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1 INTRODUÇÃO

4.7 Legislação aplicável ao conflito

Com base no contexto legal, no âmbito federal e estadual, apresentado anteriormente em item específico deste documento, percebe-se a existência de um vasto arcabouço jurídico que trata das questões ambientais, hídricas, pesqueiras e fundiárias. Porém destaca-se que, conforme analisado e entrevistas realizadas, observa-se uma deficiência na fiscalização e aplicabilidade dessas leis.

No que se refere ao licenciamento ambiental, o mesmo é definido como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81). O prévio licenciamento por órgão ambiental competente é necessário para qualquer atividade efetiva ou potencialmente poluidora. Entre as várias atividades sujeitas ao licenciamento, definidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em sua Resolução nº 237, tem-se as atividades agropecuárias, criação de animais. Complementarmente, a outra Resolução nº 01/86 define como uma das atividades modificadoras do meio ambiente sujeita à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) os projetos agropecuários em áreas de importância do ponto de vista ambiental, inclusive em Área de Proteção Ambiental (APA). O Código de Proteção ao Meio Ambiente do Estado do Maranhão também aborda o uso adequado de seus recursos naturais, o licenciamento e o EIA/RIMA. Além desses pontos levantados, e de conhecimento da Baixada como sendo uma APA e um sítio Ramsar, que atualmente desenvolve criação extensiva de búfalos em seus campos inundáveis, nota-se que para esse tipo de criação e impacto não se considera o instrumento de licenciamento e elaboração de EIA/RIMA na região de estudo.

Com relação à gestão dos recursos hídricos, prevista na Lei nº 9.433/97, Política Nacional de Recursos Hídricos, e Lei Estadual nº 7.052/97, verifica-se que para o território analisado o monitoramento da quantidade e qualidade da água não é realizado.

Já o Código Florestal atenta para as áreas de preservação permanente (APP), que inclui, entre outras, as margens de rios e lagos. Apesar disso, no território Campos e Lagos, pode-se visualizar a utilização dessas áreas por bubalinos e presença de cercas.

Ao analisar também no contexto legal, de âmbito nacional, a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), que aborda as sanções derivadas de atividades lesivas e os crimes contra o meio ambiente, como pesca predatória, danos às unidades de conservação (UC), poluição com destruição de fauna e flora, entre outros, observa-se que várias dessas variáveis estão presentes na realidade do território Campos e Lagos.

Com referência à Lei nº 9.985/00 do SNUC, estipula-se que as UC devem dispor de um Plano de Manejo, construído de forma participativa. Porém, cabe mencionar que a APA da Baixada Maranhense não possui seu Plano de Manejo. Além disso, o CONAMA, em sua Resolução nº 10/88, não admite o pastoreio excessivo em APA, capaz de acelerar processos erosivos; fato este presente em várias regiões da APA da Baixada, em função de uma falta de manejo dos animais.

No âmbito da atividade pesqueira, destacam-se o Código de Pesca Brasileiro, que assegura a proteção e estímulo à pesca, incluindo a pesca artesanal; e a Política Estadual de Desenvolvimento da Pesca e Aqüicultura (Lei nº 8.089/04), que dispõe sobre o desenvolvimento sustentável do setor. Ambos priorizam a pesca, o que envolve uma maior atenção do tema na Baixada, por ser uma atividade de subsistência de diversas famílias. Destaca-se que a problemática da pesca predatória está presente na região, apesar de haver proibição legal.

Com relação ao disciplinamento da criação bubalina, a Constituição Estadual define que o Estado e Municípios devem realizá-lo, conciliando a bubalinocultura com os interesses do pequeno produtor rural e da pesca artesanal, além de tratar sobre a proteção dos campos naturais inundáveis da Baixada Maranhense. A falta de manejo de grande parte do rebanho

bubalino na Baixada e a ocorrência de graves conflitos demonstram uma precariedade nas relações entre pescadores e criadores de búfalos.

No aspecto fundiário, associado à realização da discriminatória na região, a Constituição do Estado estabeleceu que após a conclusão desse processo, o criador deveria retirar os búfalos dos campos públicos naturais inundáveis da Baixada. Ressalta-se que o processo discriminatório foi concluído, porém está paralisado em função de liminar.

Reforça-se ainda a existência da APA da Baixada Maranhense, que em seu Decreto de Criação (Decreto nº 11.900/91) destaca a preocupação com a criação extensiva de búfalos nos campos naturais, tendo como um de seus objetivos o disciplinamento da criação de búfalos; fato este ainda não presente em grande parte dos municípios da Baixada. Por ser uma APA Estadual, subordina-se à Secretaria de Meio Ambiente, com competência de beneficiar o ordenamento espacial e a preservação do meio ambiente. Na APA, conforme o Decreto, é proibida a criação extensiva e abusiva de gado bubalino. Segundo entrevista com advogado da FETAEMA, a legislação ambiental está sendo frontalmente agredida. E um representante da UFMA acredita que os órgãos ambientais deveriam ser mais rígidos.

No que se refere ao contexto legal municipal, a Lei Orgânica, de 1997, define, entre outras competências do município, a elaboração de seu Plano Diretor de Desenvolvimento; atualmente inexistente. Além disso, menciona que as atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a sanções penais e administrativas, além de reparação dos danos causados. Determina, ainda, apesar da ocorrência de alguns fenômenos, que o município não permitirá a devastação da flora e fauna ao redor de lagos, a destruição de pastagens nativas e a ocupação de áreas definidas como de proteção ambiental.

Percebe-se, de modo geral, que a gestão ambiental é um ponto que estrategicamente não interessa aos poderes públicos incentivar, pois, no caso específico do território estudado

intervir nas questões ambientais causará impacto na questão fundiária, no modo de produção capitalista, nas relações de trabalho e entre o poder público e privado.

Por fim, ao analisar o contexto legal federal, estadual e municipal, nos aspectos ambiental, hídrico, pesqueiro e fundiário, constata-se que há um elevado número de leis, porém com deficiência na aplicação e fiscalização, tornando-se necessária a presença de uma sociedade mais organizada para cobrar a execução dessas leis, além de uma maior intervenção do Estado, com objetivo de promover um adequado ordenamento territorial.

4.8 Comparação do atual cenário ambiental e social da Baixada Maranhense com a