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3 DA DIDÁTICA VIVA À PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA: VISLUMBRANDO

4.1 Abordagens da pesquisa: quantitativa e qualitativa

Ao falarmos de metodologia, consideramos difícil concebê-la caso se encontre distante de uma concepção metodológica de pesquisa crítica, em que o primeiro passo consiste em um problema real de vida prática no cotidiano, no qual “[…] o conhecimento não é espontâneo. Surge de circunstâncias e interesses socialmente condicionados, frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos” (MINAYO, 1996, p. 90). Nessa linha de pensamento Chizzotti (1991):

Parte do fundamento que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo- lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações (p. 79).

Na área das Ciências Humanas é comum trabalhar a abordagem chamada de Pesquisa Qualitativa, a qual se relaciona à “obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes” (ANDRÉ, 1986, p. 13). Essa abordagem tem como foco uma busca constante, não pela aparência do fenômeno em estudo, mas sim pela sua essência, sua origem, sua história, suas transformações, ou seja, consiste na “observação dos fenômenos, não de maneira estática, mas no seu movimento contínuo na luta de seus contrários” (GADOTTI, 1992, p. 22).

No entanto, o arsenal metodológico para a realização deste estudo engloba as abordagens quantitativa e qualitativa, priorizando tanto a coleta de dados na forma de

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números percentuais e tabelas, como atentará à análise de conteúdo, em forma de textos discursivos, valorizando a subjetividade e a opinião dos participantes da pesquisa: “Os dois métodos se diferem não apenas pelos procedimentos, mas pelas concepções de ciência que desenvolvem” (GAMBOA, 2003, p. 395).

Articulando essas duas abordagens, será possível traçar um percurso interpretativo que se aproxime aos dados a serem coletados, ou seja, uma vez que o pesquisador ache importante a utilização dos métodos quantitativo e qualitativo, deve fazê-lo associando as análises estatísticas à realidade e embasamento teórico utilizado (DEMO, 2004).

Para Santos (2009), uma das principais tendências atuais da pesquisa na área de humanas é a utilização simultânea das abordagens quantitativa e qualitativa:

Os delineamentos metodológicos modernamente incorporam diferentes técnicas de coleta e análise de dados, integrando múltiplas estratégias de pesquisa. Os fenômenos sociais apresentam diversas dimensões e interfaces e sua adequada abordagem requer, com frequência, a integração de aspectos subjetivos com determinantes estruturais ou contextuais mais abrangentes. Desta forma, podem ser interligadas perspectivas macro e micro sociais de forma complementar, assim como, incorporar procedimentos mistos nas etapas da coleta, processamento ou análise dos dados (p. 06).

As leituras nos mostram que o ponto distintivo das abordagens quantitativa e qualitativa acaba sendo apenas os tipos de dados coletados, em que uma apresenta resultados preestabelecidos, enquanto a outra tem como foco principal as relações interpessoais:

Quantitativos: preveem a mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis, mediante a análise da frequência de incidências e de correlações estatísticas. O pesquisador escreve, explica e prediz; Qualitativas: fundamentam-se em dados coligidos nas interações interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes, analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos. O pesquisador participa, compreende e interpreta (CHIZZOTTI, 1991, p. 52).

O pesquisador deve estar atento ao empregar simultaneamente as duas abordagens, sabendo, necessariamente, selecionar o que cada uma delas tem de melhor. Para Minayoet al. (2005), a abordagem quantitativa é importante, visto que apresenta dados mensurados, pois torna possível o estabelecimento de relações com as variáveis; já a abordagem qualitativa nos permite uma análise inclusive de aspectos subjetivos.

Já na ótica de Santos Filho e Gamboa (2000), embora as duas abordagens, quantitativa e qualitativa, possuam métodos diferentes, elas não se excluem:

As divergências entre as abordagens qualitativa e quantitativa refletem diferentes epistemologias, estilos de pesquisa e formas de construção teórica, no entanto, que os métodos quantitativos e qualitativos, apesar de suas especificidades, não se excluem (p. 40).

