• Nenhum resultado encontrado

O movimento internacional de educação para a paz

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 97-101)

4 EDUCAÇÃO ESTÉTICA E CULTURA DE PAZ

4.4 O movimento internacional de educação para a paz

Segundo Jares (2002), o movimento voltado para uma Educação para a Paz passou por quatro ondas: a primeira delas acontece ainda no século XX, sendo a primeira iniciativa sólida de reflexão e ação educativa pela paz. O movimento denominado Escola Nova foi o precursor de um modelo de educação para a paz; a segunda onda da Educação para a Paz ocorre a partir da perspectiva da Unesco; a terceira onda é denominada Educação para a Paz a partir da Não

violência; e a quarta onda, a partir da pesquisa para a Paz. O autor destaca ainda o Educar para a Paz pós 11/09/2001 e as suas consequências para a promoção da paz mundial.

Neste momento opto por destacar o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) e, em particular, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO), por tratar-se de uma instituição reconhecida mundialmente e que tem como meta contribuir para a paz e a segurança, nutrindo a cooperação entre as nações por meio da educação, da ciência e da cultura, propiciando o respeito universal à justiça, ao estado de direito, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais afirmados aos povos munidais. O ano de 2000 foi o marco inicial de um grande movimento em favor da paz, considerado o “Ano Internacional da Cultura de Paz”, quando as Nações Unidas propuseram uma aliança entre os movimentos existentes a fim de unir aqueles que se propunham a trabalhar pela cultura de paz em seus oito domínios de ação. Dessa forma iniciou-se um movimento global pela cultura de paz. O movimento alavancou-se ainda mais com a proclamação da “Década Internacional para a Cultura de Paz e Não Violência para com as Crianças do Mundo (2001- 2010)4”.

Em março de 1999, em Paris, na preparação para o Ano Internacional da Cultura de Paz foi lançado o “Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência5”. O documento

foi elaborado por um grupo de ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, em conjunto com representantes das Nações Unidas e da UNESCO. O manifesto teve como objetivo criar um senso de responsabilidade no nível pessoal em relação à construção de uma nova ordem social pautada em seis princípios: o respeito à vida, a prática da não violência, a luta contra a exclusão e a opressão, a defesa da liberdade cultural e de expressão, a promoção do consumo responsável e a contribuição para o desenvolvimento da comunidade.

Apesar da diversidade de programas de educação para a paz, podemos encontrar um objetivo geral comum, conforme Bar-Tal (2002, p. 28):

Todos eles procuram promover mudanças que farão do mundo um lugar melhor, mais humano. O objetivo é diminuir, ou mesmo erradicar, uma variedade de maldades humanas, variando entre a injustiça, a desigualdade, o preconceito e a intolerância ou o abuso dos direitos humanos, a destruição ambiental, o conflito violento, a guerra e outras maldades com vista a criar um mundo de justiça, igualdade, tolerância, direitos humanos, qualidade ambiental, paz e outros atributos positivos.

4 Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/prizes-and-celebrations/international- decade-for-a-culture-of-peace-and-non-violence-for-the-children-of-the-world/#c154291>. Acesso em: 23 jul. 2015.

5

Entre as diversas ações da UNESCO no mundo, destaca-se em particular o “Programa Abrindo Espaços: educação e cultura para a paz”, lançado pela representação da UNESCO no Brasil no ano de 2000, durante as comemorações do Ano Internacional da Cultura de Paz. O programa foi criado a partir de pesquisas feitas pela UNESCO no Brasil sobre a juventude. A proposta do programa é a base da Escola Aberta e é a primeira ação da UNESCO no Brasil a consolidar-se como política pública. O programa auxilia a transformar as escolas em espaços de acolhimento e pertencimento, de trocas e de encontros. A abertura das escolas à comunidade possibilita que os jovens e suas famílias participem de atividades de cultura, esporte, arte, lazer e formação profissional. A ideia é “empoderar” os jovens, fortalecendo a comunidade, a escola e contribuir para a redução dos índices de violência, construindo uma cultura de paz (NOLETO, 2008). Elas revelaram que os jovens eram e, ainda são, o grupo que mais se envolve em situações de violência, tanto na situação de agentes, como de vítimas. A grande maioria desses atos ocorre nos finais de semana, nas periferias, envolvendo principalmente jovens de classes empobrecidas e em situação de vulnerabilidade.

O panorama da violência entre jovens é apresentado pela UNESCO através de uma pesquisa realizada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz que concluiu que o homicídio é a principal causa de mortes de adolescentes de 16 e 17 anos no Brasil. Os dados mais recentes estão no documento “Mapa da Violência: adolescentes de 16 e 17 anos no Brasil”6

. Cerca de 3.749 jovens nessa faixa etária foram vítimas de homicídios em 2013, o que representa 46% dos 8.153 óbitos de pessoas com 16 e 17 anos. Os dados indicam que a cada dia foram assassinados 10,3 adolescentes no país. No ano de 2012, o número de homicídios de jovens foi de 3.627 e a projeção é de que 3.816 serão mortos em 2015.

O estudo apresenta ainda o perfil das vítimas: 93% eram do sexo masculino e, proporcionalmente, morreram quase três vezes mais negros que brancos. Também existe uma elevada concentração de vítimas jovens com escolaridade bem inferior em relação ao conjunto da população dessa faixa etária. O principal instrumento utilizado nas agressões foi a arma de fogo, que esteve presente em 81,9% dos homicídios de adolescentes de 16 anos e em 84,1% dos homicídios de 17 anos.

Waiselfisz (2015) comparou a situação do Brasil com outros 85 países. O Brasil ocupa o terceiro lugar em relação à taxa de homicídios de adolescentes de 15 a 19 anos. Com o índice de 54,9 homicídios para cada 100 mil jovens nessa faixa etária, o país é superado apenas por México e El Salvador.

6

Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf>. Acesso em: 25 set. 2015.

A tabela7 abaixo revela alguns números da violência nos últimos trinta anos.

Fonte: Waiselfisz, 2015, p. 22.

7

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 97-101)