• Nenhum resultado encontrado

Sexta roda: reencontrar-se

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 140-144)

6 COMPONDO AS RODAS DA TESE

6.3 Sobre as rodas e prosas

6.3.6 Sexta roda: reencontrar-se

O centro foi constituído por um pequeno altar coberto em tecido de seda violeta, ornamento em vidro transparente na forma de receptáculo contendo pedras coloridas na cor predominante e uma vela quadrada violeta, que foi acesa anteriormente à sensibilização. Sobre o altar têm-se o seguinte significado:

Microcosmo e catalisador do sagrado. Para o altar convergem todos os gestos litúrgicos, todas as linhas arquitetônicas. Reproduz em miniatura o conjunto do templo e do universo. É o recinto onde o sagrado se condensa com o máximo de intensidade. É sobre o altar, ou o pé do altar, que se realiza o sacrifício, i.e., o que torna sagrado. Por isso ele é mais elevado (altum) em relação a tudo o que o rodeia. Reúne igualmente em si a simbólica do centro do mundo: é o centro ativo da espiral que sugere a espiritualização progressiva do universo. O altar simboliza o recinto e o instante em que um ser se torna sagrado, onde se realiza uma operação sagrada (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1992, p. 40).

Nesse encontro a cor predominante foi o violeta. As emoções que vibram a partir dessa cor são imaginação, calma, serenidade, relaxamento, compaixão, entre outras. Tais emoções fazem vibrar o reencontro consigo mesmo. A essência utilizada foi o alecrim silvestre. O chacra alimentado/equilibrado é o frontal ou terceiro olho, situado no ponto entre as sobrancelhas. O terceiro olho, olho de Xiva, recebe a luz espiritual: “ele indica a condição sobre-humana aquela em que a clarividência atinge sua perfeição, bem como, de forma mais elevada, a participação solar” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1992, p. 654).

A sensibilização: ao se colocarem no local destinado para o início do encontro,

expliquei a simbologia do centro e o porquê da cor violeta. Um pequeno número de dançantes vestia peças de roupa na cor violeta. Retomei a posição de pegar as mãos. A dança escolhida para o momento de sensibilização e a formação do círculo foi “Gozar hasta que me ausente”, uma coreografia contemporânea de Pablo Scornik, a formação em linha e braços e mãos em “V”. O ritual de entrada até a constituição do círculo foi um procedimento adotado por este focalizador a partir de suas vivências no curso de Formação em Danças Circulares Sagradas: introdução e instrumentalização. Sobre a formação do círculo:

O caminho em torno do centro e para o centro resume a extensão espacial em uma unidade. Este centro corresponde ao divino e à sua realidade, que é repartida igualmente em todo o ser. A metamorfose do centro leva, sem notar, à mudança interna, a renovação de todo o ser humano, à intensificação de todo o processo de vida. Dançando, o ser humano muda de um estado até aqui existente, a um estado futuro, por isso o caminho da periferia para o centro como parte do esquema total da mudança nas pegadas do divino é um motivo frequente. Segundo a lei da mudança cíclica, que produz o surgir e o desvanecer cíclicos da vida e à qual os próprios deuses estão submetidos, também a Deusa do Início é exortada a de novo destruir sua obra, para de novo criá-la (WOSIEN, 2002a, p. 18).

No círculo, orientei que fechassem os olhos e realizassem três inspirações (pelo nariz) e expirações (pela boca), exalando e relaxando, convocando os anjos da dança para se fazerem presentes, guiando-nos e conduzindo-nos, bem como a tomada de consciência do estado atual de cada um ao pertencer à roda.

As rodas: a primeira dança realizada nesse encontro foi “Mikenos”, dança de origem

da Grécia, coreografia de Anna Barton, inspirada em Bernhard Wosien. A formação para essa dança é em círculo e os braços em “V”. Anna Barton trouxe para essa dança a intenção de soltar as “pedras” da nossa mochila, ou seja, largar as ideias preconcebidas, o peso que nos faz andar mais devagar na jornada de evolução do nosso SER. Expliquei aos grupos que a dança Mikenos possibilita o exercício da compaixão, do reencontro com nossa essência, afinal, deixamos depositados ao longo da caminhada o fardo que carregamos diariamente de nossas emoções negativas, os problemas e as incertezas. Pedi que todas as vezes que os braços fossem soltos imaginassem esse fardo sendo retirado dos ombros, tornando nossa caminhada mais sutil. Os grupos aderiram minha sugestão e exercitaram o desprendimento. Na continuidade dançamos “Sta Dhio”, também de origem grega, uma coreografia tradicional com adaptação de Bernhard Wosien. A formação é em círculo fechado, as mãos nos ombros ou em “W” na dança tradicional. Dançamos em formação “W”. Ao longo da oficina a prática e execução dos passos foram sendo incorporadas pelas dançantes melhorando sua coordenação motora e o ritmo. A dança em questão ganhou uma harmonia que arrepiou focalizador e dançantes. O passo longo, curto, longo (dactilus) oferece ao dançante a sutileza e o deslizar pelo espaço da dança, fluindo e conectando, trazendo calma, serenidade e relaxamento. A deusa Hemera conta em sua entrevista que nessa roda sentiu “uma sensação de inteireza, totalidade, me conectei com o meu coração, coisa de inteireza [...] achei lindo, maravilhoso trabalhar os sete chacras [...]”. Após dançamos “Ugros”, dança tradicional da Hungria. A formação para essa dança é em círculo aberto e braços em “V”. É uma dança alegre, contemplativa e tem um ritmo marcado de fácil execução. Em ambos os grupos repetimos a dança, pois algumas dançantes gostaram da energia da dança e em virtude de ser