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Nessa linha de pensamento, encontramos em Günter (2006) a mesma defesa, ou seja, a adoção das abordagens quantitativa e qualitativa, ao afirmar que não existe quantificação sem qualificação, ou que, não existe análise estatística sem interpretação:

Dificilmente um pesquisador adjetivado como quantitativo exclui o interesse em compreender relações complexas. O que tal pesquisador defende é que a maneira de chegar a tal compreensão é por meio de explicações ou compreensões das relações entre as variáveis (p. 03).

Assim, nesta pesquisa, optamos por trabalhar com as duas abordagens, por entender que toda pesquisa pode ser, ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa (TRIVIÑOS, 1992, p. 118) e, sobretudo, por considerar que a articulação dessas abordagens atende prontamente às expectativas do estudo, que tem como objetivos gerais investigar, estudar e compreender quais são as concepções de ensino e dimensões didáticas que os professores universitários, com formação inicial em Pedagogia e que atuam nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas das IES públicas no estado do Piauí, possuem frente a sua prática docente no ensino superior.

De forma específica, investigar, estudar e compreender quais conhecimentos pedagógicos os professores universitários, que atuam em cursos presenciais, possuem frente a sua prática docente no ensino superior e sinalizar as concepções de prática pedagógica que esses professores estabelecem na organização do seu trabalho docente, bem como a importância atribuída por eles às disciplinas que lecionam.

Partiu-se, portanto, de dois problemas básicos:

1) Quais as concepções de ensino e dimensões didáticas que os professores universitários, com formação inicial em Pedagogia e que atuam nos cursos de Pedagogia e licenciaturas das IES públicas no estado do Piauí, possuem frente a sua prática docente no ensino superior?

2) Quais as interações que esses professores estabelecem entre si e com a organização de seu trabalho docente através das categorias de estudo: concepções de ensino e dimensões didáticas?

A docência universitária tem exigido a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Por isso, as características inerentes ao profissional da educação superior não se limitam ao bom professor, como também ao bom pesquisador, ao bom articulador social, além de tutor, gestor e orientador. A exigência desse novo docente requer o conhecimento de práticas educacionais e pedagógicas inovadoras.

É nesse contexto de valorização das pesquisas sobre a prática pedagógica e os modos de pensá-la e valorá-la, cuja ampliação da consciência sobre a sua própria atuação pressupõe

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uma análise tendente a dotar professores de disposição para revê-las, que se propôs a investigar as concepções de práticas docentes de professores universitários com formação inicial em Pedagogia, a partir de suas próprias percepções.

O estudo limita-se às “concepções” no sentido proposto por Bernardino Júnior (2011) como conceitos valorativos atribuídos pelos docentes. Ou seja, são as opiniões sobre sua prática pedagógica de acordo com suas convicções sobre o ato de ensinar. O referencial teórico para esse estudo baseia-se na produção científica dos campos docência universitária, concepções de ensino e dimensões didáticas se apoiando em autores como: Alarcão (1998); Arroyo (2000); Balzan (1996); Behrens (2000); Buarque (2003); Castanho (2007); Couto (2013); Cunha (2000); Masetto (2000); Masetto (2003); Mizukami (1986); Rogers (1972); Malusá (2003), que discutem a docência universitária; Amaral (2012); Freire (2011); Vasconcelos (2000); Nuñez (2009); Libâneo (2010; 2013); Veiga (2008); Candau (2008; 2009) que nos amparam na reflexão acerca das concepções de ensino; Garcia (2009); Klingberg (1978); Malusá (2001); Rios (2003), elucidando as dimensões didáticas, dentre outros.

Contudo, é importante ressaltar que, não existem fronteiras entre os autores enfatizados, apenas um pontilhado demarcatório, tendo em vista que esses discutem, simultaneamente, as diversas abordagens elencadas nesse estudo.