• Nenhum resultado encontrado

A ORDEM DE SÃO FRANCISCO NO BRASIL TRAÇOS GERAIS DO SEU DESENVOLVIMENTO

“Venhamos a América. Nela têm os nossos a dilatada Província do Brasil – que é grande parte daquele Novo Mundo que dista da terra firme do Peru por espaço de mil léguas – na qual a tradição pregou o apóstolo S. Tomé, por se venerarem em várias partes dela suas pegadas.

Descoberta por Pedro Álvares Cabral no ano de 1500, se erigiu logo nela altar, onde o Padre Frei Henrique de Coimbra, franciscano – que depois foi Bispo de Ceuta – celebrou missa com seus companheiros. E no ano de 1503 foram dois religiosos da própria Ordem por mandado d’El Rei D. Manuel, que depois de ganharem muitas almas para Cristo, um conseguiu martírio, e outro se afogou no Rio de S. Francisco”56.

Jorge Cardoso

Tem sido ponto assente considerar na História dos Franciscanos no Brasil, quatro grandes períodos: o primeiro, que decorre desde a celebração da primeira missa por Frei Henrique de Coimbra, em 26 de Abril de 150057, à fundação da

Custódia de Santo António do Brasil em 1584; o segundo período abrange a vigência da custódia dependente da Província de Santo António de Portugal, a sua passagem a província autónoma, em 1657, sob o título de Província de Santo

56Jorge Cardoso, Agiológio Lusitano, Lisboa, 1752, p. 35.

57Ver de Maria Adelina Amorim, “Frei Henrique de Coimbra: Primeiro Missionário em Terras de Vera Cruz”, Op. cit, pp. 72-85.



58Cf. Frei Henrique Pinto Rema, A Actividade Missionária no Brasil, Coimbra, 1962.

59A Carta de Pero Vaz de Caminha, Ericeira, Mar de Letras Editora, Col. Traços da História, 1999. Optou- se por esta versão pela “maior inteligibilidade do texto”, na expressão de Margarida Garcez Ventura em nota à transcrição. Para uma edição documental, ver in Joaquim Romero Magalhães e Susana Münc Miranda, Os Primeiros Catorze Documentos Relativos à Armada de Pedro Álvares Cabral, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999, pp. 95-121. Para o estudo dos primeiros missionários que aportaram ao Brasil, ver: Frei Francisco de Gonzaga, De Origine Seraphicae Religionis Eiusque Progressibus, Roma, 1587; Frei Manuel da Ilha, Divi Antoni Brasiliae Custodiae Enarratio Seu Relatio (ms. de 1621), em edição actualizada com o título de Narrativa da Custódia de Santo António do Brasil (1584-1621), com tradução, notas e introdução de Frei Ildefonso Silveira, O.F.M., Petrópolis, 1975; Frei Vicente do Salvador, História do Brasil (1500-1627), São Paulo, 1975; Frei Lucas Wadding, Annales Minorum, Quaracchi, 1931 ss; Frei António de Santa Maria Jaboatão, Novo Orbe Seráfico Brasílico, Rio de Janeiro, 1858-1862, II; Frei Dagoberto Romag, História dos Franciscanos no Brasil, Curitiba, 1940; Frei Basílio Röwer, A Ordem Franciscana no Brasil, Petrópolis, 1947, Frei Odulfo Van Der Vat, Princípios da Igreja no Brasil, Petrópolis, 1952, Frei Venâncio Willeke, Franziskanermissionen in Brasilien (1500-1966), Immensee2, 1974; id., História das Missões Franciscanas no Brasil, Petrópolis, 19; id., “Primórdios da Fé no Brasil” in R.I.H.G.B., Rio de Janeiro, 1970, Vol. 286, pp. 492-506; id., Missões Franciscanas no Brasil (1500- -1975), Petrópolis, 1974.

60Baseiam-se estas informações em estudos efectuados por Frei Odulfo Van Der Vat que analisou as fontes existentes e a Crónica de Jaboatão (que dá os primeiros missionários, pós-cabralinos, em 1502, o que não é crível, pois menciona colonos, facto de que não há conhecimento antes de 1516). Cf. Odulfo Van Der Vat, Op. cit., I Cap.

António do Brasil, e seu desmembramento em dois ramos independentes, em 1675, com a emergência da Província da Imaculada Conceição do Brasil; a ter- ceira fase vai da independência da nação brasileira, em 1822, com o declínio da actividade missionária, até à restauração das duas províncias franciscanas, em 1891. Iniciar-se-ia então, outro período da história seráfica no Brasil, que ainda decorre58.

