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Acolhimento e aproximação

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 152-155)

7 O REENCONTRO COM A NATUREZA DO SER

7.1 A importância do grupo

7.1.1 Acolhimento e aproximação

Ao propor a oficina de DCS para o grupo de educadoras e para o grupo de idosos do projeto institucional, não imaginava a repercussão que causaria entre as participantes. Os primeiros contatos com os grupos foram de certo distanciamento. Pude perceber que, por tratar-se de uma proposta “nova” para elas, havia certa curiosidade, mas não sabiam do que se tratava. Deméter em sua fala resgata um pouco essa condição: “eu tinha curiosidade, muita curiosidade, mas eu não sabia como eram as danças circulares [...] então, só o que eu imaginava era que era em círculo, que eu tinha ideia de que a coisa ia acontecer em círculo, mas mais eu não sabia o que que era, porque era uma coisa nova”.

No intuito de minimizar qualquer sensação desagradável, principalmente nos primeiros encontros, apostei em uma metodologia de trabalho que pudesse acolher e aproximar as participantes, motivo pelo qual incluí no ritual dos encontros (rodas) a sensibilização. O objetivo foi criar um ambiente favorável à acolhida, um espaço agradável, limpo, ventilado, aromatizado com essências suaves e com o centro contendo elementos e cores marcantes. Brígida destacou a importância da acolhida: “o focalizador, o orientador ele nos esperava sempre com uma sala muito bem preparada, muito bem harmonizada, com as cores, com as velas e isso dava assim, um clima muito bom, a gente sabia que estava sendo esperada”. O comentário tecido por Brígida tem continuidade e destaca a importância da preparação do focalizador, da fundamentação que havia no trabalho e do aconchego da sala.

Para Iemanjá, os momentos vivenciados no grupo através das DCS foram importantes porque

ao mesmo tempo que acolhe né, encanta [...] encantamento é difícil explicar essa palavra né, o fato de eu estar ali né, eu nunca imaginei que ia participar da dança circular. Só o fato de eu estar participando me encantou, aquela coisa de ver pessoas diferentes, idades diferentes, pessoas alegres, pessoas né, felizes dançando, isso me encantou [...].

Iemanjá participou de todos os encontros (rodas). Recordo-me que logo nas primeiras rodas senti-a longe, pensativa, introspectiva, mas sempre atuante e disposta a aprender e a fortalecer o grupo. Em sua entrevista denominou-se “uma pessoa muito fechada”, mas que, com o passar das vivências, conseguiu partilhar e “consegui sair dentro de mim”, conforme ela mesma relata. Iemanjá expressa também seu contentamento com o focalizador e com o grupo. Sobre o focalizador ela diz: “[...] pra mim tu me fez melhor, com os teus ensinamentos,

com as tuas palavras, com as mensagens, com o teu acolhimento também”, e em relação ao grupo: “[...] o grupo, como eu falei, o acolhimento e o encantamento de todos né”.

Nas falas das entrevistadas é sensível a importância do acolhimento como primeira instância da participação na oficina. Na literatura o termo acolhimento é muito utilizado nas práticas relacionadas à saúde, na humanização do sistema público de atendimento e como estratégia de interferência nos processos de trabalho. Na esfera educacional a palavra acolhimento é utilizada principalmente na educação infantil, momento em que a criança passa a frequentar o espaço de educação formal (creches ou escolas). Entretanto, a título de informação, buscando a etimologia da palavra “acolher” encontrei o significado a partir do termo ACOLLIGERE2 que em latim significa “levar em consideração, receber, acolher, de ad, “a”, mais COLLIGERE, “reunir, juntar”, este formado por COM, “junto”, mais LEGERE, “reunir, coletar, recolher”.

Na oficina de DCS o acolher esteve relacionado a uma postura ética, pautada na responsabilidade e no compromisso de receber e tratar com respeito as participantes, bem como atendê-las em suas individualidades, diferenças e no modo de viver, sentir e estar presentes naquele espaço e tempo.

