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A tese está organizada em três partes e em 5 capítulos. As partes foram divididas pelas arenas políticas onde se concentra a interação institucional dos ambientalistas com partidos políticos. São as arenas institucionais próprias de atuação dos partidos políticos: legislativa, governamental e eleitoral. Como estamos analisando o direcionamento de atores e organizações do movimento ambientalista para as arenas institucionais e sua interação com os partidos, esses nos pareceram ser os espaços mais apropriados de exame.

No primeiro capítulo, que apresenta discussões com a literatura sobre movimentos sociais e sobre partidos políticos, nosso principal objetivo foi definir a compreensão que temos desses conceitos. Movimentos sociais, redes informais de indivíduos e organizações, e partidos políticos, organizações formais que incluem indivíduos, redes e outras formas organizacionais, diferenciam-se em distintos pontos, especialmente, em sua forma organizacional, na construção de identidades e estratégias e, para a literatura de partidos políticos, em sua função (Schattshneider, 1960; 1964; Kitschelt, 2006). O desenvolvimento desses conceitos ampliou nossa percepção de que atores e organizações de movimentos

sociais podem interagir com partidos políticos sem necessariamente fazerem parte da estrutura formal desses partidos, sem a necessidade de filiação partidária. Os movimentos atuam na estrutura informal dos partidos políticos, influenciando as políticas partidárias. Concebemos a organização partidária como partido expandido, integrado de uma parte maior e formal e de outra que é menor e informal, onde ocorre a interação com atores externos ao partido, mas que podem influenciar as políticas partidárias.

Nesse capítulo, examinamos o papel potencial de líderes mediando a interação entre movimento social e partido político. Os líderes podem ter dupla identidade, reconhecida pelos atores tanto do movimento social como do partido político. Essa liderança exercerá o papel de broker ao conectar grupos distintos na defesa de projetos próprios que podem ter traços em comum. O comportamento e ação dessa liderança será importante para a medida da relação entre ambos os atores estudados. As estratégias e identidades movimentalistas e partidárias, que não raro entram em atrito nas interações sociopartidárias, são aspectos de força que influenciarão o comportamento da líder, se pende para a defesa do projeto social ou do projeto partidário ou mesmo se busca conciliá-los. Argumentamos que o trânsito da líder nas diferentes arenas partidárias é importante para verificar a fidelidade de sua base de liderados sociais e partidários, pois espera-se que a cada movimento seu, seus liderados a acompanharão, fazendo os mesmos trânsitos entre as arenas. É importante também para compreendermos o formato de interação entre partido político e movimento. Ao final do capítulo, apresentamos um mapa do terreno de ação que nos auxiliará na análise das interações sociopartidárias apresentadas nos capítulos empíricos.

No capítulo 2, destacamos a atuação dos ambientalistas na arena legislativa, apesar de também exercerem influência na arena eleitoral e governamental, até o ano de 2003. A ação destacada de grupos movimentalistas em determinada arena não exclui sua participação e ação nas outras arenas. Neste capítulo, abordamos a formação do movimento ambientalista no Brasil e a influência do contexto político para definir suas identidades e estratégias de ação coletiva. O movimento se estruturou no mesmo período de abertura democrática no país e do surgimento de novos partidos políticos, dentre eles, o Partido dos Trabalhadores. Argumentamos que o movimento se associou à esquerda política brasileira e criou vínculos com o PT, ainda na década de 1980, que influenciariam sua ação política por muitos anos. A

Senadora da República pelo PT, Marina Silva, na década de 1990, emergiu como uma liderança política para os ambientalistas no Congresso Nacional. Os ambientalistas direcionaram, nesse período, a ação para essa arena legislativa e tiveram em Marina Silva uma forte defensora de suas causas e projetos. Seu papel de líder sociopartidária é acionado nesse período.

Os capítulos 3 e 4 são complementares e trazem a ação dos ambientalistas direcionada para e ocorrendo na arena governamental, com foco no período em que Marina Silva esteve no Ministério do Meio Ambiente (2003-2008). O trânsito de Marina Silva para a arena governamental deslocou, de forma considerável, a ação dos ambientalistas para esse novo espaço político, muito em função da trajetória que compartilharam em período anterior. Enquanto Senadora, Marina trabalhou em proximidade com atores e organizações importantes do movimento ambientalista e alguns deles foram convidados a ocuparem cargos de direção política em seu Ministério. Ela possibilitou ativistas ambientais a participarem do governo do PT e a transformarem suas propostas em políticas públicas, executando o projeto de importante grupo de ambientalistas que atuava na sociedade civil. Ao atritar propostas, estratégias e identidades dos atores sociais no governo com o núcleo de gestão do Partido dos Trabalhadores, Marina Silva preferiu defender o projeto dos seus liderados vindos da sociedade civil. Sua permanência no governo do PT se tornou inviável, ao passo que o papel de liderança política de Marina Silva para os ambientalistas foi fortalecido. A estratégia, identidade e projeto de sociedade civil se sobrepuseram aos do partido político, e a interação entre ambientalistas e PT que se mostrava intensa em décadas anteriores se tornou fraca e esporádica. O PT deixou de ser o principal representante político dos ambientalistas nas arenas institucionais. Esses capítulos têm um caráter mais descritivo ao apresentar as trajetórias dos ocupantes de cargos públicos no Ministério do Meio Ambiente e as políticas públicas que defenderam