No domingo da Pascoela, 26 de Abril de 1500, “determinou o capitão a ouvir missa e sermão naquele ilhéu” da Coroa Vermelha. Frei Henrique de Coimbra e seus confrades franciscanos Frei Gaspar, Frei Francisco da Cruz, Frei Simão de Guimarães e Frei Luís do Salvador, sacerdotes; Frei Masseu, músico e organista, Frei Pedro Neto, corista, e o irmão Frei João da Vitória, acompanhados de outros padres seculares, rezaram a primeira missa das terras de Vera Cruz, que, conforme Pero Vaz de Caminha tão bem consignou para a História, “foi ouvida por todos com muito prazer e emoção”59.

Após a partida dos frades com a frota de Cabral, a caminho da Índia, D. Manuel enviou alguns missionários franciscanos a Porto Seguro por volta de 1516, que iniciaram entre os Tupiniquim, o seu múnus evangélico60.

Malogradamente, esses missionários foram massacrados pelos índios, por volta de 1518, pelo que são considerados, na história franciscana, como os “Protomártires” do Brasil. Com a chegada dos Jesuítas, ainda foi possível a trans- missão da notícia desse morticínio a Manuel da Nóbrega, como testemunhou posteriormente o Padre Anchieta, em carta de 1562:



“Neste Porto Seguro e nos Ilhéus, encontrei certa gente que vem a ser da casta Tupiniquim, ainda que dos cristãos tenham muito maus exemplos e escânda- los; e parece-me gente mais mansa que a da Baía e se mos- tram sempre amigos. E entre esses há cerca de vinte a trinta cristãos, e alguns foram baptizados por certos padres que mandou a boa memória d´El Rei a este país, os quais padres foram mortos por

culpa dos mesmos cristãos,

segundo ouvi”61.

O próprio Nóbrega atesta ainda a presença de dois Franciscanos italia- nos em Porto Seguro, “mas querendo passar para além, para os gentios, desejosos de sofrer pela fé, a umas dez milhas daqui, um deles se afogou em um rio”, depois de terem atravessado

os Rios Tororan, Maniape e Urubuguape. A partir de então, o rio ganhou o nome de “Rio do Frade”.

Em 1534, volta a haver notícias de Franciscanos em costas brasileiras, nomeadamente, como capelães da frota de Martim Afonso de Sousa que seguia para a Índia. Willeke e Van Der Vat dão como certa a sua presença na cerimónia de casamento de duas filhas de Diogo Álvares Pereira, o Caramurú62.

Em 1538, na expedição de Alonso de Cabrera que se dirigia ao Prata, seguiam Frei Bernardo de Armenta e Frei Alonso Lebron, com outros confrades espanhóis. Um naufrágio cortou-lhes o destino, remetendo-os para junto dos Carijós de Mbiacá, em Santa Catarina, onde fundaram um núcleo cristão, em moldes de estrutura missionária. Entre 1538 e 1541, os Franciscanos espanhóis dotaram a missão de dois internatos para a instrução e formação dos catecúmenos e chegam a pedir que se lançassem as bases de uma colonização castelhana. Segundo uma carta de Frei Bernardo, datada de 1 de Maio de 1538 a D. Juan Bernal Dias de

61Carta do Padre Manuel da Nóbrega publicada em Serafim Leite, S.J., Monumenta Brasiliae, I, Roma, pp. 162 ss.

62Cf. Fr. Venâncio Willeke, Missões Franciscanas..., Op. cit., p. 32 e Odulfo Van Der Vat, Op. cit., p. 51. 2. Ex-Libris do Volume de que faz parte a “Cópia der



63Cf. Marcelino da Civezza, O.F.M., Op. cit., pp. 730 ss. 64Monumenta Brasiliae, Op. cit., I, p. 149.

65Cartas Jesuíticas do Padre Anchieta, III, Rio, 1931, p. 319. Para o estudo deste santuário ver Fr. Basílio Röwer, O.F.M., O Convento da Penha do Espírito Santo, Petrópolis2, 1965. Fr. Venâncio Willeke, O.F.M., Antologia do Convento da Penha, Vitória, 1974.

Lugo, o frade solicita o envio de mais confrades, camponeses, animais, trigo e ins- trumentos agrícolas, operação que não se viria a efectuar63.

É ainda o Padre Manuel da Nóbrega quem comenta as particularidades dessa missão franciscana entre os Carijós:

“Este é um dos melhores gentios que há nesta costa, aos quais foram, não faz muito tempo, dois frades castelhanos para os ensinar; e tão bem tomaram sua doutrina que já tinham casas de recolhimento para mulheres, como de freiras e outra de homens, como de frades”64.

