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2. De onde começamos e como nos formamos

2.6. Achados

A proposta deste capítulo foi contextualizar a formação do movimento ambientalista no Brasil. Argumentamos que, em sua estruturação, o movimento construiu relações com atores e instituições políticas, estabelecendo redes de ativismo entre sistema político e sociedade e que sofrem muita influência do contexto político. Alguns atores e organizações do movimento optaram por uma ação coletiva mais técnica, localizada e distanciada das instituições políticas. Mas, outras, com muita força e vontade, lançaram-se à aventura da

intervenção política por compreenderem que o ambientalismo envolve disputa por poder e a luta deve ser travada dentro das instituições políticas ou por meio delas. Esse movimento é, portanto, heterogêneo e algumas poucas organizações e ativistas ambientais atuam no nível federal.

No processo de elaboração da luta política, os ambientalistas se associaram à esquerda política e constituíram diferentes tipos de vínculos com partidos políticos, especialmente com o PT. Esse partido passou a fazer a representação política dos ambientalistas. Primeiro, com identificação na chave da forma de luta política, que promovia participação e inclusão de diferentes atores sociais nas discussões e disputas políticas, ambos compartilhando e defendendo projetos políticos. Na organização da Lista Verde para a Assembleia Constituinte, por exemplo, o PT era o partido que tinha mais candidatos escolhidos pelos ambientalistas como defensores de suas bandeiras, apesar de o candidato vitorioso nas eleições ser Fábio Feldmann, pelo PMDB, quem articulou importantes ações e fez a ponte entre a arena legislativa e ambientalistas durante parte dos anos 1980 e 1990.

Segundo o que foi apresentado sobre a construção de identidade dos cidadãos com partidos políticos, no capítulo anterior, a identificação acontece pela imagem que o partido, ou seus líderes, passa aos seus eleitores e pelo conteúdo de suas propostas (Janda et al., 1995). Mas, ela também pode se dar por elementos cognitivos e afetivos (Rosenblum, 2008), sem necessariamente envolver sentimentos como pertencimento, conforme acontece com a formação de identidade coletiva dos movimentos sociais. A ideologia também pode despertar identidades com partidos políticos (Panebianco, 1995), entretanto, para Poletta e Jasper (2001), ao que se trata de identificação dos movimentos sociais, a ideologia pode exercer um papel bastante negativo e conflituoso por se tratar de algo em disputa. O processo de construção de identidade coletiva de movimentos sociais e de identidade dos partidos políticos guarda alguns pontos de semelhança e muitos de distinção, sendo, portanto, campo de disputa. Consideramos que os movimentos sociais se identificarão inicialmente com os partidos políticos da mesma forma que seus eleitores o fazem, por elementos como imagem e conteúdo ou mesmo por elementos afetivos e cognitivos, caso não sejam eles mesmos a formarem os partidos políticos. Essa identificação possibilitará ao movimento se aproximar

e se envolver com a parte informal dos partidos políticos ao que se referir à agenda ou pauta que eles compartilham.

No caso dos ambientalistas com o PT, conforme exposto neste capítulo, a identificação inicial parece ter acontecido em função do formato da luta democrática, pois o partido era fechado para abordagens pós-materialistas. Contudo, essa perspectiva foi se alterando com líderes ambientais alcançando projeção no partido e levando o movimento a criar maior identificação com os líderes e as linhas políticas por eles defendidas, como aconteceu com Marina Silva e o socioambientalismo.

Entendemos que a aproximação dos ambientalistas com os partidos políticos nas arenas eleitorais e legislativas também eram reforços para criarem identidades diversas. Mische (2008) argumentou que as redes relacionais proporcionam a construção e transformação de identidades dos movimentos sociais e isso nos dá solo para defender que, à medida que os ambientalistas encontravam lideranças partidárias que defendiam suas bandeiras no interior dessas arenas, e com eles se relacionavam em apoio mútuo, o processo de identificação com os líderes se consolidava. Isso aconteceu com Fábio Feldmann e se intensificou com Marina Silva, cujos poderes de recompensa, identificação e competência dos liderados foi mais intenso em função do socioambientalismo. Por fim, esses líderes fizeram a ponte entre partido político e sociedade, entre arenas eleitoral e legislativa e os ambientalistas, inserindo-os, de alguma forma, nas arenas partidárias.

A representação dessa interação no nosso mapa do terreno de ação revela as arenas eleitoral e legislativa destacadas em função da articulação política forte que nelas engendraram os ambientalistas. Eles também atuaram na arena governamental, porém, a ação foi de orientação técnica, de prestação de serviços, profissional, sem a disputa política travada nas outras arenas. Por isso, destacamos a arena legislativa neste capítulo, mas reconhecemos a importância da articulação na arena governamental. Na figura abaixo, marcamos o movimento ambientalista e partidos políticos, uma vez que, durante o processo de abertura política, outros partidos para além do PT também foram importantes.

Diagrama 4: Mapa do terreno de ação nas arenas eleitoral e legislativa – movimento ambientalista e partidos políticos

Os líderes sociopartidários desse período se localizam exatamente nas arenas eleitoral e legislativa, para onde os ambientalistas mais direcionaram sua ação política. Fábio Feldmann, conforme discutido, teve importância no período das eleições para Assembleia Constituinte, em 1986, e em seus mandatos contínuos no Congresso Nacional, recebendo forte apoio para suas candidaturas e legislaturas como Deputado Federal. Os ambientalistas, no mesmo período de abertura política, também apoiaram a candidatura de vários candidatos do PT, os quais foram selecionados para compor a Lista Verde e defender a agenda ambiental. Durante esse período e também na década de 1990, houve um investimento grande de ambientalistas para influenciarem a legislação ambiental, pois o Congresso Nacional, fortalecido com o processo da Assembleia Constituinte, estava relativamente aberto à sociedade civil e tinha a tarefa de regulamentar uma série de normas estabelecidas na Constituição Federal de 1988.A sobreposição entre movimento e partido foi maior nas arenas eleitoral e legislativa, onde também estavam posicionados os líderes sociopartidários que defendiam o projeto ambiental nesse período, conciliando interesses do movimento ambientalista e dos partidos políticos. A arena governamental, apesar das parcerias técnicas entre governo do PSDB e as ONGs, estava mais esvaziada de articulação política e, coincidentemente, sem nenhuma liderança nela posicionada.

Parte 2: