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Acção dos Três Comissariados Capuchos (1693 1707 1757 1830) Deste modo, no ano de 1693, instala-se, no estado maranhense, o

ESTABELECIMENTO E PROGRESSO DA ORDEM FRANCISCANA NO MARANHÃO

1. SINOPSE HISTÓRICA – TENTATIVA DE PERIODIZAÇÃO (1614-1829) Primeiros Missionários (1614-1615)

1.5. Acção dos Três Comissariados Capuchos (1693 1707 1757 1830) Deste modo, no ano de 1693, instala-se, no estado maranhense, o

Comissariado da Província da Piedade de Portugal no Maranhão e Pará, novo braço de frades Franciscanos, que teria um desenvolvimento profícuo, atendendo ao número de missões e conventos que conseguiu criar. Em 1693 funda o Convento da Piedade de Gurupá e, em 1706, o Hospício de São José, cerca de Belém do Pará, uma vez que não podia levantar convento, devido à existência do Convento de Santo António da mesma Ordem.

Em 1720, o Comissariado da Piedade tinha a seu cargo dez missões: Nossa Senhora da Piedade de Gurupá; São José de Arapijó (índios Capuna); Santa Cruz (índios Aracaju, Corascorati, Ambiquara, Manaus); São Brás de Maturu (índios Torá); São Francisco de Gurupatuba (índios Tapiassu, Apama, Gonçari, Manaus); Santo António de Surubiu com os Apama e Manaus; Santo António de Curuamanema (índios Baré e os Taquiponá ou Nambiquará); Santa Ana de Pauxis (actual Óbidos – de índios Pauxis, Arapiu, Coriati e Candori); São João Baptista (de índios Jamundá); São João Baptista (de Tocantins)114.

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Com a divisão das missões, ficaram para a Província de Santo António as Aldeias do Jari, Tuaré, Parú e Urubuquara no Cabo do Norte e, na Ilha de Joanes, a Aldeia de Peracaguari, Aldeia Nova, Aldeia de Joanes, Caiá, Camarã, Marajó, Cametá, Guarapiranga e Poções, que não seriam definitivas devido a posteriores reajustamentos.

Após o comissariato de Frei Manuel da Esperança, seguiu por superior da Província de Santo António no Maranhão e Pará Frei António do Calvário em 1695, Frei Manuel de São Boaventura em 1698 e Frei Jerónimo de São Francisco em 1701115.

Por essa altura, ocorre no Reino a criação da Província da Conceição de Portugal, formada com os conventos da Província de Santo António, sitos ao Norte do Rio Mondego, pelas Letras Apostólicas Nuper pro parte, de 24 de Abril de 1705, ratificadas a 13 de Fevereiro do ano seguinte. Na sequência dessa divisão, vai dar-se também o desmembramento das missões e conventos do Maranhão e Pará entre as duas províncias, num processo nada pacífico, que envolveu o pró- prio monarca D. Pedro II e a Junta das Missões.

Foi já durante o reinado de D. João V, aos nove dias do mês de Maio de 1707 em Belém do Grão-Pará, no Palácio do Governador Cristóvão da Costa Freire, que se assinou em junta o termo da divisão, com declaração que assim uma, como

outra província, quando quiserem refazer e ampliar as suas aldeias, o farão nas nações e distritos que toca a cada uma das aldeias, sem se intrometerem uns, nos dis- tritos e nações dos outros116.

Couberam à Província de Santo António as missões de Juaré, São José, Bom Jesus, Parú e Urubuquara. Para a Província da Conceição ficaram as missões de Caiá, Conceição, Carajó, Marajó e Tuaré. A divisão dos conventos também foi polémica, o que levou a alterações de atribuição. Inicialmente, o Convento de São Luís do Maranhão ficou na posse da Província de Santo António, que teve prece- dência na escolha, mas acabou por ser trocado pelo Convento de Santo António de Belém, estatuto que manteve até 1829, altura em que se desliga completamente da Província portuguesa117.

Têm sido vãs as tentativas de encontrar os vestígios do antigo cartório da Piedade, tendo-se feito diligências junto da Biblioteca e Arquivo Distrital de Évora, Arquivo Distrital de Portalegre, Câmara Municipal de Vila- -Viçosa e Paço Ducal da mesma localidade. Até ao presente, nada se conseguiu apurar quanto ao destino deste núcleo documental, que deveria conter muitos informes relativos à acção franciscana no Maranhão. 115Veja-se Quadro I, elaborado a partir de elementos retirados do manuscrito anónimo, Memória do Maranhão, desde o seu Descobrimento. Acção dos Religiosos Capuchos de Santo António, desde 1614 a 1701, Op. cit.