Em 1541 Frei Bernardo e Frei Alonso deixaram Mbiacá para organizar as missões do Paraguai ao tempo de Álvaro Nuñes Cabeza de Vaca. Porém, ainda regressaram aos Carijós, onde Frei Bernardo faleceria cerca de 1547. Com a che- gada de navios portugueses em 48, os índios foram tomados para ser vendidos em São Vicente e Frei Alonso Lebron regressou à Europa, mas foi aprisionado por corsários franceses, sem deixar rasto.

Os Jesuítas tomariam a missão, dando continuidade ao trabalho missionário dos dois Franciscanos, não sem antes pedir a restituição dos Carijós à sua terra natal.

No primeiro dos períodos apontados (1500-1584), dessas “missões esporádi- cas”, na expressão do historiador franciscano Venâncio Willeke, os seráficos dei- xaram, ainda, a sua marca no Espírito Santo, de que é hoje testemunho, o santuá- rio mariano da Penha. Frei Pedro Palácios, da custódia portuguesa da Arrábida, transportou o ideário eremítico do seu instituto para esse local, depois de ter per- manecido alguns anos com os Jesuítas na Baía e aldeias adjacentes, a ministrar catequese, sobretudo, entre os índios Aimoré de Vila Velha.

É também do Padre José de Anchieta o reconhecimento da obra do missio- nário franciscano que, segundo o célebre inaciano, era um homem de vida exem-

plar, o qual veio ao Brasil, com zelo pela salvação das almas e com ela andava pelas aldeias da Baía, em companhia dos padres jesuítas... com o mesmo zelo se foi à capi- tania do Espirito Santo, onde fez o mesmo, algum tempo65.

O núcleo missionário da Penha foi posteriormente integrado na Custódia de Olinda, que continuou o apostolado em Espírito Santo.

À semelhança destes Franciscanos que demandaram o Brasil em pequenos gru- pos, ou mesmo isoladamente, antes da fixação definitiva da Ordem em termos sis- temáticos, houve também o caso de Frei Álvaro da Purificação, desembarcado em



66 Antes desse ano estiveram no Brasil missionários espanhóis pertencentes à expedição de Frei Juan de Rivadaneyra na cidade de Salvador, no bairro do Calvário e, em São Paulo, Frei Juan Carvajal, Frei Juan de Aponte, Frei Diego de Guiso e Frei Francisco Romano, conforme informa Ilha na crónica da custódia, Op. cit., citado em Fr. Venâncio Willeke, O.F.M., Missões..., Op. cit., pp. 30-31.

Pernambuco em 1577. A ele, D. Maria da Rosa, da Ordem Terceira Franciscana Regular, entregou a igreja e hospício que havia mandado erigir, para aí se alberga- rem os confrades Franciscanos que tinha requerido para o Reino, mas cujo pedido foi indeferido, pois o envio programático de missionários Franciscanos só aconte- ceu depois da criação da Custódia de Santo António, em 158466.



67Fr. Venâncio Willeke, Op. cit, p. 35, em comentário às faculdades concedidas pelo Papa, apelida-as de descomuns. Segundo aquele autor, era privilégio dos Capuchos admitir noviços na colónia, escolher missionários da sua ou de qualquer outra Província Franciscana, conferir jurisdição para pregar, ouvir confissões e administrar sacramentos, gozar de voz activa no capítulo provincial, entre outras concessões. 68Fr. Apolinário da Conceição, Primazia Seráfica na Região da América, Lisboa, 1733, pp. 22-23.

É no seguimento da solicitação feita pelo Governador Jorge de Albuquerque Coelho ao Geral da Ordem, Frei Francisco Gonzaga, e a Filipe II, então monarca do Estado português, que os Franciscanos de Santo António de Portugal consti- tuem uma custódia para o Brasil, no capítulo provincial de 13 de Março de 1584. Para seu superior foi nomeado Frei Melchior de Santa Catarina Vasconcelos, antigo definidor provincial, que preparou o estabelecimento da custódia durante cerca de um ano.

Na posse de determinadas prerrogativas ligadas à administração temporal dos índios, e faculdades apostólicas concedidas pelo Papa Sixto V, Frei Melchior e seus confrades aportaram em Olinda aos 12 de Abril de 1585, onde foram recebi- dos pela terceira Franciscana regular que lhes franqueou as portas do convento e igreja por ela edificados67.

