e margens de rios, riachos e lagos de todo o Estado importará em responsabilidade patrimonial e penal, na forma de lei. Nesse sentido, com enfoque no território objeto de análise, cabe destacar o artigo 241:

Art. 241 - Na defesa do meio ambiente, o Estado e os Municípios levarão em conta as condições dos aspectos locais e regionais, e assegurarão:

originais da área territorial do Estado, vedada qualquer utilização ou atividade que comprometa seus atributos;

II - a proteção à fauna e à flora, vedadas as práticas que submetam os animais à crueldade;

III - a manutenção das unidades de conservação atualmente existentes; IV - a proteção das seguintes áreas de preservação permanente: a) os manguezais;

b) as nascentes dos rios;

c) áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora e as que sirvam como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias e nativas;

d) recifes e corais das reentrâncias; e) as paisagens notáveis;

f) as dunas;

g) a Lagoa da Jansen;

h) faixa de, no mínimo, cinqüenta metros em cada margem dos mananciais e rios; i) as nascentes dos rios e as faixas de proteção de águas superficiais.

V - a definição como áreas de relevante interesse ecológico e cujo uso dependerá de prévia autorização:

a) os campos inundáveis18 e lagos; b) a Ilha dos Caranguejos;

c) a cobertura florestal da pré-Amazônia e a zona florestal do rio Una, na região do Munim;

d) a zona costeira; e) os cocais;

VI - o gerenciamento costeiro dos recursos hídricos continentais;

VII - o zoneamento agrícola do seu território, estimulando o manejo integrado e a difusão de técnicas de controle biológico;

VIII - a elaboração de estudo de impacto ambiental, a que se dará publicidade, e a realização de audiências públicas, como condicionamento a implantação de instalações ou atividades efetivas ou potencialmente causadoras de alterações significativas do meio ambiente;

IX - a criação e o livre acesso de informação que garanta à população o conhecimento dos níveis de poluição, da qualidade do meio ambiente, das situações de risco de acidentes e da presença de substâncias potencialmente danosas à saúde, na água potável, nos mares e rios e nos alimentos;

X - a promoção de medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causadores de poluição ou degradação ambiental;

XI - a conscientização da população e a adequação do ensino de forma a incorporar os

18 Os campos inundáveis correspondem à região da Baixada Maranhense, onde se insere o território analisado nesta dissertação.

princípios e objetivos da proteção ambiental.

A Constituição Estadual ressalta ainda, no seu artigo 246, que o Ministério Público atuará na proteção e defesa do meio ambiente.

O disciplinamento da criação de búfalos é abordado no artigo 265:

Art. 265 - O Estado e os Municípios disciplinarão a criação do rebanho bubalino, para conciliar essa atividade com os interesses do pequeno produtor rural e da pesca artesanal.

Com relação aos campos naturais inundáveis da Baixada Maranhense e ao processo de discriminatória, cabe destacar os artigos 24 e 46 das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art. 24 - As áreas das nascentes dos rios Parnaíba, Farinha, Itapecuruzinho, Pindaré, Mearim, Corda, Grajaú, Turiaçu e ainda os campos naturais inundáveis das Baixadas Ocidental e Oriental Maranhense serão limitadas em lei como reservas ecológicas. § 1º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelo Estado por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 2º - As áreas definidas neste artigo terão seu uso e destinação regulados em lei e serão discriminadas no prazo de até quatro anos, contados da promulgação desta Constituição.

... Art. 46 - O criador de gado bubalino, no prazo previsto no § 2o do art. 24 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado, deverá efetuar a retirada dos búfalos que estejam sendo criados nos campos públicos naturais inundáveis das Baixadas Ocidental e Oriental Maranhenses, observadas as condições estabelecidas nos §§ 1o e 2o deste artigo.

§ 1º - A retirada dos búfalos dar-se-á imediatamente após o julgamento dos processos discriminatórios administrativo ou judicial, cabendo ao Poder Executivo a adoção de medidas para o cumprimento do disposto neste parágrafo.

§ 2º - Das áreas definidas neste artigo que tenham sido discriminadas até 05 de outubro de 1991, a retirada dos búfalos dar-se-á, improrrogavelmente, no prazo de seis meses a contar desta data.

§ 3º - Encerrado o prazo a que se refere o caput deste artigo, não será permitida a criação de gado bubalino nas Baixadas Ocidental e Oriental Maranhense, ressalvado o direito de proprietários de terras particulares legalmente registradas e reconhecidas pelo Estado, desde que o criatório se processe em regime de propriedades cercadas. § 4º- A Lei de Diretrizes Orçamentárias e os Orçamentos Anual e Plurianual conterão, obrigatoriamente, recursos destinados à discriminação dos campos naturais inundáveis na forma do disposto no § 2º do art. 24 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado.

Com base nos artigos anteriores, após a conclusão do processo de discriminatória, o gado bubalino deveria ter sido retirado da Baixada. Porém, apesar da discriminatória ter sido concluída no prazo de quatro anos, a mesma encontra-se paralisada, em função de uma liminar de um proprietário rural que afirma ser inconstitucional o processo discriminatório (informação verbal do Ministério Público - entrevista pessoal em 05/05/05).

Decreto de Criação da APA da Baixada Maranhense

O Decreto nº 11.900, de 11 de junho de 1991 (MARANHÃO, 1991), cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense, compreendendo três sub- áreas: Baixo Pindaré; Baixo Mearim-Grajaú e Estuário do Mearim Pindaré-Baía de São Marcos, incluindo a Ilha de Caranguejos (ANEXO A).

A APA tem área total de 1.775.035,6 hectares e sua criação é consubstanciada no fato da Região da Baixada Maranhense incorporar uma complexa interface de ecossistemas - manguezais, babaçuais, campos abertos e inundáveis, bacias lacustres, conjunto estuarino e lagunar e matas ciliares -, com rica fauna e flora aquática e terrestre. O Decreto demonstra uma preocupação com atividades predatórias de caça e pesca, criação extensiva de bubalinos nos campos naturais e mortandade de peixes nos lagos e lagoas, devido a alterações nos padrões de qualidade físico-químico-biológica da água. Complementarmente, menciona que os lagos, lagoas, rios e estuários da região representam fonte de alimento e trabalho para as

populações mais carentes ou de baixa renda do interior maranhense, além de possuir valor paisagístico, ecológico e cultural.

Conforme artigo 2º do referido Decreto, a APA da Baixada Maranhense está subordinada administrativamente à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, com descrição detalhada de suas competências para esta UC descrita no artigo 5º, visando beneficiar o ordenamento espacial e a preservação do meio ambiente.

Segundo artigo 1º do Decreto, a APA foi criada com o objetivo:

[...] dentre outros de disciplinar o uso e a ocupação do solo, exploração dos recursos naturais, as atividades de pesca e caça predatórias, criação de gado bubalino para que não venham comprometer as biocenoses daqueles ecossistemas, a integridade biológica das espécies, os padrões de qualidade das águas e que não perturbem os refúgios das aves migratórias.

O artigo 6º reforça a proibição da criação extensiva e abusiva de búfalos:

Art. 6° - Fica determinado que na APA da Baixada Maranhense poderão ser desenvolvidas atividades múltiplas desde que obedeçam aos critérios de conservação, racionalidade e segurança (controle), excetuando-se a [...], criação extensiva e abusiva de gado bubalino, principalmente nos campos naturais e em áreas de bacias lacustres, além de outras atividades que vierem provocar alterações ou causarem impactos ambientais.

Lei sobre utilização dos campos públicos naturais da Baixada Maranhense

A Lei nº 5.047, de 20 de dezembro de 1990 (MARANHÃO, 1990), dispõe sobre a utilização dos campos públicos naturais da Baixada Ocidental e Oriental Maranhense, com restrições de uso dos mesmos e prevê sanções para infratores. Merece destaque o seu artigo 1º, que coloca toda a região sob algum tipo de proteção, conforme se segue:

Art 1º - Nos campos públicos naturais da Baixada Maranhense, são considerados: I - áreas de preservação permanente ou de reserva ecológica:

a) as nascentes dos rios e as faixas de proteção de águas superficiais; b) os manguezais;

c) as que abrigam exemplares raros de fauna e flora;

d) as que sirvam como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias e nativas;

e) faixa de, no mínimo, cinqüenta metros em cada margem dos mananciais e rios. II - áreas de relevante interesse ecológico, todas as que não estejam definidas no inciso anterior.

No que se refere ao uso dos campos públicos naturais por criadores de búfalos, o artigo 7º estipula:

Art 7º - Os criadores de gado bubalino terão o prazo improrrogável de um ano, nos termos do art. 46 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Estadual, para efetuar a retirada dos búfalos que estejam sendo criados nos campos públicos naturais da Baixada Ocidental e Oriental Maranhense.

