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1 INTRODUÇÃO

4.5 Nível de organização social de pescadores e proprietários rurais

Com relação à forma de organização social, pescadores e proprietários rurais estão em níveis de organização bem diferenciados. A natureza da atividade econômica desenvolvida, o acesso à informação, o tipo de relações sociais, a influência política, o ambiente de trabalho, o modelo de representação da categoria e a cultura são algumas das características que influenciam na diferenciação no nível de organização social.

O proprietário rural é também conhecido como produtor rural ou empresário. O produtor é empresário do meio rural, aquele que é proprietário ou ainda aquele que contrata mão-de- obra, permanente ou temporária. Ainda que não seja proprietário da área, busca ajuda de terceiro para desenvolver o seu trabalho, sendo considerado um empreendedor. Diferencia-se

do trabalhador rural, que é quem vive da economia familiar e, com a mão-de-obra da família, desenvolve atividade de subsistência.

Como órgão de classe dos proprietários rurais há a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão - FAEMA, cujo dirigente informou, quando entrevistado, não haver Sindicato de Produtores Rurais em Olinda Nova do Maranhão, pois o número de produtores é pequeno; havendo mais trabalhadores rurais e pescadores. Porém, o representante do Sindicato dos Produtores Rurais de São João Batista, município próximo a Olinda, disse existir a intenção de se criar um Sindicato desse tipo em Olinda Nova do Maranhão.

Os proprietários e criadores, se comparados aos pescadores, possuem maior facilidade para alcançar as metas definidas pela organização da classe, em função da maior disponibilidade de acesso à informação, maior poder aquisitivo e influência política.

Há também, no Maranhão, a Associação dos Criadores do Estado do Maranhão, que fornece suporte a pequenos, médios e grandes criadores de gado bovino, bubalino, caprino, ovino, dentre outros. No âmbito dessa Associação, existem núcleos para atender criadores de diferentes tipos de rebanho, dentre os quais se encontra o Núcleo dos Criadores de Búfalos.

No âmbito dos pescadores, destaca-se o baixo nível de articulação e organização social. Cabe mencionar que na Baixada as atividades de pesca artesanal (época das águas) e lavoura (período seco) são complementares, por isso as pessoas se identificam como pescadores ou lavradores, dependendo de seu interesse pessoal e dos benefícios associados a cada atividade. Entrevista realizada com representante da SEAP/MA confirma que, muitas vezes, o trabalhador prefere identificar-se como pescador, para receber o direito do seguro defeso, que corresponde a quatro salários mínimos durante o período de proibição da pesca, de dezembro a março. Por isso, também está aumentando o número de pescadores registrados na Secretaria de Pesca, inclusive em Olinda Nova. Assim, a atividade pesqueira acaba por se confundir com a atividade do trabalhador rural.

O baixo nível de participação e organização dos pescadores pode ser entendido em função de uma análise do contexto histórico, territorial e cultural. A grande maioria dos pescadores tem uma história de submissão, de individualização, com um alto nível de desunião, pelo próprio caráter e ambiente de sua atividade; diferentemente do trabalho na roça, que é mais coletivo. A pesca também sempre foi tida como atividade complementar, o que retarda o fortalecimento da classe. Em sua história, os pescadores não acumulam lutas, se comparados aos trabalhadores rurais, cuja luta pela posse da terra envolve grandes conflitos e conquistas. Assim, a classe de pescadores é muito frágil e desorganizada, com pouca disponibilidade de informação e conhecimento. Um bom indicador disso é que um grande número de pescadores não possui sequer documentação.

Conforme abordado na revisão bibliográfica, o sistema de representação dos pescadores foi criado pelo Ministério da Marinha, que os considerava como reserva naval da nação, não representando ônus em período de paz e sendo de serventia, em períodos de guerra. Eram obrigados a se apresentar ao capataz para identificação e recrutamento. Posteriormente a Marinha Brasileira criou as Colônias de Pescadores, que nunca chegaram a possuir grande poder de articulação e mobilização social.

Atualmente, a instituição federal responsável pela atividade de pesca é a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, ligada à Presidência da República (SEAP), que possui uma representação no Maranhão (SEAP/MA). Essa Representação cadastra os pescadores do Estado e emite a carteira de identificação, que lhes permite receber o seguro defeso (responsabilidade do Ministério do Trabalho), também conhecido como seguro desemprego, e outros direitos previdenciários e sociais, tais como: empréstimos para atividade pesqueira, seguro-piracema, salário maternidade, aposentadoria, auxílio-doença. Atualmente, segundo a SEAP/MA, há aproximadamente 50.000 pescadores cadastrados no Maranhão. Outros órgãos

de representação da categoria são: Confederação Nacional dos Pescadores e a Federação das Colônias de Pescadores do Estado do Maranhão.

No que se refere à representação dos pescadores no município de Olinda Nova do Maranhão, pode-se citar a Colônia de Pescadores, que, conforme mencionado, não possui grande peso na representação política nem posicionamento crítico em relação aos conflitos sócio-ambientais locais. Essa Colônia não tem sede própria e foi cadastrada recentemente, possuindo apenas 44 associados com carteira de pesca profissional fornecida pela Secretaria de Pesca.

De forma geral, a participação, mobilização e organização de pescadores artesanais no território são deficientes, em função da política do medo e intimidação local. Necessitam de maior estímulo e iniciativas complementares de capacitação, com vistas a abranger uma rede maior de relações de confiança e cooperação.

Com relação à organização social dos trabalhadores rurais, existe a presença atuante, no território Campos e Lagos, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Olinda Nova, cuja sede localiza-se no centro da cidade. Apesar das debilidades locais, o Sindicato promove articulações, reivindicações, denúncias ao Ministério Público e a instituições do governo estadual. Atualmente, conta com 2.500 associados, entre aposentados e não aposentados, segundo informação de seu presidente. Para se associar, o interessado paga uma taxa única de R$ 25,00 e uma contribuição de R$ 5,20 mensais. O Sindicato reivindica melhores condições e qualidade de vida, por meio da busca por benefícios, tais como: aposentadoria, salário maternidade, pensão por morte, auxílio-doença; bem como acesso a créditos do Pronaf B, C e D.

Além dessas organizações, o município de Olinda Nova conta ainda com associações de moradores em cada comunidade, que, apesar de não serem tão representativas na localidade,

já conseguiram alguns projetos de estradas, como é o caso da Associação de Gameleira e Pirandi.

Em nível estadual, existe a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Maranhão - FETAEMA, entidade sindical representativa da categoria, que se propõe a assessorar todos os trabalhadores rurais, indistintamente (beneficiados com reforma agrária, vinculados a sindicatos, grupos étnicos tradicionais, dentre outros).