“No ano de mil e quinhentos e oitenta e cinco partiram da nobilíssima cidade de Lisboa estes oito veneráveis padres e chegaram à cidade – então vila-de-Olinda em Pernambuco aos doze do mês de Abril do sobredito ano. Foram recebidos de todo o povo com universal aplauso e grandes demons- trações de gosto, por se verem já possuidores dos nossos frades, destinados para proveito de suas almas perpetuamente, pois vinham juntamente a fun- dar conventos, em que permanecessem em todo o Brasil. O primeiro con- vento que nele teve a nossa Ordem foi o desta cidade, que desde o ano refe- rido de mil e quinhentos e oitenta e cinco, até ao presente goza o título de Nossa Senhora das Neves. Continuaram-se outras muitas fundações de con- ventos, que se vêm nos principais povos deste Estado, pois não há algum, por pequeno que seja, que não deseje ter convento capucho. E assim, em pouco mais de setenta anos se erigiu deles a Província de Santo António do Brasil no ano de mil e seiscentos e cinquenta e sete, por Bula do Padre Alexandre VII, concedida a vinte e quatro de Agosto do dito ano68.

Frei Apolinário da Conceição Segundo Jaboatão, logo em 1586 os Franciscanos construíram, junto ao con- vento de Olinda, uma casa para os filhos dos índios convertidos, uma espécie de seminário onde se instruíssem os meninos para posteriormente pregarem entre os seus: era neste seminário, o principal cuidado dos religiosos, depois de bem ins-



truídos nos princípios da fé, aqueles índios, ensiná-los a ler e escrever para melhor inteligência sua, e a poderem ensinar também aos parentes e a paisanos69.

É ainda o mesmo cronista que relata o uso da música vocal e instrumental, entre os internos, de que resultou a execução de cânticos sacros, ladainhas e mis- sas, usando-se a linguagem musical como forma de atracção dos adultos ao culto cristão. Os missionários teriam aplicado às “gentílicas cantilenas”, textos religiosos mais elaborados, cruzando os elementos culturais primitivos – no sentido de ori- ginal – com os recém-introduzidos.

Instalados em Olinda, os Franciscanos da Custódia de Santo António de Portugal no Brasil iniciam a sua dispersão, que os levou a Igaraçu (1587-1619), onde erigem conventos e fundam as aldeias de Itapissuma, Ponta de Pedras e Itamaracá; Goiana – Missão de São Miguel e Tracunhaém; no sul de Pernambuco (1593), São Miguel do Una entre os Caeté; Porto de Pedras em Alagoas (1597) e Paraíba (1589-1619) – onde actuou Frei Vicente do Salvador, primeiro historia- dor do Brasil, e se fundaram as missões de Almagra, na enseada do Tambaú, Praia com o Hospício de Santo António, Guiragibe, a Sul de Tebiri, Joane e Mangue; Santo Agostinho, Assunção (actual Alhandra) e Jacoca ou Nossa Senhora da Conceição, actual Conde e Aldeia de Braço do Peixe70.

69Jaboatão, Op. cit., I, 2, p. 2085.

70Cf. Willeke, Op. cit., pp. 33-53, com indicações bibliográficas e fontes documentais. 4. Convento de Santa Clara de Tombaé.



71Frei Apolinário da Conceição, Op. cit., p. 24.

Quanto aos conventos, durante a vigência da custódia, edificaram-se os de Vitória e Rio de Janeiro até 1638. Fundam-se mais quatro em Santos (1639), Macacú (1649), Angra dos Reis (1650) e Itanhaém (1655).

Em 1657 a Custódia de Santo António torna-se independente da Província Portuguesa. Compreendendo um território tão vasto, que se estendia desde a Paraíba até Itanhaém, foi proposto no capítulo provincial de 5 de Novembro de 1659 que se unificassem os conventos desde Espírito Santo para Sul em nova cus- tódia, dependente da Província do Norte, de Santo António do Brasil.

“Dos mesmos conventos com que foi criada em Província, a de Santo António do Brasil, se dividiram os da Banda do Sul, de que se formou a Província de Nossa Senhora da Conceição do Rio de Janeiro, por autoridade do Senhor Papa Clemente X como consta de uma bula que começa: “Pastoralis Officii”, sua data em Santa Maria Maior, aos vinte e cinco de Julho de mil e seiscentos e setenta e cinco anos, que aceita do Ministro Geral Frei Francisco Maria de Cremona, aos dezasseis de Novembro do referido ano, fez a eleição de Provincial e Definidores, e a vinte e nove de Maio do seguinte ano foi admitida a nossa Província pelo Capítulo Geral da Ordem, que se celebrou em Roma em o Convento de Araceli”71.