Código de Proteção ao Meio Ambiente

Instituído pela Lei Estadual nº 5.405, de 08 de abril de 1992 (MARANHÃO, 1992), o Código de Proteção ao Meio Ambiente do Estado do Maranhão dispõe sobre o Sistema Estadual do Meio Ambiente (SISEMA) e o uso adequado dos recursos naturais do Estado. Essa lei define que a licença ambiental será expedida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, cabendo ao Conselho Estadual do Meio Ambiente fixar os critérios básicos segundo os quais serão exigidos estudos de impacto ambiental pela Secretaria e que todos os atos referentes a licenciamento e inclusive a elaboração e apuração do EIA/RIMA serão de responsabilidade da Divisão de Cadastro e Licenciamento da Secretaria de Meio Ambiente.

Política Estadual de Recursos Hídricos

A Lei nº 7.052, de 22 de dezembro de 1997 (MARANHÃO, 1997b), dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e institui o Sistema Integrado de Recursos Hídricos.

Os principais aspectos abordados nessa Lei são os planos de gerenciamento de recursos hídricos, enquadramento, outorga, cobrança, sistema estadual de informações, conselho estadual, comitê de bacia hidrográfica, agência de bacia, participação dos municípios, associações de usuários de água, terceiro setor na área de recursos hídricos, entre outros. O órgão gestor é a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais.

Política Estadual de Desenvolvimento da Pesca e da Aqüicultura

A Lei nº 8.089, de 25 de fevereiro de 2004 (MARANHÃO, 2004b), dispõe sobre a Política Estadual de Desenvolvimento da Pesca e da Aqüicultura, seus objetivos, diretrizes e regula as atividades de pesca e aqüicultura, tendo como princípio básico a prevalência do interesse público no desenvolvimento sustentável das atividades pesqueiras como forma de promoção da inclusão social, da geração de emprego e renda e da realização do potencial econômico do Estado.

Em seu artigo 16, define a pesca artesanal da seguinte forma:

Pesca artesanal - quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma, com meios de produção próprios ou não, sozinhos, ou com auxílio de familiares ou via contrato de parceria com outros pescadores, e que realize as operações manualmente.

Legislação municipal

Lei Orgânica do Município de Olinda Nova do Maranhão

O Município de Olinda Nova do Maranhão foi criado pela Lei nº 6.414, de 06 de setembro de 1995 (MARANHÃO, 1995) - ANEXO B. O município, criado com sede no povoado Olinda dos Castros, é subordinado à Comarca de Matinha e foi desmembrado dos municípios de Viana, Matinha, São João Batista e São Vicente Férrer.

Limita-se ao norte, pelo município de São Vicente Férrer; ao sul, pelos municípios de São João Batista e Matinha; a leste, pelo município de São João Batista; e a oeste, pelo município de Viana.

A Lei Orgânica de Olinda Nova do Maranhão, de 1997 (MARANHÃO, 1997a), aborda questões de ordem econômica e social, com temas referentes à política urbana e rural, à política agrícola, à saúde, à educação e ao meio ambiente.

Os artigos de 9º a 11 da Lei Orgânica definem, dentre outras competências do município: elaborar e executar o Plano Diretor de Desenvolvimento19; prover a limpeza das vias e logradouros públicos, remoção e destino do lixo domiciliar e de outros resíduos de qualquer natureza; proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; preservar florestas, fauna e flora, incentivar o reflorestamento; prover os serviços de mercados, feiras e matadouros e a construção e conservação de estradas e caminhos municipais.

19

Segundo informação verbal de representante da Câmara Municipal de Olinda Nova do Maranhão, em entrevista pessoal, realizada em 03/05/05, o município ainda não elaborou seu Plano Diretor, estando em fase inicial de discussão.

O capítulo referente ao meio ambiente, em seu artigo 98, cita que as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Nesse contexto, merece destaque o artigo 96:

Parágrafo Único. O Município, na forma do disposto no artigo 23, III, VI e VII da Constituição Federal, não permitirá:

I - Devastação da flora nas nascentes e margens dos rios, riachos e ao redor dos lagos e lagoas de seu território;

II - A devastação da fauna, vedada as práticas que submetam os animais à crueldade; III - A implantação de projetos ou qualquer outro meio de ocupação nos locais de pouso e reprodução de espécies migratórias e nativas;

IV - A destruição de pastagens nativas;

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir são apresentados os resultados do estudo de caso, abordando: influência da bubalinocultura na identidade de pescadores artesanais; evidências de mudança de comportamento em pescadores capacitados no curso IICA/SEAGRO; impacto da criação extensiva de búfalos na área de estudo; abate e comercialização de búfalos; questão fundiária; nível de organização social; legislação aplicável ao conflito; comparação de cenário ambiental e social no passado e presente; levantamento de soluções para o conflito apresentadas por atores sociais envolvidos.