A questão da aproximação foi outro aspecto que esteve presente nos discursos das entrevistadas, como também no caso das educadoras o fato de estabelecerem contato diário, ainda que profissional, foi de suma importância para sintonizar ainda mais as relações interpessoais. Afrodite discorre:

O grupo muito bom, porque são pessoas que você conhece há muito tempo e que tem uma vivência diária e que uma sabe das dificuldades de vida da outra e que abrem o coração uma para a outra que, nós somos um grupo muito coeso e uma dá apoio a outra. Eu acho isso, mostrou que, que o grupo que tirou um tempo de sua vida para fazer aquilo ali é porque precisou e porque queria e porque tinha alguma coisa a ver com aquilo ali.

Ártemis pondera em seu depoimento que “a oportunidade de conviver essas semanas com essas pessoas e ter esse contato, ficar ali de mãos dadas, passa uma energia tão boa, que isso aí foi de maior significado pra mim”. Ártemis se considera uma pessoa de contato. Ela conta que em algumas situações envolvendo o contato, as pessoas ficam apavoradas com a forma de abordagem que faz, porque, segundo ela, nem todo mundo é receptivo. Considera-se uma pessoa de fácil relacionamento, gosta muito de abraçar, de pegar, com os alunos também. No entanto, ela pondera que na escola algumas pessoas têm dificuldade e não gostam muito

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disso. Cita como exemplo algumas professoras dos anos iniciais que têm medo desse contato e que a oficina de DCS foi uma oportunidade, porque “você ter que segurar na mão de uma pessoa o tempo todo, né; tem gente que tem até medo de dar a mão, de ficar segurando na mão de alguém e ali, não sabe, e a pessoa tem que relaxar e se soltar, eu acho que foi uma aprendizagem pro grupo em si”.

Deméter pontuou um desejo pessoal que foi sendo expresso também em algumas falas na sala dos professores ao longo da realização da oficina. A cada encontro (roda) fazia questão de manifestar no coletivo dos professores o quão gratificante e importante eram aqueles momentos. Disse ela:

Eu gostaria que todo o meu grupo de trabalho que hoje eu estou pudesse participar, pudesse viver essa entrega que a gente viveu; que através do grupo a gente fortaleceu a energia, a relação nossa; a gente conheceu muito mais uma a outra; conseguiu apoiar mais uma a outra; e, eu acho que esse papel o grupo fez.

Na escola Deméter ocupa uma posição de gestão e por esse motivo seu desejo que o grupo de profissionais da escola participasse da oficina poderia vir a auxiliar nas relações interpessoais e de trabalho.

As participantes do grupo de idosos do projeto institucional também destacaram a aproximação como um aspecto relevante. Hemera, que passou a fazer parte do grupo após o início da oficina, confidenciou que sozinho tudo é mais difícil. Ela atribui a aproximação

porque a gente se vê no grupo, eu me espelho em ti, eu me espelho na Nêmesis, eu me espelho na Gaia, eu me espelho na Iemanjá, eu me espelho naquela outra senhorinha que tem problema no joelho, não lembro o nome, naquela outra que chorou, naquela que se emocionou, sabe, todas, porque todas sou eu, né, aquela frase; todos somos um, é pura verdade.

Para Nêmesis a aproximação esteve pautada na “força de nós querer chegar até o fim, vencer aquilo, aprender, não era a quantia de pessoas que interessava [...]”. Já, segundo Iemanjá, a aproximação permitiu “[...] enxergar pessoas diferentes, os jeitos diferentes, que às vezes no dia a dia a gente não enxerga nada, a gente só pensa e, fazer, fazer e não enxerga as pessoas ao nosso redor, lá eu consegui enxergar, olhar nos olhos, abraçar, coisas que no dia a dia eu não faço”. E por fim, no olhar de Gaia, a aproximação foi importante “porque sempre é bom a gente fazer novas amizades, né, foi importante sim”.

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 152-155)