116Cf. “Livro da Secretaria dos Termos das Juntas das Missões”, fol. 73, apud Frei Pedro de Jesus Maria José, Crónica da Província da Imaculada Conceição, Lisboa, 1760, pp. 158-159.

117Cf. Crónica cit.; Frei Apolinário da Conceição, Claustro Franciscano, Lisboa, 1740; Frei Fernando Félix Lopes, Para a História Franciscana em Portugal, Op. cit., pp. 86 e 138.

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118Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazónia na Era Pombalina, III, Rio, 1963, p. 175.

119Recorde-se que o cargo dos superiores que iam para o Maranhão e Pará era objecto de rigorosas indicações quanto às atribuições, havendo um capítulo dedicado ao Comissário do Pará (ou Comissário do Maranhão no caso da Província da Imaculada Conceição) em todos os estatutos provinciais. Vejam-se por exemplo, os Estatutos da Província de Santo António dos Capuchos do Reino de Portugal, Lisboa, 1737, Cap. L: “Do Comissário do Pará”: “Enquanto a Missão do Pará estiver por conta desta Província, elegerá o Irmão Ministro com o Definitório em Capítulo ou Congregação, um comissário seu, que seja naquele Estado”. Cabia ao comissário visitar as aldeias, inquirir se os missionários se aplicavam em aprender a língua geral “ou materna dos índios”; se administravam os sacramentos, assistiam aos moribundos, cuidavam dos enfermos, da doutrina dos “aldeanos, principalmente dos novamente descidos do sertão, para se poderem baptizar”. Ao longo de 30 parágrafos eram gizadas as normas que orientavam a acção e as prerrogativas do comissário, do guardião do convento e do presidente das missões, cargos que nem sempre coincidiam: “E a todos mandamos, que se conformem quanto lhes for possível, com o que nestes estatutos ordenamos aos religiosos da Província. E se ocorrer alguma dúvida naquele estado, que por estes estatutos se não possa decidir, em tal caso queremos que o Irmão Comissário com o Irmão Guardião e com o Presidente das Missões, e os dois Discretos do convento, resolva o que for mais do serviço de Deus e da Província”, Ibid., p. 119.

Em 1706 o Comissariado da Imaculada Conceição de Portugal funda o Hospício de São Boaventura em Belém e procede ao aldeamento de novas mis- sões, de que se tem conhecimento das seguintes: São Francisco do Caiá, na Ilha de Joanes, actual Marajó (índios Arunas e Aruãs); Nossa Senhora da Conceição no Igarapé Grande, da mesma Ilha; Santo António de Acarajó, transferida para São Francisco de Goianá; Nossa Senhora da Conceição (de índios Ingaíba ou Nheengaíbas como eram conhecidos); Santo António de Tuaré, deslocada poste- riormente para o Jari; São João dos Poções, junto a São Luís, depois apelidada de Vinhais; Conceição de Tuaré (de índios Tucuju); São Francisco, na foz do Jari (índios Aroki); São Boaventura, no Caiá e Aramucu, no Jari, hoje, Arraiolos.

Ao longo dos anos, as aldeias mudaram de lugar, de nomenclatura e, algumas vezes de administração, o que confunde o seu reconhecimento, facto ainda mais complexo com as posteriores alterações lexicais dos topónimos.

O Comissariado da Piedade manteve-se activo desde 1693 até 1757, altura em que a política pombalina, pelas mãos de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, extingue as missões da Amazónia, com a expulsão daqueles Franciscanos para o Reino118.

Do mesmo modo, os missionários da Província da Conceição se retiraram das aldeias em 1755, por impossibilidade de conciliação com o regime de administra- ção paroquial imposto. No entanto, os missionários mantiveram-se no Convento de Santo António, em São Luís do Maranhão, até ao século seguinte. Em 1830 o Capítulo provincial ainda nomeou guardião para o convento maranhense119.

A Província de Santo António de Portugal mantinha no século XVIII, atra- vés do seu Comissariado no Grão-Pará, as seguintes missões: Nossa Senhora do Rosário, na Ilha de Joanes (de índios Sacacas); São José, na mesma Ilha (de nação Aruã); Bom Jesus (de índios Aruãs e Marunus); Nossa Senhora da Conceição do Parú no Rio Amazonas (Nação Aracaju); Santo António da

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Anajatiba (de índios Aruã); Santo Cristo no Rio Mapaú (de nações diversas); Nossa Senhora da Graça, no Rio Amazonas (de vários índios); Nossa Senhora da Conceição de Guarapiranga, fronteira à cidade de Belém120.