A ação coletiva dos ambientalistas na arena eleitoral é o foco do capítulo 5. Aqui, demonstramos o processo de articulação política feito por Marina Silva e seu grupo de liderados, que chamamos de marineiros, após deixarem seus cargos no Ministério do Meio Ambiente. Os ambientalistas se articularam com outros setores da sociedade civil, como empresários e militantes de diferentes causas sociais e políticas, e criaram novos

movimentos, como o Movimento Brasil Sustentável, para tentar fortalecer e dar centralidade à agenda ambiental. Era uma estratégia de atuação na sociedade, de construir a consciência ambiental e de sustentabilidade. Todavia, a identificação de Marina Silva como uma liderança político-partidária levou os ambientalistas a sugerirem uma campanha política, em que Marina Silva seria candidata à Presidência da República. Acreditavam que, dessa forma, a agenda ambiental teria mais visibilidade tanto para a sociedade como para o meio político- partidário. Com Marina Silva atuando na arena eleitoral, a ação e os esforços de ambientalistas que interagiam com o sistema político foram consideravelmente direcionados para essa arena.

A liderança de Marina Silva sobre os ambientalistas e outros grupos sociais se mostrou forte e estruturada durante a experiência eleitoral. Ela agregou diferentes grupos ao seu redor, colocando distintas institucionalidades para conversarem e assimilarem novas estratégias, identidades e projetos. Um novo discurso surgiu dessa interação de diferentes: a Nova Política, que chegou a desbancar o discurso da sustentabilidade em algumas ocasiões. Marina se desfiliou do PT e, junto com o grupo de marineiros, fez a filiação ao Partido Verde para concorrer às eleições. A interação de ambientalistas com o PT foi reduzida a quase nada e sua vinculação ao PV se mostrou uma ação de caráter fortemente estratégico para viabilizar sua participação nas eleições de 2010.

Ela alcançou o terceiro lugar no pleito eleitoral e desequilibrou forças políticas que já estavam estabelecidas no sistema político e partidário brasileiro. Novamente, Marina fortaleceu o projeto da sociedade civil que, dessa vez, era dar centralidade social e política à agenda ambiental e de sustentabilidade. Fortalecer o projeto de atores da sociedade civil é o mesmo que fortalecer sua relação de liderança com eles, legitimada pelos poderes de recompensa, identificação e eficiência. Contudo, a relação conflituosa entre ambientalistas e partidários verdes demonstrava as tensões inerentes ao processo interacional de movimento social e partido político. Os atritos se mostraram insustentáveis e Marina Silva e os marineiros se desfiliaram do PV, alguns com a ideia de formarem um novo partido político. No sexto e último capítulo, abordamos o processo de formação da Rede Sustentabilidade entre 2010 e 2013. A experiência eleitoral que agregou grupos sociais e políticos de diferentes institucionalidades deslocou o discurso ambiental para uma narrativa

mais política e politizada, a da Nova Política. Muitos ambientalistas, apesar de aprovarem o discurso da Nova Política, não se identificavam de maneira orgânica com as transformações que ocorreram no grupo que acompanhava Marina Silva, os marineiros. O discurso da sustentabilidade ambiental perdeu centralidade para o da sustentabilidade da política. Os ambientalistas eram reticentes ou apresentavam posturas muito marcadas contra a estratégia de formar mais um partido político. Acreditavam que a estratégia e o projeto deles não passavam pela tomada de poder, de fato, mas, sim, por uma ação forte e articulada de sociedade civil.

Os militantes da Rede Sustentabilidade informaram que a experiência de interação com partidos políticos, especialmente quando assumiram postos na arena governamental e encararam uma campanha eleitoral, possibilitou-lhes aprendizado institucional e acúmulo de capital político para continuarem com a ação por dentro do sistema político, formando uma nova legenda partidária. O processo de formação da Rede é ambíguo para muitos ambientalistas que não sabem ao certo o que esperar desse novo partido político. A liderança de Marina Silva teve muita força sobre os rumos e decisões políticas que os marineiros tomaram para a formação da Rede Sustentabilidade e, nesse aspecto, os poderes de recompensa, identificação e eficiência conferidos a Marina pela realização do projeto ambiental foram trincados, bem como sua legitimidade no papel de liderança. Ao fim, percebemos mais um esfacelamento da ação ambientalista com a estratégia partidária do que o fortalecimento desse grupo. Muitos querem voltar para o formato de interação que tinham com o PT antes de ocupar a arena governamental, mas também querem que esse PT volte a ser como era antes.