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1 INTRODUÇÃO

1.3 Metodologia

Os conflitos sócio-ambientais decorrentes da bubalinocultura em territórios pesqueiros artesanais analisados tiveram como área foco de estudo o território Campos e Lagos, no município de Olinda Nova, no Estado do Maranhão. O procedimento metodológico utilizado no trabalho foi o estudo de caso, que exigiu dois tipos de pesquisa: uma documental e outra de campo. O estudo de caso, que facilita o entendimento de fenômenos contemporâneos, permitiu uma compreensão dinâmica das dimensões social, econômica, ambiental, política e cultural do desenvolvimento, contextualizadas no histórico e origem dos conflitos locais entre pescadores artesanais e criadores de búfalos.

A revisão de literatura, necessária para embasar o estudo de caso, contemplou: o conceito de território como fonte de identidade; a perspectiva do desenvolvimento sustentável; o planejamento ambiental como instrumento de ordenamento territorial e de gestão ambiental; e os conflitos sócio-ambientais e sua gestão.

Na pesquisa documental foram envolvidas diversas instituições que de, alguma forma, estão inseridas no contexto do conflito sócio-ambiental analisado.

Para o levantamento de dados secundários, visando enriquecer a análise documental, pesquisada ou fornecida pelos entrevistados, foram realizadas também consultas aos arquivos oficiais do Ministério Público do Maranhão - Promotoria de Justiça - Meio Ambiente, bem como da Justiça Federal do Estado.

Com vistas a compreender a base legal dos conflitos gerados pela bubalinocultura no território pesqueiro de Campos e Lagos, bem como seus possíveis desdobramentos, foram então analisadas as legislações ambiental, hídrica, pesqueira e fundiária intervenientes na área de estudo.

O reconhecimento da região, em campo, foi realizado na zona urbana e rural de Olinda Nova, considerando nesta última as comunidades de Gameleira, Itaparica, Museu, Ilha Verde, Pirandi, Estrela e Coqueiro, com análise também no Lago do Coqueiro.

A pesquisa de campo abrangeu as colônias de pescadores artesanais afetadas pela atividade de bubalinocultura, os grandes proprietários de terras, bem como lideranças locais.

Os instrumentos usados para auxílio de coleta dos dados primários foram a entrevista semi-estruturada; o registro da história oral, com gravação; e caminhadas exploratórias, com arquivo fotográfico.

Foram levantados dados e informações referentes aos aspectos sociais, demográficos, econômicos, políticos, fundiários, ambientais, culturais e geográficos do Estado do Maranhão, da região da Baixada Maranhense, do município de Olinda Nova e do território Campos e Lagos, para compor o contexto e embasar a análise dos conflitos. Esse diagnóstico incluiu uma descrição detalhada das atividades de bubalinocultura e pesca artesanal, com suas peculiaridades na região estudada.

A análise do conflito propriamente dito e de seu rebatimento no uso do solo teve início com a realização de um diagnóstico da realidade local, quando da realização do trabalho de campo, que compreendeu o período de 29/11/04 a 04/12/04 e de 01/05/05 a 06/05/05. Teve como principal fonte de informação as entrevistas, de roteiro semi-estruturado, com pescadores artesanais, proprietários rurais e outros atores sociais que se revelaram atuantes. Complementarmente, foi realizado o registro da história oral dos conflitos, com gravação em fita cassete de depoimentos de moradores, principalmente os mais antigos.

O roteiro da entrevista, que consta no APÊNDICE A deste documento, elenca perguntas previamente elaboradas, que foram complementadas ou excluídas, dependendo do perfil do entrevistado. Esse tipo de entrevista oferece a possibilidade de o informante agir com espontaneidade, enriquecendo a investigação. A abordagem usada nas entrevistas teve como

base a valorização do conhecimento que as pessoas que vivem no local têm do seu próprio meio e problemas e a convicção de que as mesmas têm a capacidade de refletir e contribuir para o seu próprio processo de desenvolvimento.

Com o objetivo de retratar com maior clareza a realidade do conflito sócio-ambiental estudado, diversos depoimentos coletados durante as entrevistas com os atores sociais locais foram registrados e descritos neste documento, sendo que, com a preocupação de preservá- los, alguns dos atores não são identificados.

Em duas visitas de campo, foram realizadas 44 entrevistas, sendo que cada uma teve a duração média de uma hora e trinta minutos (FIGURA 1). Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente. Os atores sociais3 contatados e entrevistados, em São Luís e em Olinda Nova do Maranhão, que contribuíram com a pesquisa, durante o levantamento de dados primários e secundários, estão descritos no APÊNDICE B deste documento.

A análise do material coletado - tanto no diagnóstico inicial quanto nas entrevistas e depoimentos de aprofundamento de informações - foi feita com base na abordagem sociológica das Lógicas de Ação, de Amblard et al. (1996 apud ANDRADE et al., 2001). Esta, ao propor a mobilização articulada de conceitos, noções e paradigmas pensados a priori separadamente, sugere a investigação dos fenômenos intra e interorganizacionais a partir de uma construção teórica híbrida e multipolar que incorpora, ao processo de formação de estratégias, as noções de poder, conflito, atores estratégicos, cooperação, regras, convenções e acordos. Segundo essa abordagem, não é possível analisar o comportamento do ator estratégico descontextualizado da situação que o envolve. Assim, com vistas a compreender os conflitos sócio-ambientais analisados neste trabalho, o estudo das atitudes e reações dos

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Segundo Buarque (1999), atores sociais são os grupos e segmentos sociais diferenciados na sociedade que constituem conjuntos relativamente homogêneos, segundo sua posição na vida econômica e sócio-cultural, e que, por sua prática coletiva, constroem identidades e espaços de influência dos seus interesses e visões de mundo.

atores locais do território levou em consideração o ambiente que os cerca e suas implicações. Pressupõe-se justamente a simbiose: ator estratégico + situação-problema = lógica de ação.

Por fim, com base nos resultados da análise dos conflitos sócio-ambientais, são apresentadas recomendações para um novo ordenamento territorial, bem como as conseqüências prováveis desses conflitos, em função do atual uso e ocupação do solo.

FIGURA 1 - Entrevistas com atores sociais do território Campos e Lagos (superior - povoado de Itaparica, dezembro 2004; inferior - povoado de Coqueiro, maio 2005).

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este item apresenta o referencial teórico-conceitual utilizado nesta pesquisa para a análise dos conflitos sócio-ambientais. Aborda conceitos como desenvolvimento sustentável, concebido como um processo multidimensional e intertemporal; o território como unidade de planejamento e base geográfica da existência social; o planejamento e a gestão ambiental em uma visão integrada e sistêmica; e a gestão de conflitos sócio-ambientais. Apresenta também, de modo geral, características da bubalinocultura e da pesca artesanal.