Frei Apolinário da Conceição

A partir de 1675 havia, portanto, duas Províncias Franciscanas independentes no Estado do Brasil: a Província de Santo António do Brasil, a Norte, e a Província da Imaculada Conceição, a Sul, que continuam a consolidar a sua acti- vidade missionária, apesar dos revezes que a ocupação holandesa criou, sobre- tudo no Nordeste, em que foram tomados os seis conventos Franciscanos entre a Paraíba e Pernambuco.

A Província de Santo António promoveu a fundação de missões nos estados de Sergipe, Baía, Piauí, Pernambuco, Alagoas e Paraíba, nomeadamente Itapicuru de Cima (1689), Massaracá (1689), Bom Jesus da Jacobina (1706), Saí (1697), Juazeiro (1706), Rodelas (1697), Jeremoabo (1702), Pambu (1702), Curral dos Bois (1702), Aracapá (1703), Comamu (1703), Salitre (1703), Piagui (1706), Catu (1719), Aricobé (1739), Alagoas (1679), Palmar (1695), Una ou Iguna (1679), Coripós (1702), Zorababé (1702), Unhunhu (1705), Pontal (1705), Pajeú (1741), Cariris (1705).



Em 1832 é retirado ao Definitório Provincial a prerrogativa de eleger missio- nários e a Província entra em processo de decadência e extinção. A última missão apaga-se com a morte de Frei António da Trindade em 1863.

A Sul, o Brasil viu dilatar-se a Província da Imaculada Conceição, uma vez que a situação do próprio território foi diferente da observada no Nordeste. Fundaram-se florescentes missões, como a de São João de Peruíbe ou São João de Itanhaém (1692) – São Miguel Paulista (1698-1803); Santo António dos Guarulhos (1699-1758); Nossa Senhora da Escada (1734-1804); Aldeias na mar- gem sul do Muriaré: Cachoeira, Pedra e Tabatinga e no Rio Grande do Sul, a Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos ou Aldeia dos Anjos de Gravataí e Aldeia de São Nicolau de Jacuí ou São Nicolau do Rio Pardo.

Também na Colónia do Sacramento exerceram actividade, embora, esporadi- camente, alguns missionários Franciscanos como Frei Francisco do Rosário e Frei Lourenço da Trindade72.

A acção da Ordem Franciscana foi sentida ao longo de toda a História brasi- leira, pós-cabralina, desde o momento em que se franquearam as portas daquele Mundo Novo à velha Europa, ávida de desconhecido e sedenta de saber. Homens expectantes interrogavam-se, entre amedrontados e curiosos, sobre aqueles seres estranhos, trazidos pelo mar, que jamais os surpreendera.

5. Igreja e Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Cabo Frio (demolido).

72Fernando Capurro, La Colonia del Sacramento, Montevideo, 1928, pp. 17 ss. citado por Willeke, Op. cit., p. 134.



Depois do primeiro olhar, tentaram-se gestos... nasceu o abraço. Tinha-se plantado uma realidade humana que não cessaria de crescer, entre Primaveras criadoras e Outonos, por vezes, malfazejos. O Brasil foi, talvez, o maior laborató- rio sociológico que os portugueses conseguiram criar nos vários espaços da Terra. Pela posição geográfica que ocupa, pelo cruzamento de culturas e gentes, pelo encontro da Natureza, a Terra de Vera-Cruz constituía-se como palco privilegiado para uma experiência de relações humanas, até então, nunca conseguida.

Ao longo dos séculos foram-se entrosando, de tal modo, as referências e sen- sibilidades de uns com o saber e cultura de outros, que se torna difícil distinguir as raízes. Poderia ter sido a osmose total, se outra ordem de factores, tão do Homem como as antecedentes, não impusessem leis que subverteram o Mundo Novo (agora sim!) passível de se construir. Era já a tendência economicista a superar as vontades.

Em todo este processo sociológico e histórico, intervieram tantos factores e pesaram tantas realidades, que é demasiado redutor enumerá-las. Nessa comple- xidade, a acção missionária assume papel de primeiro plano, pelo protagonismo dos seus membros, empenhados em participar em todos os sectores da vida humana brasileira. Destacam-se, pelo pioneirismo temporal, pela diáspora em terra brasílica e pela obra realizada, os Frades Menores de São Francisco.

“Não há dúvida nenhuma em dizer da gente brasileira que uma das influências decisivas em sua formação vem sendo a da Igreja, nem que dessa



influência, a que aqui madrugou, para nunca mais deixar de fazer-se sentir sobre essa mesma gente, ora de modo mais intenso, ora com maior vibração,