de curta duração. Na música ouvem-se vozes masculinas e femininas pronunciando sons característicos da cultura. Durante a dança incentivei as dançantes que também pronunciassem esses sons, algumas dançantes dentre elas Ártemis, Deméter, Gaia, Hemera, Némesis e Brígida conseguiram soltar a voz e expressar os sons, as demais ficaram restritas à dança.

O som permite ter contato com a realidade acústica da palavra, por meio de vozes, e com a imagem, através da comunicação audiovisual. A percepção de paisagens sonoras por meio de barulhos, ruídos, notas musicais e outros é capaz de captar distintos significados culturais e de manifestar uma variedade de sentidos pela sua leitura. Portanto, a educação musical é a base do texto sonoro e das linguagens a este relacionadas, encaminhando rumo à compreensão, à produção e à interpretação do texto musical (ORMEZZANO, 2007, p. 32).

Para encerrar a roda focalizei “Fountain” (fonte), de origem inglesa, coreografada por Nawal Gadalla. A música compõe o CD Shadows on a Dime. A formação é em círculo e as mãos em “V” após o grapewine. Essa dança também é conhecida como Chiaroscuro, que significa luz e sombra nas pinturas italianas renascentistas. É uma dança meditativa em que os dançantes buscam no centro a fonte e dela se nutrem, se banham e se apoderam das energias da água, num processo de contemplação. Na roda em particular, antes de vivenciar a dança, sugeri as dançantes de ambos os grupos que, ao realizar o gestual de espalhar pelo corpo a energia recebida, dirigissem sua atenção para o terceiro olho, o chacra frontal e o nutrissem. A dança Fountain foi vivenciada de forma carinhosa pelas dançantes que expressaram ao final de sua execução um estado de total relaxamento. Elas verbalizaram: “que maravilha”, “que coisa boa”, “me senti leve”. Ao longo dos encontros (das rodas) houve poucas expressões verbais; notava-se apenas nas posturas corporais e faciais o transbordamento de satisfação, êxtase, deleite proporcionado pelo movimento, pelas danças.

A despedida: ao finalizar as danças desse encontro (as rodas), as dançantes do grupo

de idosos do projeto institucional me questionaram sobre a continuidade dos encontros após a última roda. Disse a elas que poderíamos continuar, porém teríamos que rever o dia do encontro. Elas sugeriram as segundas-feiras no mesmo horário. Então, após a sétima roda, realizamos quatro encontros com temas livres escolhidos pelas dançantes. Organizadas em duplas, elas ficaram responsáveis pela composição do centro a partir do tema escolhido e o focalizador, responsável pelas danças. Considerei a iniciativa das dançantes o coroamento de um período de muita entrega e dedicação às DCS. Na continuidade do rito do encontro, dirigi- me ao centro, abri o livro “Abrindo portas interiores”, de Eillen Caddy (2009), no dia correspondente ao encontro e realizei a leitura da mensagem em voz alta. Nesse dia convidei

as dançantes para sentarem-se em volta do centro, distribui colchonetes para que pudessem acomodar-se melhor para ouvir a mensagem. Posteriormente, convidei-as para que deitassem, coloquei como fundo musical o mantra “Amo você”, solicitei que fechassem os olhos e se concentrassem em sua respiração, tornando-a cada vez mais tranquila e compassada. Enquanto isso, ia passando uma a uma e realizando manobras de massagem relaxante em seus ombros e na parte posterior das costas. Ao término desse momento, orientei para que fossem deitando de lado e cada uma, a seu tempo, apoiadas pelas mãos, fossem levantando lentamente. Dirigimo-nos ao centro, apagamos a vela como de costume, e distribuímos a energia para o cosmos. Anunciei a próxima roda na cor branca. As expressões eram de total contentamento e relaxamento. A despedida foi um momento de contemplação da vida, de amor, de carinho, de toque. Algumas dançantes sempre vinham me abraçar e agradecer por aqueles momentos, principalmente Deméter, Hemera e Némesis. As demais agradeciam com sorrisos e um “até semana que vem”, anunciando o desejo de estar novamente ali naquele espaço, dividindo aquele momento, o que, de certa forma, me enchia de luz e gratidão.

Figura 9 - Sexta roda: reencontrar-se

No documento 2016RodrigoMadaloz (páginas 140-144)