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1. Movimentos sociais em interação com partidos políticos

1.3. Movimentos sociais em interação com partidos políticos: evidenciando identidades e estratégias de

1.3.4. Identidades e interação entre movimentos sociais e partidos políticos

As interações entre movimentos sociais e partidos políticos, que passam a atuar em parceria nas arenas institucionais públicas, demandam indivíduos com habilidades desenvolvidas para serem ouvidos, reconhecidos pelos seus pares e apoiados para fazerem os trânsitos ambientais e os discursos estratégicos e convenientes nos diferentes ambientes e situações em que se encontram, habilidades que Mische (2008) considera próprias de liderança. O papel desempenhado por lideranças sociais, na perspectiva dessa estudiosa dos movimentos sociais, envolve conectar mundos, grupos, identidades e projetos distintos por meio dos diferentes lugares, ou públicos, em que esses agentes se encontram. É, portanto, um importante elemento de análise47.

Ao que tange aos múltiplos lugares em que os atores e líderes se localizam, especialmente quando ocorre o fenômeno da coevolução de movimento social e de partido político, Heaney e Rojas (2015) chamam atenção para o fato de que, ao interagirem por razões diversas, especialmente pelo comportamento de ativistas políticos que atuam nos dois campos ou que defendem as bandeiras tanto de partidos como de movimentos sociais, em diferentes momentos, os atores demonstram como operam as múltiplas identidades. Nos casos de coevolução e de dupla ou múltiplas identidades, conforme argumentam, as lógicas de desenvolvimento dos partidos dependem, em parte, das suas respostas às estratégias dos movimentos sociais. Da mesma forma, as lógicas de desenvolvimento dos movimentos sociais dependem, em parte, das oportunidades abertas e fechadas para eles pelos partidos políticos (p. 27).

Por meio da coevolução, há um retorno entre partidos e movimentos que os autores afirmam criar path dependence. Quando as identidades desses ativistas múltiplos entram em choque, uma vez que partido e movimento possuem identidades e estratégias distintas, os autores defendem que a identidade do partido político é a que prevalece, na mesma lógica

elaborada por Rosenblum (2008)48. Será que é sempre assim? A identidade do partido sempre

prevalecerá em qualquer situação? No modelo apresentado pelos autores, essa sobreposição faz sentido porque estão analisando pontos de intersecção das duas identidades e o indivíduo que pertence a esses dois grupos.

Todavia, nos casos em que os movimentos sociais fazem alianças com partidos, mas se mantêm leais à sua identidade, a partilha de identidades comuns pode ser fraca, a sobreposição pode acontecer apenas em momentos específicos. Ademais, esse comportamento pode oscilar ao longo do tempo. Num dado momento, a identidade/estratégia de um pode fortalecer as do outro, como no caso da coevolução de ambos, mas em outro momento, os conflitos podem se sobrepor às parcerias. Os casos em que os movimentos sociais criam alianças com os partidos políticos e atuam nas arenas institucionais com sua parceria política podem ser um recurso estratégico, ou porque ambos defendem momentaneamente uma mesma issue, ou percebem algum nicho de identificação entre movimento e partido, ou mesmo podem se dar por outros motivos, como a formação de um partido político por movimento social. Dessa forma, como pode acontecer e se sustentar a interação com partidos políticos para além da busca de acesso a recursos? Essa pergunta se desdobra em outra: quais elementos podem assegurar ou romper a interação desses dois grupos?

Na literatura, a aproximação entre movimentos sociais e partidos políticos pode ocorrer por interesses, por busca de acesso a recursos, como defendeu Schwartz (2006; 2010), por identidades partilhadas e em função de temas e momentos específicos (Mische, 2008; Heaney e Rojas, 2015), pela formação de partidos políticos por movimentos sociais (Cowell- Meyers, 2014) ou pode se dar a partir da imagem que representantes de movimentos sociais criam dos partidos políticos em função da atuação de seus líderes, por características organizacionais e pelas posições que assumem relativas a questões políticas. Esses podem ser apenas aspectos de identificação dos partidos que, ao longo do tempo, exibirão diferentes identidades, conforme assinalaram Janda et al. (1995). Nessas diferentes situações, o papel de um líder forte, que concentra em torno de si tanto a legitimidade de liderança por parte

48 Eles desenvolvem a lógica de que os partidos políticos possuem identidades mais fortes que as de movimentos

sociais e uma das razões para isso é que a identidade partidária é renovada de 4 em 4 anos, a cada momento eleitoral. Outro motivo é que o campo partidário é mais sólido e formal que o campo movimentalista.

dos movimentos sociais como por parte de seus pares nos partidos políticos pode ser o elo entre ambas entidades e o definidor do formato dessas relações.

Nesta pesquisa, vamos focar o papel do líder, do broker, que liga grupos diferentes. No nosso caso, os ambientalistas, que foram para as arenas políticas a fim de defender e promover seus projetos políticos, e que, mesmo se relacionando com atores de diferentes institucionalidades, buscaram manter alguma lealdade às suas origens e identidades, processo também que teve oscilações durante o período analisado. Quando, no interior das instituições públicas, com o partido que apoiavam na chefia do governo, perceberam a complexidade das dinâmicas, disputas de linhas (identidades) e de estratégias partidárias, pularam do barco partidário, mas mantiveram um vínculo forte com uma liderança partidária, que os inseriu mais ainda nas arenas partidárias. Portanto, lideranças desenvolvem um importante papel nessa relação entre movimentos sociais e partidos políticos.