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3 DA DIDÁTICA VIVA À PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA: VISLUMBRANDO

5.2 Categorias de análise: concepções de ensino e dimensões didáticas

5.2.1 Concepções de ensino

5.2.1.2 O bom docente é o que domina bem as técnicas

No que refere à afirmativa de que o bom docente é o que domina bem as técnicas, dos 40 participantes da pesquisa, dois (5%) responderam a opção “Nunca”, seis (15%) assinalaram a opção “Quase nunca”, 14 (35%) elegeram a opção “Eventualmente”, 14 (35%) escolheram “Quase sempre” e quatro (10%) “Sempre”, conforme a Tabela 9.

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Tabela 9: O bom docente é o que domina bem as técnicas

O bom docente é o que domina

bem as técnicas Frequência Percentagem 1 2 3 4 5 2 6 14 14 4 5,0 15,0 35,0 35,0 10,0 Total 40 100,0

Fonte: Instrumento de pesquisa (2020)..

Para 14 (35%) dos participantes da pesquisa, eventualmente o bom docente é o que domina bem as técnicas, ou seja, expressam uma possibilidade, mas não uma certeza. Esse percentual (35%) repetiu-se no que refere à afirmativa de que quase sempre o bom docente é o que domina bem as técnicas. Observa-se, ainda, que em ambos os casos os professores de Didática não demonstram certeza quanto à afirmativa, levando-nos a depreender que além de eles atribuírem importância ao domínio da técnica na ação pedagógica, também admitem que ela sozinha não seja capaz de responder por todos os aspectos inerentes ao processo ensino- aprendizagem.

Em uma abordagem comportamentalista, o ensino e a aprendizagem se dão por meio de reforços, recompensas e treinamento, na tentativa de atingir os objetivos preestabelecidos. Fundamentada no behaviorismo, tem como principais seguidores Ivan Pavlov, John Watson e BurrhusSkiner.

Para Puentes (2011, p. 03), essa abordagem é preocupada com o ensino e centrada no trabalho do professor. Por isso, ela teve como base de sustentação os postulados da psicologia behaviorista ou comportamental, convertida na escola mais forte dos Estados Unidos e a mais influente no resto do mundo, especialmente na América Latina, cujo embasamento filosófico e teórico é o pragmatismo e apresenta dois princípios fundamentais:

a) o caráter objetivo da psicologia - que se destina ao estudo das respostas dos sujeitos manipulados em condições experimentais específicas (geralmente obtidas com animais em laboratórios); b) a crítica a qualquer conceito ou tipo de explicação mentalista dos fenômenos psíquicos que de fato se convertem em manifestações condutais, daí a reação adversa à psicologia experimental e a qualquer escola psicológica que procure estudar a consciência ou a essência psicológica ou moral do homem (PUENTES, 2011, p10).

No Brasil, a Pedagogia Tecnicista firma-se durante a ditadura militar, resultado da exaustão e da preocupação com os métodos pedagógicos da escola nova, que acabaram desembocando na eficiência instrumental, utilizando-se da mesma base teórica da abordagem comportamental. Nesse sentido, Saviani (1995, p.18) assevera:

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A pedagogia tecnicista, parte do pressuposto da neutralidade científica, norteia-se pelos princípios de racionalidade, de eficiência e de produtividade, defendendo a reordenação do processo educativo valorizando a objetividade e a operacionalidade. A implantação do tecnicismo ocorreu como uma forma de operacionalizar a educação, utilizando da técnica pela técnica, a fim de reproduzir o mercado de trabalho e banir a reflexão crítica das instituições de ensino (AMARAL, 2012).

É perceptível que o tecnicismo, aliado à educação, atendia prontamente aos interesses do militarismo, camuflado de desenvolvimento do capital humano. O modelo empresarial de gestão administrativa foi imposto à educação durante as reformas do ensino de primeiro e segundo graus e do ensino superior. Sobre o cenário, Aranha (1996, p. 48) ressalta que:

O conteúdo a ser transmitido correspondia a informações objetivas, o método utilizado para a transmissão dos conhecimentos era baseado na divisão de tarefas entre os diversos técnicos de ensino, que eram também responsáveis pelo planejamento racional do trabalho educacional e a tarefa do professor era executar o que foi planejado.

