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3 DA DIDÁTICA VIVA À PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA: VISLUMBRANDO

5.1 Dados gerais sobre os participantes da pesquisa

5.1.3 Titulação

Os dados sobre a titulação constatam que do total de participantes, sete (17,5%) são especialistas, 21 (52,5%) são mestres, 11 (27,5%) são doutores e apenas um (2,5%) tem o título de pós-doutorado, conforme descrito na Tabela 3.

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Tabela 3: Distribuição de frequência – titulação.

Titulação Frequência Percentagem

Especialização Mestrado Doutorado Pós-doutorado 7 21 11 1 17,5 52,5 27,5 2,5 Total 40 100,0

Fonte: Instrumento de pesquisa (2020).

Conforme apontam os dados, percebemos que, a maioria dos professores de Didática das IES públicas do estado do Piauí possuem o título de mestres e doutores, respectivamente. Isso remete ao fato dessas instituições buscarem atender às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei nº 9394/96, que estabelece em seu art. 52, inciso III, que as universidades, por serem instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, deverão apresentar no mínimo um terço do corpo docente com título de mestrado ou doutorado (BRASIL, 2018).

Contudo, tentar compreender a busca por uma melhor qualificação na docência superior somente pelas vias das determinações legais não induz a uma visão ingênua, mas resulta em uma concepção reducionista da profissionalização docente.

Nesse mesmo nível de compreensão, vislumbramos a necessidade de acompanhar a própria dinâmica das transformações pelas quais passa a sociedade que, paulatinamente, exige cada vez mais dos indivíduos de forma geral, e dos profissionais da educação em particular, a busca por qualificação profissional que melhor atenda suas demandas e desafios.

Nessa perspectiva, Ramalho, Nunez e Gauthier (2003) relatam que, na maior parte dos países, o novo século vem acompanhado por reformas educacionais orientadas para adequar a educação as exigências dos novos tempos e contextos, tais como a globalização das economias, as atuais políticas públicas e especialmente os impactos das novas tecnologias e comunicações.

Dessa maneira, tanto os docentes do ensino superior quanto as instituições de formação passam a admitir a necessidade de investimentos nos processos formativos, assim como das políticas de aperfeiçoamento e fortalecimento da profissão docente.

A busca por melhores patamares profissionais dos docentes do ensino superior imbrica-se com a própria luta histórica da categoria, processo que se desenrola permeado de tensões e conflitos de interesses de classes antagônicas, os quais fazem das relações de poder, instrumentos de legitimação das concepções de formação docente que melhor lhes convêm.

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Além disso, visa constituir a identidade enquanto professor, por sua vez, complementada pelos avanços no terreno da pós-graduação no Brasil, que impulsionaram as pesquisas em educação nos seus diversos âmbitos.

Da forma como ela vem sendo realizada compreende uma vasta diversidade de questões, de diferentes conotações, embora todas relacionadas complexamente ao desenvolvimento das pessoas e das sociedades, ela tem abrangido questões em perspectivas filosóficas, sociológicas, psicológicas, políticas, biológicas, administrativas e etc. (GATTI, 2007, p. 13).

A autora ressalta que, desde os primórdios do século XX já existia certa preocupação científica com as questões educacionais, entretanto, é com a criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e seus desdobramentos em Centros Brasileiros e Centros regionais de pesquisa, na década de 1930, que se iniciam estudos mais sistemáticos em educação. A importância desses centros torna ainda mais premente, considerando que nesse período as instituições de ensino superior e as universidades ou não produziam pesquisa em educação ou elas eram rarefeitas.

Santos (2003) compartilha esse pensamento, afirmando que, com a criação das primeiras universidades na década de 1930, verificou-se a disposição de órgãos governamentais no sentido de desenvolver ações para ampliar a competência técnica dos professores universitários, dando início à pós-graduação no país, com a objetivação do Estatuto das Universidades Brasileiras, sendo proposta a implantação de uma pós-graduação que seguia o modelo europeu.

Durante esse período, o Inep com seus respectivos centros engajou-se intensamente em atividades de produção, irradiação e formação de pesquisadores, ampliando o seu quadro de atuação, adentrando as universidades e os centros, formando equipes, desenvolvendo, publicando e formando pesquisadores de diversas nacionalidades, e contribuindo, sobremaneira, para a institucionalização da pesquisa no nosso país.

Na esteira do avanço, os Centros Regionais de Pesquisa do Inep são fechados e os investimentos passam a ser dirigidos aos programas de pós-graduação das IES, que serão consolidados somente no ano de 1965, conforme esclarece Gil (2015, p. 19):

A efetiva implantação da pós-graduação no Brasil, no entanto, deu-se em 1965, com o Parecer Nº 977, do então Conselho Federal de Educação. Esse parecer definiu dois sentidos para a pós-graduação: o latu sensu e o stricto sensu sendo que o stricto caracteriza a pós-graduação constituída por cursos necessários à realização dos fins da universidade, como a criação de ciência e geração de tecnologia, por sua vez, o

latu caracteriza os cursos destinados ao domínio científico e técnico de uma área

limitada do saber ou de uma profissão. O stricto sensu foi definido em duas áreas, quais sejam: mestrado e doutorado.

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A regulamentação dos cursos de pós-graduação no Brasil e, de forma simultânea, o Estatuto do Magistério Superior Federal, constituíram-se em medidas articuladas em prol da institucionalização da carreira docente.

Isso é perceptível nas palavras de Cunha (2010), ao expressar os principais motivos da regulamentação da pós-graduação:

Formar professores competentes que atendessem à expansão quantitativa do ensino superior, garantindo a elevação da qualidade; estimular o desenvolvimento da pesquisa científica e formar pesquisadores bem como assegurar a formação de quadros intelectuais do mais alto padrão para atender as necessidades do desenvolvimento nacional em seus diversos setores (CUNHA, 2010, p. 185).

A reforma universitária empreendida através do dispositivo de lei nº 5.540/68, embora promulgada em pleno regime ditatorial, promoveu mudanças significativas no ensino superior: extinguiu a cátedra e o professor catedrático como cargo final de carreira; introduziu o regime de tempo integral e dedicação exclusiva; criou a estrutura departamental; estabeleceu a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Com isso, os professores da IES públicas passam a ter uma carreira baseada em graus e títulos acadêmicos passando a ser regidos pelo regime trabalhista e admitidos por contratos de trabalho. Para Shiroma (2004), a lei supracitada talvez tenha sido um dos mais contraditórios instrumentos da ditadura militar, quando, por um lado, significou uma violência à inteligência, e por outro, trouxe elementos de “renovação”, sobretudo no que diz respeito à pós-graduação, fortalecida em algumas áreas, instituída em outras.

A década de 1980 desponta com a grande atuação dos movimentos sociais de diversas áreas que, ansiando pela redemocratização do país, engajam-se em frentes de lutas para a mudança. No panorama educacional destacam-se ações desenvolvidas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Educação (Anped), a Associação Nacional de Educação e o Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes) que contribuem sobremaneira para a reestruturação da pós- graduação e formação de novos docentes-pesquisadores. Na visão de Gatti (2007, p. 23):

É um momento em que se amplia a interlocução entre os representantes de órgãos governamentais em ciência e tecnologias e docentes dos cursos de mestrado e doutorado, com a participação destes como consultores ou em comissões para a discussão de política científica na área da educação.

Em análise, percebemos a pós-graduação e a pesquisa articuladas à carreira docente, produzindo uma mudança qualitativa no magistério das IES nas diversas esferas, o que reforça a realidade constatada através dessa pesquisa, no que se refere à titulação dos

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professores que ministram a disciplina Didática nas IES públicas do estado do Piauí e que estão representadas na Tabela 3, corroborando para o entendimento de que essas instituições estão em consonância com as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – lei nº 9394/96. Entretanto, embora a legislação seja clara com relação à necessidade de uma maior titulação para atuar no magistério superior, observamos que o percentual de especialistas ainda é significativo, ou seja, 7% do total, levando a inferir que, esses professores foram admitidos no ensino superior antes das determinações da lei nº 9394/96 ou estejam integrados ao parágrafo único do art. 66, pelo qual a preparação para o exercício do magistério superior se fará em nível de pós-graduação, preferencialmente em programas de mestrado e doutorado, sendo que, o notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico (BRASIL, 2018).

A pesquisa mostra ainda que, 27,5% dos professores são doutores e somente 2,5% cursaram o pós-doutorado, um índice considerado baixo, o que pode ser compreendido quando considerado que o último título não constitui exigência da legislação para o exercício da docência universitária.

Na ótica de Castro e Porto (2012, p. 59):

O pós-doutorado surge no cenário da pós-graduação como um item adicional na carreira acadêmica, que, considerando o atual escalonamento existente, tem seu ponto máximo de exigência o título de doutorado. A ideia inicial é potencializar o cenário da produção e da disseminação científica, com vistas a ampliar a participação dos pesquisadores brasileiros no mainstream da ciência e facilitar a inserção do país na comunidade científica internacional.

Entretanto, Cabral Neto e Castro (2015, p. 213) advertem que:

Para atender a essas novas demandas, o Brasil, embora tardiamente, vem adotando mecanismos direcionados no sentido de criar as condições para a produção de conhecimento e o desenvolvimento de novas tecnologias. Esse processo de expansão da Educação Superior foi propiciado pelo conjunto de políticas expressas no ordenamento jurídico e em programas específicos para a área da educação superior nos níveis de graduação e pós-graduação.

Os investimentos destinados à expansão da graduação e da pós-graduação se situam como medidas importantes, porque esse nível educacional constitui um espaço significativo de desenvolvimento da pesquisa científica e da formação profissional.

Por conseguinte, dados do Censo da Educação Superior do ano de 2016 mostram que, naquele ano, as funções docentes, até especialização, correspondiam a 21,8%, doutorado, a 39,0% e mestrado, a 39,2%. Portanto, pode-se observar a manutenção da tendência de queda do número de funções docentes que possuem até a especialização, bem como de elevação do

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número de funções docentes com doutorado. Quanto aos mestres, diferentemente da tendência de crescimento registrada até 2015, observou-se queda em 2016.