Assim, nesse período ficou firmada a ideia de que para ser um bom professor era necessário apenas dominar os conteúdos das áreas específicas, aliando-os às técnicas de ensino, e que a aprendizagem estaria garantida mediante a racionalidade da ação pedagógica.

Diante disso, essa visão torna-se contrária ao que foi verificado em afirmativas dos professores de Didática neste estudo, tendo em vista que a maioria admitiu que na sua ação pedagógica o domínio das técnicas é importante, entretanto não dá conta de englobar todo o processo ensino-aprendizagem. A concepção desses professores é coerente com a compreensão de Candau (2005, p. 15) que, ao tratar da abordagem técnica, destaca que “ela se refere ao processo ensino-aprendizagem como ação intencional, sistemática que procura organizar as condições que melhor propiciem a aprendizagem”.

Ainda segundo Candau (2005), aspectos como objetivos instrucionais, seleção do conteúdo, estratégias de ensino, avaliação, etc. constituem o seu núcleo positivo de preocupações. Por conseguinte, a sua importância deve ser considerada, porque o domínio dos conteúdos e a aquisição de habilidades básicas e a busca de estratégias que viabilizem a aprendizagem em cada situação concreta de ensino constituem desafios para toda e qualquer proposta pedagógica. Não obstante, a abordagem em cena não pode ser privilegiada sobre as demais, para que não se incorra no tecnicismo. Coppete (2010) compartilha o pensamento supracitado ao afirmar que:

A dimensão técnica é uma das dimensões necessárias, não a principal, tampouco a essencial, embora não seja possível destacar uma única dimensão como suficiente na

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constituição da docência; por isso é preciso superar o paradigma da técnica como referência fundamental à formação docente (COPPETE, 2010, p. 128).

O estudo revelou ainda que, 10% dos professores afirmaram categoricamente que o bom docente é o que domina bem as técnicas, desse modo, ao defender essa posição, os docentes convergem na ideia de que o professor é reconhecido como um executor/reprodutor e consumidor de saberes profissionais produzidos pelos especialistas das áreas científicas, sendo, portanto, “o seu papel no processo de construção da profissão minimizado, uma vez que ele ocupa um nível inferior na hierarquia que estratifica a profissão docente” (RAMALHO; NUNEZ e GAUTHIER, 2003, p. 21).

Destarte, a concepção assumida por esses professores de Didática se constitui no alicerce das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica, expressa em determinações legais oriundas da lei Nº 9394/96. Nessa perspectiva, Veiga (2015, p. 37) afirma:

O tecnólogo do ensino parece ser a figura dominante dentro da reforma educacional brasileira, detalhada pelas DCN’s para a formação inicial de professores da educação básica em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. O tecnólogo do ensino define-se sob a lógica do poder constituído, e procura adequar a formação de professores às demandas do mercado globalizado.

A abordagem tecnicista tem recebido diversas críticas ao longo da história da educação brasileira, em todas as suas implicações no contexto escolar e formação docente, sobretudo, no que refere a sua racionalidade técnica e instrumental. Embora tenha firmado a sua predominância na contemporaneidade, ela precisa ser superada, conforme advogam Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003):

Esse estilo de prática formativa, ainda hoje tão fortemente presente, tem mantido sua hegemonia, tornando evidente a necessidade de se apostar na construção de um modelo teórico inovador, de uma formação que possa contribuir para a superação dos diferentes obstáculos ao trabalho docente (RAMALHO, NUÑEZ E GAUTHIER, 2003, p. 22).

Portanto, os professores ressaltam a importância da técnica, mas defendem a necessidade da inovação no que refere a esta perspectiva, ou seja, na formação de professores é imprescindível a ressignificação da racionalidade instrumental.

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5.2.1.3 Considerar que o professor deve aceitar o aluno como ele é e compreender os